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Meu discurso na posse da Academia Rio-grandina de Letras no dia 06/06/14

Sra. Presidente Dalva Leal Martins, senhoras e senhores acadêmicos, autoridades presentes, queridos parentes e amigos. As coisas acontecem de modo extraordinário. Por mais que pensemos, que reflitamos sobre determinadas situações, a vida impõe desafios. Como todas as pessoas, enfrentei muitos desafios, certamente desde os tempos escolares. Passei pela universidade, em dois cursos superiores, nas pós-graduações, no trabalho de professor e bibliotecário, no fazer da escrita. Além, é claro, dos desafios de todo ser humano, para sobreviver e conviver com os seus. Um desafio, porém, nunca antes havia imaginado é o que enfrento hoje: o de pertencer a esta casa, o que me parecia um desejo muito ambicioso e distante de meus objetivos literários. Entretanto, o fato de estar aqui e ser um, entre os meus confrades e confreiras, um membro da Academia Rio-grandina de Letras, me confere honra e me proporciona extrema alegria.   Nunca havia pensado nisso, até que o meu amigo e agora

Um guri religioso

Fui um guri religioso. Talvez não tivesse a consciência de minha espiritualidade, muito menos, pensava no assunto, como todas crianças de minha idade. A participação das missas aos domingos, em geral muito associadas aos eventos que a escola promovia, as novenas e procissões, tudo produzia um componente espiritual que os rituais internalizavam em nossa mente. Todas as intervenções em nossa vida escolar eram focadas na “alfabetização” da religião, ou para ser mais correto, no catecismo vivo, que era a nossa vivência e experiência na igreja.  Lembro-me bem, quando estudava na Escola São Luís e participava da missa na Sagrada Família. Nunca quis ser coroinha, e evitei o quanto pude os pedidos dos padres. Não gostava daquela exposição, daquele cheiro de naftalina das roupas, do ar destemperado da senhora que se ocupava da sacristia, dos olhares de censura a qualquer brincadeira. Preferia ficar na “plateia” e experienciar a missa com meus pares. Claro que havia momentos, e

Não se preocupem com a relação copa – eleição

Não se preocupem com a relação copa – eleição A copa só teve influência no moral dos brasileiros, em 1970, porque o Brasil era um país de esquecidos. O povo não era nada, não votava, não elegia, não falava, era amordaçado. Mas precisava ser feliz. Era necessário que transbordasse de alegria e acreditasse que tudo estava maravilhoso. Era um país de faz de conta e nada melhor para ocultar nos porões, a   extrema miséria que grassava, a derrocada da cidadania, a morte da liberdade. Nada melhor do que mostrar a todo mundo que éramos um povo feliz, um povo que tinha o melhor futebol do mundo, que conseguira assistir ao vivo pela tv, ao lado da novela Irmãos Coragem que dava 100 pontos de audiência à Globo, a mantenedora cúmplice do status quo de nossa vida política. Neste quesito, a mídia foi talentosa:   realçava a nossa alegria, o   nosso viver bem, embora milhares de pessoas morressem de fome e estivéssemos criando uma dívida pública estratosférica, com uma rodovia

TEMPOS DIFÍCEIS

TEMPOS DIFÍCEIS Corria o início dos anos 80 e a Polícia Federal, como todas instituições que possuíam ingerência na vida dos cidadãos, no país,  tinha suas próprias normas, ou talvez seu jeito arbitrário de conduzir os deveres e direitos (?) dos homens de bem. Num destes dias de primavera, estava numa parada de ônibus, banho tomado, roupa alinhada, maleta sob o braço, à espera rotineira do transporte urbano. Nada que me estimulasse ou me deixasse alerto para as surpresas do cotidiano. Ao contrário, naquela tarde, especialmente, eu estava tranquilo. Coração quieto, sem muitas preocupações, a não ser pensamentos fugazes sobre a aula de filologia, que considerava um tanto monótona. À noite, a rotina se completaria com o trabalho na biblioteca da Universidade, mas naquele momento, nada me causava maiores devaneios. Tudo rotineiro, como um ritual elaborado sob normas pré-estabelecidas, quase medíocre. Meu companheiro de ponto de ônibus, um senhor que me parecia escriturário, ou balconi