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sábado, outubro 01, 2016

Um cirurgião de almas, apenas

Às vezes, fico imaginando algumas coisas de um modo estranho que não combina com o que muita gente pensa. E me pergunto, se há alguma maneira de pensar da mesma forma. Claro que não há. Por mais que nos esforcemos em sermos semelhantes, somos muito diferentes, e por conseguinte, nosso modo de agir e de pensar.

Que bom que pensamos de maneira distinta, porque aí se dá a democracia de ideias, tão arranhada hoje em dia.

Cada um com o seu jeito, a sua história de vida, a memória que carrega consigo entrincheirada nas suas vivências e experiências com os seus e os que estão próximos.

Pensamos antes na família, depois na escola, nos amigos, mais tarde nos colegas de profissão e assim por diante.

Mas, às vezes fico pensando um pouco diferente demais, se é que é possível engendrar esta expressão assim, no nosso rico idioma.

Por exemplo, observo a maneira contraditória como as pessoas agem em relação a determinados temas, como por exemplo, a leitura da realidade que fazem através da mídia tradicional.

Se há um autor de algum romance ou crônicas ou mesmo poesias, citado em alguma cena de dramaturgia da TV, elas de imediato o consideram um excelente autor, que deve ser um dos eleitos em sua biblioteca, seguindo a opinião do personagem.

Por outro lado, se uma atriz ou um ator decide publicar um livro, embora sendo escrito por um ghost-writer, estas pessoas correm às livrarias para comprá-lo como se estivessem à frente de uma obra prima.

Entretanto, se um escritor brasileiro ganha um conceituado concurso literário e publica um excelente livro, preferem um escritor estrangeiro e de preferência, bem citado pela mídia. Se o autor é de autoajuda, aí seu sucesso é imediato.

Destacando outro tema, percebo que caso um artista, principalmente de televisão faça um plástica sem interessar de que parte do corpo seja, ela (ou ele) é aceita (o) e aliada (o) a uma série de justificativas que levam ao julgamento elogioso do mesmo.

Caso um amigo ou parente, ou vizinho ou aquele colega do outro departamento decida consertar o nariz adunco e meio torto, a censura é quase unânime.

Então reflito que na relação com os artistas ou celebridades da mídia, as pessoas não enxergam o ser humano, mas o personagem que ali está embutido. O que conhecemos do Tony Ramos, por exemplo? O que a mídia inistentemente nos mostra? A imagem de um homem honrado, educado, amigo generoso e solidário. Em parte, pelos papéis que costuma representar, na maioria e em parte porque é a maneira como ele se mostra para os telespectadores e fãs.

Pode ser que ele seja mesmo assim, até acredito que seja um bom homem. Mas quem pode garantir que ele não é ranzinza, mau colega e até negligente com a família? Não sabemos nada dele, além do que a telinha da TV, as revistas especializadas e os sites de celebridades nos mostram. Mas amamos o personagem que vemos, que nos é descrito e apresentado como um produto bom.

Há também a possibilidade de passarmos horas discutindo a separação de Angelina Jolie e Brad Pitt, quando nossos casamentos transcorrem enfadonhos e destinados a aceitar a rotina ou a indiferença. Por certo, questionar estas divisões de casais famosos expande nossa zona de conforto, sem mergulharmos em nossos problemas. É uma atitude humana que causa estranhamento, mas só para quem pensa.

Por outro lado, quando morre um artista, sofremos como uma pessoa muito íntima, ou quando ele sofre um acidente ou foi assaltado em seu condomínio de luxo, ficamos imediatamente indignados. Não percebemos, porém, as pessoas que morrem a nossa volta, às vezes um vizinho que costumamos cumprimentar quando nos detemos no elevador, ou um colega de trabalho que conhecemos há trinta anos ou o carteiro que foi assaltado quando nos levava a mercadoria à nossa porta.

Esses fatos passam como corriqueiros. São personagens bem mais apagados, sem o glamour da mídia, sem o sorriso franco de dentes de porcelana das celebridades, sem aquela presença constante em nossa casa, como se fossem parentes muito próximos, cuja conduta jamais é reticente, ao contrário, complexa e verdadeira.

É aqui que o belo personagem, com sua perfomance adequada aos nossos sentimentos, que manda. É por eles que choramos. Por eles dobram os sinos. Não o carteiro que mal conhecíamos e nem nos parecia tão simpático, ou aquele vizinho que aparecia nas horas mais impróprias nos pedindo alguma ferramenta ou aquele colega de trabalho, que apesar de convivermos tanto tempo, nunca o conhecemos tão profundamente, como o Tony Ramos, por exemplo.

Eram personagens fracos, que não nos sensibilizavam nem enfeitavam nosso mundinho cinza.

Por isso penso, que deveria haver algum cirurgião de almas. Sim, que fizesse uma plástica que rejuvenescesse, não o nosso rosto, mas a nossa alma, que a transformasse numa alma menos enrugada e insossa, menos atrofiada por preconceitos e mais apaixonada, menos iludida por personagens e mais humana.

É, um cirurgião de almas. Deveria haver, quem sabe, consertaria o mundo.

Fonte da ilustração: https://morguefile.com/search/morguefile/3/actors/pop. Autor: DuBoix

domingo, abril 24, 2016

Olhar noir

Nem sabia se devia sair, mas em dado momento, sentiu-se mal. Uma mulher de sua estirpe, por mais que aquele povo representasse a elite, havia entre eles alguns estapafúrdios, que demonstravam uma dissonância com o movimento, que a deixava irritada.

Estava muito calor, homens suados e sem charme, vestidos em camisetas bregas pedindo autógrafos e às vezes, dando encontrões maliciosos. Se ao menos partisse de um garoto malhado, barriga tanquinho, barba mal feita e boca sensual, daquelas que suplicam um beijo cinematográfico. Que nada, havia até uns velhos decrépitos, de bermuda branca e sandalha de velcro, uh, que coisa execrável! Era hora de dar o fora, uma atriz de seu cabedal, filha de militar, que fora casada com diretores e até mágicos, inclusive se tornado virgem a pedido do policial, aquele cafajeste! Mas deixa pra lá, agora ela ainda dá os seus pitacos nos novinhos!

Afastou-se do grupo constrangedor. Ouvia o seu nome a todo momento, Susi Silveira, Susi Silveira, o que produzia uma amaciada no ego. Entretanto, havia alguém diferente na turba famigerada: um rapaz fascinante, que a atraiu de imediato. Percebeu o seu olhar incisivo, revelando um sorriso que a desconcertava. Foi num destes mimos que a vida às vezes nos propicia, que o viu aproximar-se, segurar-lhe o braço, e em seguida envolver-lhe a cintura. Ela o beijou com avidez, enfiando a língua naquela boca sedenta, girando até o céu da boca e sentindo o hálito quente e agradável de um verão que retornava.

Chamou seu assessor e pediu que o motorista os levassem para um bar descolado, bem afastado da praia. Descobriu que estudava publicidade, sonhava em ser ator e a considerava uma mulher encantadora, além de ter enorme tesão por suas pernas perfeitas. Susi estava feliz: não é sempre que aparece um deus assim!

Em seguida, foram para o seu apartamento na Barra, um local onde os paparazzi não a encontrariam. Cumprimentaram o porteiro e ela o beijou com despudor no elevador.

No quarto, a sacada para a praia, o rapaz com o olhar perdido ao longe. Ela tomou um banho e voltou envolta na toalha. Pediu que ele fizesse o mesmo, mas de modo inusitado, ele disse que desceria para tomar ar. Garantiu que voltaria com enorme tesão, o que a deixou mais animada.

Esperou como uma dama. Quem sabe, seria este o seu novo amor? Porém, o tempo passou e o rapaz não voltava. Ligou para o porteiro, sem obter resposta. Ficou ansiosa. Se aquele cara fosse um marginal, um bandido? Não, ele era um estudante que lutava contra a corrupção, um cara da zona sul, da elite.

Vestiu-se, desceu os 23 andares e observou da porta do elevador, que o silêncio imperava no prédio. Dirigiu-se à portaria. Não havia ninguém. Caminhou pelo hall do edifício e avistou a sala dos funcionários.

Aproximou-se, tentou bater na porta, mas aquietou-se, quem sabe, o porteiro estava ali, cumprindo alguma tarefa. Mesmo assim, decidiu entrar, precisava saber onde estava o rapaz que … afinal, como era mesmo o seu nome?

Empurrou a porta com força e na penumbra, ouviu suspiros e frases inintelingiveis. Seus olhos acostumaram-se um pouco e percebeu que dois homens nus disputavam um prazer que se revelava quase em desespero, resgatado em suas bocas, seus corpos, seus membros intumecidos. Tudo isso ela viu, até mesmo o olhar que se projetou, quase num foco de cinema noir, aqueles olhos claros e límpidos que a encaravam transtornados.

Lá embaixo, o assessor sorrindo, feliz pela ousadia da amiga correu ao seu encontro, perguntando, curioso: – Então, não me esconde nada! Como é que foi, amiga?

O motorista encostado no carro, levantou os olhos do visor do celular e misterioso, exclamou: – Por essa, nem Bolsonaro esperava!

domingo, agosto 02, 2015

QUAL SERIA O ACONTECIMENTO MAIS IMPORTANTE DA SEMANA?

Qual seria o acontecimento mais importante da semana? Talvez escolhêssemos no campo político, na economia, ou na área das ciências, da cultura ou mesmo nos assuntos cotidianos mais banais. Acho mesmo que aí está a resposta a nossa pergunta. Os assuntos banais, corriqueiros, comezinhos, que fazem parte de nosso dia a dia, sem grandes brilhos, oscilar das bolsas ou vultosos negócios. É ali, na nossa rotina que acontecem os grandes temas, as grandes manifestações de sentimentos, de sensações, de usufruir o que chamamos vida, existência, o estar no mundo. E estar é muito mais do que apenas viver, sobreviver, mastigar o dia pelas pontas, levando em conta as tarefas de roldão, sem pensar nelas, sem refletir os próprios comandos ou atividades. Faz-se tudo burocrático, organizado, produzindo caminhos iguais, onde trilhemos com segurança e precisão. Sentimos então o tempo passar rapidamente, porque nos acomodamos aos grandes acontecimentos, nos detemos nas grandes realizações e estas não ocorrem todo o dia, ou para todos. Até mesmo, as chamadas celebridades inventam fatos extravagantes para sobreviverem, para continuarem “celebridades”. É preciso, então, vivenciar as pequenas coisas, maturar o que está ao nosso encalço, sem muita preocupação com o produzir intermitente. Quem sabe observar mais, falar menos, ver no outro e ver em nós mesmos muito mais do que a nossa capacidade visual nos permite. Outras possibilidades, outros objetivos. Ver além. Examinar a beleza das coisas nos detalhes, nos meandros, nos desenhos das figuras que se formam, nas pessoas, nas plantas, nos céus riscados de vermelho ou nos pingos de chuva e frio que nos oprimem. Ver além. Ver apenas com os olhos mais puros do espírito. Parar para ver. Vasculhar menos as páginas policiais e ter mais afã nas páginas de cultura ou de diversão. Ter um olhar enviesado, obliquo, quase dissimulado para as coisas que não aproveitam o nosso espírito. Procurar trajetórias não tão retilíneas, não tão planas, tão diretas, tão cercadas de cuidados. Negligenciar um pouco nos caminhos, para ver o que nossos olhos esquecem, olhando para dentro, centrados em contas, compromissos, inseguranças. Ver o mundo com um olhar mais atento, mais apurado, sem medo e alargar horizontes, encontrar os meios de erigir outras raízes, colher outras frutas, ouvir outros falares, outros matizes. Viver assim, sem compromisso, a não ser com as coisas pequenas, mas que nos dizem muito. Vez que outra, pesquisar as demais, sem renunciar à realidade, mas principalmente concentrarmos nossas energias nos pequenos prazeres, para não perturbar a alma e saber assim, entender o mundo. Viver desta forma, o tempo não passará tão depressa, porque passaremos a ter mais contato conosco, usufruindo o que trazemos de dentro e não nos enchendo de conceitos, imagens e argumentos de fora.

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