A noite já acabrunhava os ossos mais frágeis pelo sereno que se intensificava. Doía uma certa melancolia, às vezes doce, às vezes ácida, deixando na boca uma secura que despertava a vontade intensa de qualquer líquido. Como se jorrasse do céu, por um minuto, um décimo de minuto, uma água nítida e brilhante, muito mais do que chuva, mas alguma coisa forte que significasse um banho profundo na alma e no corpo. Um banho que me transportasse a outro extremo da vida, talvez mais doce, mais límpido, mais puro, mais profundo. Caminhei como pude, enquanto as luzes se apagavam e surgiam as dos velhos postes das ruas transversais. Na casa acachapada no chão, uma calçada alta, que realçava o que havia lá dentro mais do que as paredes esverdeadas da casa. Uma luz tão amarela quanto às dos postes, mas mais fraca e algumas sombras, como fantasmas que se deslocavam de um lado para o outro, acercando-se da janela, espiando pelas frestas, tentando ver um pouco do mar escuro que jazia bem longe, ...
Este blog pretende expressar a literatura em suas distintas modalidades, de modo a representar a liberdade na arte de criar, aliada à criatividade muitas vezes absurda da sociedade em que vivemos. Por outro lado, pretende mostrar o cotidiano, a política, a discussão sobre cinema e filmes favoritos, bem como qualquer assunto referente à cultura.