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sexta-feira, setembro 16, 2016

Resenha sobre o meu romance “O eclipse de Serguei"

O romance “O eclipse de Serguei” produz a sensação ao leitor de estar incluído num mundo complexo e cheio de veleidades do qual não faz parte. Um mundo da ficção.

Entretanto, com o desenrolar da trama, é possível perceber que o mundo que se apresenta está bem ali, ao alcance da mão, ao folhear das páginas, é o nosso mundo real, onde transitam diversos personagens que podem ser as pessoas com as quais convivemos: o porteiro de nosso prédio, o professor da escola de nossos filhos, a vizinha ao lado.

O eclipse de Serguei é assim ousado, revelando a realidade crua de nossas vidas, nas quais a violência latente campeia devagar, insinuando-se em nossas relações, condutas e preconceitos.

No entanto, esta realidade acontece de uma maneira suave, sem pressa, de tal forma, que nos cativa e remete a um cenário muito peculiar e ao mesmo tempo familiar, inferindo em cada página, o desejo de nos inteirarmos das tramas desenvolvidas.

Há, sem dúvida, a emoção desenhada na cada fala dos personagens, nas descrições mais apuradas das situações apresentadas por personagens complexos e simples, como nós.

Uns, cheios de vida, idealismo e esperança, outros destituídos do senso de humanidade, centrados em seus sentimentos de posse ou convicções retrógradas.

Todos fazem parte da cultura embasada no fundamento falso de vida moderna, da aparência e da vantagem imediata, na qual o homem tem involuído ao invés de crescer.

Assim é Serguei, um homem que acredita fielmente em seu lugar na sociedade, como homem branco, de classe média, acostumado a seguir um código padronizado, há muito registrado em sua mente.

Possui uma vida medíocre, calcada nos conceitos mais primários, alicerçada na vontade imperiosa da mãe e do sentimento de solidão advindo de sua infância perdida.

Dois acontecimentos parecem ter embotado a sua criatividade e a vontade de lutar por si próprio: a perda do esperado fenômeno do eclipse solar e o desaparecimento estranho do pai, um militante de esquerda.

Serguei desempenha atividades monótonas num cartório e através de uma brecha de criatividade, exerce as funções de atendente num turno da biblioteca de um museu, pois considera que aqueles documentos tem uma história para contar.

Fica dividido, quando através da genealogia da noiva, Beatriz, descobre que a mesma é judia.

Influenciado pelas ideias conservadoras da mãe, sempre se dedicara a pensar que sua origem fosse mais nobre do que a da maioria dos mortais.

Para completar, em meio há tanta mediocridade do cartório, desfilam personagens como o funcionário puxa-saco, Anselmo, o próprio chefe, o Sr. Oliveira, do qual Serguei nutre uma admiração pelo poder que exerce e ao mesmo tempo uma certa desconfiança, o misterioso homem do café, que tem o sugestivo nome de Adolf, Dóris, a secretária que desempenha estranhas atividades e que vem a ser sua aliada, chegando a morar em sua casa, detentora de um plano fantástico para a sua liberdade e finalmente, talvez o único personagem íntegro e que possui dotes de inteligência,um negro, fato que deixa Serguei cada vez mais intrigado.

O clima de insatisfação vai crescendo até que ele descobre que Gomes, o funcionário do cartório que se suicidou, era muito parecido com ele.

Finalmente, se depara com a comunidade do cartório, e percebe que atrás daquele grupo bem costurado, há um líder, que pensa como ele, e por isso, considerado o “escolhido”.

Para tanto, chega um momento, em que ele não vê saída, a não ser assumir o seu lado neonazista e por ironia do destino, acaba encontrando no seu caminho perturbado, um homossexual.

Chegou a hora de se tornar um verdadeiro baluarte de sua verdade tantas vezes oprimida.

Torna-se um skinhead, seguindo os preceitos da mãe.

Finalmente, descobre que tal como o eclipse, que se dissipara, o seu passado não passava de uma nuvem de poeira forjada, insossa, padronizada, culminando com a descoberta do verdadeiro delator das atividades clandestinas de seu pai.

A quem seguiria Serguei?

Quem era ele afinal?

e-mail do autor: gcgilson4@gmail.com

sábado, novembro 22, 2008

Pequena resenha sobre o livro “Nenhum pássaro no céu” de Luiz Horácio, uma publicação da Editora Fábrica de Leitura, 2008.

Pequena resenha sobre o livro “Nenhum pássaro no céu” de Luiz Horácio, uma publicação da Editora Fábrica de Leitura, 2008.
Livro disponível no site da Livraria Cultura
Às vezes, uma história aviva importantes temas em detrimento da busca da inspiração, fundamentada em narrativas hegemônicas, de mesclas de ritmos e rumos. Neste texto imperdível do autor Luiz Horácio, têm-se a impressão de que a vida acontece no tempo preciso, na hora imaginada, na qual o sol poente aparece brilhante e belo para os personagens, entre os quais nos incluímos. Ou seja, no ritmo de nossa respiração. Não é uma história comum. Por outro lado, não é uma história de temas grandiloqüentes, mergulhada em objetivos pomposos, ou subordinada a emoções baratas para fisgar o leitor. Ao contrário, é a história de nossas vidas, nossos antepassados, culminando com a própria história do RS, contada com uma maestria que aliada ao lirismo e à poesia, apresenta uma arquitetura talvez nunca antes explorada. Perpetua, portanto, num clima onírico e ao mesmo tempo pictórico, o imaginário corporizado na prosa e na poesia. Talvez palmilhemos caminhos diferentes lendo esta história de bravura, amor e imaginação. A vida e a morte andam tão amiúde, que muitas vezes nos confundimos o que é vida ou o que é morte ou se tudo é uma coisa só.
A história em sua urdidura de fundo, apresenta um proprietário de terras, cujas relações permeiam a realização do sonho ou o simples ato de sonhar, de cultivar a emoção pura e fugaz, de preservar o que resta de vida na memória de sua região, ou seja, o mito que se substancia no conhecimento dos povos e do compromisso com a sua realidade interior e a dos demais. Temas como a morte, o amor e o reconhecimento do outro persistem em toda a narrativa, transformando o mundo que os cerca. Ou apenas marcando território, para deixar brechas ao leitor nas descobertas que pretende apontar. Seu nome é Camilo Sosa, para o qual é anunciado um presente no decorrer da narrativa, cujo embrulho é invariavelmente investido de grande importância e curiosidade, como parte integrante da estrutura. Essa provocação deixa o leitor intrigado, na tentativa de descobrir do que se trata afinal tal presente tão comentado. Porém o autor de modo sagaz, induz o leitor a experimentar a sensação que deve conferir a verdadeira importância das coisas, o que na concepção de mundo de Camilo Sosa (e do próprio autor) são as relações que emergem dos encontros a partir do anúncio do presente esperado. Qual seria o maior presente para Camilo Sosa e seus amigos, a não ser a convivência com os seus, o desabrochar de novas ligações, novos conhecimentos, novas trajetórias, novos encontros. O presente, na verdade, é mero pretexto para transformar a vida em quimera, os caminhos pessoais em trajetórias coletivas, os objetivos em metas definitivas. Enfim, é a luta da preservação do sonho e da liberdade, da maneira de pensar e agir, do “descompromisso” com a realidade alienante e a possibilidade do encontro íntimo com a imaginação. É uma história que parte do regional para o universal, porque remete aos temas íntimos a toda humanidade. Uma história densa que deve ser lida com o coração, com o cuidado dos que procuram mais do que uma simples narrativa, mas um sopro de liberdade.
Autor: Luís Horácio
Editora : Fábrica de Leitura de Ângela Puccinelli
Porto Alegre, 2008
Sugiro aos amigos a leitura deste livro. Por certo, encontrarão nele um bom presente de reflexão.
Gilson Borges Corrêa

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