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Mostrando postagens com o rótulo novela

Eu e a velhinha de Taubaté

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Acho que sou meio parecido com a velhinha de Taubaté, do Veríssimo, que acreditava piamente no governo do General Figueiredo. Eu acredito na Globo e entendo o que o povo que vê TV, pensa como eu. Sabe por quê? Porque eu assistia ao programa Amaral Neto, repórter, lá pelos meados de 1970, mostrando as belezas naturais e culturais do Brasil, além da união que o governo militar trouxera ao nosso imenso país continental. Ah, nesta época, eu amava a Regina Duarte, que depois da Ritinha, de Irmãos Coragem, passava a ser no ano seguinte, a namoradinha do Brasil com a novela Minha doce namorada. Um primor de pessoa. Sei que ela era assim na vida real: doce, simpática, sorriso amplo e pura! Antes ainda, no tempo dos Irmãos Coragem, ano em que o país ganhou a Copa do México, a tortura ainda era encoberta nos porões dos órgãos de repressão, e o General Médici era um presidente que mantinha um olho nos partidos clandestinos e outro nos campos de futebol. Por coincidência a novela tinha com...

Acertar a mão

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Segundo Antônio Cândido, em seu brilhante ensaio Direito à literatura, “... as palavras organizadas são mais do que a presença de um código: elas comunicam sempre alguma coisa que nos toca porque obedecem à certa ordem.” E mais adiante, ele sugere que o material bruto da linguagem, oriundo do processo de elaboração, torna-se um caos originário deste material a partir do qual o produtor escolheu uma forma e que se torna ordem. Por isso, segundo ele, o caos interior do leitor também se ordena e a mensagem pode atuar. “Toda obra literária pressupõe esta superação do caos, determinada por um arranjo especial das palavras e fazendo uma proposta de sentido. Seguindo esse princípio do grande sociólogo e crítico literário, eu trampus a técnica para o meu trabalho, como produtor de narrativas. Deste modo, produzi a expressão adequada para dar forma e sentido do eu e do mundo no meu texto, quando organizei o caos. Sempre que inicio um romance, uma novela ou conto, há uma gama de temas que ...

Triste Brasil

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Lendo uma das citações de Bertold Brecht, o dramaturgo alemão do século XX, cujos trabalhos artísticos e teóricos influenciaram o teatro contemporâneo, percebemos que seus pensamentos são tão universais e de nosso tempo, que parecem vaticinar o que viria acontecer no futuro. Senão, vejamos suas palavras: "Nada é impossível de mudar.Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar." Observamos, portanto, que este pensamento se encaixa na situação que estamos vivendo, de arbitrariedade e golpe na democracia. Pense bem, desconfie do "simplinho", do falso humilde que vota pela pátria, pela democracia, pelo amor a Deus e à família. Sabemos que não vivemos num...

Aplaudam o palhaço!

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Dona Marina surgiu esbaforida, prendendo nervosa, o lenço colorido ao pescoço, fugindo do frio e do vento. Entrou na sala e se recompôs rapidamente. Cumprimentou a turma, esclareceu alguns pontos que ficaram vagos da aula anterior e colocou-nos, de sobressalto, o assunto da prova, que seria na semana seguinte. Eu sentava entre dois colegas mais chegados. À minha volta, principalmente nas cadeiras da frente, as meninas que voltavam os olhos e os narizes vermelhos, cada vez que um de nós fazia qualquer gracinha. Camilo estava ao meu lado e comentava os gibis que havia trocado no sebo. Luís encantava-se com o torneio feito por Seu Matias, uma espécie de patrono dos meninos, jogadores de várzea que se esforçavam para fazerem bonito nos campinhos de futebol. Eu estava quieto, recordando as histórias que criava em casa, as quais escrevia e interpretava sozinho, executando a sonoplastia com uma batida na mesa com um biscuit de minha mãe, embalando as vozes em diferentes timbres, para id...

Um pouco sobre A BARCA E A BIBLIOTECA: um romance sobre como livros também foram sitiados em tempos de repressão

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A história trata dos vários olhares do homem em consonância com o seu cotidiano, alicerçado nos valores que concebe para a sua vida. É a trajetória de um homem (César), que aos poucos vai conhecendo a verdadeira história de seu pai e o quanto ela ainda o influencia nos dias atuais, forçado de certa forma, a recorrer ao passado e reconhecer nele um caminho novo, de liberdade e orgulho, que não identificava antes. Uma história que vai modificar e completar a sua. Com o conhecimento destas vivências, cresce como ser humano. Tudo começa nos anos sessenta, cuja curiosidade infantil o impulsiona a conhecer determinados documentos estranhos que parecem comprometer o seu pai, e que tanto o angustiavam pelo forte conteúdo político que continham. Ao mesmo tempo vivia a sua vida de menino, confrontando a fantasia de aventurar-se na barca á beira do cais, sempre impedido pela mão forte do pai, ao mesmo tempo, que por outros caminhos, imergia no mundo sagrado da biblioteca, batizado que ...

Passos de atriz

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Ela atravessou a rua devagar, lembrando as velhas histórias do rádio. Seus cabelos grisalhos, a pele ressequida e marcada, pouco lembrava a figura brejeira dos anos 60. Mas ainda tinha a paixão na alma e a vontade de desenterrar o passado e vivê-lo plenamente. Sabia que não era possível encontrar os amigos, muito já mortos, outros vivendo perspectivas diferentes, burocráticas, mesquinhas e até medíocres. Ela ainda tinha sonhos, embora sozinha, quem sabe restaurar o que de alegria lhe restava, de novidade e desejo se debater em buscas ainda não realizadas. Estava velha, mas não cansada. E se vivia do passado, quem a poderia acusar? Refletia o resto de luz que iluminava a sua mente e da qual não podia nem queria se livrar. Uma chama frágil, mas densa, que a mantinha viva. Considerava que suas roupas eram dignas, que o talhe era modesto, mas adequado para a ocasião. Subiu a calçada, meio falseando o pé no salto alto. Nem tanto, o suficiente para uma senhora como ela. Paro...

Caminhos traçados

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"O homem que deve morrer" era uma novela dos anos setenta. Na abertura, não lembro bem se era dentro do tema musical ou em off, na voz de um locutor, ouvia-se a frase “ando por caminhos que nunca foram abertos”. Tudo induzia ao clima de suspense da história. Aproveito este preâmbulo para deixar-me conduzir pelas memórias infantis que volta e meia surgem e via de regra, produzem uma sensação de boa melancolia. Nesta época, um amigo da escola e eu, tínhamos entre onze ou doze anos e costumávamos pegar um ônibus na volta da escola. Só que eram linhas opostas, enquanto o meu coletivo ia na direção do bairro Cidade Nova, o do meu amigo era no rumo do Santa Teresa. Ao sair do colégio, dirigíamos pela rua 24 de maio até a praça Tamandaré. Atravessávamos as pequenas vielas entre os canteiros, repletos de uma espécie de lírios lilases. Eram flores com muitas folhas verdes e longas, perfazendo o contorno dos canteiros. Enquanto ele se afastava em direção à rua Silva Paes, atrave...