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O alarme

Ouço batidas, soam longe, mas aos poucos, ficam mais audíveis, como se ocorressem muito próximas. O som se torna agudo e forte, ríspido como um alarme. Meus ouvidos doem, alma lateja. Observo, aflito, as paredes, os espaços, os cenários que se multiplicam. Fico imaginando se este barulho não parasse jamais. Como viveria assim, nesta voracidade que corrói meus ouvidos. Parece uma eternidade. Não sei se é algum alarme ou é meu coração. Quisera voltar aos poucos, a ouvir sons óbvios, quase inúteis. Quisera apenas ouvir o som do carro que se afasta, da música dormente do apartamento ao lado, do assobio agudo nas noites enrijecidas, dos fonemas dispersos de minha voz afônica. Quisera apenas viver o mesmo do mesmo, sem este alarme que sonda minhas invasões. Se não houvesse essa tela dormindo em meu travesseiro. Se não houvesse esse impulso e pulsão de clicar. Se não houvesse essa aflição em ser ouvido, visto e amado. Talvez, esse alarme parasse de soar.