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Mostrando postagens com o rótulo melancolia

O barco à deriva

Greg olhou para a estante de poucos livros. Por um momento, pensou até que ficaria, mas já não havia tempo para discutir qualquer assunto, muito menos permancer naquela casa. Os livros pareciam chamá-lo, pedindo que observasse suas capas, a contra-capa, o miolo costurado de uma maneira estranha para a época. E o conteúdo, o conteúdo viria por acréscimo. Não importava a ninguém o conteúdo e eles, os livros, pareciam ter vida. Greg afastou-se um pouco em direção à janela que dava para o jardim dos fundos. Na verdade, não era um jardim, era apenas um amontoado de flores de todos os tipos e alguns arbustos. Olhava para baixo e tinha uma sensação de vazio, uma melancolia que não tinha como explicar. O psicanalista dizia que era normal, ele era um homem melancólico, um cara acostumado com os sentimentos, o sofrimento, a dor que deveria ser exaltada, extrapolada, sentida e liberada na escrita. Quase catarse. Talvez o psicanalista tivesse razão. A melancolia era o seu ganha-pão. Co

As cores de abril

“As cores de abril, os ares de anil, o mundo se abriu em flor. E pássaros mil, nas flores de abril, voando e fazendo amor.” O poeta Vinícius de Moraes identifica nestes versos, o início do outono, numa perspectiva de beleza e paixão, na qual a natureza tinge suas cores, dando voz à poesia. É abril que começa. É o outono que chega, a estação, a meu ver, mais suave e plena de matizes, cantos e poesia. Plenitude. Como se a paz reinasse por um período até chegar o inverno. O inverno, que para nós, gaúchos, em regra é rigoroso, em meio a ventanias e frio intenso. Entretanto, no inverno, resiste com grandeza a flor símbolo de nosso Estado, o brinco-de-princesa. Uma flor que vence as intempéries e justifica a sua resistência pela beleza que acolhe nossos jardins e praças. Uma flor que viceja durante todo o ano e tem a forma de um brinco, como os usados pela mulher gaúcha. Suas cores vão do azul, violeta, ao vermelho, branco e rosa, cujas nuances se mesclam aos coloridos

A CIDADE QUE SABIA DEMAIS - 5º CAPÍTULO

Capítulo 5 Rosa investigava distraída o celular, quando Ricardo deu uma pequena batidinha no balcão. Ela assustou-se e pediu desculpas pela displicência. — Não se preocupe dona Rosa. É que estou com um pouco de pressa, esqueci uns documentos no quarto e preciso sair rapidamente. — Ah, sim. Já lhe dou a chave. Doutor, gostaria de participar do nosso coral da igreja? Olhe, não precisa ser cantor, basta ter boa vontade. — Dona Rosa, além de eu não ter o mínimo de talento, tenho muito pouco tempo. A senhora sabe, o hospital… — É verdade, é que a gente sempre está precisando de novas vozes para o coral. Mas quando puder, apareça lá, veja os nossos ensaios. E assim que houver uma apresentação para o público, pode ter certeza que o convidarei. Sou também a maestrina, sabe? — Ah, sim, muito obrigado. Quando está se afastando, Rosa ainda pergunta: — Doutor, é rapidinho. Tem alguma notícia de Raul? — Raul Soares? A senhora o conhece? — Sim, este mesmo. Ele é m