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sexta-feira, janeiro 10, 2020

Quando se tem amigos


Esta é uma pequena homenagem à minha querida amiga Idelci Souto, pela passagem de seu aniversário. Ela é uma pessoa que sempre participou com muita generosidade e afeto de minha carreira literária. Na foto desta publicação, ela está no autógrafo de meu primeiro romance, "O eclipse de Serguei". Uma pessoa amável, grande advogada e professora de português além de uma inspirada cantora.


Tem-se amigos durante a vida que nem precisam estar sempre ao nosso lado. Nem devem conviver como nossas angústias ou dores, embora demonstrem empatia por nossos sentimentos e tenham implícita a alteridade, colocando-se em nosso lugar, quando demonstramos fragilidade ou sofrimento.

Há amigos que vivem próximos, e mesmo sem contato constante, sabemos que estão ao nosso lado.

Há amigos que alegram-se com nossas conquistas, como nossas pequenas vitórias, com nossos desafios. Há amigos que nos desafiam, que nos despertam, que nos apoiam, que vibram com nossa alegria. Há amigos assim, fortes, sinceros e envolventes que desconstroem barreiras e estabelecem pontes.

Há amigos que se aproximam, que falam, que argumentam, que lutam, que se inventam, que esperam de nós sempre boas colheitas e nos ajudam a plantar, semeando expectativas e esperanças.

Tenho uma amiga assim, que sempre me incentivou em meus escritos, desde os primeiros textos, aos contos, aos livros publicados, aos romances, às crônicas do Jornal Agora. Tenho uma amiga deste naipe, rara e brilhante, uma pessoa afável, cujas virtudes não teria como enumerar aqui, porque além de todas os predicados, ainda tem a principal que é a capacidade de disseminar esperanças, confiante e firme. Seu único interesse é o bem do amigo e por isso, muito maior do que qualquer característica pessoal, é o mérito de ser amiga em sua essência como um rasgo de afetividade que envolve com afeto, benevolência e carinho, pois sua aspiração é o bem do outro.

Uma amiga que utiliza a linguagem em suas representações semânticas, metafóricas ou líricas, e muito além destas teorias, uma explosão de conhecimentos, ideias e perspectivas tanto políticas, quanto sociais ou apenas o ato genuíno de uma boa conversa. Tem-se aqui o espírito exacerbado de emoção e inteligência, tanto da advogada quanto da professora.

Quando se tem amigos, a vida fica mais leve e o mundo parece abrir espaços a nosso favor. Esta minha amiga muito me incentivou a prosseguir minha carreira literária.

quinta-feira, abril 19, 2018

Faz tempo

Faz tempo que não se vai à janela, nem se observa a rua, nem se reflete na vida.

Faz tempo que não se pula amarelinha, nem se ensaia passos de dança, nem se sorri.

Faz tempo que o mundo anda cinza, que o medo acolhe as portas, que o riso encolheu.

Faz tempo que o ódio é mais inspirador que o amor.

Faz tempo que a divisão é o elemento maior.

Faz tempo que se rompeu o elo.

Faz tempo que se anda em atropelo, sem olhar para o mar ou rever amigos.

Faz tempo que se anda sozinho, que se olha uma tela e não se absorve nada.

Faz tempo que o mundo anda para trás.

Faz tempo que a vanguarda deixou de ser protagonista dando lugar ao retrocesso.

Faz tempo.

Fonte: Bess Hamiti in: https://pixabay.com/pt/users/Bess-Hamiti-909086/

terça-feira, dezembro 12, 2017

Um natal ecumênico

Nos dias que antecedem o Natal, percebemos que apesar da correria natural pela proximidade da data, ocorrem, por vezes, acontecimentos inesperados e muitas vezes inexplicáveis.

Numa data distante, num Natal que se vai no tempo, ficaram as lembranças como registros que vira e mexe, nos ocupam a mente.

Lembro de meus pais atarefados, cada um na sua atividade, além da demanda natalina. No jantar, eu e minha irmã conversávamos animados sobre os brinquedos, o tema que mais nos interessava. Ela já tinha escolhido o seu, uma boneca de louça, olhos azuis que abriam e fechavam e comentava isso com a maior eloquência, como se fosse o ápice da modernidade. Já havia, inclusive, escolhido o nome: Maximira Carlota. Eu a ficava ouvindo e me perguntando que nome era aquele. Mais tarde descobrira que era a protagonista de uma radionovela, uma personagem que chorava o tempo inteiro, vivendo a mocinha ingênua e sofredora. Eu sonhava com um caminhão com carroceria ou uma locomotiva. Meu pai falava do trabalho, da possibilidade de no final da semana, mais perto do Natal, ele poder ir à noite, para fazermos as últimas compras. Minha mãe, certamente aumentava a lista que costumava levar para não esquecer nenhum item.

O que ela não sabia, é que grandes surpresas estavam por vir. Tudo começava pela característica ímpar de nossa rua, que era considerada uma rua ecumênica, pelo elevado número de instituições religiosas em poucos metros quadrados.

Por outro lado, era uma rua arborizada sem qualquer preocupação paisagística ou compatível com a infraestrutura urbana, desde salsos-chorão que se derramavam na calçada, uma velha figueira se irmanava com os pássaros da vizinhança e que se distinguia na última esquina, até plátanos que desenhavam as calçadas nos meses de outono. Ah, havia também um pinheiro imenso plantado por um morador alguns anos atrás, que se esgueirava entre os fios de luz, procurando o sol e a energia que demandava seu crescimento.

Quanto ao aspecto religioso, o ecumenismo de nossa rua se sustentava a partir da convivência de pessoas com religiões diferentes, mas que se irmanavam especialmente naqueles dias vindouros ao Natal.

Meu pai era católico praticante, minha mãe, nem tanto. Entretanto, a missa do Galo era sagrada, embora sempre saísse da igreja criticando o sermão do padre que segundo ela, repetia o mesmo mantra, chamando à atenção das pessoas que somente compareciam à missa, no dia do Natal. Mas, em meio a esses desacordos, ela sempre ficava emocionada pelos cânticos, pelas mensagens, pelos abraços e pela alegria que inspirava a todos. Afinal, não era tempo de ter rancores, mas de perdão. A igreja ficava no final da rua, próxima à grande figueira e ao colégio ao lado.

Ao lado de nossa casa, havia um centro espírita, no qual a médium era uma mulher um tanto enigmática, para nós crianças e até curiosa pelo desconhecimento que tínhamos de seu ritual, apenas ouvíamos os pontos que se elevavam à noite, ainda que fosse uma pessoa agradável e muito amiga dos vizinhos. Tinha grande apreço por minha mãe, que embora não compartilhasse de sua crença, passava algum tempo conversando e talvez confidenciando seus sonhos e esperanças. vUm pouco mais adiante, no meio da quadra seguinte, ficava a Igreja Batista, cujo pastor implicava com o jogo de futebol que desfrutávamos em frente ao templo, do qual ele temia que algum crente desprevinido recebesse uma bolada. Entretanto, participava ativamente das reuiões do bairro e principalmente sobre a rua, compartilhando com os demais as medidas de melhorias reinvindicadas pelo pequeno grupo populacional.

Mas naquela época, próxima ao Natal, alguém teve a ideia de reunir o pessoal da rua e quem quisesse participar do bairro. Tratava-se de dona Jandira uma velha enfermeira, que morava sozinha e que segundo ela fora objeto de um sonho muito estranho e do qual, precisava compartilhar conosco. Elaborou pequenos convites e levou-os a todas as casas da rua, aproveitando o nome das pessoas que faziam parte da lista que mensalmente recebiam a imagem de Nossa Senhora de Fátima, em sua capelinha de madeira. Foi bem fácil, até porque, líder que era para organizar adultos e crianças, juntara um bom grupo para levar os convites e marcar a hora do evento.

De tardezinha, os vizinhos aproveitavam o tempo em suas cadeiras de praia, tomando chimarrão e jogando conversa fora, enquanto os meninos abaixavam-se entre uma jogada e outra de bola de gude, pintados pelas sombras dos plátanos, que lhes desenhava as camisas e os braços em movimento. As meninas andavam com os carrinhos de boneca e conversavam animadas entre um calçada e outra, como se passeassem num parque.

No dia marcado, Dona Jandira reuniu a maioria dos moradores. Alguns vinham direto do trabalho, outros se enfeitavam após o banho e as mulheres que eram somente donas de casa, já estavam prontas para o evento. Minha mãe se arrumara rapidamente após voltar da fábrica de tecelagem, preparara um chá, alguns biscoitos porque a reunião desta vez, seria em nossa casa.

Dona Jandira colocara as cartas na mesa. O tema era o Natal e estava na hora de fazermos, segundo ela, uma festa natalina que marcasse de forma brilhante a nossa rua e mais do que isso, a nossa convivência de vizinhos e amigos. Isto era na verdade o que o seu sonho a incumbira: organizar grupos religiosos tão diferentes. A discussão foi se desenvolvendo em vieses diversos, uns interessados em elaborar um presépio vivo, outros em fazer uma árvore gigante e organizar um coral, afinal tinhamos uma professora de música no bairro, outros que deveríamos recolher alimentos e brinquedos para as famílias carentes. Alguns não gostariam de participar em nada, porque não tinham tempo ou estariam viajando. Todos os temas foram levantados, estudados e muito discutidos.

Meus pais pareciam felizes com a discussão. Os amigos reunidos, as pessoas discutindo uma maneira de representar o nascimento de Jesus, o que poderia haver de mais religioso e digno do que aquele desejo?

Eu observava a cena com os olhares de criança, cheios de curiosidade e ao mesmo tempo tendo uma nova visão que se afiançava na minha educação religiosa. Aos poucos, o assunto debatido tomava uma eloquencia poderosa, quase etérea e um bem estar parecia tomar conta do grupo. Eu estava feliz e todos pareciam assim ungidos da alegria que entrara por alguma porta e se intalara entre nós.

Hoje, passado tantos anos, eu acredito que naquele momento ocorreu para o nosso bairro uma manifestação verdadeira do Natal. Não importa o que aconteceu depois, talvez tenha sido somente o complemento das atividades do dia de Natal. Mas o que ficara para sempre, é que o Natal estava em nossos corações, em nossos sonhos, em nossas discussões sobre Jesus, Maria e José e como os representaríamos em nossa humanidade tão frágil.

sexta-feira, maio 26, 2017

A ARMADILHA

Era magro, alto, estapafúrdio. Cabelos loiros, nariz adunco, olhar disperso. Vestia-se com primor. De nome Eugênio, julgava-se o espírito inspirador. Mais velho do que nós, esnobava qualquer gesto que imitasse seus artifícios. Esperto, namorador, conquistador das meninas do bairro.

Nós, os da turma de baixo, não passávamos de crianças e devíamos como tal sermos tratados. Às vezes, aos sábados, em pé de conquista, passava como quem flutua, olhando ao longe, pesquisando os desafios e a melhor maneira de vencê-los. Era meu vizinho, mas somente se relacionava com os de sua idade. Nós, entre os 10 e 12 anos nos preocupávamos com o destino do Agente 86, das peripécias do Major Nelson da Jeannie, dos pequeninos de Terra dos Gigantes, das vilanias do Dr. Smith dos Perdidos no Espaço ou das brincadeiras de luta livre que faziam parte de nosso cotidiano.

Eu sempre fui observador e no meio de toda a barafunda de aventuras, arriscava-me em analisar as atitudes dos que me cercavam: Seu Alencar da fruteira, Dona Judite da mercearia, Seu Joaquim da padaria, as vizinhas solteironas que rebuscavam-se em salamaleques na cata de fofocas, nas atitudes arrogantes de Eugênio.

Talvez porque gostasse de escrever, inventar histórias onde este universo do cotidiano povoasse a minha mente imaginosa.

Vez que outra, Eugênio se lançava em descobertas mirabolantes: de uma feita, inventou que a lua sumiria brevemente do firmamento, em função de um transtorno espacial, providenciado pelas irradiações das usinas elétricas.

E olhe, que naquela época nem se falava em ecologia ou preservação do meio ambiente. Inventava absurdos como ninguém para deixar-nos maravilhados pelas descobertas incríveis que fazia. Baseava as suas descobertas nas informações de radio-amador do pai, noticias que jamais acompanharíamos pelo radio ou pela tevê.

Noutra oportunidade, informou-nos que havia captado uma descoberta assombrosa, mas que não tínhamos idade para a revelação: éramos pequenos, bobos e imaturos. Deixou-nos dias na expectativa.

Falava de sombras que se agigantavam à noite, tudo muito vago, e que tomariam conta do espaço, escurecendo posteriormente o dia. Havia, segundo ele, um motivo extra

terreno, além de um procedimento que impediria tal ocorrência, mas que somente ele tinha acesso e que jamais nos contaria. Eu tinha muitas dúvidas, afinal, era muito saber, muita pesquisa, para quem havia repetido várias vezes de ano, que só pensava em namorar e tirar vantagens.

Um dia, disse-lhe que eu também tinha uma descoberta fenomenal, de acordo com os meus parcos conhecimentos e que para expô-la completamente, deveria exercer na prática os seus efeitos. Ele riu na minha cara, desautorizou qualquer conhecimento na frente de meus amigos e afastou qualquer hipótese de praticar uma experiência. Então, disse-lhe que mais dia, menos dia, ele seria o protagonista da experiência. Não desconfiaria como, nem quando, mas a solução do problema viria através de suas mãos, ou pés, quem sabe. Deixei no ar a questão: qual a força que faz com que um homem de 70 kg despenque no chão, sem que para isso, exerça qualquer esforço. Naturalmente que ele respondeu que era a força da gravidade, ao que os colegas juntamente concordaram. Eu disse que ele poderia estar certo, mas a segunda parte da experiência, seria feita por ele, num momento em que ele jamais esperasse.

Então planejei tudo silenciosamente. Atravessei a calçada no entardecer de um sábado, um daqueles dias em que Eugênio passava em frente da casa todo engomadinho, visando a caça do fim de semana. Como era região de praia, a areia era solta, não havia pavimento, ideal para executar a minha tarefa.

Sentei-me o chão, já preparado com uma pequena enxada, que tirara das ferramentas de meu pai e um balde de água. Cavei um buraco bem fundo, com uma circunferência pequena, constituindo uns 50cm, no formato redondo. Acomodei as paredes, fazendo uma perfeita cratera, bem alinhada. Derramei generosamente a água. Fabriquei uma tampa com hastes de taquara, previamente cortados. Depois, estiquei o papel de embrulho, perfazendo toda a extensão da circunferência, espalhando a terra por cima, de maneira uniforme, até encobrir totalmente o papel. Assobiei para os amigos que jogavam pelada do outro lado da rua e sentei-me encostado no muro de casa, à espera do acontecimento.

Os guris correram, ouviram o meu relato breve, cheio de suspense. Teríamos em seguida, a solução da experiência: a força que atrai o homem para o solo, tendo ainda com uma questão reserva: poderia haver um dispositivo que precipitasse tal acontecimento?

Os meninos estimulados queriam saber o que eu havia feito, que tipo de coisa estava planejando? Queriam respostas, interessados em que estavam no desfecho.

Alguns, contrariados, queriam voltar ao jogo, embora quisessem saber o resultado.

Eu pedia que esperassem, que tivessem calma, o momento chegaria e não tardaria muito.

Estava certo.

Em seguida, surgiu no alto de seu eterno esnobismo, Eugênio, desta vez de calça branca, camisa de seda vermelha, envolto numa atmosfera de satisfação própria e orgulho.

Caminhava austero, cabeça pro alto, nariz adunco, levantado, meio sorriso de sabedoria e esperteza. Passos certos, seguros, precisos. Nem nos olhou, preocupado em que estava em sua própria figura. Nós estávamos de olhos, bocas e ouvidos grudados em sua silhueta. Meu coração disparava desenfreado. Minha boca estremecia, meus olhos se agigantavam na pupila.

De repente, o extraordinário, o impossível aconteceu.

Eugênio enfiou vigorosamente o pé no buraco, falseando o corpo, desequilibrando e caindo ao chão, sujando de lama as calças, enfiando a cara na areia.

Caímos na gargalhada em uníssono, rindo sem parar, enquanto ele esbravejava, acusando-nos de ter feito a armadilha.

Entre risos, eu o desafiava, argumentando que ele protagonizara a solução do problema. Um homem despenca no chão, quando a força da gravidade o impele, principalmente se existe um dispositivo técnico para isso. Ou apenas, a incerteza do destino, completei.

Ele nos olhou amuado, afastou-se jurando vingança, gritando impropérios, ameaçando queixar-se aos nosso pais.

Nunca mais ouvimos as suas descobertas fantásticas, ou nos deparamos com o seu jeito soberbo de nos tratar.

Dali para frente, deixamos de lado a figura de Eugênio, embora eu ainda o cultivasse em meus escritos, cada vez com nuances mais exacerbadas.

quarta-feira, junho 22, 2016

O AMOR E A PIEDADE : sentimentos distintos


Há milhares de expressões que tentam expressar e explicar o que é o amor. Platão, ligando o amor à beleza e ao bem, dizia que o amor liberta o ser humano e o conduz à verdade. Para Santo Agostinho, o amor é o nexo que une as pessoas e as diviniza. Somente o amor é capaz de explicar a vida da alma e a sua possibilidade de se elevar ao conhecimento unitivo de Deus. Enquanto Platão se preocupava em conceber o amor como o elo, a ponte entre o corpóreo e o espiritual, entre o relativo e o Absoluto, entre o particular e o Universal, Santo Agostinho via o amor como o nexo entre o divino e as pessoas.

Mas há centenas de filósofos que dissertaram e tentaram explicar o amor, como Spinoza, Jean-jacques Rousseau, Friedrich Schleeirmacher, Aristófanes, Arthur Schopenhauer e tantos outros. Do mesmo modo, os poetas e compositores à sua maneira, cantaram e encantaram o amor em todas as suas nuances.

Eu não seria capaz de fazer uma explanação a respeito do tema com esta intensidade e conhecimento, muito menos buscar novas possibilidades de discussão deste sentimento, porém ouso argumentar sobre determinadas situações que podem identificar ou não o amor, seja em que especificidade se encontre: o amor filial, materno, paterno, fraterno, conjugal, etc.

Por exemplo, acredito que o sentimento do amor não implica ou não exige compaixão.

Não se deve acreditar que, ao se ter piedade por alguma pessoa, passaremos a amá-la, como condição inerente a este sentimento. Uma coisa não implica na existência da outra. Na verdade, tratam-se de emoções e sentimentos totalmente distintos.

O amor não depende de outro sentimento para se desenvolver, basta-se a si próprio, é intrínseco à capacidade de amar. Alimenta-se da admiração diária, do carinho efetivado, da troca de emoções que se estabelecem nos encontros.

Ama-se por vários motivos, pela beleza, pelo carinho, pela proximidade afetiva, por laços familiares, por admiração, mas jamais por compaixão. Nunca devemos realçar ou incentivar as características negativas de uma pessoa, transformá-la num pobre coitado, como se isso lhe possibilitasse o passaporte para almejar o amor. O que pode acontecer nesta presumível insistência é um sentimento oposto, uma aversão a tal pessoa.

Pessoas que se sentem inferiorizadas em seus relacionamentos ou enfrentamentos a situações cotidianas, costumam afirmar que a sua situação é muito mais difícil do que a de outros em casos semelhantes. Segundo elas, as outras pessoas com que se relacionam são os verdadeiros empecilhos. Elas nunca vencerão os obstáculos por este ou aquele motivo, como se através desta conduta recebessem como prêmio de consolação, a condição de serem amadas.

Pode-se ter compaixão, não amor.

Por outro lado, o indivíduo que passa a vida inteira suplicando amor, realçando as suas inaptidões, fato corrente, segundo a própria literatura científica, produz um afastamento cada vez maior do bem amado (seja este o marido, a esposa, o amigo, o parente próximo, o vizinho, o(a) amante).

Uma pessoa que demonstra amargura, numa luta constante contra a vida, que está em desconforto com a realidade e nada lhe é favorável, acaba afastando quem poderia descortinar um mundo em parceria, em união e agradável convivência. Entretanto, o que geralmente acontece é que o suposto candidato a amar sente-se obrigado a aturar tal sofrimento, em virtude da afeição que possui ou acaba definitivamente afastando-se.

Nunca devemos minimizar as qualidades de nossos filhos, exaltando as suas deficiências e transformando-o num coitadinho. Ele apenas colherá os frutos de ser considerado (e de se achar) o pior entre todos.

A criança, via de regra, acaba introjetando que é um ser inferior, incapaz de exercer seu domínio sobre as situações e de atingir seus objetivos. Acredita enfim que é um coitadinho, o que certamente gera um círculo vicioso, sentindo-se incapaz para a vida e tornando-se realmente um incompetente. A criança não consegue fugir da situação que lhe foi criada.

E apesar de toda carga de presumíveis deficiências que carregará pela vida, não receberá amor, nem carinho por isso, ou se receber, será de uma forma burocrática e social, para que não se sinta pior ou apenas para não desagradar os pais.

Piedade é o pior sentimento que uma pessoa deve despertar no outro. Não constrói nada, não o engrandece como ser humano, nem como cidadão.

Claro, que há momentos em que este sentimento de solidariedade é adequado, compreensível e necessário, mas não deve existir como regra no apequenamento intencional do caráter para atingir tal sentimento.

Não se deve creditar os defeitos dos filhos aos outros. Eles são criaturas normais, e tal como seres humanos que são, erram e possuem dificuldades como todos os outros, não são (nem devem ser considerados) santos.

Os chamados “outros”, tais como educadores, médicos, amigos, patrões, colegas ou familiares, não devem ser os únicos culpados pelos erros de nossos filhos.

Por vezes, estas pessoas podem ser culpadas, sim, de dificuldades imputadas ao filhos, e neste caso devemos lutar para esclarecer os fatos, tomando as medidas necessárias para que a justiça prevaleça. Devemos sim, ajudá-los, caso a situação exija a nossa interferência.

Por outro lado, devemos nos devotar na resolução dos problemas, examinando com clareza e imparcialidade todas as facetas da complexidade dos fatos, com a compreensão de que nem sempre nossos filhos estão com a razão.

Quando nossos filhos erram, somente crescerão internamente se enfrentarem (e aceitarem) os seus próprios erros e aprenderem com eles.

Não será apoiando indiscriminadamente as suas condutas, ou seja, passando a mão em suas cabeças ou acusando os “outros”, que os ajudaremos a crescer. Se a culpa de seus fracassos ou frustrações recair sempre noutras pessoas, pensarão que a vida lhes deve respostas imediatas, segundo as suas ideias preestabelecidas, alicerçadas em argumentos irredutíveis e nunca amadurecerão. Sempre haverá culpados para seus erros nas adversidades da vida. Não é assim que acontece.

Retomando, jamais se deve pensar que sendo coitadinhos, os filhos serão mais amados.

O amor é incondicional, não impõe regras, acordos, problemas ou adequações. O amor é íntegro. Ama-se sem quaisquer adereços de necessidade ou sofrimento. Ama-se porque o amor é intrínseco ao ser humano.

O homem cansa-se do sofrimento, da queixa, do estigma de pobrezinho. Cansa-se da necessidade de amar pela condição da falta, do problema, do impedimento, da deficiência, da covardia.

Amar não é sinônimo de dificuldade em se enfrentar a vida, ao contrário, de coragem e grandeza de coração.

Admira-se aquele que luta para vencer as adversidades, aquele que se esforça para atingir um ideal, aquele que se supera numa situação adversa ou que almeja tornar-se um ser íntegro e capaz de produzir desassombros pela vida.

É justo e normal sofrer infortúnios, o que não é justo nem normal é alimentar o sofrimento, sobreviver de modo medíocre através da dor, tendo enfim, a necessidade de ressaltar este sofrimento para obter deploráveis ganhos de origem afetiva.

Belo e dignificante é lutar até o fim, mesmo que não se atinja o ideal, que não se consiga a meta proposta, mas que se tenha vivido com dignidade e alcançado o mínimo do que se desejava para ser feliz.

E por fim, que não se tenha desistido no meio do caminho, tendo a certeza de que se acomodar na atribulação, não é mais inteligente do que ir à luta.

Coragem não é gritar aos quatro ventos o que se pensa, sem se ouvir os demais, coragem é permanecer na luta.

Coragem é transformar a sua vida numa escada, onde cada degrau é construído para uma vitória, mesmo que não seja a almejada, mas uma vitória interior, de maioridade emocional, de segurança própria, de sobrevivência digna.

Talvez a felicidade seja apenas isso: lutar, lutar e lutar.

E o amor, este não tem restrições. Este incide no belo, no feio, no afeto, na emoção do outro, na alegria, na paz, no que subtrai a alma através dos olhos. Admiração plena ou aversão pura são coisas distintas. Amar é outra coisa. Sem condições.

terça-feira, julho 14, 2009

CARLOS, O SENHOR DO TEMPO E DA RAZÃO


Eu tenho um amigo que possui um aposto no site de relacionamentos, digamos assim, meio estranho, talvez por absoluta ignorância minha ou mesmo insensibilidade de compreensão, mas de todo modo, chamar-se o senhor do tempo e da razão é no mínimo, excêntrico. Vou falar dele da melhor maneira que conheço, que é escrevendo. Claro, quem vê a expressão, logo percebe que ele se refere ao passar do tempo, às mudanças inevitáveis que ocorrem na vida, nos relacionamentos com os amigos, a família, enfim, a metamorfose que é a nossa existência com o passar do tempo. Eu entendo isso, Carlinhos, mas fica-me sempre uma pulga atrás da orelha, aquela dúvida que coça e pinica e que vira e mexe, se instala na mente e nos faz refletir. Quem influi na tua vida, o tempo, é ele o senhor da razão ou tu és a razão para todas as mudanças, se existirem. Ou as mudanças não são fruto do tempo, mas de nossas escolhas ou não, de nossas trajetórias, de nossas procuras, de nossas percepções em frente à vida ou mesmo para alguns, de nosso destino. Não sei. Por certo, também não sabes. Mas pensas e o fazes com sensibilidade que sempre foi tua marca registrada. Na verdade, Carlinhos, eu não queria discutir nada disso, apenas fiz um mote para o meu texto. O que quero mesmo é te homenagear, se não estando aí, te abraçando pelo teu aniversário, mas sacando a pessoa maravilhosa que sempre foste e que, tenho certeza, é muito bem representada nas mensagens que quase diariamente me envias. Olha, muitas vezes não respondo, mas sabes que as leio todas e muito do que contêm, fica retido aqui, dentro da minha alma. Carlinhos, senhor do tempo e da razão, ou o tempo é o senhor, não sei. Sei que somos senhor de nós mesmos, enquanto estamos estimulando a nossa mente, tendo esperanças, buscando sonhos, transformando o que nos vem às mãos com afeto e sabedoria. Tenhas certeza, que tenho muitos amigos daquela época, amigos que partiram para outras cidades, como a Ângela e o Ivam (Ivam Martins, lembras?), o Paquito, que às vezes vejo, a Sirlei que tenho contato pela rede, assim como a Peninha e tantos outros que partilharam de sonhos, de sentimentos de apreensão para com o futuro ou de busca de novos valores, ou mesmo incertezas, mas formatados numa configuração de afeto, carinho e respeito. Estes amigos estão sempre comigo, no meu coração. Hoje é um dia especial, o 14 de julho, não somente para a França, ou pelo nascimento de Che Guevara em 1928, mas pelo dia do teu aniversário. Parabéns, Carlinhos, senhor do tempo, da razão, do sentimento, da alegria, do afeto. Um abraço do amigo de sempre, meio ausente, mas sempre conectado Gilson.

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