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Mostrando postagens com o rótulo amigos

Quando se tem amigos

Esta é uma pequena homenagem à minha querida amiga Idelci Souto, pela passagem de seu aniversário. Ela é uma pessoa que sempre participou com muita generosidade e afeto de minha carreira literária. Na foto desta publicação, ela está no autógrafo de meu primeiro romance, "O eclipse de Serguei". Uma pessoa amável, grande advogada e professora de português além de uma inspirada cantora. Tem-se amigos durante a vida que nem precisam estar sempre ao nosso lado. Nem devem conviver como nossas angústias ou dores, embora demonstrem empatia por nossos sentimentos e tenham implícita a alteridade, colocando-se em nosso lugar, quando demonstramos fragilidade ou sofrimento. Há amigos que vivem próximos, e mesmo sem contato constante, sabemos que estão ao nosso lado. Há amigos que alegram-se com nossas conquistas, como nossas pequenas vitórias, com nossos desafios. Há amigos que nos desafiam, que nos despertam, que nos apoiam, que vibram com nossa alegria. Há amigos assim, fort

Faz tempo

Faz tempo que não se vai à janela, nem se observa a rua, nem se reflete na vida. Faz tempo que não se pula amarelinha, nem se ensaia passos de dança, nem se sorri. Faz tempo que o mundo anda cinza, que o medo acolhe as portas, que o riso encolheu. Faz tempo que o ódio é mais inspirador que o amor. Faz tempo que a divisão é o elemento maior. Faz tempo que se rompeu o elo. Faz tempo que se anda em atropelo, sem olhar para o mar ou rever amigos. Faz tempo que se anda sozinho, que se olha uma tela e não se absorve nada. Faz tempo que o mundo anda para trás. Faz tempo que a vanguarda deixou de ser protagonista dando lugar ao retrocesso. Faz tempo. Fonte: Bess Hamiti in: https://pixabay.com/pt/users/Bess-Hamiti-909086/

Um natal ecumênico

Nos dias que antecedem o Natal, percebemos que apesar da correria natural pela proximidade da data, ocorrem, por vezes, acontecimentos inesperados e muitas vezes inexplicáveis. Numa data distante, num Natal que se vai no tempo, ficaram as lembranças como registros que vira e mexe, nos ocupam a mente. Lembro de meus pais atarefados, cada um na sua atividade, além da demanda natalina. No jantar, eu e minha irmã conversávamos animados sobre os brinquedos, o tema que mais nos interessava. Ela já tinha escolhido o seu, uma boneca de louça, olhos azuis que abriam e fechavam e comentava isso com a maior eloquência, como se fosse o ápice da modernidade. Já havia, inclusive, escolhido o nome: Maximira Carlota. Eu a ficava ouvindo e me perguntando que nome era aquele. Mais tarde descobrira que era a protagonista de uma radionovela, uma personagem que chorava o tempo inteiro, vivendo a mocinha ingênua e sofredora. Eu sonhava com um caminhão com carroceria ou uma locomotiva. Meu pai falava

A ARMADILHA

Era magro, alto, estapafúrdio. Cabelos loiros, nariz adunco, olhar disperso. Vestia-se com primor. De nome Eugênio, julgava-se o espírito inspirador. Mais velho do que nós, esnobava qualquer gesto que imitasse seus artifícios. Esperto, namorador, conquistador das meninas do bairro. Nós, os da turma de baixo, não passávamos de crianças e devíamos como tal sermos tratados. Às vezes, aos sábados, em pé de conquista, passava como quem flutua, olhando ao longe, pesquisando os desafios e a melhor maneira de vencê-los. Era meu vizinho, mas somente se relacionava com os de sua idade. Nós, entre os 10 e 12 anos nos preocupávamos com o destino do Agente 86, das peripécias do Major Nelson da Jeannie, dos pequeninos de Terra dos Gigantes, das vilanias do Dr. Smith dos Perdidos no Espaço ou das brincadeiras de luta livre que faziam parte de nosso cotidiano. Eu sempre fui observador e no meio de toda a barafunda de aventuras, arriscava-me em analisar as atitudes dos que me cercavam: Seu Alencar da

O AMOR E A PIEDADE : sentimentos distintos

Há milhares de expressões que tentam expressar e explicar o que é o amor. Platão, ligando o amor à beleza e ao bem, dizia que o amor liberta o ser humano e o conduz à verdade. Para Santo Agostinho, o amor é o nexo que une as pessoas e as diviniza. Somente o amor é capaz de explicar a vida da alma e a sua possibilidade de se elevar ao conhecimento unitivo de Deus. Enquanto Platão se preocupava em conceber o amor como o elo, a ponte entre o corpóreo e o espiritual, entre o relativo e o Absoluto, entre o particular e o Universal, Santo Agostinho via o amor como o nexo entre o divino e as pessoas. Mas há centenas de filósofos que dissertaram e tentaram explicar o amor, como Spinoza, Jean-jacques Rousseau, Friedrich Schleeirmacher, Aristófanes, Arthur Schopenhauer e tantos outros. Do mesmo modo, os poetas e compositores à sua maneira, cantaram e encantaram o amor em todas as suas nuances. Eu não seria capaz de fazer uma explanação a respeito do tema com esta intensidade e conhe

O DOCE BORDADO AZUL - 28º capítulo e 29º (ÚLTIMO CAPÍTULO)

A seguir os dois últimos capítulos de nosso folhetim. No 28º capítulo, Laura revela-se à filha e no último, em sequência, são guardadas as melhores emoções. Capítulo XVIII O vulto na janela Lúcia parou em frente da igreja do convento. Há tantos anos misturava-se entre aqueles prédios, passeava pelos jardins com a intimidade de seus sentimentos. Visitava vielas, aprofundava-se em seus encantamentos, observando, às vezes, o pôr-do-sol que se precipitava nos espaços que se abriam entre os muros. Hoje, porém movia-se sob um impulso quase incontrolável, induzida por uma sensação nova de bem-estar, disposta a entrar e quem sabe fazer uma prece, encontrar-se consigo. Não havia sofrimento. Tinha a alma leve e a impressão de que devia cultivar esta plenitude que poucas vezes sentira. Entrou na capela que estava na penumbra. Observou a iluminação fraca em decorrência dos raios de sol beijando os últimos bancos. Estava em completa solidão. Aproximou-se um pouco, olhou para

CARLOS, O SENHOR DO TEMPO E DA RAZÃO

Eu tenho um amigo que possui um aposto no site de relacionamentos, digamos assim, meio estranho, talvez por absoluta ignorância minha ou mesmo insensibilidade de compreensão, mas de todo modo, chamar-se o senhor do tempo e da razão é no mínimo, excêntrico. Vou falar dele da melhor maneira que conheço, que é escrevendo. Claro, quem vê a expressão, logo percebe que ele se refere ao passar do tempo, às mudanças inevitáveis que ocorrem na vida, nos relacionamentos com os amigos, a família, enfim, a metamorfose que é a nossa existência com o passar do tempo. Eu entendo isso, Carlinhos, mas fica-me sempre uma pulga atrás da orelha, aquela dúvida que coça e pinica e que vira e mexe, se instala na mente e nos faz refletir. Quem influi na tua vida, o tempo, é ele o senhor da razão ou tu és a razão para todas as mudanças, se existirem. Ou as mudanças não são fruto do tempo, mas de nossas escolhas ou não, de nossas trajetórias, de nossas procuras, de nossas percepções em frente à vida ou mesmo