Se a noite despertasse um só suspiro que não fosse o meu, se a noite me levasse a sonhos que não despertassem, se a noite dispusesse apenas o silêncio e escamoteasse o medo. Não. Ela se apodera aos poucos de meus pensamentos e sublima as dores esparsas, mas constantes, transforma as linhas da tela, os ecos das músicas, os ruídos da rua. Talvez latidos distantes, resmungos de alguém que surrupia como um mágico também as suas dores. Ali passa, ali funga, ali fuma, ali fica. Depois, quando o mundo já se estabeleceu em sua mente, afasta-se devagar, vivendo outra história. Quem sabe a realidade também mude aqui dentro, as memórias se restabeleçam, a realidade se instaure de vez. Aos poucos, os sons desapareçam e os lamentos fiquem mais lentos e escassos e a noite se reintegre em sua natureza explícita de ceder ao dia que vai nascer.
Este blog pretende expressar a literatura em suas distintas modalidades, de modo a representar a liberdade na arte de criar, aliada à criatividade muitas vezes absurda da sociedade em que vivemos. Por outro lado, pretende mostrar o cotidiano, a política, a discussão sobre cinema e filmes favoritos, bem como qualquer assunto referente à cultura.
quinta-feira, agosto 24, 2023
Um só suspiro
quinta-feira, maio 19, 2016
O ALBATROZ E O VOO INTERROMPIDO
Às vezes, observo as aves sobrevoando a lagoa ou mesmo em voos rasantes nas dunas irregulares do Cassino. No céu, algumas em relevante altitude, mas todas com uma elegância que nos encanta e enche o coração de esperança.
Lembro então da lenda do albatroz, que seguia o navio de Fernão de Magalhães, auxiliando-o na rota, pois após uma tempestade havia se perdido, chegando próximo à Antártica. Ele guiou o navio, afastando-o dos ventos glaciais, mas um marinheiro o matou usando-o como alvo.
O barco naufragou e o único sobrevivente, o marinheiro atirador, teve como castigo a incumbência de contar ao mundo a história do pobre albatroz.
Em determinadas situações, o homem age como o marinheiro desavisado e mata a única esperança de sobrevivência. Ou apenas ele sobrevive por algum tempo em sua traição, mesmo que sua embarcação ainda navegue por águas ilegais. Ocorre um arremedo de vida, de liberdade vigiada e nem sempre a história contada poderá resgatar a solidariedade perdida.
O albatroz morre e mesmo que sua condição de bússola tenha algum respaldo na natureza, o voo livre fora interrompido em definitivo, rasgando a cartilha das aves.
Fonte da ilustração: Portal Brasil — http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2015/03.
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