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quinta-feira, agosto 25, 2016

As diferenças e os preconceitos

Outro dia escrevi em meu blog sobre alteridade, que trata da condição do outro, as suas diferenças em relação as minhas e como as enxergo ou me vejo a apartir dos olhos alheios. Isto significa que há diferenças e que devemos respeitá-las em nossa convivência diária.

Pensando nisso, me veio à mente percepções de pessoas que julgava diferentes e por serem assim, não as compreendia e nem as aceitava e se o fizesse, apenas as tratava com educação formal. Agora, entendo o quanto isso era preconceituoso e prejudicial para a convivência e o quanto eu era vulnerável em meus sentimentos.

Isso acontece com a maioria das pessoas e nem percebem, como eu que seguia o senso comum. Por exemplo, quando lidava com uma pessoa que em suas atividades, necessitava de um tempo específico maior, mais programático, mais dogmático, diferente do meu; eu na minha ansiedade, já me afastava. Era mais agradável compartilhar as experiências com quem fosse parecido, embora, sabemos que jamais alguém é igual ao outro.

Imagina, no que se refere a preconceitos mais radicais, como o étnico, de orientação sexual, político e ideológico, xenofóbico, religioso ou mesmo ateu. Felizmente, não passei por estes processos mais conservadores, embora no que concerne à política, muitas vezes pus em julgamento toda uma conduta em função do pensar distinto.

Hoje em dia, vemos o quanto estes sentimentos influem nos relacionamentos e o quanto as pessoas desejam que todos partilhem os mesmos caminhos, de preferência, os que escolheu para a sua trajetória.

Mais aberto para a vida, hoje enfrento sem dificuldade as diferenças, pois elas não me causam mal, ao contrário, me enriquecem. Pena que o mundo parece andar em círculos e o que pensávamos como vanguarda no passado, está sendo ultrapassado por um conservadorismo constrangedor. Parece que a humanidade regride e a alteridade é rejeitada no âmago das condutas individuais.

sexta-feira, agosto 05, 2016

OS DEZ TEXTOS MAIS LIDOS NO MÊS DE JULHO/2016

1º - O cofre e as moedas

2º - A identidade subjetiva, a alteridade e as diferenças

3º - Um crime na cidade que sabia demais

4º - Morte lenta

5º - Moedas nas frestas

6º - Momentos e encontros

7º - Iolanda

8º- Por que temer a travessia?

9º - Metáforas cruéis: desqualificação das mulheres e negros

10º - A varsóvia que vi: suas peculiaridades, beleza, modernidade

segunda-feira, julho 18, 2016

A alteridade no romance “O filho eterno” de Cristóvão Tezza

Muito se tem falado sobre o romance “O filho eterno” de Cristóvão Tezza, inclusive o livro virará filme em 2017. Há centenas de predicados e muitas considerações críticas favoráveis ao romance, o que sem dúvida condiz com a reconhecida qualidade literária do autor.

Numa publicação anterior dissertei um pouco sobre o conceito de identidade e alteridade, por isso gostaria de fazer uma relação do conceito da alteridade que se percebe no relacionamento do protagonista com o filho e consigo próprio. Este fato remete à identidade e à alteridade, no sentido do protagonista (o próprio escritor) ver no outro (o filho) o desfecho de uma perspectiva que não aconteceu, em virtude da Síndrome de Down.

“O filho eterno” de Cristóvão Tezza seria o encontro do homem consigo, na perspectiva de ser pai e criador de sua própria tessitura literária, mas a trama revela num primeiro momento o desencontro de um pai que tem o filho com Síndrome de Down. Com o decorrer da narrativa, fica claro a pergunta que o autor se faz em todos os momentos, que é como lidar com este ser que nunca será um adulto, no sentido de sua conduta na sociedade, e que portanto nunca preencherá o desejo atávico do pai em encontrar no filho a sua identidade, o seu eu e mais ainda, um outro melhor. O desejo de perpetuar a espécie melhorando-a, projetando no outro que está por vir os nossos desejos talvez não cumpridos, ou seja um ser mais forte, que tenha mais sucesso e construa um mundo melhor e prazeroso.

A história autobiográfica em forma de romance de Cristóvão Tezza aborda este problema da alteridade, incluindo-o na literatura e no nosso imaginário social. Com isso, o autor com inteligência e criatividade abre um espaço para o debate, mostrando em sua percepção humana o quanto é difícil colocar-se no lugar do outro, o quanto é difícil aceitar o outro, o quanto é difícil enxergar-se as diferenças e conviver com elas. Para que este conflito ocorra, o autor não hesita em mostrar a reação de repúdio e de afastamento, quando a informação do filho doente vem à tona. Ele acaba fugindo daquele cenário, dos personagens que constituem aquele clima adverso, do filho, da mulher, acreditando que tudo é odioso, descrevendo as próprias reações com uma força que torna este fenômeno tão próximo e plausível, que nos reconhecemos nesta violência implícita, mas que não ousamos admitir.

Pode-se refletir que a situação em que o protagonista mergulha é uma problemática inglória e insana, de modo a nos perguntarmos como lidar com a diferença, quando chegamos num caso limite, quando a fronteira do aceitar ou recusar se fecha.

De certa forma, é o questionamento que fazermos, quando lidamos com os direitos humanos, com a democracia, com os sentimentos de eugenia.

Aquilo que nos diferencia do outro sob qualquer aspecto de acordo com o nosso entendimento e julgamento, nos ameaça, seja a língua estrangeira, o próprio estrangeiro, o que vem de fora.

A teoria dos Direitos Humanos é fundada na construção de uma identidade de humano, que é profundamente excludente nesse sentido, na medida que a percepção das culturas envolvidas funciona como uma estratégia de exclusão do outro. Enquanto a Europa desenvolvia o seu discurso humanista, a escravidão africana no mundo colonial era tida como algo absolutamente justificável, bem como o extermínio dos índios, pois estes eram vistos como não plenamente humanos, pois nao se encaixavam dentro de uma concepção de identidade de sujeitos modernos, que até hoje está na base do discurso convencional e clássico dos direitos humanos.

Apreendemos então, que a dinâmica do Direito Internacional dos direitos humanos é no sentido de aceitar o outro porque o direito nos obriga. No pós-guerra, ele começa com uma linguagem bastante abstrata e generalista, no pacto internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais, tratando do sujeito. Pode-se dizer generalista, porque trata do sujeito abstrato, porém, toma outra direção, quando reconhece o direito dos sem voz, dos excluídos, das mulheres, dos afrodescendentes, dos que possuem orientações sexuais diferentes, dos deficientes, dos prisioneiros. Para tanto, foi criada uma dinâmica do direitos humanos para reconhecer os direitos diferenciados daqueles que não se encaixam na gramática do formalismo legal e por isso, não encontram espaço para as suas demandas.

Na história de Cristóvao Tezza, o autor deixa claro através de sua narrativa que as nossas relações de reconhecimento de alteridade podem e devem ser desiguais, ou seja, a resposta que temos não deve ser a mesma que esperaramos, mas há uma retorno. Uma criança com a Síndrome de Down, que é o caso do filho do protagonista terá uma reciprocidade com o outro, mas não a esperada. Pode existir sim uma reciprocidade e aí se realiza a alteridade. Aí se realiza o encontro.

A identidade subjetiva, a alteridade e as diferenças

Na obra “A escada dos fundos da filosofia", do filósofo Wilhelm Weischedel, observa-se que o autor apresenta a ideia do outro como fundamental para se chegar a uma concepção dos direitos humanos. Ao pousar o olhar no tu, no outro, o homem incorpora o pensamento de que precisa do outro para sobreviver como ser humano, adquirindo assim um contexto de pluralismo das identidades. A isso chama-se alteridade, afastar-se do pensamento antigo da subjetividade, do eu, e amparar-se à ação pessoal no outro.

A concepção da filosofia ocidental sobre a identidade, a expressão subjetiva do eu, descuidado-se da importância do outro, revela uma falta de sentido, à proporção de que homem em grande parte de sua vida, depende do outro para sobreviver. Freud reiterava este desamparo radical que ocorre desde que o homem nasce, cuja sobrevida depende deste reconhecimento no outro e pelo outro. Tanto Freud, como Heidegger e outros tantos filósofos ratificam este conceito.

Pela definição de alteridade, derivada do latim, conclui-se que é o esforço de se colocar no lugar do outro (alter= outro), ou seja ter consciência da existência da outra pessoa e respeitá-la como é, e não de acordo com o que refletimos a partir de nossa vaidade, quando a julgamos apenas conforme a nossa compreensão do mundo.

Na maioria das vezes, construímos uma relação de identidade comum, o que nos torna semelhantes, de forma que que ouvimos o outro em todas as linguagens ou nos calamos, ratificando o que para nós individualmente é a verdade.

Alteridade é uma destas ideias que desafia o espírito humano em todas as áreas do conhecimento e da história, nas artes, na filosofia, na ciência e nas religiões. Isso ocorre à medida que o homem tem dificuldade em lidar com as diferenças, porque na verdade todos os seres humanos são diferentes em sua essência formadora. Entretanto, a humanidade desenvolveu a ideia de que todos devem ser iguais, com entendimentos únicos.

No entanto, é necessário distinguirmos o conceito de igualdade como a igualdade num espaço, ou seja na esfera pública, que segundo Jürgen Habermas, é apreciada como um valor, que define a nossa convivência com os demais.

Por outro lado, há outro conceito de igualdade, diversa deste primeiro, que remete à cultura da dificuldade de lidar com as diferenças, como por exemplo, no evento da Segunda Guerra Mundial, que produziu a morte de mais de 50 milhoes de pessoas, sendo cerca de 6 milhões de judeus e a estimativa de cerca de 10 milhões de ciganos, que foram exterminados nos campos de concentração.

Até hoje, a humanidade se pergunta como explicar esta cultura que pretendia ser um padrão para o mundo civilizado, cujos ideais da Revolução Francesa não impediram a geração do nazismo. Provavelmente, essa dificuldade em entender as diferenças seja consequência de que, em algum momento da nossa história, confundimos a igualdade segundo os dois conceitos distintos citados acima, ou seja, a igualdade como um espaço de convívio com as nossas diferenças confundida com a igualdade de reduzirmos o outro aquilo gostaríamos que ele fosse.

Conviver exige a visão de que cada um apresenta um pontencial para fazer coisas extraordinárias ou não, mas que são desconhecidas por nós. Do mesmo modo, é preciso compreender que a outra pessoa não se trata de um semelhante, ao ponto de construirmos a ideia de igualdade que tenta formatar o outro como desejaríamos. Na verdade, devemos entender que o outro é o próximo, não um igual no sentido do entendimento do mundo e das coisas, porque jamais podemos transformar as pessoas em espelhos que reflitam o que pensamos, segundo as nossas expectativas.

Infelizmente, conclui-se que nos dias atuais, o homem engendra verdadeiros monólogos, propondo ideias sem ouvir as do outro, porque acaba apenas olhando a si próprio. Ele acha que constrói a igualdade, mas na verdade, somos diferentes.

Bibliografia.

Weischedel, Wilhelm. A escada dos fundos da filosofia: a vida cotidiana do pensamento de 34 grandes filósofos. São Paulo: Raimundo Lulio, 2006.

Barros, A. P. A importância do conceito de esfera pública de Habermas para a análise da imprensa- uma revisão do tema. Universitas: Arquit. e Comun. Social, Brasília, v. 5n. 1/2, p. 23-34, jan./dez. 2008

Silva, Sérgio Luiz Pereira da. Sociedade da diferença: formac’ões identitárias, esfera pública e democracia na sociedade global. Online: http://www.academia.edu/3829490.

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