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sábado, dezembro 10, 2016

A fotografia da vida de Santa - CAP. 26

Sábado, 10/12/16 - Em breve o final deste folhetim dramático.

Capítulo 26

Após o enterro de Fernando, Linda voltou para a casa e trancou-se em seu quarto. Apesar de todas as desconfianças e presumíveis ameaças da empregada, Santa estava penalizada com o seu estado de sofrimento. Tentou ser solidária embora Linda se mantivesse reticente. Santa também estava desolada pelo fato de Alfredo estar preso. Tudo parecia voltar-se contra a sua família e não havia nada que pudesse fazer. Então teve a ideia de fazer uma nova reunião, já que não havia conseguido unir a família pela missão que acreditava ter que cumprir, a uniria pela salvação do filho.

Aos poucos, todos foram chegando. Sandoval aguardava ansioso e transtornado pelos últimos acontecimentos. Letícia e Ricardo foram os primeiros a chegar. Tavinho desceu do carro, em seguida, incomodado por mais uma convocação da mãe, que achava que poderia resolver tudo ao seu modo. Entrou na casa e foi na direção da biblioteca, mal humorado. Santa aproximou-se do filho e o beijou, pedindo em seguida que sentasse numa das cadeiras em torno da mesa. Em seguida, iniciou a conversa.

– Mais uma vez estamos juntos, só que nunca imaginei que seria desta forma, principalmente por Alfredo estar longe de nós – a voz estremeceu, emocionada ao falar no filho. – Entretanto, precisamos unir forças para tirá-lo daquela prisão.

Ricardo abre uma agenda e rabisca alguma coisa. Fala com certa irritação sobre a ida de Letícia à casa de Fernando, ao lado de Tavinho.

– Se eu soubesse que Letícia tinha feito a bobagem de ir até aquela casa, eu não teria deixado. Aliás, não entendi até agora o motivo.

– Por favor, Ricardo, já conversamos sobre isso. Não recomece.

Santa os interrompe, impedindo que a briga deturpe o objetivo do encontro.

– Agora não é momento para recriminações, Ricardo. Eles foram até lá e assunto encerrado.

– Desculpe, Santa, mas não é assunto encerrado. Eu gostaria que meus filhos explicassem porque foram conversar com o jardineiro naquele dia. Quero saber o motivo, afinal vocês colocaram toda a família em risco.

Letícia fita o pai com certa indignação e responde com veemência:

– Então está bem, papai, já que o senhor quer realmente saber. Nós fomos falar com o Fernando sim, porque ele devia saber muito mais coisas do que sabíamos, principalmente sobre o senhor e Linda.

Sandoval empalidece, mas não se deixa abalar. Defende-se como pode.

– Na verdade, Letícia, sua mae sabe tudo o que aconteceu. Eu fiz questão de esclarecer tudo a ela, contei inclusive que estava sendo chantageado por Linda por causa da gravação de nossa reunião, naquele dia.

Tavinho suspira, manifestando certa culpa pelo que fora proposto na reunião e que certamente Santa devia ter conhecimento de tudo. Aproxima-se da mãe e acaricia-lhe o ombro, desajeitado.

– Mamãe, você deve ter ouvido toda aquela papagaiada, eu só concordei porque quero viver a minha vida, eu fiquei alheio a tudo aquilo.

– Eu sei Tavinho, todos vocês tiveram papel crucial naquela decisão. Todos tinham os seus interesses particulares, ninguém pensou em mim, que seria considerada uma velha louca.

–Não é bem assim, mamãe!

– É sim, Letícia, você sabe que é. Você declarou que eu estaria tirando a liberdade de vocês, talvez tenha razão. Você achou que eu havia me arriscado demais, me metendo onde não devia. E você Tavinho, você lavou as mãos, como Pilatos. O único que sofreu mais e relutou com a decisão foi o Alfredo. Ele concordou também, mas não queria que eu descobrisse que fosse tachada de louca. O Ricardo inclusive, colocou em dúvida a aparição da Virgem, julgando-me sem qualquer escrúpulo.

Ricardo a interrompe, desculpando-se: – Ah, dona Santa, a senhora há de convir que era tudo muito estranho e se o próprio Seu Sandoval, seu marido afirmava isso, seria eu que duvidaria?

Ela o olha entediada. Volta-se para Sandoval e dispara, com raiva:

– E você Sandoval, foi o traidor, infelizmente.

– Por favor, Santa, não vamos recomeçar! Agora não entendo como você sabe de tantos detalhes. Quem lhe contou? Foi você, Letícia?

– A senhora não disse a ele, mamãe?

– A que você se refere Letícia - e voltando-se para Santa – há mais alguma coisa que desconheço, Santa?

– Mamãe recebeu a gravação quando Linda enviou a mensagem para uma amiga. Ela sabia de tudo desde o primeiro momento, por isso não caiu na armadilha que vocês arquitetaram!

– Você sabia, Santa? Então eu não tinha motivo nenhum em obedecer àquela mulher.

– Naquele dia, eu havia ido à igreja, e uma amiga de Linda recebera a mensagem com a gravação. Ela seria o suporte dela, mas eu acabei sabendo de tudo, passei para o meu celular na hora. No entanto, fiquei quieta, pois precisava saber até que ponto você iria, até que ponto tentariam me anular, me transformar numa mulher imprestável.

– É papai, o senhor pisou na bola e mamãe foi muito esperta.

– Mas eu não entendo. Linda deveria ter descoberto que a a tal mulher, se era amiga dela, mandou para você a mensagem.

– Não sei, isso é um mistério. Ela deve ter se comunicado com Lúcia, a mulher que recebeu a mensagem com a gravação. Deve ter contado tudo, mas você sabe que Linda é dissimulada. Certamente, ele mudou de planos. Talvez nem você Sandoval fizesse mais parte dos seus planos.

– Isso é um absurdo, meu Deus! - exclama Sandoval, aniquilado. Santa levanta-se da cadeira e encaminha-se para uma posição em que consegue observar a reação de cada um. Assim, em pé, continua:

– Mas eu não os chamei aqui para ficarmos remoendo esta história. Há muito tempo eu já sabia de tudo, já tinha me frustrado com todas as conclusões que tiveram e agora acabou. Só me interessa encontrar uma maneira de ajudar Alfredo.

– Mas por que vocês acham que o rapaz sabia mais alguma coisa sobre essas manobras de Linda? - pergunta Sandoval, dirigindo-se aos filhos. Santa porém responde com frieza.

– Você mesmo disse Sandoval que ele era o homem que nos assustara naquela noite, andando pelo jardim, aparecendo e desaparecendo e jogando um bilhete pela janela. Você afirmou que tudo fora tudo articulado por Linda.

– É verdade, é verdade. Tenho certeza disso, ela me confiou o seu plano. Mas então… Alfredo também tinha a intenção de descobrir alguma coisa com ele?

Ricardo olha para a mulher intrigado, pretendo impulsionar alguma explicação.

– Vocês dois combinaram ir na casa de Fernando, foi o que você me disse. Eu sabia os motivos, mas por que Alfredo estava lá. Ele deve ter dito alguma coisa para vocês, Letícia.

– Calma, Ricardo. Parece que você está mais interessado do que o papai. Alfredo estava lá, sim, quando chegamos, mas provavelmente tinha a intenção de encontrar alguma coisa que revelasse uma provável armação de Linda. Ele andava desconfiado há algum tempo.

Ricardo intervém, insinuando:

– Eu já tenho as minhas dúvidas, vocês sabem como ele tem interesses estranhos. Vai ver que não era nada do que vocês estão pensando!

– Você é terrível, hem Ricardo, quer calar a boca?

– E o que você acha que tenho que pensar? Você mesma já pensou nisso, que eu sei. Além disso, devemos avaliar todas as hipóteses, querida.

Santa interfere, amargurada:

– Esse não é o caso, gente, pelo amor de Deus. Alfredo é um homem de bem. E por favor, vamos tentar ajudá-lo, não crucificá-lo.

– Estamos aqui para isso. – Complementa, Tavinho.

– Então, contem o que aconteceu naquela casa. - Insiste Sandoval.

Neste momento, batem à porta e Santa afasta-se, tentando saber o que estava acontecendo. Linda surge com o olhar aflito, com olheiras ainda sublinhando a dor que manifesta. Avisa à patroa que o o doutor Tavares, advogado de Alfredo está na sala anterior e tem interesse em conversar com eles. Todos observam a cena surpresos. O que estaria fazendo ali o advogado de Alfredo, o que teria acontecido? Linda afasta-se ao ouvir a ordem de Santa, para que o advogado se dirigisse à biblioteca.

Quando entra, o homem revela-se muito preocupado. Todos fazem silêncio e Santa pede que ele sente à cabeceira da mesa, cedendo o seu lugar. Em seguida, acomoda-se ao lado de Tavinho. O homem começa a falar, desculpando-se.

– Eu não esperava que estivessem tendo uma reunião, por isso peço desculpas. Tenham certeza de que serei breve. Por um lado, foi bom encontrá-los juntos, porque assim, poderei conversar com todos. Como já devem estar imaginando, o assunto só podia referir-se a Alfredo.

– O que aconteceu com meu filho doutor?

– Ele está bem, dona Santa, claro que dentro das condições em que se encontra. Não é nada agradável estar preso, mas pode ter certeza de que está sendo bem tratado, inclusive, por enquanto está numa cela sozinho.

Santa não consegue esconder algumas lágrimas. Tavinho acaricia-lhe as mãos, por um momento. Enquanto isso, o advogado prossegue, enfático.

– Pois é pessoal, eu vim aqui porque preciso da ajuda de vocês para tirar o seu irmão da cadeia. Sei que poderão me informar fatos mais detalhados, que tenho certeza, poderão ajudá-lo com muita eficácia. Infelizmente, posso lhes afirmar que Alfredo está bem encrencado.

– Como assim, o que o senhor quer dizer com isso? - pergunta Sandoval, ansioso.

– Se possível, senhor Sandoval, peço a todos que me ouçam com atenção. Somente assim poderão me ajudar, de algum modo.

– Está bem doutor, por favor, fique à vontade.

– Bem, há uma prova física de que Alfredo esteve lá, embora esteja nos autos que ele confessara ter estado na casa do morto.

– Mas então, essa prova não significa nada. - intervém Ricardo.

– Na verdade, senhores, esta prova corrobora com o que ele disse à polícia. Ou seja, de que esteve lá. O problema é que houve uma limpeza no ambiente, no cenário do crime, entendem? Esta limpeza o incrimina ainda mais, porque ele deve ter feito isso para escapar da condição de suspeito.

– A prova física foi a lente que ele perdeu, doutor? - pergunta Letícia, interessada.

– Sim, foi encontrada, examinada e comprovada que era dele.

– Como meu irmão foi burro! Ele disse que tinha perdido uma lente!

– Meu Deus, Letícia, pobre do seu irmão! Ele é inocente, doutor! Ele não seria capaz de um ato tão torpe!

– É, entretanto alguém tentou se livrar da acusação, seja ele sozinho ou incentivado por outros.

– Estes outros somos nós, não é doutor? É a gente que o senhor se refere?

– Sim, Tavinho, vocês estiveram lá e encontraram o seu irmão apavorado, tentando descobrir se a vítima ainda estava viva. Mas, temos outro problema pior, embora pareça impossível. Uma gravação foi encontrada no celular da vítima. Uma mensagem do próprio Fernando referindo-se a Alfredo.

– Sim, eles devem ter combinado se encontrarem, isso é óbvio.

– Não se trata disso, apenas Letícia.

– Havia mais alguma coisa, doutor? - pergunta Ricardo.

– Sim, eu disse que era uma mensagem do Fernando, uma espécie de monólogo, não uma troca de mensagens apenas.

Santa está cada vez mais nervosa. Questiona o advogado, com a voz trêmula, prevendo que o pior está por acontecer.

– Mas o que o meu filho tem a ver com isso?

– A mensagem é muito grave, dona Santa e está nas mãos da justiça.

– Do que se trata doutor Tavares?

– Senhor Sandoval, eu não gostaria que o senhor soubesse assim dessa maneira do teor da gravação, mas é necessário. Infelizmente, o senhor é o pivô da mensagem deixada pela vítima.

– Mas o que eu tenho a ver com isso?

– O que supomos e o que até mesmo a polícia acredita é que o Fernando, a vítima, tenha feito a gravação para se defender, para garantir que estava isento de um presumível crime que estava prestes a acontecer.

– O senhor pode explicar melhor, doutor? Não estou entendendo nada.

– Bem, Sr. Sandoval, a vítima diz textualmente que Alfredo planejava sequestrar o senhor.

– O que? Isso é um absurdo! Meu filho não faria isso! - grita Santa, em desespero.

– Isto é mentira doutor, meu irmão não teria sangue frio para isso.

– Calma Leticia, deixa o doutor continuar - argumenta Ricardo interessado.

– Alfredo não ia se meter numa merda dessas, a menos que estivesse louco. – conclui Tavinho.

– Bem, pessoal, continuando: A vítima deixa claro que Alfredo queria que ele sequestrasse o pai e o levasse para a casa onde estava morando por um tempo determinado, o tempo suficiente para que ele, Alfredo, pudesse comprovar que a mãe era lúcida e capaz de tomar suas decisões quanto ao patrimônio, longe da presença do pai que para todos estaria viajando. Para isso ele daria uma grande recompensa em dinheiro ao rapaz. Mas, segundo as palavras da vítima, ele jamais faria isso, porque seria preso e não teria chances de sair da cadeia. Entretanto, queria deixar claro quem era o culpado de tudo.

Sandoval levanta-se transtornado e golpeia a porta da biblioteca com raiva. Grita indignado:

–Maldito! Meu próprio filho queria a minha ruína! Ele sempre me odiou, aquele bicha miserável! Com certeza, queria matar-me, acabar comigo!

–Não diga isso Sandoval, pare de insultar o nosso filho, com certeza isso é tudo uma armação. Alfredo é um homem doce, de coração bom. Isso não é verdade, não pode nem ser verdade! - Santa conclui descontrolando-se e caindo num choro convulsivo.

Letícia aproxima-se dela e a abraça, pedindo que se acalme para ouvir o que o advogado tem a dizer. Tavinho também conforta a mãe, ao seu lado. O advogado prossegue, expressivo:

– Verdade ou não, o fato é que esta gravação piorou em muito a situação de Alfredo. Para a polícia, ele é o único culpado do assassinato do rapaz e só falta saber a causa motivadora de tal crime.

– Meu filho não seria capaz de um ato tão torpe! -– Insiste Santa, enquanto Letícia exclama, confusa – Eu estou pasma! Alfredo estava louco, possesso!

– Ou ele queria acabar com o seu pai mesmo, Letícia. O dinheiro, o poder, o patrimônio, tudo conta numa hora dessas. – Afirma Ricardo, categórico. Tavinho insiste:

– Deve existir outra coisa nesta historia toda. Não pode ser isso. Eu também não acredito nessa lorota, meu irmão não ia planejar isso. É loucura. O advogado olha em torno e observa que todos estão muito confusos. Então, responde a Tavinho, tentando esclarecer a situação:

– Loucura ou não, Tavinho, nós não sabemos. Eu conversei com ele, ele foi reticente. Mas o problema é o que lhes falei. Ele está muito encrencado!

– Que apodreça na prisão, esse miserável! - grita do outro lado da sala, Sandoval completamente alterado. Santa o repreende, assustada:

– Não diga isso Sandoval, tenha piedade de nosso filho! Ele é inocente!

– Pois saiba Santa, que já nem tenho certeza de que ele é inocente ou matou mesmo o jardineiro! Um homem que planeja sequestrar o próprio pai, é capaz de tudo!

– Você não pode acreditar nisso, é um erro muito grande. Este rapaz estava louco, certamente queria fazer chantagem com Alfredo, não há dúvidas.

O advogado tenta apaziguar a situação.

– Por isso estou aqui, para ajudá-lo. A polícia já sabe que vocês estiveram lá, então é o momento de dizerem o que viram naquele cenário, o que Alfredo estava fazendo. Você Letícia e você Tavinho precisam detalhar o que viram, dar argumentos para a presença de vocês, pois convenhamos, esta história está muito confusa. Vocês precisam ajudá-lo.

– Eu não tenho mais nada a dizer. Cheguei lá e vi o Alfredo segurando o corpo. Nunca imaginei aquela cena horrenda! - exclama Letícia, enquanto Tavinho complementa que vira o irmão em absoluto desespero, por isso pensaram em ajudá-lo naquele momento.

– E como o ajudaram? De quem foi a ideia de fazer uma limpeza na cena do crime?

– Foi minha, claro. Todos nós estariamos implicados, afinal mexemos em tudo naquela casa. Passamos pra lá e pra cá, porque estávamos muito nervosos, inclusive porque o verdadeiro assassino poderia estar ali, bem perto.

– A gente estava ferrado, por isso, fizemos o que Letícia sugeriu.

– Mas vocês sabem que mexer na cena do crime, desfigurar as provas é um considerado uma falta grave, o fato de extinguir os registros que comprovam um assassinato é uma prova de que queriam se livrar de alguma transgressão. Vocês podem ser acusados de serem cúmplices do assassino. Você deve saber isso muito bem, Letícia. É uma promotora. Eu não entendi porque fizeram isso, uma coisa tão primária.

– O senhor tem razão doutor, é que estávamos muito nervosos, como lhe disse, a família toda ali envolvida, Alfredo apavorado. Não sabíamos o que fazer.

– Foi mal mesmo. – Completa Tavinho.

Em seguida, Sandoval abre a porta da biblioteca e se volta para o grupo, desolado.

– Eu vou me retirar, isso já está me dando náusea. Meu próprio filho armando contra mim e os demais limpando a cena do crime. É uma frustração muito grande.

– Não se esqueça que no fundo, o senhor é o culpado de tudo isso que está acontecendo papai. – Reitera Letícia, sem piedade.

Sandoval afasta-se sem olhar para atrás. Santa está desconsolada, ora dirige-se ao advogado, ora aos filhos tentando achar uma solução. O doutor Tavares ratifica o seu pedido: acha que devem comparecer à delegacia e explicar como tudo se sucedeu, provando que o rapaz já estava morto quando Alfredo chegara. Entretanto, Tavinho faz uma pergunta, que faz todos se olharem surpresos.

– Tudo bem, a gente fez tudo isso, a gente ajudou o Alfredo, mas, vejam, não to afirmando nada, e se meu irmão for o verdadeiro culpado? E se ele matou o tal Fernando?

– Você não acredita nele? - indaga o advogado, intrigado, enquanto Santa acena a cabeça desiludida.

– Eu acredito, mas sei lá, agora veio esta confissão do jardineiro dizendo que ele queria sequestrar o pai.

– Isto é um absurdo, Tavinho. É tudo mentira desse homem!

– Não sei, mamãe, me desculpe, não quero que a senhora sofra mais do que já está sofrendo, mas e se for verdade? Eu já não sei em quem confiar!

– Então deixe que a polícia descubra, que a justiça encontre o verdadeiro assassino. Não será você quem julgará o seu irmão, não acha? Quero apenas que cumpra a sua parte. Você e Letícia devem abrir o jogo, contar o que sabem daquele momento. É só isso o que o advogado está pedindo.

terça-feira, dezembro 06, 2016

A fotografia da vida de Santa - CAP. 25

Capítulo 25

Depois da conversa que tiveram, Santa convencera Sandoval a contratar um advogado para defender os filhos. Estava apavorada com o que poderia acontecer. Se eles estiveram lá e a polícia já tinha alguns dados, como as placas dos carros, então poderiam ser suspeitos.

Mas o pior estava por vir, Alfredo fora considerado suspeito, porque além da prova material de que estivera na cena do crime, embora não houvesse provas digitais e ele não tivesse negado de ter ido até a casa de Fernando, havia porém a prova física que era a lente de contato que puderam constatar ser realmente sua.

Além disso, havia o celular, e as várias conversas com Fernando. O delegado queria saber qual era o motivo das conversas. Depois de muitos interrogatórios, ele acabou sendo preso.

Alfredo parece afastar-se de tudo que o cerca. Por um momento, lembra dos passeios que fazia com as crianças, quando pequeno, nos dias de pequenique. Lembrava da mãe e aquele sentimento de melancolia o seguia pela vida afora. Seus olhos pairam no desconhecido, lembrando o acontecimento, sem perceber que o observam.

Quando o dia deu sinais de mudanças no clima, as crianças já estavam a bordo do pequeno ônibus que as levava para casa. Todas se divertiam e procuravam imaginar as coisas mais estapafúrdias para entreterem uma as outras, ou a si mesmas.

Uma delas, porém parecia distante; olhar perdido nas montanhas que rodeavam a estrada, pensamentos instigantes sobre si ou sobre a família. A família praticamente se reduzia à mãe.

Via-a caminhando pela casa, atravessando quartos, espiando janelas, esfregando as mãos. Nervosa.

Por certo o esperava, ansiosa, no umbral da porta.

Alfredo ouvia seu coração taciturno bater forte, perguntando-se por que sofria, porque não vivia o mesmo dia alegre e descomprometido dos demais. Ele era desse jeito. Não tinha como fugir.

Enquanto os demais se divertiam, ele sofria como se houvesse uma culpa interna, por ter deixado a mãe esperando-o, sozinha, enquanto se divertia com os demais.

Na verdade, a diversão era interrompida, pelo seu pensamento melancólico.

E seu passado parecia ser uma escalada de momentos sombrios, como o único prazer que tivera ao lado de outra pessoa, quando ainda adolescente, tentara viver o que a vida lhe oferecia.

Um lado impróprio para as pessoas, para a família e principalmente para a mãe, que abortava qualquer sentimento, que significasse uma inversão de valores, segundo o que pensava. Também lhe vinham à mente, aquelas imagens.

A carta que enviara ao amigo, o desejo de vê-lo e de livrar-se de sua companhia para sempre, como se devesse afastar de sua vida um prazer que não devia existir.

“Quem sabe me deixasses aqui, entre estas paredes vazias, tao brancas, descoloridas, que parecem um simbolo do infinito, um infinito descorado e triste. Alguma coisa como bruma de Londres evocada nos filmes antigos, aqueles em que costumávamos ver, em preto e branco. Pareces disposto a a apagar cada gesto, cada registro, cada vestígio dos momentos juntos. Não me procuras e sei o motivo. Por certo o vão que ficou entre nossos sentimentos já foram abarrotados de outras imagens da digital em que sinalizas com teu dedo fino. Quisera estar ai, contigo, mas estou só. Nada a fazer, a não ser procurar o pouco de ar que vem da rua. Uma rua funesta, cheia de gases e sombras antigas. Mas te espero e não vai demorar muito que este esperar também se apaga. Também morre aos poucos, como o desejo de te ver.”.

Assim absorto, assim triste, fora chamado a atenção pelo advogado.

– Desculpe senhor Alfredo, mas precisamos refletir sobre o que aconteceu. Parece que o senhor está muito distante.

– É verdade. A vida tem me pregado peças terríveis, dr. Tavares.

– Mas tudo pode ser resolvido. A solução é nos focarmos no problema de frente. O senhor tem que se conscientizar de que precisa me contar tudo.

– Mas eu não tenho o que dizer.

– Desculpe, sr. Alfredo, mas acho que há muito o que dizer e precisa confiar em mim. O senhor poderia começar com as conversas no celular que tivera com o morto.

– Mas ali, não há nada demais. Apenas alguns contatos.

– Há uma coisa que o senhor não sabe, mas que está nas maos da polícia. Certamente, eles irão chamá-lo novamente para explicar-se.

– Como assim? Que gravação?

– Eu ainda não tive acesso, mas logo terei. Mas me parece grave. O tal Fernando parece que queria se garantir contra uma presumível prisão, sei lá, já que ele estava na condicional.

– E o que ele dissera nesta gravação.

– Não sabemos, mas o delegado afirmou que se trata de algo grave que lhe diz respeito. Parece um plano que vocês teriam e ele fez este depoimento para livrar-se da culpa sozinho. Só não sei ainda do que se trata, por isso, o senhor deve me esclarecer tudo, para que possa ajudá-lo.

Alfredo empalidece, lembrando do plano para sequestrar o pai. Fica em silêncio, sem saber se deve confiar no advogado. Está cada vez mais enrolado.

– Então, senhor Alfredo, o que tem a dizer sobre isso?

quinta-feira, junho 09, 2016

A CIDADE QUE SABIA DEMAIS - 4º CAPÍTULO

Capítulo 4


<p> Capítulo 4

Quando chegou ao quarto onde o amigo estava, Ricardo encontrou-o sonolento. Aproximou-se da cama e Raul abriu os olhos, sorrindo.

—Não reconheci você com este jaleco, cara. Que bom que veio, meu médico preferido.

—Não se agite, Raul. Sei que seu açúcar teve uma queda considerável.

— É verdade, eu tive tonturas, tive náusea e até agora estou suando frio, apesar do sono.

—Isso é assim mesmo, daqui a pouco passa. Mas já é hora de dormir. Afinal, é bem tarde. Assim, você descansa.

— Sabe, Ricardo, eu tenho medo que eles me matem. Que descubram que estou aqui… Você sabe.

–– Ninguém vai descobrir nada. Não pense nisso.

––Você anda muito ocupado, eu sei. Já estou acostumado com abandono, meu amigo. Eu lhe falei da Susi, lembra? Não da cachorrinha que tenho em casa…

––Sei, da sua namorada. Esqueça isso. Pense em melhorar depressa. Amanhã, você sairá daqui.

––Escute, você pensou na proposta que lhe falei?

–– Pensei, mas conversamos amanhã. Agora, eu só vim ver como você está. Não quero importuná-lo mais. Tente dormir. Raul o observou com certa ironia. Segurou a mão de Ricardo e perguntou com cumplicidade:

— Meu amigo, você andou bebendo. Não pode vir atender os pacientes neste estado, ainda mais usando jaleco, entrando no hospital com o crachá de médico…

–– Cale a boca, não repita essa bobagem aqui.

–– E você acha mesmo que é uma bobagem?

–– Não, não é, claro que não. Mas vim aqui para vê-lo. Que está insinuando?

–– Só estou querendo protegê-lo, meu amigo. Uma morte qualquer de um paciente pode responsabilizá-lo por incompetência, por estar usando bebida alcoólica.

––Eu não estou atendendo ninguém, você sabe disso.

––Mas numa emergência, podem precisar de você.

–– Você está me ameaçando?

––Jamais, meu amigo, jamais. Quero proteger você, como disse, até a morte, se necessário.

–– Então não se preocupe comigo. Sei me virar. Por isso, mesmo, vou embora, você já está muito bem, pronto pra outra.

––Meu amigo, quero lhe agradecer por não ter me abandonado. Sei que você vai fazer o que lhe pedi, vai tentar descobrir a causa da morte daquelas pessoas. Você vai provar que elas morreram por terem usado insulina.

— Eu já lhe disse que estou ingressando no hospital, não posso me envolver com nenhuma necrópsia e depois, isso é atribuição dos peritos da polícia civil.

—Mas você vai achar uma maneira de resolver isso, tenho certeza. E vamos culpar aqueles malditos da petshop.

Ricardo afastou-se encontrando alguns colegas que faziam o plantão da noite. Fez o possível para dirigir-se ao estacionamento o mais rápido que pode.

Quando estava no carro, no silêncio entre os poucos carros que ainda estavam no prédio, ficou inquieto, pensando nas palavras de Raul.

Às vezes, parecia que ele pretendia agredi-lo, agindo de forma irônica, como se pudesse acusa-lo de algum delito. Entretanto, o melhor que tinha a fazer era esquecê-lo e voltar para o hotel imediatamente.

Foi o que fez. Tentou dormir um pouco e ao levantar, parecia que carregava uma carga imensa nas costas. Antes de mais nada, decidiu ir até a casa da mãe de Raul. Precisava saber os detalhes da conversa que pretendia ter com ele, de preferência, longe do filho, como dissera.

Dirigiu-se ao endereço que tinha anotado, observou que era uma casa antiga, com um velho portão de ferro, meio enferrujado, precisando de uma boa pintura.

Tocou a campainha e uma mulher atravessou o pátio, vindo pela calçada que conduzia ao portão. Tinha o cabelo pintado de loiro, curto e uma estranha cicatriz perto do olho. Como médico, foi a primeira coisa que reparou. Não esqueceu também da voz rouca de quem havia fumado por muito tempo.

Ela abriu o portão e pediu que entrasse, apresentando-se, logo em seguida.

––Seu nome é Sara. Raul não havia falado na senhora.

–– Não?

–– Na verdade, comentara alguma coisa sobre a sua casa, herança que provavelmente seria dele…

–– Raul às vezes, é uma criança. Mas vamos entrar, não ficaremos conversando aqui no portão, até porque está meio frio, não acha?

Ricardo concordou e avisou que teria pouco tempo, no máximo uma hora, em virtude do compromisso no hospital.

Entraram na casa. Uma sala enorme, com alguns quadros inexpressivos na parede.

Sara o convidara a sentar-se numa das poltronas e afastou-se, dizendo que traria um café. Ricardo insistiu que já havia tomado café no hotel e que não teria muito tempo. O ideal é que fossem direto ao assunto.

Sara então, sentou-se na poltrona a sua frente. Ficou em silêncio, observando-o, o que o incomodou um pouco. Por isso, engatou o assunto:

–– A senhora disse-me ao telefone que gostaria de falar-me na ausência de seu filho. O que aconteceu?

–– Bem, eu diria que não aconteceu absolutamente nada.

–– Como assim?

–– Deixe-me explicar. Raul tem passado por um período muito difícil, desde que brigou com a namorada. Ele estava muito apaixonado, sabe?

–– Sim, ele me contou.

–– Acho que a separação o perturbou de alguma forma, porque anda inventando coisas, anda fantasiando, entende?

–– A senhor se refere aos crimes?

–– Exatamente. Quero dizer, mais especificamente, ao ataque que ele sofreu.

–– Ele foi atacado perto do petshop, no tal parque perto da loja. Foi isso que ele falou.

–– E você acreditou nesta história?

–– Por tudo que ele descreveu, pelo verdadeiro pânico que parece estar sentindo, não teria motivos para duvidar.

–– Mas não acha que aquela história do homem no carro oferecer carona é pura ficção? E depois, perder um cachorro, ele tentar ajudar e ser atacado! É muita fantasia, pelo amor de Deus!

–– Definitivamente, a senhora não acredita nele!

–– Pobre do meu filho! Ele anda imaginando estas coisas. Ele não tomou nenhuma dose de insulina a mais e se tomou foi a normal, de todos os dias. Ele começou a imaginar estas coisas… Tenho medo de que esteja enlouquecendo…

–– Muito bem, tudo é muito estranho, realmente. A história é até um pouco absurda, mas e quanto aos outros crimes? As vítimas existem, estão em todos os jornais. Há um assassino solto por aí.

––É verdade, existem sim. E nem sabemos se foram mortas pelas mesmas pessoas. Mas quanto a ele… não aconteceu nada. Por que o deixariam vivo, você já se perguntou isso?

–– A explicação dele é convincente. Ele seria o único que é realmente doente, por isso se salvou. Segundo ele, injetaram insulina nos outros e estes não sofriam da doença.

–– E quem pode provar que morreram disso?

–– É o que ele quer que eu ajude a provar, conversando com os peritos, com os inspetores que cuidam dos casos. Se fizerem necrópsia nos corpos das vítimas…

–– Se eu fosse você não me envolveria com isso. Vão chegar a um resultado lastimável…
.

–– Como assim?

–– Quero dizer, absurdo. O que eu quero, na verdade, o motivo que o chamei aqui, além de dizer isso, é que você não o abandone, que o ajude a sair dessa situação, entende? Eu preciso que meu filho volte à realidade. Que ele pare de pensar nestas bobagens, que volte a viver! Faz dois anos que se separou dessa mulher que ele tanto venera, agora chega. Tem que esquecer, tem que arranjar um trabalho decente. E só você pode ajudá-lo.

–– Eu estou tentando, dona Sara.

–– Sei, mas você tem que mudar o modus operandi, entende? Tem que esquecer essa história de crimes e levá-lo a se divertir, a conviver com outras pessoas, quem sabe lembrar do passado, do tempo em que eram crianças, rir um pouco, beber nos bares, saírem. É o que ele precisa. Eu até sugeri que você morasse aqui, por um tempo.

–– Foi a senhora que sugeriu?

–– Sim. Não é uma boa ideia? Até você encontrar um lugar para ficar. Esta cidade é pequena, não comporta bons apartamentos. A minha casa é grande, antiga, mas bem aprazível. Você terá um quarto e uma suíte, só sua. O que acha?

–– Raul lhe falou de minha namorada? Ela pretende vir para cá.

Sara aquietou-se. Levantou-se e perguntou novamente se ele não queria café. Desta vez, também sugeriu um chá. Ricardo recusou, dizendo que estava na hora de ir.

–– Eu compreendo meu filho, vá, desempenhe bem as suas tarefas e seja um bom médico. Você tem tudo para ser um grande profissional, diferente de Raul, infelizmente. Mas vá, daqui a pouco, ele estará em casa novamente. Pode ser, que mude de ideia e esqueça essa história de crimes.
Sara interrompeu-se por um instante e antes que ele saísse, pediu:

—- Espere, antes de sair me prometa uma coisa. Não diga nada a Raul sobre a nossa conversa. Ele tem tanta confiança em você, que se soubesse que esteve aqui, talvez desconfiasse de alguma coisa.

Ricardo concordou e afastou-se rapidamente.

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A boca vermelha, cabelos loiros, olhar perdido. Nem sabe se fazia pose, encenava ou apenas acessório do cenário. Assim os observava de re...

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