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Eu quero

Ilustração: RoySnyder in:pixbay.com Eu quero ter a dúvida dos fracos, do que ter as certezas definidas. Eu quero ter os sonhos dos oprimidos, do que a realidade indolente dos vencedores. Eu quero sentir o cheiro dos pobres, dos mendigos, dos marginalizados, dos solitários das ruas, do que o perfume falso dos poderosos. Eu quero sentir o sereno da noite, o vento fustigando o rosto, os olhos doendo, a fumaça dos becos, a melancolia das ruas, do que o ar refrigerado das mansões, as bocas fervilhando de questões com convicções, verdades absolutas, mãos que se tocam sorrateiras sem sentimentos ou empatia. Eu quero saber que estou vivo, mesmo entre a morte, do que viver enclausurado em medos do outro e não de mim mesmo. Quero ter empatia para amar o próximo, mais próximo, aquele que avisto nas ruas, quase invisível, mas que de algum modo, alguma centelha de olhar, me toca, do que negar a sua existência e carimbar de algum modo seu passaporte para a morte. A morte do cancelamento

A bailarina

Rodopia, brinca, vive Leve, suave, brisa que envolve Fugaz, matizes diversos, entoa Música que dança na pontas dos pés. Vive, brinca, rodopia Sonha com brilho, ribalta, luzes Desperta olhares, gigante no foco Diverte-se assim, brinca conosco. Brinca, vive, rodopia Descarta dor, metamorfoseia em sonho Beleza, alma solta, brisa, frescor de sol. Brinca, rodopia, vive Disfarça a realidade, finge ser poeta, anjo, meretriz A bailarina é atriz.

Passos de atriz

Ela atravessou a rua devagar, lembrando as velhas histórias do rádio. Seus cabelos grisalhos, a pele ressequida e marcada, pouco lembrava a figura brejeira dos anos 60. Mas ainda tinha a paixão na alma e a vontade de desenterrar o passado e vivê-lo plenamente. Sabia que não era possível encontrar os amigos, muito já mortos, outros vivendo perspectivas diferentes, burocráticas, mesquinhas e até medíocres. Ela ainda tinha sonhos, embora sozinha, quem sabe restaurar o que de alegria lhe restava, de novidade e desejo se debater em buscas ainda não realizadas. Estava velha, mas não cansada. E se vivia do passado, quem a poderia acusar? Refletia o resto de luz que iluminava a sua mente e da qual não podia nem queria se livrar. Uma chama frágil, mas densa, que a mantinha viva. Considerava que suas roupas eram dignas, que o talhe era modesto, mas adequado para a ocasião. Subiu a calçada, meio falseando o pé no salto alto. Nem tanto, o suficiente para uma senhora como ela. Paro