Ilustração: RoySnyder in:pixbay.com
Eu quero ter a dúvida dos fracos, do que ter as certezas definidas.
Eu quero ter os sonhos dos oprimidos, do que a realidade indolente dos vencedores.
Eu quero sentir o cheiro dos pobres, dos mendigos, dos marginalizados, dos solitários das ruas, do que o perfume falso dos poderosos.
Eu quero sentir o sereno da noite, o vento fustigando o rosto, os olhos doendo, a fumaça dos becos, a melancolia das ruas, do que o ar refrigerado das mansões, as bocas fervilhando de questões com convicções, verdades absolutas, mãos que se tocam sorrateiras sem sentimentos ou empatia.
Eu quero saber que estou vivo, mesmo entre a morte, do que viver enclausurado em medos do outro e não de mim mesmo.
Quero ter empatia para amar o próximo, mais próximo, aquele que avisto nas ruas, quase invisível, mas que de algum modo, alguma centelha de olhar, me toca, do que negar a sua existência e carimbar de algum modo seu passaporte para a morte.
A morte do cancelamento, do não existir, do não ver, do não assumir, do não aceitar.
Prefiro o bafo quente e livre de seus desejos, do que o hálito artificial e embranquecido dos quereres ponderados.
Prefiro a revolta dos que habitam um mundo que não é seu, nem meu, nem de ninguém, do que a submissão dos apáticos.
Enfim, prefiro viver, do que assistir, imaginando ser protagonista.
Talvez a ribalta seja aqui, dentro de minha cabeça.
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