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A barbárie

Dói o coração quando se situa longe de seu ambiente ideal, onde a dor do outro não vale nada. É como a lanterna que cai no chão, estilhaça a luz, o celular não filtra mais e a escuridão se escala. Não importa o artefato, basta apenas o poder de utilizá-lo. O homem parece deixar, aos poucos, o poder da empatia para experimentar apenas a indiferença e o interesse individual, descendo rapidamente a escala da involução. Em meio a tudo isso, a vida oscila, as costelas doem e seus ossos tangem, num pedido de socorro. Mas quem os ouve? Quem tem a capacidade de absorver sons tão ínfimos, quase inaudíveis? Entretanto, o mundo tange de dor. Doem as entranhas da terra, , o minério regurgita, o fogo se alastra, a selva padece, a natureza clama e o homem morre. Poucos veem, poucos sabem, poucos assumem. Crianças, adultos, idosos , que povos são esses que se evadem de seus territórios? Que povos são esses que estranhos assumem seus lugares, seus espaços, produzem suas dores, doenças, fome e mo

A esquina iluminada

Fabrício desceu os vinte e cinco andares do prédio, tateando pela luz fraca do celular. Ainda bem que não tomara o elevador, pensara, ainda aturdido pela queda de luz. Dirigiu-se ao carro e em seguida afastou-se, passando pela portaria e cumprimentou com um meio sorriso os dois funcionários, que pareciam olhá-lo surpresos. Já chegando à rua, ouviu um “oh” festivo pelo retorno da iluminação. A noite se antecipava e ele continuava no bairro tão próximo ao de sua infância, olhando pelo retrovisor do carro, como se a qualquer momento um personagem desavisado voltasse para o cenário antigo. Coração atribulado. Desceu do veículo e caminhou rápido, atravessando ruas, dobrando esquinas, sentindo o frio produzido pelo sereno que molhava do paletó aos cabelos. Em seguida, deparou-se com um bar muito parecido com o de seu pai. O frontispício com aquelas ramadas sobre a porta de duas abas, expressando o tempo passado. Havia música ruidosa anunciada por um apresentador, espécie de show

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO XII

Com o passar do tempo, as coisas pareciam se ajustar, embora as circunstâncias não favorecessem em nada à tranquilidade de Clara. Se por um lado, Cida subitamente desaparecera do prédio, por outro, as investigações se tornavam cada dia mais intensas. Entretanto, não havia nenhum indício que pudessem associar o evento à Clara. Tinha a impressão, entretanto de que a tempestade se aproximava lentamente. O mar estava aparentemente calmo e um abrasamento do ar que se resumia em comportamentos estranhos que davam o que pensar. Gustavo, por exemplo, afastara-se dela, tratando-a, inclusive com absoluta indiferença. Os demais colegas também mantinham uma determinada distância, como se fossem orientados para agir assim. De qualquer forma, Clara procurava não pensar nestas atitudes, despendendo todas as suas energias no trabalho e na elaboração de sua monografia. Preocupava-se exclusivamente com o fim de semana que chegava e tentava prosseguir a sua rotina, envolvendo-se em compras de vestuário

O DOCE BORDADO AZUL - 18º CAPÍTULO

Nosso folhetim como se fazia no século XIX, nos jornais brasileiros, continua em todas as terças e quintas, na sequência dos capítulos. Hoje, como é quinta-feira, senhoras e senhoritas, e também senhores, apresentamos mais um capítulo. Capítulo XVIII A ajuda Lúcia acordou pressentindo uma coisa líquida e pegajosa aproximando-se do quarto. Mal percebia as luzes da persiana, que se estendiam sobre a cama e abriu os olhos vigorosamente. Devia tratar-se de um pesadelo, desses de deixar a gente aterrorizada, percebendo sons inexistentes, ruídos aterradores, águas poluídas que fundem o corpo e a alma, numa afogamento fétido. Arbustos gigantescos, algas que se alinhavam ao corpo, como agulhas cerzindo o tecido. A mãe empunhando a agulha como arma cheia de veneno, instilando na pele, espalhando pelos dentes, amortecendo a gengiva. Doía-lhe o ouvido, o maxilar, a boca. Sentia um peso enorme na cabeça, como se carregasse pedra e aquela impressão da água suja se aproximando do q

O DOCE BORDADO AZUL - 13º CAPÍTULO

Todas as terças-feiras e quintas publicarei capítulos em sequência do romance "O doce bordado azul". A seguir o 13º capítulo. Capítulo XIII A alma ferida de Laura A alma ferida de Laura Laura espeta o dedo com a agulha e larga o bordado rapidamente sobre a poltrona, chupando o sangue, evitando sujar o tecido. Está ansiosa, os dedos imprecisos, a mente conturbada. Embora já seja tão tarde, não consegue levantar da poltrona e dirigir-se à cama. Na rua, avista apenas sombras que se movem pela calçada, pessoas que passam rápidas, voltando para as suas casas, temerosas de assaltos, mãos nos bolsos, noite fria, vento forte, poeiras que voltam e rodopiam perto da janela, iluminadas à luz dos postes. Tudo o que Lúcia lhe contou, deixou-a humilhada, como se ela fosse a protagonista da história. Como a tinham atingido assim, tão rudemente, como se estivesse num tribunal da santa inquisição. Odiava aquela gente. Odiava aquelas freiras. Odiava aquele círculo fechado, um