Este blog pretende expressar a literatura em suas distintas modalidades, de modo a representar a liberdade na arte de criar, aliada à criatividade muitas vezes absurda da sociedade em que vivemos. Por outro lado, pretende mostrar o cotidiano, a política, a discussão sobre cinema e filmes favoritos, bem como qualquer assunto referente à cultura.
segunda-feira, setembro 27, 2021
O lado bizarro da alegria
Mas eis que está aí, ante nossos olhos e corações e ao termos empatia, sentimos tão forte a dor, que nos encolhe e desaparece qualquer beleza primaveril. Dizem que o poeta é melancólico? Que o escritor é pessimista? Mas o que é a natureza, se não a humanidade que a compõe? O vírus faz parte da natureza. Os vermes e bactérias também. O mundo subterrâneo e destrutivo desencadeador de terremotos e tsunamis, também. Ou não são os raios, as tempestades, alagamentos e nevascas, elementos estruturais da natureza?
Dói presenciar nos pezinhos distraídos de crianças faveladas, afundando na lama das enchentes, com a barriga vazia e o olhar perdido dos que não têm futuro. E as patinhas dos animais queimados nas florestas, perfazendo estatísticas de fauna dizimada, transformados em cinza e dor? E a flora, se exaurindo na fornalha, dando cor ao deserto de morte injustificada? Não fazem parte da natureza?
Benditos poetas, escritores, cantores e artistas que cantam e revelam a natureza, sem os matizes da ufania abstrata e cínica que somente enxerga um lado. O lado bizarro da alegria, quando há tanta dor!
Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/cervo-floresta-incêndio-1398064/
segunda-feira, maio 17, 2021
Quando a noite se aproxima
Quando a noite se aproxima, assim tão lenta e desesperançada, me pergunto por ela. Será que pensa como eu, que sente as mesmas dores, os mesmos males e febres infindas? Será que vela com pensamentos escusos achando que a noite passa e tal como veio arrastada, se afasta e se nivela ao mar, com sol, luzes e sombras? Será que a voz da noite responde e detém meu sangue agitado? Será que provoca o caos, que ocupa as vielas escuras e as transforma em caminhos?
Talvez o muro se rompa e a vida que outrora parecia embaçada, se encha de luz e os homens se encontrem e liguem os princípios tão próximos e distantes, tão aparentes e ocultos, tão coletivos e solitários.
Quando a noite se aproxima, assim tão rápida e confiante, me pergunto por ela. Será que abrirá as comportas e mostrará a força que possui? Será que vigia acordada e zela cuidadosa o sonho que carrega consigo, como o filho primogênito recém-chegado? Será que se aproxima acesa como lamparina trêmula ao vento sob mãos frágeis, mas determinadas?
Não sei. Quisera que a noite fosse apenas a passagem de brumas macias sob um horizonte ditoso. E que tudo não passasse do olhar de sentinela do sol, que já está por vir. Tenho medo porém, que a noite não passe e o sol se afaste para bem longe do nível do mar, ficando tão fraco que já não mais o sintamos. Que a sua voz se cale.
Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/lua-mar-lua-cheia-reflexos-de-luz-2762111/
sexta-feira, abril 27, 2018
Tênue limite
José cavalga pelo estreito caminho de terra vermelha. Nas bochechas, o ardente do dia, a boca seca, com um fiapo de grama no canto. Um olhar perdido no horizonte. Campos, campos e mais campos. Nos pés, chinelos de dedo arranhando a barriga do cavalo.
Quem o olhasse de perto, pensaria que tem a vida decidida. Conduta perfeita. Atitude positiva.
Na verdade, não. Ele nem sabe o que fazer além do que faz todo o dia. Busca os animais. Estão quase escondidos, próximos a um quiosque, perto da propriedade dos vizinhos e não muito longe da rodovia. Mas tem que ir.
Quem o visse, diria, que gaúcho guapo. Falta só as esporas, a bota, a bombacha.
Que nada. Está de calça rasgada no joelho e muito suja. Não é porque gostaria, mas porque não pode sujar a roupa no trabalho. Tem que trazer o gado, como faz sempre. Não são muitos, nem passam de uma dúzia. Mas também não são dele, nem de sua família. É apenas um peão, que mora numa cabana, quase casebre.
Os ventos mudam de direção, mas não ele. Quem sabe volta a estudar e aprende a ler alguma coisa. Não é tão difícil. Poderá ser chamado de gaúcho guapo, participar da Semana Farroupilha, exaltar os farrapos e comer churrasco em homenagem.
Ele é como um nômade, um pária, porque não é urbano, nem rural. Ele é ele mesmo. Como ele, milhares de gaúchos que vivem nas beiradas dos cofres alheios, tentando pegar algumas moedas.
Mas o povo levanta bandeiras, dá vivas à revolução e acredita que o Rio Grande é um país à parte.
Ele não, está neste liame, neste tênue limite, no qual não se permite a galhardia, a ousadia e a macheza do gaúcho. Aquele que vem uma vez ao campo, se veste à caráter, rompe estradas com seu 4x4 e dança nas mateadas. Este aparece na mídia.
Talvez ele seja um guasca, um índio do mato, uma mistura das três raças, nem sabe.
Negro tinha na família e índio era o avô.
Mas deixa pra lá. Melhor é caminhar quase sem rumo e seguir a vida.
Quem construiu a nação gaúcha, não foi ele. Foram os livros. E antes deles, os historiadores. Eles não mentem.
Fonte: www.pixbay.com
terça-feira, agosto 22, 2017
Uma história em comum
Ele fechou a porta devagarinho e ficou se perguntando se era capaz. Capaz de olhar aquele quadro degradante. Capaz de perguntar-se a si mesmo se havia tido uma história em comum. Se tomara café junto. Se partilhara dos mesmos sonhos, mesmas esperanças, mesmas expectativas.
Lágrimas corriam involuntárias. Mas não tinha aquele sofrimento todo. Uma náusea incólume, que inundava a alma, o espírito. Vontade de sair, de respirar, de tomar ar puro.
Temia abrir a porta e presenciar a cena, ver o corpo estendido no chão, a garrafa de bebida ao lado, espargindo-se entre os ladrilhos brilhantes, límpidos, impolutos. Os dedos longos, frios, finos, anéis, comprimidos, cenário grotesco, comum, teatro barato. Pena. Sentia pena dela. Pena pela fragilidade, penúria.
Ainda ontem, haviam se encantado pelas calçadas, avistado luzes novas no horizonte, ventos favoráveis que sopravam. Deram esmola a pedintes, abrigo a velhos desamparados. Sorriram felizes com a desgraça alheia. Estavam quase felizes. Burocráticos, fiéis ao senso comum. Ao dar para receber. Aparências. Caminhar juntos, fingir que pensavam. Fingir que sentiam-se próximos, vivos. Talvez estivessem mais mortos do que ela, hoje.
Agora aquele vento frio da rua, o barulho das buzinas, o zunzum intermitente do trânsito, as vozes apressadas soando aos ouvidos. Crianças que correm, patins na calçada, skates, bicicletas. Sorrisos francos. Felizes. Por que se sentir assim, alijado desta felicidade? Arremessado ao mundo tenebroso, fúnebre, espectador do outro: cheio de luzes, lá fora, com risos, mãos carinhosas, que se enlaçam, bocas que se tocam sorrateiras, brincando, balbuciando palavras doces, gestos leves e brejeiros. Um mundo distante que avista pela janela.
Por que ficar tão longe, inatingível. Atingido pela dor, pela saudade do que já foi, do que passou ou do que nunca viveu.
Entrou num bar, pediu café, vasculhou no celular pela enésima vez o e-mail. Tomou o café demorado, lento, mãos presas na xícara, como garras, lábios trêmulos, a barba crescida coçando no queixo. Acendeu um cigarro.
De repente, um silêncio quase absoluto no recinto. As bocas pararam devagar, como se mastigassem mingau em câmera lenta. Olhares surpresos, assustados.
Ele, gesto louco que não fazia há tanto tempo. Guardara a carteira para uma ocasião como esta. Sabia disto. Cigarro amassado no canto dos lábios.
Uma batidinha no balcão. Cinzeiro de vidro. Coisa antiga. Objeto obsoleto. Incrível que ainda tivessem ali, naquele bar de quase não fumantes. Olhares de censura. Acenos de cabeça, quase pedidos, súplicas para não cometer aquela loucura.
Acuado, dirigiu-se à porta e tragou mais uma vez. Retornou ao balcão e apagou o cigarro.
Em seguida, levaram o cinzeiro, aliviados. Alguns sorriram, complacentes. Outros voltaram ao assunto usual. Conversas de costume: política, futebol, mulheres, trabalho, não necessariamente nesta ordem. Capricharam nos verbos, nos gestos, na fala alterada.
O barulho do bar ficou ensurdecedor. Voltou ao normal. Doíam-lhe os ouvidos. Ouvia, naquela barafunda toda, a voz da mulher, também pedindo, suplicando por uma nova chance.
Oportunidade única para exercer a bondade.
Cansara de ser bom, de ver os dois lados da moeda, de discutir todos os aspectos das situações e avaliar todos os pontos de vista.
Queria ser egoísta, autoritário, arrogante, malicioso e mau, infinitamente mau, como todos os outros. Como ela. Por isso saiu do bar e não a ouviu mais.
Mas o vento fustigava-lhe o rosto e trazia com ele vozes absurdas, lembranças tão vívidas que temia um retorno ao passado. Um passado que enterrara para sempre.
Via-se sentado, em frente à máquina de escrever, dedos tiritando de frio, noite de inverno e medo. Treze anos de vida e uma carga emocional quase adulta. Via a mãe na janela do quarto, que desembocava no pátio, caminhando pelas vielas do jardim, pesquisando ervas de chá, remédios que curassem a eterna dor da alma, da solidão. Ele batendo os dedos, cada vez mais forte, para não lhe ouvir os passos. Não sentir as mãos pousadas no ombro, pedindo que contasse as noticias do dia, as histórias que escrevia, os trabalhos de aula e aquele cheiro de uísque barato inundando o ambiente. Tinha náusea e sentimento de culpa por não compreender tão grande dor. De ter ódio do pai, de sabê-lo distante, esquecido deles.
Aquele ritual se repetia e as histórias se acumulavam. Muitas das que contava nada tinha a ver com o que escrevia. Ele mesmo as inventava, na hora e punha um ponto final trágico para inspirar suspiros.
A mãe nem ouvia, embalada que estava no teor de suas próprias alucinações. Suas histórias eram bem mais sinistras do que as dele. Um dia a viu morta, inchada, olhos esbugalhados, congestionados de álcool.
Quase a ouvia chamando, pedindo socorro, tal como a mulher o fizera, mas batia tão forte na máquina que não a escutara.
Estava assim, absorto, num passado morto e enterrado, que nem percebera o quanto tinha se afastado de casa.
A noite já chegava depressa. Ouvia o burburinho da volta, os ônibus superlotados, filas imensas nas estações do metrô. Pessoas sozinhas, sem mais aquele brilho de felicidade. Tão solitárias e tristes quanto ele. Apenas sem a tragédia imediata. Somente a tragédia de suas vidas vazias.
Então lembrou em voltar para casa, executar os trâmites necessários, chamar um médico, talvez até a polícia.
Voltou ansioso, coração aos saltos.
Avistou o prédio em polvorosa. Comentários à solta. Porteiros, faxineiras, condôminos conversando, quase aos gritos. Um corpo enrolado em lençóis, numa maca, saindo do elevador. Alguém chamou a polícia.
Eles estavam ali, à espera, à espreita. Que queriam? Correu para a cena, ingressou no cenário e sentiu o feixe de luzes dos refletores na cara.
Uma voz firme, um gesto autoritário e a pergunta fatal:
— É o marido?
Vontade de fugir, afastar-se dali e esconder-se do drama. Argumentar qualquer coisa, fingir desconhecimento.
Era tarde. As mãos se juntaram, o metal brilhante doía, latejavam as veias dos pulsos. E a voz soava mais firme, mais forte:
— Está preso.
quarta-feira, novembro 16, 2016
Um amontoado de ossos

Percebia um corpo franzino que se esgueirava rápido, por entre as árvores. A noite já se aproximava e o parque, aos poucos, ficava deserto. De repente, ela sentou num dos bancos, de súbito, como houvesse se assustado de alguma coisa. Eu podia vê-la de longe, e por um momento, pensei fotografá-la com o celular. Mas foi só por um momento. Meu coração disparou, assustado, pois a mulher despencou literalmente no chão. Corri até o banco onde estava e abaixei-me, tentando descobrir o que estava acontecendo.
Ela estava no chão, a cabeça estirada próxima aos pés do banco. Ao seu lado, um cachorro preto olhava compassivo, como se soubesse o que acontecera. Ou como se fosse de rotina.
Tentei acordá-la, olhei para os lados, para ver algum passante por perto que me acudisse. Um que outro olhava de longe e se afastava ainda mais.
Peguei a sua cabeça entre as mãos. Era tão pequena aquela cabeça, que parecia um crânio vazio, sem cabelos, sem pele, sem couro cabeludo, apenas ossos. Tão leve, que nem parecia de um adulto. Pior, de um ser humano.
Ela abriu os olhos que se revelavam ainda maiores, efeito do rosto mirrado. Parecia ensimesmada, como quem diz, o que este cara quer aqui? O que faz ao meu lado? Moveu a cabeça, tentou levantar-se. Então, perguntei se havia se machucado. Não respondeu.
Conseguiu sentar-se ali no chão mesmo. Esticou as pernas finas, envolta em andrajos sujos e os braços seguravam-nas como se tentasse se equilibrar.
Percebia que as mãos tremiam. As mãos eram grandes e disformes, com sulcos esbranquiçados na ponta dos dedos. A pele preta nem tinha uma cor definida, como se o sol, o tempo, o vento ou qualquer fenômeno da natureza a tivesse desbotado.
Tentei ajudá-la a levantar. Ela me empurrou. Tinha medo de mim. Queria afastar-se de qualquer modo. Por certo, dispensava a minha proximidade. Eu era um estranho, que se intrometia na sua vida.
A roupa que cobria seu corpo estava em pedaços. Nem sei se devia chamar de roupa, tal era o estado de sujeira e farrapos em que se encontrava. Havia uma sacola velha sobre o banco, com mais trapos guardados, eu supunha. Ela segurou-a, empurrou o cão com o pé descalço e para minha surpresa, não foi embora. Voltou a sentar no banco e ficou ali, calada, enfiada em suas mais profundas lembranças ou na falta delas. Mascava um ar de nostalgia que me doía o coração.
Nem sei porque eu continuava ali. O fato é que precisava fazer alguma coisa.
Não sentei ao seu lado, pois sei que se o fizesse, ela se afastaria, por mais dificuldade que tivesse. Fiquei em pé, meio distante, eu e o cachorro que agora se preocupava com o seu rabo, procurando-o em círculo. Mesmo assim, perguntei:
— Você está bem agora?
Ela não me olhou. Ao contrário, levantou a cabeça para o horizonte. As árvores ficavam atrás e sol ante seus olhos. O sol que enfraquecia, cujos raios já nem se viam, só uma luminosidade difusa que também ia morrendo. Daqui a pouco, a noite chegava. O que ela faria à noite?
— Você bateu com a cabeça. Não está doendo?
Desta vez, ela se virou em minha direção e pude ver um certo brilho nos olhos. Um brilho que me incentivou a continuar.
— Não está com fome?
Ela disse alguma coisa. A voz era gutural, inaudível. Talvez não falasse com alguém há muito tempo. Mesmo assim, ela proferiu alguma coisa, o que era um avanço. O maior desafio agora, era entender o que queria. Voltei a perguntar se estava com fome.
Ela esboçou um sorriso, onde se via mais gengiva do que dentes. Foi aí que ela apontou para o cachorro.
— O cachorro? Ele está com fome?
— Cachorra.
Agora entendi, ela me corrigia e com bastante consistência. Era a sua companheira, por certo.
— Cida.
—Cida? – Perguntei meio bobo.
Falava da cachorra ou dela? Quem era Cida? Cida, Aparecida, devia ser ela.
Mas ela repetiu a frase, afirmando que Cida estava com fome.
Como insistir na pergunta e revelar, que no fundo, eu a confundia com o animal? Não somente pelo nome, mas pela condição em que se encontrava. Tudo acontecia em nível interno, quase inconsciente, em que meus pensamentos se misturavam com centenas de experiências que não conseguia interpretar.
Quem seria aquela mulher mirrada, de vida espremida, desatenta de tudo. Havia mais vida na cadela, certamente.
Uma mulher infeliz. Uma mulher que acabara de cair, de desmaiar e que se preocupava com a fiel companheira, que estava faminta.
Então, indaguei, tentando ser entendido:
— E você, não está com fome?
Ela abaixou a cabeça, como quem diz, que interessa agora. Alguém tem que se salvar. Que se salve Cida.
Confirmei que traria algum alimento para Cida e também para ela.
Ela me olhou mais uma vez, pensei até que seria a última, porque seus olhos estavam tão vazios e perdidos, que pensei que fosse morrer naquele momento.
Afastei-me rápido, atravessei o parque, procurei um quiosque no outro lado da rua e em seguida, estava de volta. Cida parecia desconfiar de meu propósito, pois me seguia o tempo todo. A cada contorno que fazia, ela me acompanhava solidária. Quando me dava conta de voltar-me, tinha a impressão que me olhava agradecida.
Comprei um sanduíche e já na saída do bar, ela o engoliu quase instantaneamente. A baba ainda escorria da boca, quando lambia o prato de isopor.
Atravessei a pequena viela que conduzia até o interior do parque. Vi ao longe, já quase na escuridão, um amontoado de ossos, encostado no banco. A mulher estava com a cabeça baixa, coberta por um pano, que lhe ocultava a boca.
Aproximei-me com o lanche. Tentei entregar-lhe, mas ela nem me reconheceu. Cheirava alguma coisa numa lata e se enrolava ainda mais no trapo sujo.
Cida afastou-se de mim e se aproximou rápida, da dona. Sentou-se ao seu lado, como se compartilhasse o seu drama. Permaneceu ali, esperando. Talvez esperasse horas por alguma reação. Ou não esperasse nada. Nem um afago na cabeça, um sorriso, um coçar na barriga. Talvez apenas esperasse um empurrão em suas coxas magras. Era de hábito. Um hábito bom, do qual ela já se acostumara. Era o carinho que lhe restara.
De todo modo, estava alimentada. De vez enquanto, seu olhar pairava no movimento tépido das folhas das árvores, investigando algum movimento diferente. Mas eram apenas as folhas, agora amarelecidas pelas lâmpadas que se moviam na noite cada vez mais escura. Somente voltou-se, encantada, quando joguei o lanche que trouxera ao seu encontro. Agora, não o devorou de uma vez, abanou levemente o rabo, satisfeita e o deixou por um momento ali, talvez pensando que não era para ela. Cheirou, cheirou e o engoliu em seguida. Mais devagar, a bem da verdade, mas o engoliu por inteiro.
Afastei-me. Segurei firme a mochila temeroso em voltar a atravessar o parque, pela penumbra que se antecipava. Apalpei o celular, pelo lado de fora, para ter a certeza de que ela estava ali.
Depois, afastei-me devagar e dei uma última olhada para a cena.
Cida voltava a observar as árvores.
13/03/2023 23:37:53
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A boca vermelha, cabelos loiros, olhar perdido. Nem sabe se fazia pose, encenava ou apenas acessório do cenário. Assim os observava de re...

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