Quando a noite se aproxima, assim tão lenta e desesperançada, me pergunto por ela. Será que pensa como eu, que sente as mesmas dores, os mesmos males e febres infindas? Será que vela com pensamentos escusos achando que a noite passa e tal como veio arrastada, se afasta e se nivela ao mar, com sol, luzes e sombras? Será que a voz da noite responde e detém meu sangue agitado? Será que provoca o caos, que ocupa as vielas escuras e as transforma em caminhos?
Talvez o muro se rompa e a vida que outrora parecia embaçada, se encha de luz e os homens se encontrem e liguem os princípios tão próximos e distantes, tão aparentes e ocultos, tão coletivos e solitários.
Quando a noite se aproxima, assim tão rápida e confiante, me pergunto por ela. Será que abrirá as comportas e mostrará a força que possui? Será que vigia acordada e zela cuidadosa o sonho que carrega consigo, como o filho primogênito recém-chegado? Será que se aproxima acesa como lamparina trêmula ao vento sob mãos frágeis, mas determinadas?
Não sei. Quisera que a noite fosse apenas a passagem de brumas macias sob um horizonte ditoso. E que tudo não passasse do olhar de sentinela do sol, que já está por vir. Tenho medo porém, que a noite não passe e o sol se afaste para bem longe do nível do mar, ficando tão fraco que já não mais o sintamos. Que a sua voz se cale.
Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/lua-mar-lua-cheia-reflexos-de-luz-2762111/
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