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segunda-feira, novembro 12, 2018

Ainda Clarice

Aquela velha frase de clarice, mas sempre justificada por seu discernimento e apego à verdadeira literatura: a vida é um soco no estômago.

Ela demonstra em sua postura em relação à vida sempre interagindo com a ficção, uma intrepidez, que não admite concessões. Nesta afirmação, ela levava às últimas consequências, porque a vida é traiçoeira e bruta, ela não admite retorno, nem suavidade. Ela dói, magoa e pune, porque é a verdade. A última verdade da vida, que tira o sujeito do prumo, como se fosse um soco e somente assim, pela palavra doída e verdadeira ela vai ficar no lugar de outra pessoa.

Desta forma, o autor se destaca e constrói a verdade com muito trabalho e dor. Para Clarice e para o mundo, existem dois pilares básicos da subjetividade, que segundo Freud, são o conteúdo e o afeto. O ser humano não possui apenas cognição, é também afeto, é dor, é sentimento. Ele precisa levar este soco, este susto para refletir sobre ele mesmo e sobre o mundo. É preciso haver o conflito consigo mesmo, caso contrário, de que adiantaria a literatura? Apenas uma história cor de rosa?

Clarice Lispector é uma autora que mergulha nos cantos muito escuros do indivíduo, nos pequenos espaços que tendemos a não confrontar. De certo modo, ela nos atrai com uma narrativa, às vezes irônica, fazendo um jogo com o leitor, construindo de uma maneira para desconstruir depois, o que para nós já estava organizado. Neste embate, ela nos mostra e nos reconstitui os recantos mais escondidos, as paixões negativas ou malditas. Traz à tona, o confronto do sujeito no mundo de maneira imprevista, quando acredita que tudo está sob controle. Neste momento, ela o tira do eixo e o coloca diante de seu íntimo mais incômodo e tudo acontece junto ao personagem que nos desperta este mal estar e nos impõe momentos de desequilíbrio.

A literatura tem esse papel de fazer uma reflexão, refletir sobre as coisas que nos incomodam que precisam deste processo

para alterá-las.

domingo, novembro 11, 2018

Alguma coisa sobre Clarice Lispector

Clarice disse certa vez que não fazia concessões. E realmente, observa-se pela sua obra, que a literatura ali transparece crua, verdadeira e até cruel, personificada na realidade e nos cenários nos quais os personagens orbitam.

Ela tem uma postura de enfrentamento, de destemor do que diz, do que passa ao leitor. A vida é que importa, porque segundo dizia, tudo que doía em si, era verdade, a vida para ela era como um soco que a tirava do prumo, do eixo e a transformava. Então, queria que doesse também no leitor.

Toda a transformação é sofrida, é difícil, de muito trabalho. Nada ocorre de maneira simples e suave. Ela era a “anti-ajuda”, no sentido de passar a mão na cabeça e sugerir que tudo vai passar, não, a ajuda dela se dá noutro nível, no nível do enfrentamento, do mostrar a realidade doída e verdadeira, da profundidade do sentimento, do fazer-se melhor através da mudança, tanto no aspecto do conteúdo quanto do afeto.

Na verdade, aquilo que toca, que faz doer, não é necessariamente na ordem do aprazível, nem na ordem do imaginário do bem.

Não somente o indivíduo , mas a sociedade, um embate em que há uma relação de você com você mesmo, você conflita com você. Qual seria a graça, se isso não acontecesse? Ninguém tem certezas absolutas, ao contrário, tem-se ambiguidades nas posições e procedimentos.

Clarice trabalha uma literatura soturna e ambígua, na própria enunciação, no próprio modo de dizer. Ela provoca o sentido e o não-sentido. Somente a verdade dura, ambígua e verdadeira ecoa no fundo.

quinta-feira, novembro 02, 2017

A catarse do escritor

Pedro Nava, o grande escritor mineiro, autor de "Baú dos ossos", afirmava que a memória é uma coisa inextinguível, com suas coisas boas e ruins, mas pode-se fazer uma catarse, enquanto se escreve. Para isso, ele explicava: “eu tenho esquecido certas coisas que eu tinha completamente vivas dentro de minha memória depois que as pus por escrito. Depois delas escritas, desapareceram certas datas, certas pessoas. Certos aborrecimentos que eu tinha com determinadas pessoas desapareceram completamente. Eu fiz uma espécie de pazes com muita gente através da minha literatura um pouco vingativa sobre algumas pessoas que me desagradaram”.

De certo modo, todo escritor se vale de suas experiências pessoais, de características de familiares, amigos, conhecidos e até mesmo desconhecidos. Em geral, estas nuances de personalidade ou aparência física ou características especiais ficam na memória e são mescladas para construir determinado personagem.

É no fazer literário, na comunhão com seus fantasmas e expectativas que o escritor atua, de tal modo a percorrer caminhos que às vezes, percebe uma perplexidade em relação às próprias ideias transmudadas em estratégia literária.

É aí que acontece o estranhamento do leitor, a provocação do absurdo ou do choque da realidade, enquanto ocorre uma verdadeira catarse com o autor. Talvez seja complexa esta relação tão íntima e solitária, mas que se dá aos poucos, quando o leitor desvenda a leitura.

Acho que todo escritor exerce, talvez até de maneira inconsciente, a vingança declarada por Pedro Nava e acaba assim fazendo as pazes com seus fantasmas.

terça-feira, outubro 18, 2016

Por que escrevemos? Por que lemos?


Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/trabalho-workaholic-escritor-1627703/

Bem, é uma questão um tanto difícil, levando-se em conta as diferentes possibilidades, desejos e experiências de cada um. Escreve-se para viver, às vezes, respirar, transformar a poeira dos ossos em energia para alcançar os degraus onde o sol pisa.

Considero que os escritores de todas categorias, seja em que suporte expressem a sua arte, tem como fundamento interno uma procura constante da verdade, com suas buscas visando partidas ou encontros, ou seja, mostrar que outra realidade é possível.

Afinal, o que se deseja se não desmitificar a pretensa realidade? Uma realidade revelada a partir de milhares de padrões, tanto midiáticos, políticos, religiosos, científicos, empíricos ou sociais.

Uma realidade que se metamorfoseia dia a dia de acordo com as conveniências e as máscaras que lhe impõe a sociedade com interesses diversificados.

A literatura, portanto tem esta função social e política de resgatar a realidade, porque a arte é independente.

O escritor deve lutar por exercer a faculdade de enfrentar a realidade sem máscaras, retirando todo o entulho que a sociedade, como um todo, a recobre. A verdade está na mostra social, pura e cristalina, sem os adornos da pílula elitizada e batizada pelo poder.

A literatura é uma só. É este erguer-se e olhar o horizonte e ver além das fronteiras do senso comum, da vida padronizada, do olhar midiático, do politicamente correto.

O leitor descobrirá na verdadeira literatura, aquele engajamento com a verdade e não com o poder, seja em que patamar se estabeleça.

Ler é fundamental para abrir veredas, para multiplicar e sair da mesmice, mas fiquem atentos, leitores: estas serão bloqueadas se impedirem a retomada do pensamento, do discernimento humano e seu direito de escolha.

Quem lê, absorve, introjeta, interage e escolhe o seu próprio caminho.

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