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quarta-feira, outubro 18, 2017

Um pouco sobre mim e meus livros publicados

Eu trabalhei na FURG como bibliotecário. Lecionei também Português, Inglês e Literatura em escola pública. Formado em Letras Português/Inglês, Biblioteconomia e Especialista em Ciências da Informação.

Atualmente, sou membro da Academia Rio-grandina de Letras. Escrevo no blog letras-livres.blogspot.com.br e participo da página literária do Jornal Agora, no caderno O Peixeiro, pela Academia Rio-grandina de Letras.

A página literária no facebook é: https://www.facebook.com/guilsonlitteris/

Sobre os livros publicados:


Como escritor, participei da Coletânea de Conto, Poesia e Crônica, Edições EG da All Print Editora, 2009.

Ainda em 2009, integrei a Antologia de contos “Outras águas”.

Participei da antologia Contos Vencedores 2013 de Araçatuba, com o conto “A margem oposta e na Antologia de Contos de Santo Ângelo, 2014.

Em 2017, Antologia de contos “Metamorfoses”, com o conto “Emblema da morte em vida”.

Publiquei dois romances: “O eclipse de Serguei”, pela editora Biblioteca 24x7, de São Paulo, 2009.

Em 2017, “A barca e a biblioteca: um romance sobre como livros também foram sitiados em tempos de repressão”, pela editora Metamorfose, Porto Alegre.

O eclipse de Serguei está disponível no site da editora: www.biblioteca24x7.com.br

”A barca e a biblioteca está disponível na livraria Vanguarda, Rio Grande, RS e Pelotas, RS, pelo e-mail gcgilson4@gmail.com, bem como pelo site da editora: http://www.editorametamorfose.com.br/livro.php?pid=960 e pelo site da Amazon.com.br

Trecho do prefácio de "A barca e a biblioteca”, pelo Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara

A barca e a biblioteca é uma empolgante narrativa em que o autor incursiona pela história recente do Brasil, de modo especial, pelo período posterior ao golpe militar de 1964.

Trata-se de um romance, que em não sendo do gênero histórico propriamente dito, envolve a história recente de nosso país, denunciando, mesmo que veladamente, o processo perverso que os sistemas políticos antidemocráticos escondem.

Em nome de uma pretensa ordem, em defesa de uma ideologia dissimulada, os usurpadores do poder cometem os mais bárbaros crimes. Trata-se de indivíduos, desobrigados de responder pelos próprios atos e decisões, que agem com extrema parcialidade, mesmo em questões que nada têm em relação ao interesse público. O que se destinava a preservar costumes torna-se o instrumento e a razão dos mais perversos atos de corrupção e descaminho.

sexta-feira, novembro 04, 2016

A redação, a Apollo 11 e o grêmio literário

Eu estava à cata de informações para uma redação, na imaturidade de meus 13 anos.

Os acessos eram difíceis, embora houvesse os jornais, a TV, as revistas e principalmente a imaginação.

Naquele julho de 69, a Apollo 11 era a primeira missão de sucesso, com Neil Armstrong pisando na lua e surgindo nas telas da TV, numa imagem entrecortada de chuviscos e emoção.

Eu elaborara a redação com cuidado, tentando ser o mais verídico possível, sem ser previsível.

Naturalmente não possuía esta percepção de previsibilidade, mas por pura intuição, eu tentava ser original, no esforço de transformar o texto num produto bem elaborado.

Enveredava sempre que podia, pela imaginação, transportando meu mundo interior fundamentado na fantasia do espaço para o papel, procurando decifrar a perspectiva que possuia no avanço espacial.

Aquela nave maravilhosa, desenhando no céu uma centelha de luz, trazendo a nós, terráqueos, uma visão tão próxima da lua, com a certeza de que os astronautas pisavam pela primeira vez no solo inatingível.

Desta forma, realizei a redação, se não a melhor, uma das melhores de minha carreira de estudante.

Certo dia, o diretor da escola, um frade austero, de olhar frio e perscrutador, adentrou a sala, invadindo a aula de português.

Nosso professor, Irmão PL. recebeu-o com cortesia.

Um meio sorriso nos lábios, uma ansiedade contida, um torcer de mãos sob a batina branca, talvez na mesma expectativa em que estávamos mergulhados.

Ele era alto, cabelo ralo, nariz adunco, mãos grandes e dedos peludos. Tinha um olhar tranquilo, mas havia neles uma interrogação, que me inquietava.

Talvez não exatamente por sua conduta, mas pela minha maneira peculiar de observar as pessoas e considerá-las um produto promissor para minhas histórias.

Eu fiquei circunspecto, sem muita expectativa, a não ser imaginar que o assnto que levara o diretor à sala de aula, seria algum tipo de norma reformulada ou talvez um feriado religioso, no qual participaríamos em alguma solenidade.

Eu, magro, mãos sobre a mesa, olhar atento, cabelo caído na testa, a la Beatles, observava o cenário já meio enfadado.

Meus colegas cochichavam, faziam mil esforços intelectuais para descobrir o motivo do diretor aparecer assim, de súbito.

De repente, ele manifestou-se através de uma fala burocrática, citando a turma que, segundo ele estava bem orientada na aula de língua portuguesa , deu os conselhos de praxe e por fim, citou o meu nome.

O meu nome? Perguntei-me atônito, a que se referia.

Claro que perguntei mentalmente, sem abrir a boca ou piscar os olhos.

Alguns segundos e o diretor pediu que eu me levantasse.

Obedeci, pernas trêmulas, joelhos batendo um no outro, coração aos pulos.

Não sabia o que pensar, o que dizer, o que imaginar.

Nem passava pela minha mente confusa, qualquer indagação que não fosse uma temerosa culpa por alguma conduta indevida.

Ele então, mandou que eu sentasse, o que fiz de imediato, deixando cair os braços sobre a carteira, mãos presas na caneta, desenhando quase involuntário no caderno, tentando fugir daquela atmosfera de incerteza.

Ele prosseguiu elogiando a redação que eu fizera, acrescentando que havia sido muito bem avaliada pelos professores e que, em virtude da qualidade do texto seria publicada no jornal da cidade.

Quando afastou-se, os colegas todos me olharam, juntamente com o professor, que parecia abalado, pois nada dissera a respeito. Nem me cumprimentara.

Houve mil brincadeiras e muitos apelidos, culminando por me chamarem de poeta.

Para eles, qualquer um que escrevesse razoavelmente era um poeta.

Ou talvez fizessem uma leitura pejorativa, realçando que a sensibilidade não era prerrogativa de meninos. Não sei. Coisas que talvez Freud explicasse. Afinal, era um tempo de uma ideologia tecnicista, na qual as artes e filosofias foram excluídas.

No intervalo, as brincadeira se sucediam, mas eu estava feliz, porque o meu texto fora analisado, elogiado e comprovado publicamente que tinha qualidade.

Com o passar do tempo, eu tinha ainda mais ânimo para escrever, não somente as redações obrigatórias da escola, como outras histórias, que criava em total liberdade de meus pensamentos e imaginação.

Neste período, elaborava contos ou imensos romances, pontuados de ação, aventura e emoção, abrangendo deste modo, os sentimentos que imaginava aos personagens e suas tramas.

Era uma dramaturgia intuitiva e repleta de clichês, mas que ampliava a minha imaginação e de certo modo, o conhecimento literário, além de ampliar o gosto pela leitura.

Nos sábados, em que se realizava o grêmio literário da escola, costumávamos assistir os trabalhos feitos pelos colegas, cujas diversas turmas se reuniam e havia muitas apresentações, com a participação dos professores de português e inclusive de outras disciplinas que confraternizavam com os seus alunos.

Geralmente, alguns pais convidados também faziam parte da plateia.

Enumeravam-se poesias, crônicas e contos, que apresentados em sala de aula, e considerados os melhores trabalhos, eram apresentados à comunidade escolar.

Em determinado momento, o professor que apresentava os alunos, chamou um dos meus colegas de turma.

Todos ficamos aguardando na expectativa da apresentação.

Era um menino de cara rechonchuda, vermelha e um sorriso imenso nos lábios, considerado o guri popular da turma.

Já aplaudido pelo grupos de alunos e pais, abriu uma página datilografada e antes que se pronunciasse a respeito do tema, o professor anunciou tratar-se de uma redação sobre a chegada do homem à lua, ou seja, a Apollo 11.

Meu coração revirou-se, em saltos.

Os colegas voltaram-se de imediato para mim, criticavam e afirmavam que se tratava de minha redação, o que implicava em eu estar lá, no palco, lendo-a.

Perguntavam afoitos, por que eu não dizia nada?

O menino começou a ler, voz clara e bem colocada. Não modificou nenhuma palavra, nenhum artigo, nenhuma pausa.

Meu coração sim, quase pausava.

Meus lábios tremiam, tensos, incapazes de pronunciar uma sílaba sequer, músculos paralisados, pernas cravadas no chão, como estacas inanimadas.

O professor de português, ao nosso lado, impassível. Não foi capaz de informar que aquele texto havia sido escrito por mim. Não fora capaz de defender-me.

Como eu, no meio daquele público de adultos e crianças, poderia sair gritando que a tal composição era minha, que havia sido inclusive publicada no diário da cidade e elogiada pelo diretor da escola?

Não teria coragem para tanto.

Ali, conheci a mão pesada do apadrinhamento, da covardia dos mestres, do interesse dos superiores.

Deixaram-me na lona, Davi perdido, sem enfrentar nenhuma fera ou qualquer gigante.

Perdido, acabrunhado e triste.

Ali, conhecera a duras penas, o significado de plágio. Mais do que o plágio, a predileção por um aluno em detrimento do outro.

Se ao menos, nomeassem o autor do texto, eu me conformaria, mas todos os créditos foram para ele. Todos os louros. Todos os aplausos.

Pra mim, sobrou o constrangimento de não ter me levantado contra aquela injustiça.

Sobrou a crítica dos colegas, por meu acanhamento.

Sobrou a autocrítica por minha fraqueza.

Felizmente, sobrou também a vontade de lutar, de mostrar ao mundo o meu fazer literário, sem o medo do fracasso, pois se ocorrer, será somente meu.

Mas como tudo é aprendizagem e sublimação, a mágoa se transformou em representação na narrativa literária e só existe para vestir um personagem.

quinta-feira, julho 16, 2015

A vida, de volta, por favor

Conto utilizando a personagem da ama de Julieta da peça de Shakespeare como protagonista nos dias atuais.Trata-se de um desafio literário.

Encontrei-a dobrada em dois, na mesa, braços cruzados, nariz enfiado no livro. Quando levantou a cabeça, pude ver-lhe os olhos e nem percebi que havia uma gota de desilusão pelo que tinha lido. Nem uma lágrima mais pousaria tão rápido no papel, quanto aquela sentida, que nem parecia humana. Aproximei-me e sentei ao seu lado. Não compreendia o peso do infortúnio que parecia suportar aquela mulher, já ida nos anos. Girei o salto do sapato no ladrilho irregular e falei desprevenido.

_Não pensei que este livro traria tantas recordações, e que tristes, me parecem.

Levantou a cabeça sem jeito, mas examinou no olhar todas as intenções que tentava ocultar. A voz era sonora e forte. Os modos de quem viu neste mundo, o que não encontrava no outro.

_Pois não, meu senhor, é que tenho que ficar assim, depois de quatro séculos. Se me pedissem para amolecer, não acreditaria. Mas o que a menina ia fazer, se não se aproveitar de uma velha ama para abandoná-la mais tarde? Dizem que a primeira onda feminista começou no século IXX, mas ouso vos assegurar que Julinha foi a responsável pelo primeiro movimento feminista no mundo! E em Verona! A menina foi pioneira em transgredir as regras. Misturou o belo no feio. Nunca me ouviu e se me ouviu, fez o que queria e não o que devia. Aliás, me fez de boba.

_Entretanto, ela cresceu à tua imagem e semelhança – tirei uma caneta do bolso e um pequeno bloco. Anotei algumas coisas, enquanto falava.

_Todavia lutou pela classe dela. Caí aqui, por acaso. Talvez porque minha linguagem é normal, como a de qualquer cristão. Nada de epitalâmio – e falava torcendo a boca, afundando os sulcos e fazendo covinha no queixo – elegia, rapsódia, essas coisas de nobres. Julieta também as tinha. Eu falava de coração aberto. Por isso, estou aqui. Quem se aventuraria nos dias atuais, proferir tais versos, disparar o linguajar poético na hora do almoço, arremessando mucos sobre o bufê? Quanto mais, nessa epidemia de gripe, os vírus se acumulariam em desespero na boca prolixa dos nobres!

_ É verdade — assenti, olhando discreto a janela que se abria numa ponta de sol. Ela prosseguia, emblemática. Tinha consigo que conhecia mais do mundo do que qualquer navegante aventureiro.

_Podeis imaginar o Conde Páris, falando ao celular, usando verso alexandrino? Qual vivente ia suportar tal palavreado? Eu, ao contrário, respeitam o que digo.

_Parece que aprendeste a língua dos nobres.

_É claro, meu senhor, pois de bibliotecária à freira, e de freira à ama, passei por todas as culturas. E depois, vindo a esta nação dos trópicos, qual a língua que tem mais valor do que a dos magistrados. Longa vida às CPIs!

_Sei, sei, já me contaste isso um milhão de vezes. Mas Julieta, em sua beleza, seria uma perfeita top model, por exemplo — provoquei.

_ Creio que não, meu senhor. Veja a cena: a menina, arfante, ao lado do seu amado, mastigando monossílabos amorosos no aparelho de dentes, ah, porque neste mundo de loucos, não há quem não use celular, não aplique aparelho dentário e abuse da Internet. Estas coisas modernas!

_Seria terrível. Nada romântico — pontuei desolado. Tive a impressão que o homem de branco atravessou a sala, mas foi só impressão: estávamos sós, naquela cela fria. E ela nem percebia minhas conjecturas.

_Temos a Senhora Capuleto, mandando email para filha, em soneto Petrarca! Que desastre!

_Pensando bem, tens razão.

_Pois não tenho? Haveis de assentir que sou a pessoa indicada para adentrar nestes tempos presentes e aceitar o que se passa. Não vejo qual de meus contemporâneos teria o dom de camaleão, como eu. Bem sabeis, que posso me virar dum jeito ou do outro. Posso entender o que se passa no senado, na câmara, nos grandes duelos mundiais. Já imaginastes o quanto vi, não? Nada do que acontece hoje em dia, me impressiona.

_Disso não tenho dúvidas, mas uma coisa, não podes esconder de mim. Vi uma lágrima no teu olho. Ainda sofres pela pequena – incitei-a, maldoso.

_Naturalmente, pois eu a induzi ao encontro com o amado. Para ela, a morte significava o rompimento com maneira passiva de agir e pensar. No nosso tempo, a mulher não se dava a esses luxos! Entretanto, ela não foi companheira.

_Como assim?

_Sois bem lento, não? Já não te disse que a menina lutava pelas mulheres, para que elas tivessem o seu papel no mundo.

_Papo furado.

_Ninguém acredita. Tanto tempo passado e ninguém ainda acredita. Não é nada surpreendente aos seus conterrâneos, também não acreditaram na odisseia do trono. Há mais de 30 anos que o rei faz o que faz e somente agora é que se deram conta. Mas deixa pra lá.

_ Falas do Senado?

Escondeu um sorriso irônico e prosseguiu, na defensiva. Larguei a caneta e cruzei os braços, intrigado. Ela prosseguiu, enfática.

_Eu era uma delas, estava lá, precisava de uma companheira, alguém que lutasse pelos meus direitos também, que levantasse a bandeira das amas, das criadas, mas ela só pensou nas mulheres de sua estirpe. Uma nobre! – faz uma pausa e suspira — Afinal, até a Sra. Capuleto confirmava que sempre fui uma criada confiável, confidente e amiga. Julinha devia me agradecer, mas qual, se afastou de mim, irritada com meu zelo.

_Estás certa que foi por isso?

_Sim, para mim, ela se mostrava inteira, seus sentimentos à flor da pele, seus desejos mais íntimos. Houve um tempo em que ela seguiu outro caminho, que renegou meus conselhos. Nós éramos diferentes. Cada um que lutasse na sua própria classe.

_Mas ela tinha consciência disso?

_E eu tinha? Só muito intimamente, porém meu coração dizia o que era certo e o que era errado. Pelo menos, o que era conveniente para o momento. Ou para a situação. Ela foi boba. Por isso, não escapou do destino. Nenhum deles. Eu sim.

_Quer dizer que o que te salvou foi a língua.

_Foi o que sempre disseram. Que eu tinha língua grande. O amigo do Sr. Romeu, me chamava de alcoviteira e o Sr. Capuleto, certa vez, pôs-me a alcunha de “dona prudência”, puro escárnio. Disse-me bem assim: “guardai na boca a língua sabe-tudo. Ide ensinar vossas comadres”.

_Me refiro à maneira de falares — confirmei num meio sorriso.

_Não sei. Agora que me deleito neste livro, percebo que o bardo foi bondoso comigo. Quis me salvar, por isso, me purificou com o verso branco. Acho que o bardo me livrou dessa.

_Mas e depois?

_Depois nada. Figuração pura! Além disso, quem poderia querer prêmio maior. Alguém cujo nome quase não fora pronunciado! O Cavalheiro sabe o nome de algum lixeiro, coveiro, camareira ou coisa do gênero? Somos tão invisíveis quanto a poeira dos poderes! Ela encobre tudo e ninguém a vê!

Tentei falar alguma coisa, mas ela interrompeu, rápida: “Ama. Alguém que é só Ama pode querer alguma coisa mais da vida? Eu sou tão secundária que nem perceberam o meu desaparecimento!”

_Mas e daí? Que poderias mudar na trama?

_Na verdade, não sei o que mudaria, mas sei o que ainda posso fazer.

_Por exemplo?

_Que quereis que eu diga, num mundo no qual as pessoas continuam tão intolerantes quanto antes. Em todo o caso, em vosso país, ainda ama, não passo de ama dos livros – mais um silêncio proposital, um muxoxo e uma explicação rápida — que fazer se não apenas zelar pelos livros, já que não posso decidir seu destino? Num país em que os professores são iletrados, a bibliotecária não passa de uma ama, que serve para cuidar, guardar e empilhar no lugar certo.

_E que pretendes fazer?

_Até agora, nada. Mas como Julieta, quem sabe lutar pela classe. Fica difícil, pensar sozinha.

Pretendia pedir-lhe silêncio. Não era bom ser tão enfática na política, pois quando o fazia, o homem de branco se aproximava, e trazia consigo uma infinidade de medicamentos. Melhor não arriscar. Então, dourei a pílula: _Pelo que me consta, ela agiu intuitivamente, preocupada com o coração, apenas.

_E deu no que deu. Caso pensasse mais longe, teria frutos melhores. Mas deixemos a ovelhinha no lugar que lhe cabe. Nunca deixei de amá-la, afinal eu a criei como filha! Quanto a mim, quero mais é apreender os novos rumos.

_Achas que pode dar certo?

_Se não der, um litro de silicone em cada mama, resolve.

Fiquei quieto, me eximindo de emitir opinião. Aproximei-me e a vi no contorno da cortina. Da vidraça do postigo, observava seus olhos argutos, assinalando alguma coisa obscura na mente. De repente, voltou-se e prosseguiu, eufórica.

_Se voltar algum dia, me chamem apenas de Angélica. Depois dessa, acho que mereço, né? Se ele assim designou, que o use.

_Não temes ofendê-lo com teus resmungos?

_Se me criou com este caráter, sabe-o muito bem como aguentar-me. De todo modo, convém me manter neutra e seguir a vida.

Antecipo-me em perguntar-lhe se não considera a hipótese de voltar ao passado. Não responde. Fica pensativa, olhando o nada. Em seguida, levanta-se, larga o livro, pega o chapéu e ensaia alguns passos em direção à porta. Volta-se e pergunta: “Não achais perigoso?”

Fiquei quieto. Seria mais sensato não responder. Ela se afastou, então balbuciei baixinho: “Morrer duas vezes, é indigno. Que seja apenas um Romeu dos trópicos”. A porta se fechou e a janela foi ficando bem maior, mostrando um horizonte amplo, variado. Pela porta, espiava um baile à fantasia, uma avalanche de Marcos Polo, Napoleão Bonaparte, Cleópatra, Helena de Troia e tantos mais. Não vi nenhum brasileiro, apenas o homem de branco que pretendia acabar com a festa. Aproximou-se de minha mesa, puxou-me com cuidado a cabeça que estava enfiada no livro e olhou-me nos olhos dos quais não perceberia uma gota de desilusão do que havia lido. Acho que queria perguntar-me pela Ama. Só voltei-me quando repetiu amiúde: Romeu, Romeu...

domingo, julho 12, 2009

HIATO E PONTOS DE VISTA



Nem sempre o olhar mais profundo sobre as coisas que nos cercam é o racional e objetivo. Na maioria das vezes, é preciso ressaltar o sentimento, mesmo obtuso, mesmo dilacerado, mesmo engendrado em nuvens longínquas e escuras que toldam a alma e o pensamento, pois através destas lembranças ou idéias inusitadas, surge o verdadeiro esqueleto da realidade. Uma realidade não tão idealizada ou limpida ou verdadeira, uma realidade onde a ficção e a poesia se escondem em meandros tão obscuros que se torna difícil decifrá-la. Entretanto, para o autor é necessário se utilizar das lembranças, da infância, dos ditos populares, da imaginação para representar esta realidade e este desejo infinito do homem de ser feliz. Através dos contos e crônicas do livro Hiatos e pontos de vista" (que está na rede), procuro exercer esta faculdade da imaginação e das lembranças, tentando efetivar um olhar curioso e inquisidor, às vezes infantil, às vezes maduro, às vezes alucinado, mas sempre voltado para a condição humana. Talvez viver seja isto, vivenciar o que de bom e nefasto o homem adquire e repassa através de suas trajetórias perturbadas ou não. São contos e crônicas onde o amor e a busca da verdade prevalecem. Basta olharmos com olhos amorosos o outro ou a nós mesmos. Recordações que todos tivemos um dia. Ou vamos ter.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Uma breve descrição sobre a a minha trajetória na escrita


Sou bibliotecário especialista em Ciências e Tecnologia da Informação e também licenciado em Letras (Português-Inglês). Tenho a escrita como parte essencial de meu viver, quase como respirar. Porém, houve épocas em minha vida em fiquei envolvido com a profissão de bibliotecário na Universidade, além da vida pessoal, em família e de certa forma, priorizei estas atividades, dedicando-me muito timidamente à escrita. Nunca a abandonei de fato, mesmo porque, sempre me dediquei ao texto, embora científico, porque utilizava enquanto bibliotecário e nos cursos de especialização. Como na vida tudo tem um tempo certo de acontecer, agora estou nesta sofreguidão em escrever. Houve, sem dúvida a contribuição do advento da Internet, porque tive a oportunidade de publicar meus textos em páginas eletrônicas e obter retorno através de comentários de leitores, bem como o reconhecimento de especialistas, o que me incentivava cada vez mais. Comecei então a escrever diariamente, produzindo além de contos e crônicas, também romances. Com um deles, A barca, participei do Prêmio Sesc 2004, ficando entre os 26 finalistas no total de 305 obras apresentadas, o que me deixou muito feliz. Participei de outros concursos de contos, nos quais fui classificado várias vezes, porém através do XXIII Concurso Internacional Literário, obtive o 1º lugar nas duas crônicas que apresentei para a participação, tendo-as publicadas na Coletâneas de Conto, Poesia e Crônica, lançada pelas Edições EG da All Print Editora.
A chance do escritor iniciante e sem patrocínio, talvez não seja encontrar a editora certa, mas sim, ser encontrado por ela. Foi o que de certa forma me aconteceu, neste evento.
Na rede, publico alguns textos nos sites : www.recantodasletras.com.br, www.dominiocultural.com, www.escrita.com.br, www.tempoloxv.pro.br, no meu blog http://letras-livres.blogspot.com, além de participar de comunidades literárias no orkut.

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