Nem sei o que pensas, se no poema que teces, há alguma trama com a minha marca. Não sei. Sei que teus olhos dizem coisas que jamais falarias. Tua boca sorri, quando quer se calar e teus sentimentos se escondem, sem que se possam ocultar. Talvez, não saibas. Um amor assim puro, não faz parte das prateleiras dos grandes filmes. Jamais podem retratar o que meu coração exalta. Quisera dizer tudo que me é impedido, quando meus sentimentos quase mergulham num infinito de procuras em tua direção. Sinto a melancolia de momentos que não vivi, de expressões que não criei, de verdades que não disse. Mas está presente, quando caminho nestas folhas que ora caem, quando me afasto em direção ao mar, quando tento ouvir de soslaio, o vento que zune próximo aos ouvidos, quando a brisa se esvai e a força da natureza me impele a seguir o caminho. Quisera apenas respirar aqui, neste ar mais puro, neste espaço marítimo, mas sei que o avanço que espero, jamais será definido, que a vanguarda que procuro, jamais será alcançada. Sinto aqui, a dor da desilusão. Vejo-te ao longe, vejo-te em meus pensamentos mais sinceros e sinto que te afastas, mesmo que te aproximes, pois a barreira social é mais poderosa e impune do que os maiores sentimentos. Quisera sentir a tua mão em meu peito, concedendo-me a cura, o consolo, o conforto, o carinho que não tive, o amor que anseio. Quisera sentir o teu olhar no meu, embora tentando ser displicente, fugindo de vesgueio, procurando o nada, não importa. Estarias perto, então. Quisera ouvir tua voz e saber que os fonemas que emites contam coisas que meu coração desperta. Quisera te ouvir. E ter a impressão de que não estou tão só.
Este blog pretende expressar a literatura em suas distintas modalidades, de modo a representar a liberdade na arte de criar, aliada à criatividade muitas vezes absurda da sociedade em que vivemos. Por outro lado, pretende mostrar o cotidiano, a política, a discussão sobre cinema e filmes favoritos, bem como qualquer assunto referente à cultura.
sexta-feira, novembro 17, 2023
terça-feira, setembro 27, 2016
A fotografia da vida de Santa - CAP. 6
No quinto capítulo Santa expõe à família que teve uma visão de Nossa Senhora e decidira propor a cada um uma missão que não lhes parecia nada fácil. Cada um receberia um envelope onde haveria uma lista de medidas pessoais que deveriam tomar, para uma mudança em suas vidas. Por isso, teriam seis meses para implantarem tais medidas. Todos estavam envolvidos, os filhos Alfredo, Tavinho, Letícia, o genro Ricardo, seu marido Sandoval e também o bispo Martim, que for a convidado para a reunião. Caso neste período de tempo, ela perceber que não ocorreu mudança nenhuma, sairia da casa para sempre e viveria entre os pobres, inclusive o povo da ilha para onde a bússola apontava o seu norte.
A seguir o 6º capítulo de nosso folhetim dramático que é publicado nas terças-feiras e nos sábados.
Capítulo 6
Talvez uma vida mais simples tivesse mais sentido. Talvez apenas reconhecer-se um esposo e pai, sem se dedicar ao trabalho com tamanha energia. Sandoval mergulha numa incongruência de pensamentos e imagens que o deixam assustado. Por que depois de tanto tempo se preocupar na inabilidade em exercer os papéis familiares? Por que se deixar envolver naquele clima de insegurança no qual Santa jogara toda família?
Ela deveria estar satisfeita com a aparição da Virgem, devia aprofundar-se em orações e permanecer o maior tempo possível na igreja, pedindo pela paz e felicidade de todos.
Afinal, agora despertara para uma espiritualidade muito maior. Ao contrário, parecia disposta a criar conflitos que desuniam a família, cultivando desavenças, protagonista de uma história ridícula, assumindo-se redentora de um grupo que não significava nada para a sociedade.
E para completar, mandara Linda distribuir aqueles malditos envelopes, com mensagens individuais. Qual era o seu verdadeiro objetivo?
Sandoval afasta-se dos demais. Sente-se um execrado naquele grupo, no qual deveria ser o o baluarte, o líder ao lado da mulher que revelava ter tanto poder sobre todos. Na verdade, suas ideias e percepções nunca tiveram grande valia. Sempre o ouviram com ressalvas, sempre o deixaram em segundo plano. Tampouco, se importava com isso. Era até conveniente afastar-se sem dar conta de seus passos. O trabalho na empresa era a desculpa ideal para o seu tempo fora de casa.
Mas agora, Santa está passando dos limites. Faz uma chantagem transversal, usando a imagem da Santa para atingir seus objetivos.
Decide abrir o envelope, mas ignora a mensagem.
Depara-se de súbito, com o olhar inquisitivo da mulher e tem um certo estremecimento.
Santa parece antever alguma coisa obscura, como se o tivesse em suas mãos. Ela se aproxima, sorrateira e comenta ao seu ouvido.
— Veja como todos agitados. Ficam discutindo e nem se fixam nas mensagens.
— Você parece estar se divertindo muito, Santa.
— Você pensa assim? Eu só quero o bem da minha família – enfatiza.
— Você quer dominar a todos. Não pense que sou idiota.
— Sandoval, você está sendo injusto. Se pelo menos, tivesse aberto o seu envelope e lido a mensagem, talvez pensasse diferente.
— Nem sei se vou ler esta bobagem. Com esta história de Virgem, você está usando todo mundo. Não sei onde quer chegar.
Neste momento, Letícia os interrompe, ratificando as palavras do pai.
— Eu também não sei onde você quer chegar mamãe. Papai tem razão, você não pode dispor das nossas vidas assim.
— Isso que você está dizendo é muito bonito, Letícia, parece frase de uma peça dramática, mas eu fui bastante clara no que falei para vocês. Eu disse e repito, quero o melhor para a família, portanto, não há nada me impedirá de ir às últimas consequências. Do que você está reclamando?
— Esta história de ter filho e ser mais religiosa é ridícula. A senhora sabe que eu e o Ricardo decidimos não ter filhos. Tenho o meu cargo de promotora que preenche todo o meu tempo, não posso me dedicar a crianças – pondera, obstinada; a maçã do rosto vermelha. Santa contrapõe a filha: — Mas é um absurdo!
Neste instante, Sandoval acabava de ler a mensagem e reage, indignado, refutando a expressão da mulher.
— Absurda é esta mensagem que você deixou pra mim, Santa. Você está me ofendendo. Eu que me dediquei a esta família, que aumentei a nossa fortuna com o meu trabalho, com a minha dedicação na fábrica e você vem me dizer que devo deixar a jogatina. Quem lhe disse que jogo? Você enlouqueceu, mulher?
Santa não responde, observa o pequeno grupo ao longe, que se desfaz aos poucos. Nem percebe a presença de Alfredo, que ouvira a reclamação do pai, enquanto se aproximava do trio.
— Parece que a coisa tá preta, papai. Mamãe pegou pesado. Se ela desconfia que o senhor joga, imagina o que pensa de mim. Ela sugere que eu me case, que arranje uma mulher, pois nunca me viu com nenhuma namorada – e voltando-se para a mãe, pergunta, ansioso – o que a senhora insinuou, mamãe?
Letícia, entretanto parece estar no ápice da impaciência e destila todo o veneno na primeira oportunidade. Pergunta irônica, a Alfredo, antes que a mãe faça qualquer conjectura: —Ainda precisa confirmar, Alfredo? Mamãe apenas declarou o que nós todos pensamos.
Por favor, Letícia, não seja maldosa – pondera Santa, tentando evitar o pior.
— Eu? Maldosa? A senhora foi cruel e eu que sou má! Ela deixou bem claro que duvida de sua masculinidade, ou seja, que você é gay! Quer que eu esclareça melhor?
— Vocês estão todos loucos – reflete Alfredo, olhando para os lados, procurando um apoio.
Letícia prossegue, implacável: –— Não, Alfredo. Nós não estamos loucos. A verdade é que a mamãe está dizendo o que sempre pensou de nós, mas na sua carolice, na beatice, nunca teve coragem. Agora, aproveitou esta desculpa para dizer o que pensa.
Santa ouve a filha, angustiada. Tenta remendar a situação: — Não é nada disso. Vocês estão distorcendo as minhas palavras. Parece que ninguém entendeu nada. Vocês se desviaram do caminho certo, eu só quero ajudá-los. Custa entender isso?
— Fazendo chantagem, jogando na nossa cara que vai se desfazer da sua fortuna, da parte que lhe cabe e que é nossa também, se não fizermos o que deseja. – e voltando-se para o irmão mais jovem, indaga, sarcástica – Diga, Tavinho, você que é o queridinho da mamãe, se concorda com a proposta dela.
Tavinho se ajeita na poltrona, sem nada dizer, mas revela-se também incomodado com a mensagem que recebera. Santa então se dirige ao filho, defendendo-se.
⁃
— Não é apenas uma proposta minha. Foi uma vontade da Virgem.
⁃
— Sim, da Santa matriarca, da déspota da casa! – grita Letícia, exaltada.
⁃
— Cale a boca, Letícia. Me respeite!
Ela entretanto, prossegue no mesmo tom enfático: — E você, nos respeitou, mamãe, com esta história toda? Você pensou em nós, nos nossos direitos? Você se colocou no nosso lugar? Não, você só pensou nos seus propósitos radicais, no seu modo de ver as coisas. Mas cada um é diferente do outro, você não pode exigir que pensemos como você.
Neste momento, Tavinho parece se acordar da apatia em que se encontra, para confirmar: — E nem que tenhamos a sua fé.
— Por que diz isso, Tavinho? Você foi sempre tão dedicado, quando criança... – reflete Santa, desiludida. Ele responde, ríspido: — Mas eu não sou mais criança, mamãe. A Letícia tem razão. A senhora só pensou em si.
— Até que enfim, alguém me dá razão – assevera Letícia, sacudindo os ombros.
Ele continua no mesmo tom anterior, revelando a sua decepção.
— Eu não tenho que abandonar o meu curso, é o maior desatino que já ouvi, imagine, eu trabalhar na fábrica de papai, a senhora enlouqueceu! Eu sou um artista, mamãe, não posso enquadrar a minha criatividade naquelas paredes de escritório.
Ricardo intervém no grupo, segurando o braço de Letícia, e rogando com um olhar de falsa compreensão: — Amor, vamos embora.
⁃
— Por que você quer ir, afinal, qual foi a sua mensagem, Ricardo?
⁃
— Uma bobagem, acho que sua mãe estava brincando.
⁃
— Não, me deixe ver, Sei muito bem o quanto você é dissimulado. Me dê isto aqui!
⁃
— Por favor, Letícia, vamos embora. Não faça escândalos!
⁃
— Ah, então é isso – esbraveja, retirando do bolso da calça, o cartão com a mensagem – Você deve deixar de ser mulherengo. Seu miserável, você tem uma amante!
⁃
— Pare com a baixaria. Já lhe disse, sua mãe não está bem da cabeça, você mesma não concorda com o que ela lhe escreveu.
⁃
— No meu caso, é diferente. Ela deve saber alguma coisa sobre você. Me parece que ela tem olhos na nuca, ela sabe tudo de todo mundo! Me diga, seu patife, você tem uma amante!
⁃
— Não se subestime Letícia.
⁃
— É muito fácil, agora. Não se subestime, mas você não pensou em mim, quando … oh, meu Deus, será que tudo isso é verdade? Você sempre me enganou, agora, eu tenho certeza.
Neste momento, todos olham para o casal, como se examinassem uma cena estranha. Talvez fiquem se perguntando, o que está acontecendo naquela casa, onde todos parecem participar do jogo da verdade.
Santa e Sandoval ficam alarmados, mas prosseguem impassíveis, enquanto a discussão acelera os ânimos de Letícia e Ricardo. Tudo vem à tona, quando ele chega ao limite da raiva e põe as cartas na mesa.
⁃
— E você pensa que é fácil para mim, aguentar essa sua língua afiada, esse seu falar esganiçado o tempo todo? E depois, você se acha, mas não é tao boa de cama assim. Tenho outra mulher sim, uma mulher que não fica me azucrinando o tempo todo e me obrigando a participar desta família falida!
— Letícia atira-se contra o marido, dando-lhe diversas batidas no peito, com as duas mãos, chamando-o de miserável.
Desta vez, Sandoval intervém, segurando a filha.
— Vamos acabar com esta loucura. Letícia, não devia ter feito isso. Minha filha, não se rebaixe.
⁃
Este canalha merece muito mais! – ela grita, aos prantos.
Em seguida, Ricardo imediatamente, parece cair em si e tenta recobrar a comprrensão da mulher.
⁃
— Letícia, eu sei que estamos todos exaltados, eu não devia ter dito estas coisas para você, mas foi no calor da discussão.
⁃
— Não se atreva a falar mais comigo – responde sem olhá-lo.
⁃
Ele continua no mesmo tom persuasivo: — Mas você sabe que a amo, depois conversamos melhor em casa. Vamos embora, vamos acabar com isso.
Letícia, ao contrário, pretende desafiar a todos, como se pretendesse jogá-los na mesma ruína.
Não, agora quero ir até o fim. Quero que todos coloquem na mesa as mensagens que receberam. Não é isso que mamãe quer? Pois vamos fazer a sua vontade.
terça-feira, fevereiro 23, 2016
PÁSSARO INCAUTO NA JANELA - CAPÍTULO XIV
HOJE, TERÇA-FEIRA 22/02/2016, SEGUE O NOSSO FOLHETIM RASGADO "PÁSSARO INCAUTO NA JANELA" COM O 14º CAPÍTULO. NOVAS REVELAÇÕES!
Capítulo 14
Tenho vontade de dizer para o velho que não estou sozinha, tal como ele, que desapareceu há dias de sua janela, do seu quarto. Será que morreu? Espero que não. É mais um pra minha coleção. Cada dia, um se vai. Quando será a minha vez? Espero que demore bastante, sinto que ainda posso fazer alguma coisa, sinto que posso ajudar Susana. Essa expectativa me dá uma euforia, uma vontade de realizar coisas, um bafejo de vida. Tenho até desejo de tocar piano, como antigamente. Mas já faz tanto tempo, que nem sei se não desaprendi.
_Que terá acontecido com Susana? Por que me chamou daquela maneira? Parecia tão desorientada, a coitadinha.
_De quem tá falando, vovó?
_Ah, não importa. Estou falando sozinha. Que mania vocês tem de chamar de vovó. Eu tenho nome.
_Desculpe, não quis ofender. É que conheço a senhora há tanto tempo, quero dizer, só de pegar os seus remédios na farmácia: é remédio pra pressão, pro colesterol, pro glúten, pra diabete.
_Precisa enumerar todos? E cuida o trânsito, ta uma loucura, não ta vendo?
_Só quis lhe dizer que lhe conheço dessas coisas que faço pra senhora, por isso a chamo assim.
_Por isso mesmo, por me conhecer é que devia me chamar pelo nome. Todo mundo sabe que sou Úrsula. Primeiramente, vocês chamam de tia, tia pra cá, tia pra lá. No meu tempo, as tias eram as putas da esquina, sabia? – o motorista ri, satisfeito. Olha de soslaio para Úrsula e volta a fixar a rua. Ela continua no protesto.
Quando a gente fica mais velha, é vovó. Ora, vá pro diabo com estas manias!
_A senhora ta amarga, hoje, hem? Só porque lhe falei dos remédios.
_E você gosta que eu fale que toma Viagra?
_Quem lhe disse isso? A senhora pirou? – freia o carro, destemperado. Os bigodes muito pretos, as entradas separando fiapos de cabelos, suando. Os olhos arregalados.
Ela sorri, vingada. Continua, irônica.
_Eu não pirei. Quem pirou foi o... o vizinho, ai.
_A senhora é muito abusada. Eu não preciso destas coisas – responde, retomando o caminho.
_É mesmo? Não é o que minha fonte me falou.
_E quem lhe falou?
_Nem sob tortura lhe digo – ainda esboça um sorriso sorrateiro. Ele exclama, irritado.
_Diabos, essa gente não tem o que fazer, se não ficar fuxicando a vida dos outros.
Úrsula volta-se para a vidraça do carro, examinando as pessoas na calçada que agora lhe parecem tão parecidas com ela, ocupadas com sua própria vida. Faz-se silêncio. Ela é a primeira a falar – toca o carro, rapaz. Deixa de bobagem.
Após descer do veículo, Úrsula olha em direção à janela do apartamento de Susana. Está entreaberta, as cortinas produzindo movimento. Esquiva-se do frio, aproximando-se rapidamente do prédio, até atingir o elevador. Ajeita-se olhando-se no espelho. Puxa a gola do casaco, arruma os cabelos e examina-se por um segundo, observando os olhos que lhe parecem um tanto fechados. Deve ser inchaço, em virtude do pouco tempo que consegue dormir. Ao abrir-se a porta, Susana está a sua espera. Evitou parecer aflita, maquiada para não demonstrar nenhum sofrimento, pelo menos perceptível à primeira vista. Aproxima-se e a abraça, com carinho. Úrsula se emociona.
_O que foi minha filha? O que aconteceu com você?
Susana pede que entre. Reconhece de imediato que não deveria tê-la pressionado a vir até lá. Não foi uma boa estratégia, afinal, não tem o direito de envolvê-la em seus problemas. Por fim, afirma que os acontecimentos não tinham esta importância que ela tinha atribuído. Havia sido um desabafo.
Úrsula entra, quieta. Observa os móveis, a estante de livros, as poltronas confortáveis. Percebe a sala despojada, sem uma decoração suntuosa, embora lhe desperte a atenção a presença de alguns moveis antigos e tapetes bem alinhados. Senta-se e a observa, vendo-a caminhar de um lado para o outro. Seus olhos a acompanham intrigada.
_O que foi, dona Úrsula?
_Eu é que pergunto. Você não me fez vir aqui para nada. Diga-me o que aconteceu.
Susana desconversa: – gostaria que conhecesse meu escritório. Lembra quando fui na sua casa, pela primeira vez? Mostrou-me o apartamento, o seu piano, falou de várias coisas e não foi direto ao assunto.
_Porque não confiava em você.
_E agora, confia em mim?
_Confio. Por isso estou aqui, para ajudá-la.
Susana fecha a janela que dá para a rua, deixando apenas a vidraça misturando os vários tons de luzes, que circundam as redondezas. Quando resolve sentar-se em frente à Úrsula, não consegue esquecer a atitude de Roberta Célia, na posição em que estava, enfrentando-a com arrogância, em tom de ameaça. Ela, por sua vez, está na mesma atitude defensiva em que se encontrava naquele momento.
_Gostaria de fazer um chá para nós.
_Nada disso. Você quer desvirtuar o assunto. Olhe, Susana, se não confia em mim, seja sincera. Daí, eu vou embora.
_Não diga isso, Dona Úrsula. Eu confio na senhora. A senhora pra mim, é uma parente muito próxima, que não tenho.
_Você não tem nenhum parente aqui?
_Minha mãe morreu muito cedo, pouco me recordo dela.
_É verdade, se não me engano você me disse isso alguma vez. Não estou bem lembrada. Mas então? É sobre seu pai?
Susana abaixa a cabeça, as mãos trêmulas, pousadas nos joelhos, como se quisesse ampará-los ou segurar-se a si própria num apoio imaginário. A voz soa irregular, mal articulada.
–Dona Úrsula, é uma história muito longa, cheia de meandros, que fazem da minha vida uma angústia constante. Quase uma rotina. Sou uma mulher com muitos erros. Aliás, tenho um crime inconfessável nas costas.
–Por favor, Susana, não me assuste.
–Não, não, é a última coisa que desejo que aconteça. Não sou uma assassina, uma mulher que cometeria um crime por algum motivo vil. Mas eu cometi um crime e o pior de tudo, uma pessoa está me ameaçando, fazendo chantagem.
–Então me conte isso do início.
Postagem em destaque
A boca vermelha, cabelos loiros, olhar perdido. Nem sabe se fazia pose, encenava ou apenas acessório do cenário. Assim os observava de re...

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