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quinta-feira, agosto 04, 2022

A fronteira dos pensamentos

O que me pedes do alto de teus argumentos? O que exiges da fronteira de teus pensamentos dispersos e esparsos? O que defendes de um sistema de morte, de guerra, de armas e dor? O que permites em tuas condescendências mais simples? A quem desejas a vida e a paz? Quem merece teu brilho, tua alegria e tua contemplação? Por certo, os de tua classe, os que pensam como tu, os que zelam por teu pensamento único de família, propriedade e este deus ao qual veneras, quando vela apenas por teu grupo. Sei que há muito, excluíste os que pensam de modo diverso, sei que defendes a estranheza para amalgamar a homogeneidade de tuas ideias. Sei que o mundo pra ti é de uma cor apenas, um fastio de diversidade, de alegria e poder, que me dá preguiça.

Sei que enxergas os demais de acordo com a tua ótica semelhante, na qual apenas os que estão na tua bolha são os eleitos. Parece que teu deus os acomoda assim e os aparta dos maus. A bondade que revelas é útil apenas para locupletar os teus desejos de poder, de tradição e conservadorismo. Talvez, a evolução do mundo e das ideias não te interessa, porque temes balançar essa planície que está tão bem cimentada em tua perspectiva. E os demais, que fiquem se contorcendo nas escarpas dos precipícios, segurando-se para não se depararem com o fim, encontrando caminhos, refúgios que não permitam o acesso. E o ideal, que se destruam e desapareçam para sempre.

Mas o mundo não é assim. A natureza comporta as evoluções e o homem faz parte deste liame progressista que une anseios de vanguarda aos desafios da existência.

Torço que mudes, um dia, que não destruas o poder da natureza, que despertes para a vida mais ampla, mais plena e com mais diversidade. Torço que a ótica com que julgas, sirva para observares o outro lado da lente e assim, te vejas, tão diferente e estranho, quanto os demais. Quem sabe, quebres o paradigma e encontres o verdadeiro sentido universal, que pensas pregar.


Ilustração do texto: https://pixabay.com/pt/illustrations/pessoas-smilies-emoticons-máscaras-1602493/Café

sexta-feira, fevereiro 08, 2019

A chegada ou a partida?


Todos queriam saber o que tinha acontecido com Norton. Nem ele sabia, mas tinha consigo que devia fazer alguma coisa a respeito. Seu corpo estava trêmulo e pela primeira vez em sua vida, sentiu medo de morrer. Era como se uma espécie de pânico investisse contra o bom senso e temesse um descontrole que impactava os seus pensamentos. Por um momento, imaginou que a balsa afundaria e o céu agora completamente encoberto, desandasse sobre aquela centena de carros que, através dela, atravessavam o canal. Uma nuvem espessa toldava ainda mais sobre sua cabeça.

As pessoas saíam dos veículos para apreciarem o vendaval que se aproximava. Pensou que estavam enlouquecendo. Não era hora de passearem pela balsa, ao contrário, deviam se resguardarem dos raios.

Pingos grossos começavam a cair e seu coração bateu mais forte. Se aquela maldita balsa ficasse à deriva, com aquela centena de carros e caminhões, perdidos em pleno oceano. Se afundassem, ele subiria no caminhão mais alto e esperaria o socorro, caso viesse. Também duvidava de algum salvamento.

Tudo era possível na tortuosidade de seus pensamentos. Tudo era viável e imediatamente aceito pelo seu egocentrismo.

Norton tinha dessas coisas: pensar muito em si. Mas agora, sentia de algum modo uma mudança radical no Universo. Alguns pais correram para os carros quando um raio riscou o céu e parecia clarear tudo por ali. Crianças junto, mas logo em seguida, estas também se afastavam dos automóveis e brincavam com os pingos d`água cada vez mais intensos. Algumas mães se solidarizavam com os filhos e aproveitavam a chuva que desandava. Algumas até faziam selfies.

Os homens se antenavam com a ocorrência e se resguardavam encostados nos caminhões de containers. Pareciam calmos.

Mas para Norton, tudo estava errado. Era como se a terra, de repente, fosse plana e este geocentrismo de Ptolomeu se tornasse uma atualidade indiscutível. Também como se a milícia fosse um bem para a comunidade, bem alicerçada nas lideranças e que devesse fazer parte do governo.

Era como se o tacanho, o tosco e estúpido tomasse a vanguarda das ideias e ações. Como se o País estivesse pronto para invadir fronteiras e destruir nações, seguindo a cartilha imperialista.

Como se o retrocesso e a ignorância fossem pontos de partida para uma mudança de conceito e de experiência nacional.

Como se uma nova ordem cósmica estabelecesse o criacionismo como verdade inflexível e os homens de bem fossem aqueles que se preparassem para destruir os diferentes. Como se a diversidade fosse doença.

Como se o fascismo imperasse e mostrasse a cara sinistra sob o jugo da desigualdade e intolerância.

Como se o mundo desandasse como esta chuva que invade a balsa. Norton quer chegar em terra firme, logo, mas não será pior a chegada do que a partida? Quem sabe, partir é mais seguro.

quinta-feira, agosto 25, 2016

As diferenças e os preconceitos

Outro dia escrevi em meu blog sobre alteridade, que trata da condição do outro, as suas diferenças em relação as minhas e como as enxergo ou me vejo a apartir dos olhos alheios. Isto significa que há diferenças e que devemos respeitá-las em nossa convivência diária.

Pensando nisso, me veio à mente percepções de pessoas que julgava diferentes e por serem assim, não as compreendia e nem as aceitava e se o fizesse, apenas as tratava com educação formal. Agora, entendo o quanto isso era preconceituoso e prejudicial para a convivência e o quanto eu era vulnerável em meus sentimentos.

Isso acontece com a maioria das pessoas e nem percebem, como eu que seguia o senso comum. Por exemplo, quando lidava com uma pessoa que em suas atividades, necessitava de um tempo específico maior, mais programático, mais dogmático, diferente do meu; eu na minha ansiedade, já me afastava. Era mais agradável compartilhar as experiências com quem fosse parecido, embora, sabemos que jamais alguém é igual ao outro.

Imagina, no que se refere a preconceitos mais radicais, como o étnico, de orientação sexual, político e ideológico, xenofóbico, religioso ou mesmo ateu. Felizmente, não passei por estes processos mais conservadores, embora no que concerne à política, muitas vezes pus em julgamento toda uma conduta em função do pensar distinto.

Hoje em dia, vemos o quanto estes sentimentos influem nos relacionamentos e o quanto as pessoas desejam que todos partilhem os mesmos caminhos, de preferência, os que escolheu para a sua trajetória.

Mais aberto para a vida, hoje enfrento sem dificuldade as diferenças, pois elas não me causam mal, ao contrário, me enriquecem. Pena que o mundo parece andar em círculos e o que pensávamos como vanguarda no passado, está sendo ultrapassado por um conservadorismo constrangedor. Parece que a humanidade regride e a alteridade é rejeitada no âmago das condutas individuais.

segunda-feira, julho 18, 2016

A identidade subjetiva, a alteridade e as diferenças

Na obra “A escada dos fundos da filosofia", do filósofo Wilhelm Weischedel, observa-se que o autor apresenta a ideia do outro como fundamental para se chegar a uma concepção dos direitos humanos. Ao pousar o olhar no tu, no outro, o homem incorpora o pensamento de que precisa do outro para sobreviver como ser humano, adquirindo assim um contexto de pluralismo das identidades. A isso chama-se alteridade, afastar-se do pensamento antigo da subjetividade, do eu, e amparar-se à ação pessoal no outro.

A concepção da filosofia ocidental sobre a identidade, a expressão subjetiva do eu, descuidado-se da importância do outro, revela uma falta de sentido, à proporção de que homem em grande parte de sua vida, depende do outro para sobreviver. Freud reiterava este desamparo radical que ocorre desde que o homem nasce, cuja sobrevida depende deste reconhecimento no outro e pelo outro. Tanto Freud, como Heidegger e outros tantos filósofos ratificam este conceito.

Pela definição de alteridade, derivada do latim, conclui-se que é o esforço de se colocar no lugar do outro (alter= outro), ou seja ter consciência da existência da outra pessoa e respeitá-la como é, e não de acordo com o que refletimos a partir de nossa vaidade, quando a julgamos apenas conforme a nossa compreensão do mundo.

Na maioria das vezes, construímos uma relação de identidade comum, o que nos torna semelhantes, de forma que que ouvimos o outro em todas as linguagens ou nos calamos, ratificando o que para nós individualmente é a verdade.

Alteridade é uma destas ideias que desafia o espírito humano em todas as áreas do conhecimento e da história, nas artes, na filosofia, na ciência e nas religiões. Isso ocorre à medida que o homem tem dificuldade em lidar com as diferenças, porque na verdade todos os seres humanos são diferentes em sua essência formadora. Entretanto, a humanidade desenvolveu a ideia de que todos devem ser iguais, com entendimentos únicos.

No entanto, é necessário distinguirmos o conceito de igualdade como a igualdade num espaço, ou seja na esfera pública, que segundo Jürgen Habermas, é apreciada como um valor, que define a nossa convivência com os demais.

Por outro lado, há outro conceito de igualdade, diversa deste primeiro, que remete à cultura da dificuldade de lidar com as diferenças, como por exemplo, no evento da Segunda Guerra Mundial, que produziu a morte de mais de 50 milhoes de pessoas, sendo cerca de 6 milhões de judeus e a estimativa de cerca de 10 milhões de ciganos, que foram exterminados nos campos de concentração.

Até hoje, a humanidade se pergunta como explicar esta cultura que pretendia ser um padrão para o mundo civilizado, cujos ideais da Revolução Francesa não impediram a geração do nazismo. Provavelmente, essa dificuldade em entender as diferenças seja consequência de que, em algum momento da nossa história, confundimos a igualdade segundo os dois conceitos distintos citados acima, ou seja, a igualdade como um espaço de convívio com as nossas diferenças confundida com a igualdade de reduzirmos o outro aquilo gostaríamos que ele fosse.

Conviver exige a visão de que cada um apresenta um pontencial para fazer coisas extraordinárias ou não, mas que são desconhecidas por nós. Do mesmo modo, é preciso compreender que a outra pessoa não se trata de um semelhante, ao ponto de construirmos a ideia de igualdade que tenta formatar o outro como desejaríamos. Na verdade, devemos entender que o outro é o próximo, não um igual no sentido do entendimento do mundo e das coisas, porque jamais podemos transformar as pessoas em espelhos que reflitam o que pensamos, segundo as nossas expectativas.

Infelizmente, conclui-se que nos dias atuais, o homem engendra verdadeiros monólogos, propondo ideias sem ouvir as do outro, porque acaba apenas olhando a si próprio. Ele acha que constrói a igualdade, mas na verdade, somos diferentes.

Bibliografia.

Weischedel, Wilhelm. A escada dos fundos da filosofia: a vida cotidiana do pensamento de 34 grandes filósofos. São Paulo: Raimundo Lulio, 2006.

Barros, A. P. A importância do conceito de esfera pública de Habermas para a análise da imprensa- uma revisão do tema. Universitas: Arquit. e Comun. Social, Brasília, v. 5n. 1/2, p. 23-34, jan./dez. 2008

Silva, Sérgio Luiz Pereira da. Sociedade da diferença: formac’ões identitárias, esfera pública e democracia na sociedade global. Online: http://www.academia.edu/3829490.

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