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Mostrando postagens com o rótulo tortura

UM GOLPE NO OUVIDO

Juntou as chapinhas de bebida e sentou-se à sombra, olhando para o nada, mas com a certeza de que aquela árvore o acolheria para sempre. Puxou um real do bolso e pensou no que poderia fazer dali em diante. Quem sabe, voltar à oficina, juntar os seus pertences, pegar a mochila farrapada e tomar um rumo na vida. Entretanto, sentia-se impotente, até assustado com a situação. Voltar a juntar latas de alumínio, chapinhas de refrigerante, limpar as lixeiras e esconder-se embaixo de qualquer marquise era uma onda que não queria reviver. Lembrou-se do Guto, com aqueles olhos esbugalhados e a boca aberta, o sangue escorrendo pelo chão visguento de diesel. Sentiu um arrepio. Tinha mesmo que dar o fora, antes que alguém chegasse e o acusasse de ter matado o negrão. Por que ele tinha voltado àquele lugar? Tinha passado tanto tempo e tudo ficava na mesma. A mesma galera, as bebidas de sempre, a maconha, a farra, mas nada tão pesado e difícil. Havia um líder e não era ele. Ele era um pobre coit

A barca e a biblioteca: um romance como livros foram sitiados também em tempos de recessão

É a trajetória de um homem que aos poucos vai se inteirando da verdadeira história de seu pai e o quanto ela ainda o influencia nos dias atuais, forçado a recorrer ao passado e reconhecer nele um caminho novo, de liberdade e orgulho, que não identificava anteriormente. Uma história que vai modificar e completar a sua. Com o conhecimento destas vivências, cresce como ser humano. Tudo começa nos anos sessenta, cuja curiosidade infantil o impulsiona a conhecer determinados documentos que parecem comprometer o pai, e que tanto o angustiavam pelo forte conteúdo político que continham. Ao mesmo tempo, levava a vida de menino, confrontando a fantasia de aventurar-se na barca à beira do cais, sempre impedido pela mão forte do pai, enquanto, que através de outros caminhos, imergia no mundo sagrado da biblioteca, batizado que fôra nas letras, podendo singrar os mares tal como os navegadores antigos, sem que houvesse qualquer intervenção. Aqui ocorre a metáfora da barca que não ousara entra

PÁSSARO INCAUTO NA JANELA - CAPÍTULO XXI - PENÚLTIMO

A SEGUIR (17/03/2016) O 21º CAPÍTULO DO NOSSO FOLHETIM RASGADO "PÁSSARO INCAUTO NA JANELA". ESTE É O PENÚLTIMO CAPÍTULO. NA PRÓXIMA TERÇA-FEIRA, DIA 22/03/2016, APRESENTAREMOS O ÚLTIMO CAPÍTULO DE NOSSA HISTÓRIA. Capítulo 21 Fonte da ilustração: Blog "Vientos del Brasil"http://blogs.elpais.com/vientos-de-brasil/2013/10/ de Juan Arias Não se pode afirmar que tudo transcorre na rotina, que um dia sobrepõe ao outro naturalmente, sem que nada de novo aconteça. Sempre que olho na janela, ainda vejo resquícios do dia anterior, ou das noites que passaram insólitas sem me trazer nada de bom, as não ser as dores habituais nas costas, na alma, no coração. Talvez Susana seja condenada, não por ter realizado a eutanásia, mas por homicídio, tudo porque uma testemunha a viu abreviar a vida do pai. Estes casos não chegam à justiça, porque o médico age a pedido do doente ou dos seus parentes, se incapacitado para tomar alguma decisão sobre a sua vida. Talvez este se

EU E A POLÍTICA

Tenho observado através de conversas com amigos e por comentários das redes sociais, que algumas pessoas que não são engajadas politicamente ( condição a qual não são obrigadas a sê-lo), possuem restrições e até, salvo engano, me parecem temerosas com os que professam o regime de esquerda. Eu, na verdade, sou praticamente leigo na seara da política, e tudo o que sei faz parte de minha experiência, enquanto cidadão, com os diversos governos que ocuparam o maior cargo da nação, entre vários partidos políticos, entremeado por uma ditadura feroz de direita. Entretanto, atenuando esta minha ignorância, debrucei-me em diversas leituras, com autores reconhecidos e acho que adquiri, senão uma expertise na ciência política, pelo menos um conhecimento razoável de nossa história e nossas maneiras de conceber a cidadania de um país. Não sou político no sentido estrito da palavra, nem filiado a nenhum partido, mas tenho minhas percepções do que considero certo ou errado, adequado ou incorreto n

O DOCE BORDADO AZUL - 14 º CAPÍTULO

Todas as terças-feiras e quintas publicarei capítulos em sequência do romance "O doce bordado azul". A seguir o 14º capítulo. Capítulo XIV As alucinações de Laura Abrir os olhos devagar, sentir o corpo debilitado, como se não pudesse levantar-se, sem ânimo para nada, a não ser ficar quieta, em posição fetal. Mas aquela luz que insistia entre as frestas das cortinas não a deixavam esquecer-se do início do dia, ou do fim, não sabia bem distinguir. Quando viu a figura da mãe, à porta do quarto, fechou deliberadamente os olhos. Artifício providencial, imediatamente percebido. Laura perguntou se não se levantaria, as horas passavam, a tarde chegaria logo. Não poderia dormir o dia todo. Lúcia, como uma adolescente em dia de prova, encobriu a cabeça com o lençol, resmungando, exigindo que se afastasse dali, que a deixasse morrer. Mas não era possível, embora Laura saísse do quarto, sem antes informar que logo, logo teriam visitas. Que ameaça terrível significava aquela in