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sábado, fevereiro 04, 2017

Um menino que voa alto

Começou devagarinho a chamar-me a atenção. A princípio, uma ideia aqui, outra acolá. Noutros momentos, um pequeno rabisco, como quem recém está se desenvolvendo e quer o peito, faminto.

Aos poucos, se observa que o bebê está crescendo e começa a pedir-nos coisas. Exige cada vez mais cuidados, como se estivesse prestes a cair em ciladas.

Então o analisamos com cautela, aceitamos seus pedidos, aumentamos os recursos.

Começa a ficar bonito, rechonchudo, umas bochechas vermelhas de bebê de rótulo de leite.

Ele cresce mais e já é um adolescente. Aí que o conflito aumenta, nem tudo está adequado aos seus desejos. Quer mais, precisa tornar-se mais forte e resistente, para que todos o vejam com vigor e sabedoria. Mas sabedoria só não basta. É preciso zelo, coerência, beleza, músculos fortes e tórax robusto.

Está quase no ponto de se mostrar à audiência. Precisa então de um clímax e por isso nos enlouquece a ponto de acreditarmos que não chegaremos ao final.

O que busca ele?

O que quer a plateia?

O que quero eu?

Um final deslumbrante, que resista ao senso comum, que permita reflexões, que se mostre inteligente, que busque a elite intelectual, mas que se espalhe no povo.

Aqui está ele, enfim, pronto.

Mas estará no ponto?

E ao alcancançar as ruas, dá-nos uma certa angústia em vê-lo fora do berço familiar, atingindo outros mundos, outras formas de lidar com a verdade e a vida, obtendo outras leituras.

Então, além da angústia, temos também ciúme. Nosso menino já não será mais nosso e cada um o verá de uma maneira.

Será que o entenderão? Será que pensarão como o pai? Será que o aceitarão?

Mas este menino precisa correr o mundo.

Precisa voar alto, longe de nossos braços e mais perto da imaginação alheia.

Este menino é o livro que ao ser publicado, não pertence mais ao autor, mas ao leitor, porque dele fará a sua leitura.

Então vá, menino, corra mundo e se transforme na alma de quem o decifra.

segunda-feira, maio 04, 2009

OS PÓS-MODERNOS E EU

Sempre ouvindo o que tem a me dizer, a esclarecer sem que eu peça. Às vezes, sinto o ímpeto indefinível e prático de dizer o que penso. Está aqui, na ponta da língua. Mas não o faço. Como faz toda a gente. Como dizem os que se julgam de auto-estima prolongada. Existe esta expressão? Não sei, mas são os fortes, os que não levam desaforo pra casa, os que cortam o trânsito, arriscam suas vidas e a dos outros, os que imergem em soluções mágicas para sobreviver ou que se interpolam entre os que usam a inteligência e a moral, os políticos, os emergentes, os de pouca índole, os que se “acham”, como se diz na gíria popular. Não consigo ser assim, sou velho, desgastado, educado demais para os padrões pós-modernos. Mas que dizer dos que não tem padrão? Ou não seguem nenhum? Melhor não definir nada, não identificar os projetos e planos que assolam as mentes conturbadas, iludidas e manipuladas pela mídia, pelo outro que já foi manipulado e não sabe, e ainda se julga eficiente e moderno, uma modernidade de superfície, estática e de fachada. Estes são os fortes, valentes, que sobem nas calçadas em seus carros avantajados, que buzinam na frente de hospitais, que trovejam seus sons de funck ou coisa parecida, que olham e não vêem, que cheiram aromas desconhecidos porque desconhecem o perfume mais tenro de flores que não se criaram. São eles, sem duvida, os que estão aqui e ali, as falsas celebridades, os falsos profissionais, os falsos cidadãos. Cidadãos? Nem se situam nestas categorias. Quem sabe, no máximo, imitam o papel das novelas, aquele esperto e audacioso, que ganha a mocinha, não tão mocinha atualmente e vence todas as batalhas para erguer o pulso vitorioso, ganhando e enganando, cultuando o corpo e ocultando a alma. Este é o padrão, o mais utilizado, o que enche de silicone tórax flácidos ou bundas omissas. Esses são os verdadeiros líderes que invadem o país, que assolam a humanidade, que ressurgem dos arremedos infames de gente subordinada, subalterna à mensagem única, padronizada, grotesca, que molha a boca de pequenas gotas, mas não engole o orvalho, não espia a lua, não expia a alma.
Não, não quero ser destes fortes e valentes Stalones ou outros mais recentes. Não, não quero pertencer a esta raça de clones fatigados de energéticos, entediados de viagra, de bebida e drogas. Não, não quero buscar esta coisa igual que consome e se alastra, entre bordoadas e facetas nazistas.
Não, quero viver. E para isso, aspirar o perfume da flor tenra de minha janela, uma janela única que dá pro céu e aquece
a alma. A alma? Pra quem tem.

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