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sexta-feira, fevereiro 08, 2019

A chegada ou a partida?


Todos queriam saber o que tinha acontecido com Norton. Nem ele sabia, mas tinha consigo que devia fazer alguma coisa a respeito. Seu corpo estava trêmulo e pela primeira vez em sua vida, sentiu medo de morrer. Era como se uma espécie de pânico investisse contra o bom senso e temesse um descontrole que impactava os seus pensamentos. Por um momento, imaginou que a balsa afundaria e o céu agora completamente encoberto, desandasse sobre aquela centena de carros que, através dela, atravessavam o canal. Uma nuvem espessa toldava ainda mais sobre sua cabeça.

As pessoas saíam dos veículos para apreciarem o vendaval que se aproximava. Pensou que estavam enlouquecendo. Não era hora de passearem pela balsa, ao contrário, deviam se resguardarem dos raios.

Pingos grossos começavam a cair e seu coração bateu mais forte. Se aquela maldita balsa ficasse à deriva, com aquela centena de carros e caminhões, perdidos em pleno oceano. Se afundassem, ele subiria no caminhão mais alto e esperaria o socorro, caso viesse. Também duvidava de algum salvamento.

Tudo era possível na tortuosidade de seus pensamentos. Tudo era viável e imediatamente aceito pelo seu egocentrismo.

Norton tinha dessas coisas: pensar muito em si. Mas agora, sentia de algum modo uma mudança radical no Universo. Alguns pais correram para os carros quando um raio riscou o céu e parecia clarear tudo por ali. Crianças junto, mas logo em seguida, estas também se afastavam dos automóveis e brincavam com os pingos d`água cada vez mais intensos. Algumas mães se solidarizavam com os filhos e aproveitavam a chuva que desandava. Algumas até faziam selfies.

Os homens se antenavam com a ocorrência e se resguardavam encostados nos caminhões de containers. Pareciam calmos.

Mas para Norton, tudo estava errado. Era como se a terra, de repente, fosse plana e este geocentrismo de Ptolomeu se tornasse uma atualidade indiscutível. Também como se a milícia fosse um bem para a comunidade, bem alicerçada nas lideranças e que devesse fazer parte do governo.

Era como se o tacanho, o tosco e estúpido tomasse a vanguarda das ideias e ações. Como se o País estivesse pronto para invadir fronteiras e destruir nações, seguindo a cartilha imperialista.

Como se o retrocesso e a ignorância fossem pontos de partida para uma mudança de conceito e de experiência nacional.

Como se uma nova ordem cósmica estabelecesse o criacionismo como verdade inflexível e os homens de bem fossem aqueles que se preparassem para destruir os diferentes. Como se a diversidade fosse doença.

Como se o fascismo imperasse e mostrasse a cara sinistra sob o jugo da desigualdade e intolerância.

Como se o mundo desandasse como esta chuva que invade a balsa. Norton quer chegar em terra firme, logo, mas não será pior a chegada do que a partida? Quem sabe, partir é mais seguro.

terça-feira, setembro 20, 2016

A fotografia da vida de Santa - CAP. 4

No terceiro capítulo Santa estava decidida a ajudar o povo da Ilha Libertária, um povo para o qual não há regras, nem governos. É pelo menos o que a cidade comenta. Segundo Santa, a aparição da Virgem, indicando-lhe a bússola para aquela região significa que a sua missão consiste em se alinhar com aquela gente. A seguir o quarto capítulo de nosso folhetim dramático, porque hoje é terça-feira e este é um dos dias de publicação. Espero que curtam mais este capítulo de nossa história.

CAPÍTULO 4

Os carros se alinhavam no jardim.

A promotora desceu, arfante. Olhava em torno, mexia no relógio de pulso, como se quisesse certificar-se da hora. Não queria não, era só nervosismo. O marido a acompanhava, solícito. Seria mais uma daquelas reuniões chatas de família e ele mais uma vez ouviria as baboseiras que se enfileiravam. Não suportava o cunhado metido a artista. Artista mediático, que absurdo. Afinal, o que seria isto? Pediu que a mulher esperasse um momento e voltou ao carro, buscando uma pequena maleta.

Ela perguntou, intrigada: – O que você quer com o netbook, aqui? Por acaso vai jogar paciência, na frente de minha mãe?

— Calma, Letícia, eu só o trouxe, porque posso precisar. Nunca se sabe, quando se precisa conectar ao mundo.

— Você vive no mundo da lua, não sei por que precisa estar conectado.

— Não jogue a sua ansiedade em cima de mim. Afinal, por que a sua mãe marcou esta reunião? Vai ler o testamento?

— Não seja ridículo. Minha mãe anda muito estranha, não sei o que está acontecendo com ela.

— Como sabe? Ela me parecia bem.

Falei com papai. Ele também não sabe o que houve. Ela anda aérea, absorta. – avista o irmão mais novo que se aproxima com uma mochila nas costas – Espere, o Tavinho está chegando. Vamos falar com ele. – e antes que o marido responda, ela corre ao encontro do irmão.

— Parece que todo mundo obedece a velha, não é mesmo? – pergunta ansiosa. Ele sorri, tranquilo.

— Vai ver ela tá precisando da família.

Letícia não disfarça a irritação. – O que mamãe pode querer mais? Há uma semana teve uma festa de aniversário maravilhosa. Vive cercada de empregados. Acho que não precisa de nós.

— Então, por que você veio?

— Por causa de papai. Ele me parecia preocupado.

O marido se aproxima pouco à vontade. Cumprimenta o cunhado e pega o braço de Letícia, conduzindo-a com pressa.

Entram no casarão e são imediatamente recebidos por Linda.

Antes que Linda chame a patroa, Letícia interpela o pai, que desce a escadaria, intrigado.

— Papai, que está acontecendo? Por que esta reunião inesperada?

— Mamãe vai nos fazer uma proposta? – pergunta Tavinho, enquanto se afasta até uma poltrona, soltando a mochila.

— Como assim, proposta? Você sabe de alguma coisa – pergunta a irmã, fortemente interessada.

— Ele está blefando, diz qualquer coisa para ver a nossa cara. É sempre assim, não sogro? – aproveita para alfinetar o cunhado.

Sandoval responde com um ar de preocupação: — Não sei Ricardo. Na verdade, Santa anda estranha, parece esconder alguma coisa muito grave. Não diz nada, não elucida nada. Fala por monossílabos, como se esperasse a hora certa para a revelação.

Letícia antecipa-se, inquieta: – E por que este mistério todo?

— Ah, se eu soubesse lhes diria. Sua mãe ultimamente mudou até o comportamento. Parece sempre introspectiva.

— Como assim?

— Sei lá. Não parece a mesma Santa que conheço há tantos anos. Até com os criados age de modo diferente. Está mais tranquila, mais complacente. Antes não admitia falhas , hoje tolera tudo. E quanto à Linda, está cada dia mais apegada.

Tavinho os interrompe perguntando porque o irmão não veio. Por acaso não foi convidado?

— Não é nada disso, Tavinho. Todos receberam o mesmo convite, quase intimação. Seu irmão tinha um compromisso na empresa, uma reunião com acionistas, se não me engano. É provável que venha mais tarde.

Ricardo serve-se de uma bebida, enquanto Tavinho se espalha na poltrona. Letícia, ao contrário mostra-se mais agitada com a descrição do pai. Afastam-se um pouco dos dois e ela aproveita para inquirir mais sobre a mãe.

— Escute, papai, o senhor tem certeza de que Linda não deixou escapar nada? Se ela sabe do que está acontecendo... O senhor não a interpelou?

Sandoval fala em tom quase confessional, próximo ao ouvido da filha. Talvez se sinta um idiota com o que pretende dizer, mas precisa desabafar.

—Linda fez uma pequena indiscrição. – respirou fundo, taciturno.

—Como assim? O que foi que ela disse?

Ele volta-se para os dois que continuam absortos em suas tarefas. O genro abre o netbook sobre o móvel, onde serviu-se de bebida. Tavinho ouve qualquer coisa nos fones de ouvido.

— Imagine, Letícia, que Linda me contou que – interrompe-se, cético de suas palavras – Santa lhe fez uma confidência.

— Mas do que se trata papai? O senhor está me deixando preocupada!

— Santa lhe disse que viu Nossa Senhora.

Letícia o encara perplexa. Em seguida, suspira, desanimada: — Então é pior do que imaginamos. Está completamente louca.

— Não fale assim de sua mãe Letícia.

— Sei lá, a velha é bem capaz de ver alguma coisa do tipo. Tá sempre na igreja, sempre se confessando, cada vez mais carola.

— Você está falando como Tavinho. Tenha respeito com a sua mãe!

— Mas me diga, papai, o que Linda lhe falou além da .. da tal visão. Como aconteceu a tal coisa?

— Na verdade, ela não foi muito explícita, pelo contrário, se arrependeu de ter me falado.

— O que ela deixou escapar?

— Ela comentou sobre uma tal comunidade, mas ela não soube esclarecer do que se trata. Pelo que pude apreender, sua mãe pretende ajudar uma comunidade pobre.
⁃ ⁃

— Não há novidade nenhuma nisso. Ela sempre ajudou essa gente. Vocês estão superestimando as palavras de mamãe.

— Quem está superestimando as minhas palavras?

Ao som da pergunta os dois se voltam rapidamente para a escada de onde vem a voz. Santa desce lentamente, sorrindo, aparentando uma extrema tranquilidade, como se já esperasse aquela agitação. Tavinho foi o primeiro a abraça-la. Em seguida, Letícia aproximou-se, seguida do marido.

— O que está havendo mamãe?

— É assim que você recebe a sua mãe, Letícia? Por que esta ansiedade?

— Desculpe mamãe, mas esta reunião fora de hora, esta quase convocação. Ficamos preocupados.

— É verdade, dona Santa. A gente pensou que estava doente. – a frase de Ricardo é acompanhada pelo olhar de desconfiança de Letícia. Santa não responde, aproxima-se do filho e pergunta: — E você Tavinho, tá muito ansioso também?

— A senhora sabe, mãe, eu estou terminando o mestrado de design digital. Tô naquela fase de terminar a dissertação, da avaliação do orientador, das inúmeras correções. Tô no desespero, mesmo. Então, nada mais me deixa ansioso, não se preocupe.

— Que bom, até que enfim uma pessoa sensata, porque o que eu tenho para falar não é para assustar ninguém.

— Você pode adiantar alguma coisa?

— Não Letícia, vamos esperar Alfredo.

— Quando ele vai chegar?Aquele lá vive enfurnado naquela empresa, acho que respira computador o dia todo!

Santa faz um pequeno sinal ao marido, pedindo que o acompanhasse até à biblioteca. Lá se daria a reunião com os demais, mas no momento, precisava conversar às sós com ele. Letícia rebelou-se de imediato, com o convite.
_

— Mamãe, por favor, não tenho todo o tempo do mundo. Além disso, tive um dia terrível hoje. A senhora não vai nos fazer penar aqui, esperando?

— Você precisa ter paciência Letícia. É só um minuto. Vou pedir à Linda que telefone ao Alfredo, enquanto falo com seu pai. Por favor, minha filha, por mim. Espere mais um pouco.

Afastam-se os dois, enquanto Letícia aproxima-se de Ricardo, agora, completamente irritada.

Tavinho parece sair do enlevo musical em que se encontrava. Levanta-se do sofá e se encaminha para a dupla. Pergunta à irmã, com o mesmo tom displicente, mas com considerável inquietação.

— Também não tenho o dia todo. O que está acontecendo aqui, afinal?

— Meu cunhado, acho melhor você ir botando esses neurônios pra funcionar. Se a sua mãe está com algum problema de cabeça, a coisa vai ficar preta.

— Ricardo, você não sabe o que está acontecendo. Não diga bobagens.

— E você sabe?

Neste momento, Linda chega na sala e anuncia que Alfredo está chegando.

Todos silenciaram com a presença do irmão mais velho.

Alfredo estava muito pálido. Os olhos injetados, um esboço de cumprimento que mais parecia um pedido de socorro. Deu alguns passos e sentou-se na primeira poltrona que encontrou.

Ninguém se atreveu a perguntar o que lhe acontecera.

Letícia logo imaginou tratar-se das inacabáveis reuniões com os acionistas que o conduziam a um definhamento a ponto de tornar-se um homem alheio à vida cotidiana. Vivia para a empresa e parecia não ter uma vida pessoal. Era um homem solitário, sem se prender a nenhum relacionamento amoroso.

Estava sempre sozinho e quase não se sabia de sua vida particular.

Ele foi primeiro a falar, pedindo um copo de água à Linda, que já se acercava do grupo, avisando que a patroa os esperava na biblioteca.

Eles se olharam e Letícia dirigiu-se à escada, enquanto que os demais a seguiam, com exceção de Alfredo, que entregou o copo à Linda e perguntou, em seguida: — Linda, você sabe o que está acontecendo nesta casa?

— Por favor, Sr. Alfredo, o senhor já vai saber. O que eu sei não vai lhe servir de nada.

— Mas então você sabe.

— Vá, siga os outros. O senhor já vai saber, também.

Alfredo sorriu levemente e bateu com carinho no ombro da empregada. Em seguida, tomou o rumo da biblioteca.

quarta-feira, junho 10, 2015

Eu e os carros antigos

Tenho esta mania de fotografar carros antigos. Nem é interesse por determinados modelos ou por conhecimento de motores ou marcas importantes. Nem tenho qualquer coleção, mesmo porque é preciso demandar um bom dinheiro para este tipo de hobby. Entretanto, sempre que vou a Montevidéu e noutras cidades do interior do Uruguai, tento fotografar aqueles automóveis datados de épocas tão antigas e que parecem contar muito de seu passado. Fico talvez, na minha posição de escritor, inventando histórias. Mas histórias plausíveis, que talvez fossem tão verdadeiras como se as vivêssemos. Uma lembrança que me vem em momentos, como num déjà vu de algo que nao vivi. Há os que falam em universo paralelo para este tipo de evento, mas evitarei este tema, até por não ter certezas absolutas. Deixo para os pesquisadores e os escritores de ficção científica. Penso, porém naquele carro verde e pequeno da década de 50, que deve ter servido por muitos anos a uma família de imigrantes italianos, que veio se instalar em Montevidéu, uma cidade com tantos pizzaiolos e donos de restaurantes. Quem sabe ele levava o filho à escola, uma dificuldade para a época, porque não havia tantos funcionários para prover o negócio que começava, onde toda a família participava. Ou, quem sabe aquele carro bege ou amarelo claro que me parece um citroen, andando displicente pelas ruas de Punta del Este, fazendo furor, tendo atrás do volante uma morena de olhos grandes e lenço estampado, parando uma livraria e descendo garbosa com uma bolsa da da cor do sapato. Um escândalo para uma cidade cosmopolita, não só por ser uma mulher no volante, mos anos 40, como uma mulher tão espalhafatosa. Mas se dirigia a uma livraria, não ao botequim. Por outro lado, que pensar daquele sedã imenso, de cor preta, provavelmente dos anos 60, pilotado por um homem de óculos pesados e cabelos estiirados para trás, salientando as entradas reluzentes, com um cigarro fumegante nos lábios e um olhar conspirador. Que faria, estacionando em frente à intendência de montevidéu, levando consigo uma pasta preta, talvez conduzindo um dossiê e um olhar arrogante? E no Brasil, dá pra imaginar um homem magro, usando o seu eterno chapéu panamá amassado, a bordo de um automóvel inimaginável, até por ser o primeiro a ser usado em terras brasileiras? Passeava lentamente pelas ruas, talvez chegando a 20 ou 30 km por hora, levantando poeira, deixando as mulheres atônitas, os homens entusiasmados e as crianças eufóricas e assustadas com o bicho que andava sozinho. Certamente os mais velhos não aprovavam aquela máquina que provavelmente destruiria o mundo. Ficavam assustados e arredios. Mas ele passeava, fagueiro e sorridente, pois já tivera sonhos bem mais altos. Afinal, não passava do inventor do avião, Santos Dumont. Pois foi este gênio a trazer o primeiro automóvel de motor a explosão para o Brasil. Era um Peugeot. E ele foi o primeiro a reclamar do estado das ruas. Mas deixemos as histórias para o seu passado ou para a imaginação para recontar a vida de uma forma diferente, mas paradoxalmente, parecida. Daí a verossimilhança tão difundida na literatura. Por outro lado, tenho verdadeira fixação por estes carros, de qualquer marca ou ano, principalmente os de décadas bem atrás. Acho estranho que em países como o Uruguai e também em algumas cidades do interior da Argentina, continuem circulando pelas ruas e até por rodovias. Carros que aparentemente estão em péssimo estado, embora o seu motor possa estar tinindo. Ainda não fui a Cuba, que é o maior museu de carros antigos do mundo, principalmente das décadas de 40 e 50; lá teria muitos carros para fotografar, mas os que vejo por aqui, tão perto, já me bastam. Muito interessante visitar os museus de automóveis antigos, como o de Gramado, ou assistir o desfile de colecionadores. Entretanto, o que me impressiona mais são os que estão em franco estado de trabalho, ou seja, atravessando estradas e servindo seus donos por aí. Em cidades como Maldonado, Mello, Colônia do Sacramento, Chuy, Rochas, San Carlos(cidade irmã de Rio Grande, RS) e até em Punta del Este, além da própria Montevideu, pude ver carros deste tipo. Ricos em história e sonhos para os imaginativos. O interessante de tudo isso é que muitos dos carros que fotografei estavam parados a frente de suas casas, ou em garagens, cujos donos apareciam e os utilizavam como nós fazemos com nossos veículos atuais. Também vi motos muito antigas e com fios enjambrados, em atividade, e fico me perguntando, como é o relacionamento do trânsito com o policiamento rodoviário. Como são efetivadas as multas? Em todo o caso, o trânsito naquele país me parece muito disciplinado e o povo bastante tranquilo. Também vi carros antigos na cidade de São tomé, na Argentina, que faz fronteira com o Brasil, através da ponte da integração com São Borja. Uma cidade muito bonita, organizada e limpa. Colônia do Sacramento, entretanto, tem outras peculiaridades marcantes, além dos carros antigos. É separada de Buenos Aires pelo Rio de la Plata, onde pode-se atravessar por buquebus, num trajeto em torno de 50 km. Nela, pode-se admirar a memória viva, pois sua arquitetura original é de casas antigas e coloridas e seus velhos lampiões. É preservada e declarada pela Unesco como patrimônio da humanidade. Entre as suas ruas estreitas e de pedras irregulares, a mais conhecida chama-se Calle de los Suspiros, por acolher no passado os marinheiros que buscavam companhias antes de embarcarem. Atualmente, os turistas observam maravilhosos as casas baixas e gastas pelo tempo, embora muito bem conservadas. Sua origem portuguesa é visível na fortaleza fundada no fim do seculo XVII e os canhões que enfeitam as calçadas são os símbolos das disputas entre os portugueses e espanhóis, que por quase um século se alternaram no poder. Se por um lado, permaneceram as construções portuguesas de pedra do periodo colonial, por outro ficaram as casas de tijolos e com varanda, erguidas pelos espanhóis. Uma coisa interessante que ficou como lembrança destas disputas, foi a igreja em estilo espanhol, que esconde embaixo do reboco branco, uma igreja portuguesa feita de pedras, cujas paredes e colunas foram construídas pelos portugueses. Como no século posterior, os espanhóis deixaram a igreja lisa e branca, a de pedra ficou por dentro. Por outro lado, voltando ao nosso tema, percebemos que há um enorme quantidade de carros antigos circulando pelas ruas e que alguns, já desativados, servem como atração, a partir de adaptações para restaurantes ou floreiras que enfeitam a rua. Uma paixão que principalmente, a meu ver, os uruguaios possuem, mas uma paixão que também usufro ardentemente. Como disse, nada que eu conheça com propriedade os diversos modelos, suas origens, fábricas montadoras e países onde foram criados. São designs antigos, datados, mas que me dão a certeza de que o passado revive, não como atributos melancólicos, ou com intenções retrógradas. Não, ao contrário. Quero que tudo evolua, que o mundo cresça nos seus diferentes aspectos e neste, especialmente, da industrialização automotiva, que atinja inúmeros avanços, embora não deixando de reconhecer e adaptar os belos desenhos e performances de antigamente. Um carro é só um objeto. Mas as impressões que provocam, estas sim, podem levar a devaneios, sonhos, desejos inexplicaveis, emoções, especialmente porque a mão do homem está ali, embutida, e a união destes elementos transforma a realidade numa coisa elaborada e criativa. Os carros e sua memória. Uma memória que nao tive, que nao vivi, que pouco conheci no passado. Mas um memória que me cai bem, que me faz pensar e imaginar. Só na imaginação e no sonho, encontramos o sentido da vida, a vontade de vivermos coisas tão boas como aquelas passadas ou pelo menos, imaginadas. Quem sabe, um passeio no parque, um piquenique no campo, uma mirada na praia. Um olhar mais atento à nautreza. O despertar de uma nova história. E sempre partilhando a companhia daqueles velhos automóveis. Um bem sempre presente.

segunda-feira, julho 05, 2010

O URUGUAI E SEUS CARROS ATRAENTES



http://O URUGUAI E SEUS CARROS ATRAENTES

O Uruguai é um país muito bonito e como integrante da América, cheio de contrastes, sem dúvida. Mas o que me chama a atenção, sempre que visito aquele país, além da hospitalidade e elegância de seu povo, é a a maneira como as autoridades de trânsito permitem que determinados veículos sejam dirigidos nas estradas. Na verdade, a obediência às leis me parece muito bem orientada. É um povo tranquilo, que conduz seus veículos obedecendo as regras. Todavia, o que sempre me deixa intrigado são os inúmeros carros velhos, danificados, em precárias condições para transitar, que ainda vez que outra surgem nas rodovias. Por isso, tirei algumas fotos para ilustrar esta curiosidade. É uma peculiaridade de comportamento, da qual é provável que sirva de tema a muitos blogs, no entanto quero deixar aqui, às vezes a minha perplexidade, por observar estes “automóveis” andando.
Em tempo: estou torcendo pelo Uruguai, nesta copa, assim como muitos brasileiros, acredito. kbimages.blogspot.com/url-code.jpg

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