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sábado, dezembro 23, 2017

Se o Natal te oferece

Se o Natal te oferece música, luzes e cores, aproveita. Usufrui da alegria e festeja.

Se o Natal te oferece abraços, risos e flores, aproveita. Corresponde à euforia e brilha.

Se o Natal te oferece fé, orações e lembranças do Aniversariante, aproveita. Ameniza os sentimentos, te doa, te alegra e reza.

Se o Natal te oferece passeios, encontros e festas, aproveita. Compartilha com os amigos e parentes as tuas memórias, os teus desejos, os teus caminhos para acertar nos trilhos e urgente, refaz o desfeito, acerta o erro e resgata a história.

Se o Natal te oferecer a mão, a comida, o amor, a bondade, aproveita. Retorna com mais amor, mais amizade, mais bondade e sustenta a mudança que talvez advenha desta passagem para o bem. Vive feliz e despreocupado. Te desembaraça de pensamentos confusos, de medos e cicatrizes. Te livra do mal.

Mas não esquece jamais, dos que ficam lá fora, longe das festas e dos fogos, longe dos amigos, dos parentes, dos vizinhos. Afastados da vida, mortos em seu caminhar obtuso, zumbis. Aqueles invisíveis que parecem passar por nós nas ruas do dia a dia. Lembra deles agora, porque é Natal. Lembra dos que juntam latas no lixo, dos que vivem no lixo, dos que chafurdam nas calçadas, deitados e papelões afugentando-se do frio e da sede, vivendo a morte em vida. Lembra dos que se sentem perdidos, em trajetórias aleatórias, pseudoescolhas sob domínio de drogas, arrebatados dos princípios mais íntimos que os impede de viver. Párias numa terra do nada.

Lembra dos exilados da própria pátria, pois são nada, talvez nem um número que os identifique entre os humanos. Os miseráveis que amplificam a cada dia a desumanidade das celas, provavelmente culpados, mas talvez elos nesta engrenagem suja e hipócrita em que vivemos, na qual a maioria dos que são presos e julgados são negros e pobres.

Lembra dos excluídos pela cor, pela orientação sexual, pela etnia, pela pobreza, por quaisquer preconceitos que desvalorizem o ser humano, dando-lhe uma dimensão aquém para rotulá-los e conformar o coração “bondoso" e afiado do brasileiro.

Lembra dos pacientes em leitos de hospital, dos que sofrem as mazelas dos governos que fingem protelar o orçamento em nome de uma administração financeira falsa ou mal intencionada.

Não reza pelos governos. Reza por ti por que te falta o 13º salário, reza por ti que não tens esperanças.

Não reza por quem bateu panelas numa manifestação seletiva, porque até a corrupção é seletiva, segundo o Juremir Machado da Silva (Correio do Povo). “Uma das mais contundentes expressões do irrealismo brasileiro é dizer que a população não bate panelas contra Michel Temer por estar cansada, desiludida, anestesiada. As panelas não batem porque a corrupção do governo Temer não incomoda tanto quanto incomodava a do PT. No Brasil, até a corrupção é seletiva. Tem corrupção e corrupção. O corrupto chega nas altas instâncias e diz: “Você sabe com que ladrão está falando? E sai voando. Com Temer a turma dos camarotes vai se ajeitar nas poltronas de grife e continuar assistindo ao triste espetáculo da miséria nacional. Que importa a esse pessoal sofisticado se negros patinam na pobreza? Temer é herói nacional para o mercado, que ansiava pela reforma trabalhista, mesmo se ela está produzindo demissões em cascata em alguns setores. Era esse mesmo o objetivo.”

Entretanto, reza e sonha, porque é Natal. Tem esperança e te veste de azul, amarelo, verde, vermelho, cores alegres que manifestem a tua alegria. Mas não te esquece jamais, que o Cristo que vive em nosso coração, para quem é religioso, ou a sensibilidade que está em tua alma, só pode ser apurada e tornar-se plena, se lembrares que lá fora há outros Cristos esquecidos. Revigora teus sentimentos. Alimenta tuas esperanças, mas lembra, hoje os mísseis da indiferença, da covardia, do racismo, do fascismo, da face perversa do poder, da intolerância religiosa arrastam seguidores como um rio bravo e por enquanto, não escolhem os culpados, porque em breve, todos o serão.

Finalizando, citamos o dramaturgo alemão Bertolt Brecht que diz: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”

Feliz Natal!

terça-feira, julho 12, 2016

O cofre e as moedas

Seguir certas crenças ou talvez quaisquer delas, cristãs ou não, têm-se a impressão de que muitas vezes, Deus situa-se longe demais, num espaço tão distante que se equipara a estrelas inatingíveis. Pelo menos, o Deus do amor que Cristo nos revelou.

Nestas religiões ou crenças, o contato com Deus exige muitos caminhos e a maioria deles tem meandros que desembocam em labirintos, aos quais não temos acesso ou nos perdemos na viagem.

Para este contato, ficamos a sós, despidos de qualquer humanidade ou desejo, onde os conceitos se constroem nos percalços de uma sociedade idiotizada, na qual o ser humano parece o último da hierarquia animal.

Para elas, as crenças e seus idealizadores, atingir este contato exige sobrepujar a dor, exaltar a imagem em detrimento do conteúdo, reproduzindo um ambiente de felicidade.

Para ter o contato com Deus é preciso ser aceito na clã e equilibrar-se em cabos sob precipícios, sem rede de apoio, perdidos na fé cega de quem alcança apenas a palavra blindada. Na verdade nada é tão inseguro quanto a trajetória ditada.

Caminhar limpo pela estrada, decidido e verdadeiro, uma verdade padronizada dos que se encharcam nas medidas dos cofres, cujas moedas tilintam à beira do altar.

Talvez este contato não dê em nada, nem o homem seja feliz, nem se sinta solidário. Ao contrário, cruel e determinado no julgamento, na intolerância e no ódio.

Talvez o único contato com Deus, seja o avesso de tudo isso, das crenças, das religiões que pregam a ruptura do ser humano em sua plenitude, quando o querem dividido e parcial, um indivíduo no grupo e outro na sociedade.

Ou quando o preconceito ameaça a falência da humanidade, embora enalteçam o pecado como elemento de temor e incerteza.

Será que o néctar e o perfume se unem na natureza e não podemos aprisionar em nossas narinas, se eles são de Deus?

Talvez o contato se dê no viés do amar, arriscar-se e até errar, porque a substância é de Deus.

Às vezes, tudo é muito pouco, quando este tudo é apenas um rascunho de princípios contra a humanidade. O homem é muito mais do que seguir o que outros homens pregam.

Talvez o contato se dê mais simples, quando nos despirmos de nossas vestes surradas e pesadas de conceitos que nos apropriem de uma única faceta, a qual jamais seremos capazes de revelar e apresentemos a alma leve, tão leve que a inspiração de Deus a toque e transforme.

Fonte da ilustração: Gerd Altmann, de Freiburg/Deutschland, do site https://pixabay.com/

sábado, setembro 19, 2015

PARA QUEM "A PAZ DE CRISTO", NÃO PASSA DE UM CUMPRIMENTO SOCIAL

A paz de Cristo é um cumprimento que ocorre na missa, no momento em que se transmite ao outro, ao fiel que está ao nosso lado, este sentimento de plenitude e paz que Nosso Senhor nos outorgou e que hoje repetimos nos rituais litúrgicos. É um momento lindo, de pureza e afeto, que nos une um pouquinho ao divino e nos deixa mais humanos, mais próximos do outro, mais ligados à fé. Entretanto, às vezes, nem sempre este ato beneplácito é usado de forma natural. Muitas vezes, o cumprimento não passa de uma atitude estereotipada, usada apenas no aspecto social, quase uma obrigação. Nestes momentos, penso que estas pessoas deviam passar longe da igreja, ou caso participem de alguma atividade religiosa, que o façam com dignidade. Se não gostam da pessoa, que permaneçam com seus rancores ocultos, que se afastem e se juntem aos seus pares, mas não utilizem as palavras de Cristo como um modelo artificial, apenas para demonstrar em público, uma educação (que em regra) não possuem. Acho que Cristo as compreenderia e por certo, saberia alertá-las de algum modo, dar-lhes uma saída, para que voltassem a ser sinceras. Afinal, pelo menos, não fariam sofrer com hipocrisia, os seus desafetos. 
É uma pena. Deveríamos refletir muito antes de qualquer gesto dentro dos rituais da missa. Deveríamos ser sinceros. Afinal, a paz de Cristo deve ser para todos. Não apenas para alguns. Deve ser irrestrita. Não seletiva. Deve ser franca, não evasiva. Na verdade, deveríamos reatar com a pessoa, antes do cumprimento, nem que fosse em oração, para termos a faculdade de oferecer a nossa paz, que assim, seria plena. 
Que tenhamos a paz de Cristo. Que a desejemos com alegria e sinceridade e se por acaso, ainda não estivermos aptos a aceitar o irmão que está ao nosso lado, não o cumprimentemos com falsa consideração. O que existe de pior para uma pessoa é perceber o quanto a tratamos socialmente, sem qualquer afeto sincero. Que a paz de Cristo seja para todos, inclusive para quem não a sabe distribuir.

sábado, junho 13, 2015

O PROFESSOR E O GOLPE

O professor de filosofia observava a pequena multidão que se aglomerava em frente à prefeitura, naquele 31 de março de 64. Percebeu que na sacada, reuniam-se muitos representantes do partido trabalhista. Caixas de som ligadas, microfone instalado e discursos inflamados se seguiam. Havia um burburinho grande e vários carros estacionados próximos à praça. Um dos motoristas ouvia atento, a rádio nacional. As ondas curtas vinham e iam, produzindo ruídos na compreensão das notícias. O professor afastou-se de um grupo mais animado e aproximou-se do motorista que ouvia rádio, percebendo a dificuldade com que tentava assimilar o que ouvia. Mesmo assim, tentou saber se o que tinha apreendido das conversas itinerantes tinham algum fundamento. Conversaram alguns minutos. O assunto não podia ser outro. Brasília estava em pé de guerra e as notícias assinalavam que João Goulart seria deposto. Um dos políticos falava no microfone a altos brados. Parecia antecipar-se aos acontecimentos.

O professor encostou-se no carro e observou o cenário que de repente se descontruía a sua frente. As pessoas se olhavam e discutiam com a convicção de que não entendiam o que acontecia. Estavam confusas, desarmadas. O pequeno grupo que estava na sacada começou a dispersar-se. Em menos de cinco minutos, as caixas de som sumiram e o microfone calou-se. As informações que surgiam eram desencontradas, inclusive falavam em um presumível triunvirato de poder no Brasil, com as três forças armadas. O professor logo lembrou de Roma, que no ano de 59 a.C, Gaius Julius César, Pompeu e Marco Lucínio Crasso se uniram para governar Roma. A história estaria dando marcha à ré? Em seguida, o professor tal como os demais retirou-se de frente do paço municipal, despedindo-se do motorista e agradecendo as informações. Voltou para as suas aulas, para o seu trabalho, sua família.

À noite, a lua nova dava seus ares de despedindo, dando lugar à minguante para os próximos céus nublados. O mundo amanheceu cinzento. A cidade parecia outra, na qual se temia conversar nas esquinas, falar em política ou articular a palavra golpe. Na rádio, Brizola resistia com a campanha da legalidade, mas logo percebeu que seria um terrível derramento de sangue e desistiu. Alguns dias mais tarde, cassaram o prefeito. A imprensa salientou, garbosa, que a prefeitura não estava acéfala, pois assumira o vice. Não por muito tempo, pois renunciara e logo assumiu um capitão reformado do exército. Havia um interventor. Começava a operação limpeza. Muitas pessoas foram presas, levadas para o navio Canopus, um presídio improvisado, aclamado pela imprensa da época como belonave, abarrotado de líderes vermelhos e agitadores. Professores eram retirados da sala de aula, pais de família investigados e estudantes perseguidos; isso acontecia a quem pensasse diferente da força reacionária que surgia enfurecida pelo Brasil, ou que aos olhos do poder, expressasse alguma faceta que os contrariasse. Muito simples: é contra o regime, é vermelho, comunista. Deve ser punido. E tudo acontecia com as bençãos de várias instituições, inclusive da Igreja Católica, com excessão de algumas dissidências que honravam as palavras de Cristo. O professor de filosofia era um dos conspiradores do bem comum. Tanto, que foi taxado de terrorista e mal exemplo aos alunos e à sociedade.

Em dado momento, foi interrogado em sua casa, com a intenção clara de o prenderem. Seria mais um preso político jogado naquele navio, para aprender a ser um homem que não envergonhasse a nação. Nem percebiam que a nação chorava constrangida e mal conceituada pelo mundo afora.

Naquele momento, reuniram a família, a mulher e os filhos, citando todos os seus crimes contra o País, inclusive rechaçando o seu conhecimento científico e acadêmico, que para eles não valia nada. Deram voz de prisão, fizeram-no juntar seus pertences, ante o olhar apavorado dos parentes. Examinaram minuciosamente todos os objetos para se certificarem que estavam de acordo com as normas da prisão que estavam efetuando. Apenas uma muda de roupa, um par de sapatos sem cadarços, um barbeador elétrico, alguns objetos de higiene. Nisso, perceberam que havia um livro entre os pertences. Um deles, mais afoito, aproximou-se, abriu-o e estupefato, perguntou: – O senhor pretende levar este livro? Não se da conta que é uma confissão de que não passa de um comunista?

O segundo, que parecia mais calmo, aproximou-se, pegou o livro e largou-o sobre a mesa. Deu um leve sorriso, de quem não entendeu nada, mas concordou com o colega. Ainda ouviu a pergunta irônica do primeiro: – O que tu acha Aristides? O homem não tá encrencado?

Aristides concordou com um aceno de cabeça.

O professor, apesar da aparência amarga, ainda esboçou um sorriso pelo absurdo da pergunta. Asseverou que levaria o livro. Por fim, perguntou o motivo por que tanto ódio contra Machado de Assis. Nisto, o soldado deu dois passos para trás, como se iniciasse uma marcha, na qual daria meia volta. Mas não o fez: estancou e segurou o livro, abrindo-o na página do título. Começou a lê-lo, a princípio devagar, depois, releu palavra por palavra, quase declamando e para cada uma dava uma explicação.

– Memórias póstumas … Memórias, coisa de comunista! tu não acha Aristides?

Silêncio absoluto. Ele proseguu: — de Brás, isso é coisa de petrobrás, eletrobrás, monopólio, tu não acha Aristides?

O outro esboçou a primeira reação, tentando articular uma frase, talvez lembrando que a briga da petrobrás vinha desde o Getúlio, onde o Jango, como ministro na época não aceitava a interferência americana, mas nada disse, foi interrompido pelo soldado leitor, que exclamou vitorioso, os olhos muito vermelhos, a voz embargada de forçada nacionalidade — Cubas! Aqui não tem mais conversa, amigo! Comunista puro! Vermelho de merda! Tu tá lendo um livro que fala em Cuba!

Aristides, desta vez sorriu, franco. O amigo sabia o que dizia!

O professor foi preso, torturado e mais tarde exilado no Chile. Se fosse vivo, talvez fizesse um estudo sociológico, antropológico ou seja lá que viés percorresse para encontrar algum motivo, por menor que fosse, de que Memórias póstumas de Brás Cuba é um livro comunista. Ou enlouquecesse de vez!

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