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sexta-feira, maio 26, 2023

Eu quero

Ilustração: RoySnyder in:pixbay.com



Eu quero ter a dúvida dos fracos, do que ter as certezas definidas. Eu quero ter os sonhos dos oprimidos, do que a realidade indolente dos vencedores. Eu quero sentir o cheiro dos pobres, dos mendigos, dos marginalizados, dos solitários das ruas, do que o perfume falso dos poderosos.

Eu quero sentir o sereno da noite, o vento fustigando o rosto, os olhos doendo, a fumaça dos becos, a melancolia das ruas, do que o ar refrigerado das mansões, as bocas fervilhando de questões com convicções, verdades absolutas, mãos que se tocam sorrateiras sem sentimentos ou empatia.

Eu quero saber que estou vivo, mesmo entre a morte, do que viver enclausurado em medos do outro e não de mim mesmo. Quero ter empatia para amar o próximo, mais próximo, aquele que avisto nas ruas, quase invisível, mas que de algum modo, alguma centelha de olhar, me toca, do que negar a sua existência e carimbar de algum modo seu passaporte para a morte. A morte do cancelamento, do não existir, do não ver, do não assumir, do não aceitar.

Prefiro o bafo quente e livre de seus desejos, do que o hálito artificial e embranquecido dos quereres ponderados. Prefiro a revolta dos que habitam um mundo que não é seu, nem meu, nem de ninguém, do que a submissão dos apáticos.

Enfim, prefiro viver, do que assistir, imaginando ser protagonista. Talvez a ribalta seja aqui, dentro de minha cabeça.

sexta-feira, janeiro 12, 2018

O reflexo da porta

Patrícia mais uma vez olhou-se no espelho, mas agora seus olhos perdiam-se num passado distante. O reflexo da porta projetado pela sala contígua, apontava o perfil de Benvindo que se afastava, talvez à procura de uma juventude que havia perdido.

Talvez fosse a culpada de sua fuga: aos poucos negligenciara a aparência, o bem viver, o relacionar-se com os amigos e declinar de ser a protagonista. Não, ela era só a dona de casa que o acompanhava nos jantares, nas festas da empresa, na vida social do marido.

Talvez não fosse nada disso, pensou. Não passasse de um encanto transitório por um rabo de saia, uma mulher trinta anos mais jovem, um despertar para uma paixão fantasiosa, de um homem de meia idade. Afinal, não era o que acontecia com quase todos os casais?

Mas se houvesse uma saída, uma maneira de alterar essa situação, de modificar o rumo, esse consenso social? Ela seria outra pessoa, poderia tornar-se uma mulher ativa e participante de uma nova sociedade. Uma realidade em que ela fosse a protagonista.

Então mostraria a todos, se tivesse sorte, que ainda possuía seus encantos e vigor. Participaria do concurso de dança e usaria o vestido da suavidade da valsa ou da energia do tango. Ela seria a estrela, fotografada, anunciada nos microfones, revelada na ribalta. Era a realização do sonho, a virada tão desejada. Já tinha o convite, faltava participar.

Por fim, Patrícia afastou-se do espelho, deu alguns passos pelo velho parquê, torceu o salto fino e esbarrou no capacho. Segurou-se como pode na maçaneta da porta e chamou o táxi.

Em pouco tempo, estaria lá entre os seus pares, magra e linda, revivendo um passado que não fora seu.

O táxi chegou. O porteiro subiu. O elevador parou no andar de Patrícia. Tocaram a campainha. Ligaram.

Patrícia não atendeu.

quarta-feira, janeiro 06, 2016

Sobre o romance “Pássaro incauto na janela”

Este romance mostra a solidão de uma idosa que vê, analisa e critica a vida através de sua janela. É viúva de um grande jornalista que lutava contra a repressão nos anos 70. Em sua solidão, costumava conversar com uma fotografia de Rita Hayworth.

Faz um contraponto com a protagonista, uma jornalista que pretende entrevistá-la sobre os envolvimentos do marido. Aos poucos, são revelados os dramas pessoais da jornalista, a partir do conhecimento de que o pai em seus momentos finais pedira que ela desligasse os aparelhos que o mantinham vivo.

Junto a tudo isso, há o homem do prédio da frente, do qual a protagonista tece as suas conjunturas e tudo culmina com o surgimento de sua família, que parece ter interesses especiais em sua vida.

Com o decorrer da história, as duas personagens vão se descobrindo e encontrando novas formas de viver e serem felizes.

É uma história de sentimento, emoção e poesia, na qual as vidas se entrelaçam e se revelam aos poucos.

Como o fiz com “O doce bordado azul”, vou publicar os seus capítulos todas as terças e quintas- feiras.

Na próxima quinta-feira, dia 7/01/2016 apresentarei o primeiro capítulo. Será o nosso folhetim rasgado de 2016.

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