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Não me perguntes

Não me perguntes porque o mundo gira, porque o tempo passa, porque os ventos sopram e o calor não se atenua. Não me perguntes porque ficamos mais velhos, porque as crianças se deseducam e os pais se desobrigam em seus princípios. Não me perguntes porque as coisas se substituem e o homem não vence as batalhas cotidianas e tudo se aproxima do caos. Não me perguntes quem se corrompe ou é corrompido, quem se deixa corromper ou corrompe. Não me perguntes se os rios secam e as indústrias expelem produtos nocivos. Não me perguntes quem polui ou quem colabora com o mau aproveitamento da natureza. Não me perguntes quanto volume possui cada gota de chuva que se espalha no parabrisa do carro. Nem se posso juntá-las com as mãos. Pois o que sei, é que não posso medir jamais. Os hidrogênios, oxigênios e metais pesados não podem ser medidos mecanicamente, assim como não se pode avaliar nada sem comparar com nossas próprias ações, porque somos deste mundo caótico, cheio de falhas e perversões. S

A ARANHA

A crônica "A aranha" está na antologia "Outras águas" e foi vencedora na categoria, juntamente com a crônica "A palestra" publicada neste blog. Fonte da ilustração: Westermann, Johannes do site https://pixabay.com/pt/users/Westi2605-2708584/ Quando acordei, pensei que o mundo houvesse acabado, tão grande a agonia que sentia. Coração aos saltos, lábios trêmulos, língua paralisada. Estaria eu no fim? De repente, um assobio que se finava ao longe indicava drasticamente que estava vivo. Não tão desperto, como imaginava. Sentei-me devagar, com dificuldade, procurando os óculos sobre o baú, entre frascos de comprimidos, colírios e livros. Passei a mão, ainda perturbado, empurrando tudo que se opunha ao meu gesto. Até que o estalido no chão obrigou-me a dobrar a coluna para encontrar o objeto de minha dependência. Deitei-me de bruços na cama, enfiei um pé entre os cobertores ainda quentes e espiei pelo lado oposto onde estava deitado. Mergulhei a mão,