Este blog pretende expressar a literatura em suas distintas modalidades, de modo a representar a liberdade na arte de criar, aliada à criatividade muitas vezes absurda da sociedade em que vivemos. Por outro lado, pretende mostrar o cotidiano, a política, a discussão sobre cinema e filmes favoritos, bem como qualquer assunto referente à cultura.
sábado, julho 20, 2024
Uma pessoa má
segunda-feira, setembro 12, 2016
Sonhos que jazem acordados
Fonte da ilustração: waldryano do site www.pixabay.com
Olhar-se no espelho, meio dormindo, assim pela manhã e deparar-se com uma face nova, que não a sua, não é tão surpreendente assim.
Acontece, às vezes, com qualquer mortal. Principalmente, se ele está completamente desiludido de seus sonhos.
Aconteceu com Gustavo, certa vez.
Olhou-se no espelho, demorado. Piscou um olho, a resposta simultânea assegurava que era ele. Mas tinha consigo, que alguma coisa estranha tinha acontecido naquela noite.
Afinal, o mundo desandara a seus pés.
Escrevera mil histórias, publicou algumas, contos, crônicas, artigos em revistas, até um romance, considerado o primogênito bem amado. Esperou afoito que acontecesse, que desabrochasse para as audiências, que o lessem sofregamente.
Nada aconteceu. Nem um comentário, nem uma notícia boa, nem uma página de jornal.
Tudo burocrático, organizado por ele e 10% pela editora.
Como pensava que teria este vigor todo para tocar em frente, conquistar as plateias, dar entrevistas, divulgar o seu produto.
Apenas um filho, acalentado em sonhos durante as viagens que fizera em torno da imaginação claustrófoba.
Nada acontecera. Fizera umas sessões de autógrafos, umas reuniões com os amigos. Vendera alguns livros, mas só isso.
Não foi adiante.
Teve que tomar uma decisão difícil. Botar a boca no trombone, gritar aos quatro ventos, mostrar o que tinha produzido e revelar ao mundo a enganação que sofrera, ingenuamente.
Pensara que seria ajudado pela editora, que teria sua obra fixada no mural dos autores, que veria resenhas nos jornais, em páginas da Internet. Ilusão.
Calar-se. Era a outra atitude.
Aquietar o espírito e conceber a si mesmo que a estrada bifurcava logo ali adiante e que não havia caminhos paralelos.
Foi o que fez ou o que se permitiu fazer.
Deprimiu-se. Foi desta vez, que se olhou no espelho e viu apenas um espectro de si mesmo, um reflexo apagado da própria figura.
Era apenas mais um, na busca de um troféu que não era o seu, de um prêmio que não lhe entregaram, de um reconhecimento que não tivera.
Gustavo ficou assim, se olhando por mais um minuto. Mas foi só.
Afinal, o tempo passava depressa.
Aquele hálito pegajoso no espelho, já não era mais seu. Era do espelho, que bafejava satisfeito na sua cara.
Abandonou-o de vez e disse para si mesmo que recomeçaria mesmo assim.
Não com aquela manifestação de espírito exacerbada, mas com a vontade de expressar-se sob qualquer circunstância, em qualquer suporte, em que pese as dificuldades para fazê-lo.
Quem sabe, num feedback de comentários, sinta novamente o sabor da luta.
sexta-feira, julho 08, 2016
Por que temer a travessia?
Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/metamorfose-casulo-borboleta-macro-228720/
Não penses que a borboleta baterá trezentas vezes as asas aos teus ouvidos, nem que as flores vicejarão impunes, mesmo que as regues e cuides todos os dias de tua vida.
Um dia te cobrarão pela beleza que expressam.
Um dia exigirás que seu perfume abranja um espaço maior e que seus brotos e ramos pululem abrangendo tua paisagem interior.
Nunca pensaste que a vida viraria de ponta-cabeça, que o mundo que corria lá fora, corria muito mais veloz dentro de ti mesmo?
Nem percebias o quanto teu espírito sugava o néctar de cada flor e as examinava muito mais do que as borboletas ou quaisquer outros insetos.
Por certo, ficavas plasmado como uma folha tenra, mas sem vida, caída ao tronco da árvore, próxima à raíz, embora sem qualquer ligação com a seiva-mãe.
Foi num salto que a vida te mostrou sem ressalvas o que eras e o que no fundo já sabias.
Foi num salto que mergulhaste no nada, um vazio tão grande que pensaste em desaparecer.
Que nada!
Aí estava o furo da placenta, o regurgitar do prazer contido, o explodir pro macho, pra fêmea, pro bicho, pra flor.
Por que temer esse riso medonho, a achincalhada travessia, se teu destino começa agora?
quarta-feira, fevereiro 03, 2016
PÁSSARO INCAUTO NA JANELA - CAPÍTULO VIII
Capítulo 8
HOJE, QUINTA-FEIRA 04/02/2016, CONTINUAMOS O NOSSO FOLHETIM "PÁSSARO INCAUTO NA JANELA" COM O 8º CAPÍTULO.
–Cruz credo! A senhora ta com espírito ruim! Eu nem bem cheguei e a senhora ta me mandando sair. Que aconteceu dona Úrsula?
Úrsula abre os olhos, ainda estirada no sofá, sem entender muito bem o que está acontecendo. Dulcina a sua frente, falando sem cessar e uma luz forte invade a sala, ferindo a retina. Um olhar apalermado de quem não teve uma boa noite de sono.
–Tá com cara de quem tava na gandaia. Parece que passou a noite de porre!
–Me respeita, Dulcina. Não seja atrevida.
– Desculpa, dona Úrsula, mas me diga uma coisa, a senhora dormiu?
– Não sei, acho que dormi. Agora dei pra dormir, não sei se fico feliz ou assustada. Eu, que não saía da minha janela, que passava a noite vendo o céu escurecer e clarear, agora, fico dormindo no sofá. Será que você não me deu nada pra dormir?
–Ei, me tira dessa jogada. Não me mete em fria. A senhora quase me ferrou, ontem à noite. Agora que me acusar de envenenamento.
– Eu nem sei porque aturo você.
–Porque gosta de mim. Porque só tem eu pra conversar, pra brigar, pra botar os bicho pra fora.
–Você é muito convencida, mesmo. Mas como você entrou?
–Dona Úrsula, esqueceu que eu tenho a chave? Só não tenho a do prédio, lá de baixo, mas a do apartamento está aqui, comigo.
–Como é que eu fiz uma loucura destas, dar a chave pra você, que perigo estou correndo.
–Perigo nenhum, ao contrário, se bate as bota, de repente, tem que ter alguém pra abrir a porta.
–Ora, não diga bobagens, sua atrevida. Principalmente depois do que você me disse.
–O que eu disse?
–Eu não vou repetir.
–A senhora é quem sabe, mas tenho certeza de que não disse nada de mal. Muito pelo contrário, tudo que lhe digo é pra lhe deixá bem, pra cima!
–E sobre o meu algoz?
–Sobre o quê?
–Deixa pra lá.
–Ah, não, se começou, tem que terminá. Mas, eu to ligada. Se refere ao velho do prédio da frente, né? Eu tava brincando, não vou trabalhar com ele, não – sorri, acariciando a voz, outrora robusta e altiva, agora doce e suave –ta louca, pensa que vou limpá bunda de marmanjo? Gosto de trabalhar com gente assim, que nem a senhora, elegante, culta, artista.
–Por que você disse isso?
–Isso o quê? Que é artista? Ué, a senhora não toca piano?
–Me refiro ao velho, sua tonta. Nem me atrevo repetir o que você disse.
–Ah, sobre limpá a bunda dele? A Marielsa do 42, aquela pretinha nanica, sabe quem é ela, a que trabalha com o casal do banco – está bem, está bem. Não interessa, fale do velho – pois é, a Marielsa disse que ele faz as necessidades nas calças, parece que não dá tempo. Sabe como é, o cérebro não comanda. Um tico não bate com o outro, entende?
–Bem feito!
–Credo, como a senhora é má!
–Só eu sei o motivo. Mas parece que você não gosta dele, também.
– Ele fica cuidando a senhora. Não pense que ele não fica planejando alguma coisa, falando sozinho, de vez enquanto, dando uma olhada.
–Planejando o quê?
–E eu vou saber? A senhora também tá sempre matutando. Coisa de velho, ora. Agora, se me dá licença, vou pro meu trabalho.
–Você é muito desrespeitosa, Dulcina, sabia?
sexta-feira, julho 17, 2015
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