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sábado, março 11, 2023

Quase um arco-íris

Observar as árvores ao longe, o cheiro da grama tão próxima, os raios da roda girando, girando e uma sensação plena de felicidade. Andar, andar, andar. Voltar para a praia, descer na areia, deixar a bicicleta no chão e olhar o céu, apenas o céu. As luzes, aos poucos se dissipando e longe, bem longe, luzes refletidas da lua ou próprias das estrelas, não sei. Um vento, uma brisa, mais aromas. Suaves aromas. Aquele perfume patichouli, pura canabis, que passa nas pernas lentas do menino e se dispersa na areia, em direção ao trapiche. Um perfume suave e profundo. A sensação de que o mundo para, por um segundo, e o céu nem mesmo está tão distante, ao contrário, está aqui, se fundindo com o mar, tão próximo que posso segui-lo. Mas fico aqui, na areia, usufruindo os últimos raios do sol, o crepúsculo que me confunde e anima.

A areia é fria e suave, a bicicleta jaz quieta, voltada pra mim, como se me aguardasse, cúmplice. Talvez surja mais alguém neste fim de verão e crianças corram atrás de bolas, baldinhos de água, seguidos de mães atentas e preocupadas. Talvez este perfume adocicado permaneça como sensação duradoura e possa ainda desfrutar deste enlevo de final de tarde, início de noite. A bermuda molhada, os chinelos ao lado, as mãos à espreita de alguma onda recalcitrante que se aproxime ousada. Um leve assobio do vento, fustigando de leve o peito nu. Não precisava de mais nada, talvez de uma vodka com tônica, gelo e uma rodela de limão. Mexer delicado no fundo do copo e o mundo girar, girar, confundindo-se com a mente, a ponto de perceber muito mais do que a natureza. O céu gira, a lua, a praia, o horizonte, o crepúsculo, o coração. Tudo gira e a natureza é uma só, num grande sonho quase arco-íris.

quarta-feira, agosto 16, 2017

Pai de menina

Pai é ser paciente, é apoio, é conciliação, é encontro, é busca, é espera, mas é sobretudo presença. Pois, pensando bem, ser pai é passear ao lado do filho pela calçada, sugando o ar da manhã e contando histórias enquanto se encaminha para a escola, é talvez empurrar a bicicleta e soltar antes que a criança pare de pedalar e pense estar ainda apoiada e ao mesmo tempo imaginar que já conduz sozinha, quando o pai ainda segura a bicicleta.

Talvez seja também levá-la à praia, conduzi-la ao mar, perpassar as ondas, segurá-la e fingir que aprende a nadar. É ser criança de repente, como ela e fingir que é adulto.

Ser pai, talvez seja uma moldura ativa que corre pela cidade, afoita e embriagada de ar puro, quando avista a menina, esperando a foto, na entrada do teatro em que dança, ou na academia, ou na volta do passeio. A moldura que espera a foto para ser personificada e guardada na lembrança. O pai e a bailarina.

Ser pai é esperar que as horas passem no vestibular e agradecer a ajuda dos deuses pelos resultados, pelas lutas infindas, pelas viagens não programadas, pelo destino incerto, pelo sonho esperado.

Ser pai é ensinar a dirigir e fingir que não teme qualquer desvio, qualquer solavanco que o leve à valeta. E sorrir e dizer: confio em ti.

Ser pai é ser dono de si, completo, inteiro, íntegro e se imaginar dono do mundo. Ser pai é esperar, é rir e amar. Ser pai é uma condição de aprendizagem, quando pensa que sabe tudo e ao mesmo tempo, nada.

Ser pai é viver esperando e talvez revivendo aquilo que seu pai era ou sonhara.

Ser pai é decifrar a malha de linguagem em que se envolve, que o abraça e o atinge na comunicação cotidiana. É reconhecer na filha jovem, como sujeito, detentora de um desejo que merece justamente esse reconhecimento por ser mulher.

Ser pai é ser condição, passagem, caminho e parada. Um pouso talvez, para que tudo se acalme, se alcance a margem e se espie o horizonte.

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