Observar as árvores ao longe, o cheiro da grama tão próxima, os raios da roda girando, girando e uma sensação plena de felicidade. Andar, andar, andar. Voltar para a praia, descer na areia, deixar a bicicleta no chão e olhar o céu, apenas o céu. As luzes, aos poucos se dissipando e longe, bem longe, luzes refletidas da lua ou próprias das estrelas, não sei. Um vento, uma brisa, mais aromas. Suaves aromas. Aquele perfume patichouli, pura canabis, que passa nas pernas lentas do menino e se dispersa na areia, em direção ao trapiche. Um perfume suave e profundo. A sensação de que o mundo para, por um segundo, e o céu nem mesmo está tão distante, ao contrário, está aqui, se fundindo com o mar, tão próximo que posso segui-lo. Mas fico aqui, na areia, usufruindo os últimos raios do sol, o crepúsculo que me confunde e anima.
A areia é fria e suave, a bicicleta jaz quieta, voltada pra mim, como se me aguardasse, cúmplice. Talvez surja mais alguém neste fim de verão e crianças corram atrás de bolas, baldinhos de água, seguidos de mães atentas e preocupadas. Talvez este perfume adocicado permaneça como sensação duradoura e possa ainda desfrutar deste enlevo de final de tarde, início de noite. A bermuda molhada, os chinelos ao lado, as mãos à espreita de alguma onda recalcitrante que se aproxime ousada. Um leve assobio do vento, fustigando de leve o peito nu. Não precisava de mais nada, talvez de uma vodka com tônica, gelo e uma rodela de limão. Mexer delicado no fundo do copo e o mundo girar, girar, confundindo-se com a mente, a ponto de perceber muito mais do que a natureza. O céu gira, a lua, a praia, o horizonte, o crepúsculo, o coração. Tudo gira e a natureza é uma só, num grande sonho quase arco-íris.
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