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quarta-feira, julho 11, 2018

Literatura aliada

A literatura é conceituada e avaliada em seus aspectos estilísticos, estéticos, filosóficos e sociais. Aqui, no entanto, falo da literatura como uma aliada, uma companheira que exerce um papel fundamental na vida das pessoas.

Mesmo que não percebamos, é através da literatura, que mostramos o que somos, o que queremos da vida, o que sonhamos. Sabemos que a literatura é uma manifestação artística e para muitos escritores, ela se esgota nesta proposta. Para outros, porém dos quais eu me incluo, a literatura deve ser um registro da realidade que recria, como uma tentativa constante de transformação do mundo em que vivemos.

Na minha opinião ela só tem verdadeira importância, se for crivada dos anseios de seu povo, se tiver um viés político. O mínimo que se espera é que haja, em alguma medida, o pensamento crítico sendo colocado em jogo, sendo trabalhado e compartilhado.

A arte da escrita não é puramente estética. A despeito do que escrevemos, haverá sempre a intencionalidade do autor com a conexão do mundo real, da sociedade e também com o seu mundo interior, moldado em suas experiências e apreensão da vida. Faz-se política em qualquer gesto e tenho comigo que este brado deve corresponder ao clamor das minorias, dos excluídos, dos que não tem os privilégios, dos trabalhadores invisíveis.

Acho que o homem é o algoz do próprio homem e a literatura está aí, para redimir esta sequela humana, para transformar o bruto, no belo, no artístico, no lírico, no imponderável, mas acima de tudo, mostrar que o rústico, o pobre, o ausente das benesses é tão intenso e dramático e pertencem ao mesmo mundo em que vivemos. Basta olhar para o lado.

Não me interessa uma literatura calada, amordaçada, padronizada no senso comum, amarrada apenas à lógica literária e aos padrões estilísticos e de gênero. Interessa-me a literatura que não se cala às adversidades, aos desmandos, às ditaduras, à mídia manipulada e manipuladora.

Interessa-me uma literatura que mostra o seu povo, que enaltece a sua linguagem e que acima de tudo, produza a reflexão. E que por fim, seja, além de tudo puramente literatura, na qual a emoção e o sonho se completem no lirismo e na beleza. Acho, inclusive que o autor é um ser dividido e complexo, como todo ser humano, mas que ao refletir sobre isso, extravasa sua emoção e sentimentos no seu ofício e talvez sofra com essa dicotomia.

O poema “Traduzir-se” de Ferreira Gullar, musicado por Chico Buarque, exemplifica bem esta singularidade do escritor, quando diz:

“Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão.

Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.

Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem.

Traduzir-se uma parte na outra parte – que é uma questão de vida ou morte – será arte?”

Fonte: Kalsgirl do link: https://pixabay.com/pt/users/kasgirl-1427481/

sexta-feira, maio 05, 2017

E a dor da saudade?

Muitos poetas, escritores, músicos e filólogos já reviraram de ponta-cabeça a palavra saudade. Um sentimento melancólico causado pela ausência de pessoas a que se estava efetivamente muito ligado.

O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa mostra o termo saudade oriundo do latim “solitate”, isolamento, solidão, através das formas “soidade” e “suidade”, soedade , suydades , até à saudade na atualidade.

Como falar de saudade, se é um sentimento que se bifurca entre a alma e os sentidos, uma sensação de melancolia e vazio, da espera sem o retorno, da falta sem a presença. Uma palavra que não se traduz em outra língua, pela impossibilidade de demonstrar a amálgama de sentimentos que compõem o seu universo.

Mas os poetas a expressam com tal excelência de espírito, que a traduzem em nossa compreensão de mundo. Se não vejamos os versos do Chico Buarque, na música “Pedaco de mim”.

“Que a saudade dói como um barco/E evita atracar no cais”.

Através da figura do barco que se afasta e se desvia do cais, configura-se a interrupção do retorno. A saudade é a volta que não se conclui.

“É assim como uma fisgada/No membro que já perdi”.

Aqui, o poeta mostra a dor no lugar absurdo da ausência; pungente e aflitiva, que consome e tortura. Isto é a saudade.

A saudade afigura-se num corte cirúrgico da existência, como se comprova nos versos da mesma música.

“Que a saudade é o revés de um parto/A saudade é arrumar o quarto/Do filho que já morreu”.

A crueza do fracasso da esperança que aflorava, se transforma em desesperança. A ausência “do filho que já morreu” não permite o movimento mínimo de estabelecer uma ponte entre a mãe e o filho, o que seria natural. A saudade é essa impossibilidade de atravessar a ponte.

A saudade, porém institui uma regra pessoal, à medida em que se manifesta em nossa solidão, pela falta da pessoa amada, do(a) filho(a), do (a)amigo(a), dos pais. É um processo constante e rotineiro, e por mais que queiramos prosseguir o cotidiano, ela interefere a cada momento, em virtude da ligação ao objeto de nosso afeto.

Entretanto, por outro lado, a saudade permite quantificar a qualidade de nosso afeto e precisar a necessidade do encontro, da convivência, do carinho, dos pequenos segredos e grandes silêncios ou apenas do sorriso que nos conforta e amolece a alma.

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