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Mostrando postagens com o rótulo sensibilidade

Um amor de avó

Esperei que ela abrisse o manto da proteção e o estendesse sobre mim. Foi em vão. Fitei-a inseguro, olhos de súplica. Pedi perdão. Olhava-me com frieza, distanciada de meus sentimentos. Orgulhosa. Onipotente. Esperei que ensaiasse uma atitude, tomasse qualquer decisão. Falei em minhas culpas. Do mal que lhe causara: agruras devidas a preocupações, brincadeiras ofensivas, aborrecimentos inoportunos de menino levado. Que nada. Não me ouvia. Resolvera agir assim, friamente, numa pedagogia autoritária. Estava ali, sentada na poltrona de brocado, com novelos entre as mãos, olhar distante, comprido, para a janela. Minha avó. Olhando-a assim, sentia pena. De mim, dela, de nós. Por sermos o avesso de suas aspirações: cheios de vida, astutos, perspicazes, briguentos, barulhentos, perturbadores. Ela quieta, silenciosa, solene. Não nos queria por perto. Às vezes, achava que nos odiava. Tão diferente de meu avô, suave, doce, amigo, franco, feliz. Ele, no auge da alegria, satisfaç

PEQUENA CRÍTICA SOBRE O FILME A VIDA NO PARAÍSO (Så som i himmelen)

Certamente há centenas de críticas e resenhas sobre o filme “A vida no paraíso”, dirigido pelo sueco Kay Pollak, mas há sempre um aspecto a explorar e nunca é demasiado se falar de um bom filme. A vida no paraíso é um destes filmes em que os personagens são envolvidos na trama existencial de suas vidas, tão pacatas, mas borbulhantes de problemas e confrontos numa sociedade machista da pequena cidade em que vivem. É para lá, que o maestro famoso volta, Daniel, o protagonista, retomando uma busca que sempre se propusera, talvez de forma inconsciente. Uma retomada ao passado, à vida simples e também cheia de contradições desse lugarejo, aliás, o lugar onde nascera. Lá vivera os primeiros anos de sua vida e logo se mudara para a cidade grande, para tornar-se um grande maestro. Após uma transformação física e espiritual, volta à cidade natal, aos costumes, aos velhos conflitos. Não há nada aqui relatado que possa tirar a surpresa do filme, pois logo no início da película, surge a causa pr

CARLOS, O SENHOR DO TEMPO E DA RAZÃO

Eu tenho um amigo que possui um aposto no site de relacionamentos, digamos assim, meio estranho, talvez por absoluta ignorância minha ou mesmo insensibilidade de compreensão, mas de todo modo, chamar-se o senhor do tempo e da razão é no mínimo, excêntrico. Vou falar dele da melhor maneira que conheço, que é escrevendo. Claro, quem vê a expressão, logo percebe que ele se refere ao passar do tempo, às mudanças inevitáveis que ocorrem na vida, nos relacionamentos com os amigos, a família, enfim, a metamorfose que é a nossa existência com o passar do tempo. Eu entendo isso, Carlinhos, mas fica-me sempre uma pulga atrás da orelha, aquela dúvida que coça e pinica e que vira e mexe, se instala na mente e nos faz refletir. Quem influi na tua vida, o tempo, é ele o senhor da razão ou tu és a razão para todas as mudanças, se existirem. Ou as mudanças não são fruto do tempo, mas de nossas escolhas ou não, de nossas trajetórias, de nossas procuras, de nossas percepções em frente à vida ou mesmo