Acho que sou meio parecido com a velhinha de Taubaté, do Veríssimo, que acreditava piamente no governo do General Figueiredo. Eu acredito na Globo e entendo o que o povo que vê TV, pensa como eu. Sabe por quê? Porque eu assistia ao programa Amaral Neto, repórter, lá pelos meados de 1970, mostrando as belezas naturais e culturais do Brasil, além da união que o governo militar trouxera ao nosso imenso país continental.
Ah, nesta época, eu amava a Regina Duarte, que depois da Ritinha, de Irmãos Coragem, passava a ser no ano seguinte, a namoradinha do Brasil com a novela Minha doce namorada. Um primor de pessoa. Sei que ela era assim na vida real: doce, simpática, sorriso amplo e pura! Antes ainda, no tempo dos Irmãos Coragem, ano em que o país ganhou a Copa do México, a tortura ainda era encoberta nos porões dos órgãos de repressão, e o General Médici era um presidente que mantinha um olho nos partidos clandestinos e outro nos campos de futebol. Por coincidência a novela tinha como um dos principais núcleos, o de um jogador de futebol e suas peripécias no campo. Mas novela também era cultura e informação! Tenho certeza disso. Ah, o Brasil foi campeão em 70!
Nas diretas já, a Globo demorou a transmitir os eventos, quando milhares de pessoas foram às ruas reivindicando eleições diretas. Eles eram contra e tinham seus motivos. Imaginem aquela baderna nas ruas, aquele povo sem freio. Era de assustar mesmo! Mas aos poucos, viram que o povo estava muito engajado num espírito de mudança para melhor e que outras emissoras já noticiavam com fervor. Decidiram aderir.
Depois de todas as tragédias, ficou o Sarney . E com ele, a nova moeda, o plano cruzado e segundo o presidente, cada brasileiro deveria ser fiscal dos preços, um fiscal do presidente, um programa em todos os cantos do país. Tudo muito bem encampado (talvez elaborado) pela Globo. Eu e muitos fomos os fiscais do Sarney, porque acreditávamos na poderosa. Ela sempre tinha razão. Se necessário, chamávamos a polícia, inclusive, tudo bem documentado pela TV. Havia até bótons com o slogan, “Eu sou fiscal do Sarney”. Foi em 1986. Em 1988, um tanto desiludidos, ouvíamos a nossa eterna namoradinha do Brasil interpretar a mãe da vilã, em Vale tudo. Ela sempre bondosa e íntegra, a honestidade em pessoa, lutando contra a tudo que representava a corrupção e roubalheira no mundo dos negócios e no Brasil. Eu me perguntava, tal como a velhinha de Taubaté, se existia corrupção nesta época? Ah, coisa de novela!
Apesar de todo o esforço, a coisa desandou um pouco e a TV fazia muitas entrevistas com especialistas em economia para mostrar ao povo brasileiro, que ainda havia uma saída, tal como agora, com estes vídeos de celular, que estão mandando.
Então, para salvar a pátria, surgiu Color de Mello, que se elegeria com a missão de acabar com os marajás e a Globo sempre atenta, apresentou um Globo Repórter inteiro esmiuçando a vida dos marajás, os funcionários públicos que se utilizavam do erário publico para as suas conveniências. Inclusive, no último debate do Lula, ela manipulou, quer dizer, ela ressaltou as imagens e diálogos, dando plena supremacia ao Collor, no JN. Uma emissora que sabia o que era mais útil para o seu povo. Isso, naquele áureo e abençoado tempo em que se assistia apenas a Globo. Prenderam a poupança dos brasileiros, houve escândalos, mortes como a do PC Farias, impeachment, mas tudo acordado e o país prosseguiu na santa paz de Deus. Ah, a nossa namoradinha, em 1990 era uma mulher determinada e forte, que juntava ferro-velho, envolta numa trilha sonora brega de Magal, “Me chama que eu vou”. A rainha da Sucata tentava mostrar ao brasileiro que ele podia dar a volta por cima e vencer no seu negócio (?) . Só que ela se apaixonava por um milionário. É, a nossa namoradinha não era mais a mesma, era brega e desbocada, bem de acordo com a primeira dama da época. E vá amor ao casal “real”. Afinal de contas, os tempos mudam e o que fica é o melhor para o Brasil.
Alguns anos mais tarde, em nova eleição, com o Lula concorrendo, a namoradinha teve medo. Não a personagem, mas a própria atriz, manifestando o seu medo real com a provável chegada de Lula ao poder.
Aos poucos, como a velhinha, comecei a me decepcionar. Houve outras mídias, e muita coisa estranha me deixava com a pulga atrás da orelha.
Muita manipulação, muito apelo, muita tramoia. Assim caminhava a humanidade e quando a Dilma foi presidente, houve até passeata por R$ 0,20 centavos sendo uma manifestação quase diária apresentada pela emissora.
Mas como todos os coxinhas, eu ainda acredito. Não vou me suicidar como a velhinha de Taubaté, porque tenho grupos que me acolhem e até políticos que pensam como eu, como aquele do “ bandido bom é bandido morto”. E depois disso, eu sei que uma emissora de TV não tem nada a ver com a política. Eles apenas informam. Vou ouvir este mortadela, aí embaixo, mas fingir que não ouço pra não lhe quebrar a cara!
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Houve muitos fatos que são por demais conhecidas atualmente, gerando este ódio entre classes. Alguém ainda duvida deste quarto poder? Nem sei se às vezes, não é o primeiro. E muitos atos contra a vida e a justiça virão!
Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/homem-branco-modelo-3d-isolado-3d-1847732/
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