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A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO XVI

Clara passava as cartas sucessivamente nas mãos, como se as animasse num filme, vendo as cenas acontecerem ante seus olhos. Como uma cartomante cuidadosa, que retira uma carta do baralho, enquanto pensa na interpretação, puxou uma delicadamente, estendendo-a sobre a escrivaninha. Ficou ali, admirando o casal de mãos dadas na frente de casa. Dona Luisa, certamente ficaria contente, em vê-la tão entusiasmada com a sua história e principalmente tão interessada em cumprir a missão que lhe coubera. Sabia o quanto havia sofrido, tanto quanto ela, com a ajuda que dispensara a um homem desconhecido, em situação perigosa. Que dia teriam tirado aquela fotografia? Teriam vencido todos os conflitos, todas as dificuldades e oposições, ficando finalmente juntos? Após uma conversa demorada com o marido, Moema fechou-se em si mesma. Viu o médico afastar-se do porão, subindo com dificuldades as escadas que davam para a cozinha e ficou no quarto, imóvel. Até mesmo quando o marido explicou q

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO III

CAPÍTULO III Não havia como recuar, embora Clara se sentisse perdida. Toda a euforia do resgate passara como por encanto. Estava deprimida, irritada consigo, atordoada. Como tirar aquele homem do carro, abrir a porta do prédio e torcer para que ninguém a visse. O vento estava mais intenso, embora não mais chovesse desde que deixara o porto. Começou por etapas, tentando acordá-lo. Agora percebia que ele estava praticamente dobrado em dois, como um malabarista. Encolhido no banco, a cabeça rente à janela e as pernas estiradas para baixo, joelhos articulados de forma a caber os pés sob o assento dianteiro. Puxou a capa, descobrindo-lhe os ombros, surgindo um corpo magro, cuja ossatura se salientava sob um casaco ruço, que mal lhe cobria as costas, tão curto, como se não fosse dele. Usava calças de algodão escuro e um cheiro de suor exalava de seu corpo. Clara tentou acordá-lo, mas não foi necessário. Ele virou a cabeça lentamente, fitando-a da mesma maneira anterior: entre sup

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO II

Resumo do primeiro capítulo (anterior). Todos os capítulos são publicados nas terças e sextas-feiras Naquela noite de muita chuva, vento e frio, Clara chegara ao porto, seu local de trabalho. Enquanto examinava as planilhas dos navios que deveriam ancorar no cais, recordava da desilusão amorosa que tivera com o namorado Bruno, que a deixara por não saber conviver com a rotina de um presumível casamento. Sozinha e triste, ela executou as suas tarefas no navio chegara, dirigindo-se ao porão para a inspeção normal. Assustou-se quando viu um homem escondido, percebendo tratar-se de um clandestino. Lembrando-se da vizinha e amiga, dona Luisa, que na época da Segunda Guerra Mundial, acolhera um refugiado, um tanto confusa , Clara decidira reproduzir a mesma situação. O homem revelava-se muito doente e ela dissera aos guardas portuários, que não havia nada de anormal no navio. Sendo assim, imaginou um plano de retirá-lo da embarcação. A seguir o segundo capítulo de A CASA OBLÍQUA

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO I

Antes de lançar a narrativa longa “A barca e a biblioteca” (que está à venda na Editora Metamorfose, no site http://www.editorametamorfose.com.br )no dia 28/01/2017, próximo sábado na Feira do Livro da Furg, no Cassino, Rio Grande, RS, eu havia criado o romance “A casa oblíqua”. A partir de hoje, passo a publicar os capítulos neste blog, duas vezes por semana, normalmente nas terças-feiras e nas sextas. Trata-se de uma história de amor, suspense e drama. A vida em suas diferentes fases e problemas tão semelhantes. A seguir uma pequena sinopse do romance A Casa Oblíqua e logo após o primeiro capítulo: A vida, às vezes, prepara surpresas, tais como a de Clara, que após uma frustração amorosa vê-se envolvida com um refugiado, recém chegado ao porto da cidade onde mora. Trata-se de um fato muito semelhante ao ocorrido com a vizinha solitária de seu prédio, Dona Luisa, há muito tempo atrás, na época da segunda guerra. Clara então, parece assumir a personalidade da amiga e já não s

PÁSSARO INCAUTO NA JANELA - CAPÍTULO X

HOJE, QUINTA-FEIRA 11/02/2016, CONTINUAMOS O NOSSO FOLHETIM "PÁSSARO INCAUTO NA JANELA" COM O 10º CAPÍTULO. Capítulo 10 Cruzes! Então o velho não se aguenta sozinho, precisa de alguém pra fazer a higiene. Também pudera, aquela mania de falar sozinho em plena janela do apartamento, olhando para a rua, deve ser fraqueza mental. Os neurônios não se coadunam. Pobre diabo! Depois de saber disso, me dá até dó, afinal é um homem doente e tudo que diz talvez não passe de simples imaginação. Coisa da cabeça dele. Esta vida é muito triste para velhos como ele. E como eu, também. Não fosse você, Rita, eu já teria enlouquecido nesta casa, sozinha. Quando Carmem enviuvou ainda me visitou algumas vezes, embora mais preocupada com a casa do que comigo, revirando o passado, criticando o Jaime, censurando até meus pensamentos. A filha que estava no exterior, de feminista radical se transformou em mulher de milionário e esqueceu todas as ideias avançadas que tinha na época. Carmem,