Clara levantou-se, cambaleando. Uma estranha vertigem. Equilibrou-se como pôde, o olhar taciturno fitando a rua alagada. Chovia forte. Um frio intenso a dominava. Estava ainda vestida da noite anterior. Nem sabia ao certo que dia era hoje, mas era uma manhã, pensou. As manhãs sempre são mais suaves, recuperadas das impurezas do dia que já passou. Apertou com as mãos, a gola do casaco. Rosto próximo à janela, bafejo embaçando a vidraça. O amor vai embora, nem espera. – Resmungava. – Vem me consolar, pegar meus braços, sacudir minha vida. Pensava em Saymon. Na partida cadenciada do trem, afastando-se tão lentamente, para não mais voltar. Se pudesse resgatar o passado, voltar atrás, palmilhar aqueles mesmos caminhos. Atravessar o cais e levá-lo consigo. Por um momento, viu policiais lá fora, como na noite anterior em que a espreitavam, quando chegou à janela. Seriam os representantes da gestapo? Queriam aprisioná-la nos campos de concentração, como uma rebelde da ...
Este blog pretende expressar a literatura em suas distintas modalidades, de modo a representar a liberdade na arte de criar, aliada à criatividade muitas vezes absurda da sociedade em que vivemos. Por outro lado, pretende mostrar o cotidiano, a política, a discussão sobre cinema e filmes favoritos, bem como qualquer assunto referente à cultura.