Pular para o conteúdo principal

Não se preocupem com a relação copa – eleição

Não se preocupem com a relação copa – eleição


A copa só teve influência no moral dos brasileiros, em 1970, porque o Brasil era um país de esquecidos. O povo não era nada, não votava, não elegia, não falava, era amordaçado. Mas precisava ser feliz. Era necessário que transbordasse de alegria e acreditasse que tudo estava maravilhoso. Era um país de faz de conta e nada melhor para ocultar nos porões, a  extrema miséria que grassava, a derrocada da cidadania, a morte da liberdade. Nada melhor do que mostrar a todo mundo que éramos um povo feliz, um povo que tinha o melhor futebol do mundo, que conseguira assistir ao vivo pela tv, ao lado da novela Irmãos Coragem que dava 100 pontos de audiência à Globo, a mantenedora cúmplice do status quo de nossa vida política. Neste quesito, a mídia foi talentosa:  realçava a nossa alegria, o  nosso viver bem, embora milhares de pessoas morressem de fome e estivéssemos criando uma dívida pública estratosférica, com uma rodovia fantasma que se dizia ligaria o Brasil de ponta a ponta e enaltecida diariamente por Amaral Neto, o maior publicitário da ditadura. Nosso povo adormecido nem sonhava que se gerava a maior corrupção da história, que somente agora alguns fatos vão surgindo e revelando a sangria em nossa economia. Tudo era tão fácil, que os torturadores tinham um cartão de crédito para gastarem o que quiserem para manter a organização (e hoje, há os que se revoltam contra as bolsas sociais). Tudo era samba e alegria. Mas agora, não se preocupem. O futebol não influencia não tem a menor influência nas eleições, porque tudo é transparente, todos podem democraticamente pensar e opinar o que quiserem sem a mordaça do poder. Em 2002, o Brasil sagrou-se campeão, num ano de eleição e Fernando Henrique perdeu. Portanto, fiquem tranquilos. Se a Dilma ganhar, será por uma contingência politica de aceitação de seu governo pela população, vença ou não a seleção brasileira.  Senhoras nervosas com a seleção, divididas em seu amor pelo nosso maior representante esportivo do País, não fiquem tristes e desiludidas. Não sofram com essa dicotomia. Um coração que arde, que sofre, que torce e ao mesmo tempo sonha com a perda de seu bem amado, o Brasil. Não se punam. Vistam a camiseta verde e amarela. Torçam, torçam à vontade, pois pode ocorrer a vitória de seu candidato. Basta que ele mostre a que veio e seu compromisso com a população, inclusive informando os benefícios de sua administração no passado. Torçam e sejam felizes. O Brasil é maior do que estas picuinhas. Ah, mas se fizerem algum protesto, por favor, não derrubem ônibus, nem queimem pneus ou destruam caixas eletrônicos. Nem participem da famigerada marcha pela família, um velório anunciado. O País não merece.

Comentários

PULICAÇÕES MAIS VISITADAS

Estranha obsessão : um filme de muitas perguntas e poucas respostas

Estranha obsessão (2011), ( pode haver alguns "spoilers" ) em francês “Le femme du Vème” ou em inglês “ The woman in the fifth” é uma produção franco-polonesa, dirigida por Pawet Pawlikowski. Ethan Hawke e Kristin Scott Thomas formam o estranho par romântico na trama de mistério. O protagonista é Tom Richs (Ethan Hawke), um escritor norte-americano que se muda para Paris, para se aproximar de sua filha. Já em Paris, depois de ser roubado, se hospeda em um hotel barato. Numa livraria, é convidado para uma festa, onde conhece uma viúva de um escritor húngaro (Kristin Scott Thomas), tradutora de livros, com a qual mantém um romance. Por outro lado, mantém um romance no hotel, com uma linda polonesa (Joanna Kulig, atriz polonesa). Por fim, é acusado de suspeito por um crime, pois seu vizinho de quarto é assassinado. Para livrar-se da acusação, tem como álibi o encontro com a viúva, em sua casa, porém, a polícia descobre que a mulher havia cometido suicídio em 1991. Mas toda es

Trabalho voluntário no Hospital Psiquiátrico: uma provocação para a vida

Participávamos de um grupo de jovens religiosos, no início da década de 80. Era um grupo incomum, porque embora ligado à igreja católica, recebia participantes sem religião definida, sendo um deles, inclusive, espírita. Formava um caldo interessante, porque os argumentos, ainda que às vezes, estéreis, produziam alguns encaminhamentos para discussão. Era realmente um agrupo eclético e ecumênico. A linha que nos norteava era a solidariedade com o próximo. Queríamos inconscientemente modificar o mundo, pelo menos minorar o sofrimento dos que estavam a nossa volta. Diversos temas vinham à pauta, tais como moradores de vilas pobres, desempregados, idosos do asilo, crianças sem acesso a brinquedos ou lazer. Era uma pauta bem extensa, mas houve um tema que foi sugerido por mim. Tratava-se de algum tipo de trabalho com os pacientes do hospital psiquiátrico. Houve de imediato, uma certa aversão e pânico pelos integrantes do grupo. Classificavam os transtornos mentais a partir da ag

Lascívia

Este conto é um desafio de uma oficina online, sobre a elaboração de um conto erótico com o protagonismo masculino. Carlos estava sentado na poltrona, ao lado da janela, entediado. Quem diria que ficasse assim, depois da reunião com os estagiários e as modelos excitantes que participaram da aula de pintura. Entretanto, nem a aula ou as mulheres faziam-no esquecer o homem que se atravessara na frente do carro, obrigando-o a parar quase em cima da calçada. Por um momento, imaginou tratar-se de um assalto, apesar da aparência de executivo. Mas quem poderia confiar num homem de terno e uma maleta embaixo do braço, hoje em dia? Dera uma desculpa, dizendo-se interessado em saber sobre as suas aulas. Carlos não respondera. Estava irritado demais para explicar qualquer coisa. Levantou-se, pegou um café e voltou a sentar-se, olhando o deserto da rua que se alongava além da vidraça. Não chegava ninguém, era o que pensava. Entretanto, não demorou muito e bateram na porta. Espiou