Talvez pensasse no carnaval do passado, naquelas passarelas da Colombo e da Mal. Floriano, as duas que me recordo dos tempos idos. Lembrar da praça Saraiva, repleta de eucaliptos e foliões mascarados e vestidos de mulher atravessando aqueles caminhos, batucando ou fazendo estripulias entre os transeuntes, tocando apitos e brincando com um ou outro, armando um circo de alegria. Lembrar de meu pai levar-me pela mão em direção à Colombo, atravessando esta mesma praça e eu encantado com os bondes com seus vagões abertos, que passavam ali perto, pela Bento Gonçalves, e vinham repletos de foliões. Lembrar das inúmeras mesas dos bares pela calçada da Colombo, em determinado ponto, no qual serviam os sanduíches, refrigerantes e a cerveja Brahma, cujo single era conhecido por todos: ¨Quem gosta de cerveja, bate o pé e reclama, quero Bhrama, quero Bhrama.¨ Lembrar do bloco de sujos, como se chamava o grupo que acompanhava os cordões carnavalescos, logo atrás da corda que os separava. Eram as mulheres que vestiam roupas masculinas e a máscara de gatinho e os homens, geralmente, vestidos de mulher. Lembrar do Drácula, que via de regra, aparecia em todos os carnavais puxando o seu caixão pela avenida, além de outras figuras folclóricas que faziam a alegria da gurizada e dos mais velhos. Lembrar dos caminhões, os chamados carros alegóricos que traziam as rainhas do carnaval e as princesas, todas fantasiadas a rigor, acenando para os espectadores.
Lembrar o carnaval da Cidade Nova é passear por um passado de muita euforia e encantamento. Era como um aperitivo, bem familiar do grande carnaval da Mal. Floriano, que ocorria à noite. Lá, as escolas de samba, os blocos maiores e até os dos sujos se reuniam e faziam o carnaval agitado e alegre da cidade.
Mas lembrar é pensar que tudo aquilo faz parte da memória, uma memória afetiva, que registrou momentos de criança, sob um olhar sem grande discernimento, mas muita expectativa. Uma lembrança, cuja melancolia apenas reforça uma pequena face do calidoscópio que se tornou o carnaval durante todos estes anos. Uma face que não se distorceu no tempo, mas que contínua nítida e pronta a traduzir o sentimento de que o tempo passa, o mundo evolui em vários aspectos e que a beleza existe em muitos fragmentos de um mesmo contexto, que permanece em nossos sonhos. Sonhos de carnaval.
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