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A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO VIII

Capítulo VIII Clara estava satisfeita com o resultado das pesquisas e o desenvolvimento da dissertação. Estava no caminho certo. Almoçou na universidade e trouxe uma marmita para Nael. Voltou para casa, estacionando à frente do prédio. A temperatura aquecera um pouco e ela foi se desfazendo das roupas ainda no carro. Tirou o casaco, já havia se desfeito das luvas, ficando apenas com o cachecol. Ela desceu rapidamente, cumprimentou a síndica que se preparava para sair exatamente quando ela abria a porta. Tratava-se de uma senhora de baixa estatura, caminhar arrastado e voz grave. Costumava olhar sempre para o alto, embora o interlocutor fosse da mesma altura. Raramente encarava a pessoa, e quando o fazia, olhava de soslaio, parecendo preocupada com alguma coisa alheia a sua vontade. Clara a achava estranha, mas não se preocupava muito com isso. Percebeu que ela queria falar-lhe alguma coisa, por isso perguntou do que se tratava. — Pois é verdade, eu queria falar com voc

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO VI

Agora, porém Clara não poderia voltar atrás, nem abandonar o estrangeiro à própria sorte, além do que estava comprometida até a raiz dos cabelos.   No momento em que decidira ocultá-lo das autoridades, tornava-se cúmplice de qualquer ato ilícito que ele houvesse praticado, além de ferir a ética profissional. Ela arriscara o seu emprego que a habilitava a prosseguir os estudos e manter a situação financeira regular que possuía.   Clara estava preocupada, quando o viu aparecer na porta do gabinete. Teve a estranha sensação de reconhecer nele uma pessoa conhecida, como se fosse um de seus pares, um colega da faculdade, um companheiro de infância. Mas havia algo singular : o sorriso franco, o olhar penetrante, o gesto afetuoso de quem pede ajuda e reconhece com gratidão.  Via nele uma alma instigante, mais do que um homem que agora lhe parecia bonito, vestido naquelas roupas emprestadas, no blusão que comprara, inclusive os sapatos esportivos, que sem dúvida, ficaram enormes em seu

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO III

CAPÍTULO III Não havia como recuar, embora Clara se sentisse perdida. Toda a euforia do resgate passara como por encanto. Estava deprimida, irritada consigo, atordoada. Como tirar aquele homem do carro, abrir a porta do prédio e torcer para que ninguém a visse. O vento estava mais intenso, embora não mais chovesse desde que deixara o porto. Começou por etapas, tentando acordá-lo. Agora percebia que ele estava praticamente dobrado em dois, como um malabarista. Encolhido no banco, a cabeça rente à janela e as pernas estiradas para baixo, joelhos articulados de forma a caber os pés sob o assento dianteiro. Puxou a capa, descobrindo-lhe os ombros, surgindo um corpo magro, cuja ossatura se salientava sob um casaco ruço, que mal lhe cobria as costas, tão curto, como se não fosse dele. Usava calças de algodão escuro e um cheiro de suor exalava de seu corpo. Clara tentou acordá-lo, mas não foi necessário. Ele virou a cabeça lentamente, fitando-a da mesma maneira anterior: entre sup

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO I

Antes de lançar a narrativa longa “A barca e a biblioteca” (que está à venda na Editora Metamorfose, no site http://www.editorametamorfose.com.br )no dia 28/01/2017, próximo sábado na Feira do Livro da Furg, no Cassino, Rio Grande, RS, eu havia criado o romance “A casa oblíqua”. A partir de hoje, passo a publicar os capítulos neste blog, duas vezes por semana, normalmente nas terças-feiras e nas sextas. Trata-se de uma história de amor, suspense e drama. A vida em suas diferentes fases e problemas tão semelhantes. A seguir uma pequena sinopse do romance A Casa Oblíqua e logo após o primeiro capítulo: A vida, às vezes, prepara surpresas, tais como a de Clara, que após uma frustração amorosa vê-se envolvida com um refugiado, recém chegado ao porto da cidade onde mora. Trata-se de um fato muito semelhante ao ocorrido com a vizinha solitária de seu prédio, Dona Luisa, há muito tempo atrás, na época da segunda guerra. Clara então, parece assumir a personalidade da amiga e já não s

A fotografia da vida de Santa - CAP. 23

Capítulo 23 Naquela noite, a polícia foi chamada porque havia um movimento suspeito na casa que estivera há tempo tempo desabitada. Encontraram o corpo de Fernando estirado no chão e nenhuma impressão digital. Entretanto, investigaram com afinco as redondezas e descobriram quem tinha chamado a polícia. O vizinho do prédio à frente, havia visto as pessoas entrarem e sairem da casa e tinha a impressão de que havia algo errado. Os policiais também examinaram as câmeras de segurança na rua, mas não conseguiram ver as placas dos carros. Entretanto, o final de uma delas estava bem nítido e o vizinho ainda auxiliara, dizendo que anotara a placa de um carro, embora não coincidisse com a parte da placa que surgia nas câmeras. Já no âmbito da polícia, analisando detidamente as cenas, puderam constatar que a placa anotada era de um dos carros que parara no local. Dali em diante, foi fácil encontrarem o dono do carro, Alfredo Sampaio. Na manhã seguinte, Alfredo recebe uma intimação para ir à

A fotografia da vida de Santa - CAP. 20

Capítulo 20 Quando anoitece, Fernando retorna para a casa onde decidira residir em definitivo. Uma casa que lhe traz muitas recordações, mas está disposto a enfrentá-las e conviver com elas. Afinal, foi a sua vida durante tanto tempo. Quem sabe, agora, ele a reconstrói e esquece para sempre o trabalho de jardineiro. Sabe que precisa andar na linha, para não voltar para a prisão, pois não suportaria voltar para aquele hospício. Entra em casa e ao ligar o interruptor assusta-se com a presença de Linda, esperando-o na sala. — O que está fazendo aqui? Como a senhora entrou? Linda sorri e aproxima-se para abraçá-lo. A primeira reação de Fernando é afastar-se, mas lembrou-se das palavras de Alfredo, de que deveria ser cínico e não enfrentá-la. Então, dá um leve beijo na testa e afasta-se novamente perguntando como ela havia entrado. — Desculpe, meu querido, não queria assustá-lo. — Mas a senhora me assustou. Como vou imaginar que alguém estará aqui, dentro de minha cas