sábado, julho 16, 2022

Traço caminhos

Quando vires minha mão estremecer, não faças diagnóstico sobre meu estado físico ou emocional. Quando perceberes meu olhar flutuar, não penses que meus sonhos já se foram. Quando ouvires meus argumentos, não te surpreendas com meu desabafo dilacerado. Quando notares que mal me movimento nas noites, não julgues a falta de jeito. Não conheces minhas dores, nem meus pensamentos. Não sabes de onde venho e de meu desamparo. Não peço teu acolhimento, talvez apenas teu olhar. Pode ser assim, oblíquo e disfarçado, pode ser apenas a visão de um segundo. Pode ser um gesto perturbado de um espaço invasivo, mas que não seja hostil. Não precisas falar, nem sorrir. Talvez, apenas que reconheças a minha humanidade, como a tua.

Quando estiver em frente a tua casa, na soleira de tua porta, no toque da campainha, apenas pergunta o que quero. Saberás da minha fome como necessidade básica e também emocional. Saberás que vou além do ser, quase objeto, que perpassa a tua fronteira, sou também alma escondida em vestes precárias, mas que se assemelha a tua. Não quero a tua culpa, nem o teu medo, nem as dores que transfiguram tuas emoções. Sei que somos iguais, as dores não escolhem o sujeito, porque nossa vida é assim, mediana, só isso. A diferença entre nós, é que podes agir, de algum modo. Eu, apenas traço caminhos em círculos e às vezes, num deles, também te encontro. Vivo passivamente, esperando não sei o quê, pois se já tive passado, não tenho futuro.

Que teu ódio não faça de mim, o alvo, mas aos que controlam as armas que nos ajudam a matar.


Iustração: https://pixabay.com/pt/photos/crianças-favelas-pobreza-pobre-2876359/

quarta-feira, julho 13, 2022

Teu olhar

Leva o teu olhar ao passado, como se fosse permitido reverter o tempo. Como se o espaço em que vives, seja o mesmo em que tuas experiências deram sentido ou não a tua vida. Volta, mesmo que a saudade doa e o mar que atravessas não te permita o retorno. Lembra dos que contigo partilharam os mesmos caminhos e deles te distanciaste. Quanto desalento, quanta dor e desamparo.

Quando houve acolhimento? Nos primórdios do país, quando se matava indígenas e se introduzia uma cultura que escravizava, matava e alterava os costumes? Quando se impunha uma teoria jesuítica transformando o homem da terra num ser metamorfoseado por conceitos adversos e estranhos a sua concepção de vida e humanidade? Quando se escravizou homens e se criou castas e distinções de etnia, de cor, de gênero?

Talvez os processos de barbárie ainda prossigam nos mesmos parâmetros, apenas tingidos por tecnologias cujos avanços não se refletem na condição humana.

Mas quem sabe, voltas o olhar ao passado, sem desviar do presente, pois estes se confundem e cada vez mais nos perguntamos, em que espaço temporal vivemos, pois os instrumentos de ação permanecem os mesmos. O homem retrocedeu? Talvez ele nunca tenha evoluído em sua humanidade.


Ilustração: https://pixabay.com/pt/illustrations/gráfico-projeto-design-gráfico-933379/Ilovetigersplanes

terça-feira, julho 12, 2022

Que rompa a aurora

Nascia na floresta um momento. É como brotar do nada, sem que se dê conta. Um gota que cai lambendo o galho verde até escorregar pelo tronco. E ninguém vê, mas a natureza se renova, se reveste, se recria. Um gorjeio aqui, um zunido ali. Um voo no alto, naquela nesga de céu. Um voo raso entre galhos e folhas. Um visgo que brilha nas ervas que crescem. Um cheiro. Um cheiro doce, adocicado, um cheiro de ar. Ar que revigora e se respira. Um gota que cai. Mais uma. Um sopro de vento. Um incêndio. Uma luz, o sol que incendeia, devagarinho, queimando, alvoroçando. Folhas que caem. Tudo se regenera. Tudo vive. Vida. Um momento nunca igual ao outro. Mais um momento que não se pode alcançar. Mas que há.

Até quando experimentaremos momentos, até que o gelo chegue, que o mar, os rios, as águas se unam? O sol se enfraqueça? Ou tudo queime? Até quando viveremos nesta gangorra de respirar e esperar, que o mundo acorde e sobreviva? Que as mentes se iluminem e que se possa romper a aurora.


Ilustração: https://pixabay.com/pt/illustrations/fogo-e-água-mãos-lutar-incêndio-2354583/

quarta-feira, março 30, 2022

Livros

Muito se fala sobre o livro e com muita propriedade. Há expressões das mais variadas que ilustram com perfeição a finalidade, a valorização e a importância do livro.

Kafka fala sobre o livro com certa dureza, mas seu intuito é o de inspirar uma transformação no homem. Vejamos: "Deveríamos apenas ler livros que nos mordem e nos espicaçam. Se a obra que lemos não nos desperta como um golpe de punho no crânio, qual é a vantagem de ler?” .

Os livros devem provocar sensações, deixar marcas, fazer a alma voar e a mente repensar, repensar e deglutir com paciência, quase intolerância, o que recebe.


Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/folhas-café-copo-ainda-vida-livro-1076307/

segunda-feira, janeiro 24, 2022

De reputação ilibada

Quando a via pelas vitrines, sentia um certo frisson ao vê-la assim, tão bem vestida, geralmente de um vermelho vivo ou mesmo um cinza apagado, mas que por detrás daquelas cores, certamente havia grande conteúdo. Por vezes, tinha a esperança de que alguém a trouxesse até mim, mas era apenas sonho. No tempo, em que elas iam de casa em casa, e muito bem consideradas por sua reputação ilibada, geralmente eram aceitas e passavam a fazer parte da família. Naqueles tempos, em que não se tinha internet, a sua chegada era como a visita esperada, a companheira para todas as horas, o cultivo da sabedoria, do conhecimento e da curiosidade. Era como se viesse de um grande centro, de uma metrópole e após horas de viagem, trouxesse toda a bagagem de erudição, ciência e saber e nos revelasse enfim, o ápice de toda a informação armazenada pela humanidade.

Às vezes, eu a via em bibliotecas, consultórios médicos, casa de amigos ou mesmo em livrarias. Parecia chamar a atenção entre os demais, insinuando-se pela roupagem e pela enorme sabedoria que continha. O tempo passava e ela aos poucos, se tornava um sonho distante. Até que em dado momento, veio até mim. Aproximou-se devagar; bateram à porta. Eu vi apenas seus retratos, folders e folhetos com relatos de suas experiências. Era como uma ferramenta eficaz, um instrumento apto às maiores ambições e nada parecia menos importante do que ela. Esperei quieto, acomodado até que meu pai a avaliasse. Não a via ao vivo, ali, em nossa sala, apenas recortes imprecisos do que era. Para mim, não interessava. Queria-a perto, próxima, de tal modo que pudesse tocá-la, observá-la, admirá-la e aguardar que me revelasse o mundo. Mas parecia difícil, o encontro.

As horas passavam, as conversas se acumulavam, o mundo ruía e se reconstruía em segundos. Até que acerto daqui, acordo dali, promessa cumprida e ela estava a passos da porta de entrada. A casa a recebia de braços abertos. Estava assim, de vermelho, com um cinto dourado que lhe circundava o corpo. Sentia o seu cheiro, um aroma suave e novo, que poucas vezes eu havia sentido. Esperei um pouco para aproximar-me e chegar a vez de ter um contato mais próximo, real, verdadeiro. Era francesa, embora estivesse no Brasil, desde 1960. Podia adivinhar um “la vie rose”, ou “non, je ne reggret rien” para lembrar Piaf ou “no me qui pass”. Talvez encontrasse ali uma Brigite Bardot ou o Louvre ou Orsay, mas muito além da França, o mundo à minha espera. O Brasil inteiro à mão. A história sob todos os temas, o presente, o passado e o futuro. A vida pulsando nas capitais ou a mansidão das pequenas cidades, os grandes vulcões, as catástrofes, a guerra, as religiões, a política, o medo, a fome, as pragas, as ilusões, o amor, a vida, a morte. A esperança. Tudo estava ali, a um passo, bastava aproximar-me, sentir aquele cheiro suave, tocar-lhe delicadamente e admirar a sua majestosa possibilidade de sonhar. Foi quando a vi instalar-se na única estante da casa. A nossa Delta Larrouse.


Fonte:https://pixabay.com/pt/photos/paris-montmartre-caminho-calçada-3193674/

sexta-feira, dezembro 17, 2021

O Natal de Michael José



Michael José surgia na rua morna naquela tarde de dezembro. Nem uma lufada de ar, nem uma brisa desavisada para uma véspera de Natal. Era de um ar apertado, quase desconforto. Digo que ele surgia, porque pessoas como ele não transitam pelas ruas, não passeiam, não caminham por um objetivo específico. Michael José surgia do nada, porque para nada ele era designado. Na verdade, achava-se um ninguém, no meio daquela apatia e desapego. Nada o acolhia, nada o libertava de si mesmo, nada mexia com o seu interesse. Era um desamparo que o consumia desde muito cedo, provavelmente desde a infância, se é que a tivera. Também não havia ninguém nas ruas do centro. A cidade estava morta, esperando as celebrações da noite. Ele também estava morto, há muito tempo. Talvez para ele, a data estivesse errada e em vez de Natal, fosse sexta-feira santa, sem ressureição. A vida, para ele, não passava de um eterno domingo de ramos, no qual festejavam o Mestre, para o apedrejarem depois. Ele, ao contrário, não fazia parte de nenhum grupo, nem dos que homenageavam, nem dos que insultavam. Não se encaixava, não se adequava e seu estranhamento com a vida, persistia desde cedo. Talvez fosse o jumento desajeitado que apenas cumpria a rota determinada.
Mas uma coisa incomodava Michael José, isso ele não tinha como negar. Era a fome. A fome era o seu horizonte, o seu registro apagado, o seu prato preferido, o seu discurso não dito, a sua voz inaudível. Talvez fosse o recrudescer dos sintomas, dos períodos em que a morte sinaliza a vertente que deságua em seu sangue, suas veias, suas pupilas, seu coração. Uma dor tão intensa que a fome é só mais um delírio, uma vontade de sumir em qualquer vala que valha seu corpo esquálido. Uma dor premente. Olhar o caminhão de lixo que se aproxima e pensar que pode ser uma parte daquele entulho, produz uma agonia de não ser alguém, de não fazer parte, não ter. Uma inadequação sem saída.
O caminhão foi mais rápido do que ele, não sobrara nada, nem uma latinha, um resto de yogurte ou gotas de Coca-cola, com a garrafa vestida de um Papai Noel corpulento, de bochechas vermelhas e olhar complacente. Por um momento, ele viu o velho sorrir em sua mão, mas só por um momento, porque avistava apenas os dedos trêmulos e escurecidos pela sujeira.
Michael José precisava seguir em frente. Por isso, surgiu novamente em outro ponto da cidade, num canteiro florido da praça, cuidado com esmero para pessoas como ele não sentarem ali. Que entendia Michael José de beleza, de estética, de harmonia? Sua cara poderia ser a representação da pintura de Edward Munch, O grito, cuja figura revela uma profunda agonia e desespero. Seus olhos vermelhos e esbugalhados, quase o avesso da visão, sua boca murcha e dentes podres. Pobre Michael José, quem teria piedade? Ao contrário, o temiam e se pudessem, rasgavam aquela cara encardida para que se afastasse de vez dos locais onde as famílias de bem se encontram, assim como eliminar qualquer resquício que fosse a sua presença. Ele não disse que os seus dias eram todos domingos de ramos, só que para ele, sem os elogios e celebrações, apenas o apedrejamento tão próximo.
Mas Michael José também pensava no Natal e ao sentar ali, tão próximo do canteiro florido, teve vontade de chorar. Pensou na mãe, nos irmãos, no padrasto, no terreno baldio em que construíram a casa, o arranjo de tábuas e pregos, que ajudou a pôr em pé. Quando anoiteceu, eles pararam para festejar o Natal. O padrasto já bêbado, mas tudo bem, era seu direito. A mãe cozinhou no feijão duas latas de leite condensado que tinha ganho na campanha. Foi o pudim do ano. Quando todos comeram, ficaram olhando para o céu e imaginando como seria, quando finalmente morassem na casa em construção. Michael José teve, pela primeira vez, um sentimento de compreensão do todo, de fazer parte daquele mundo, quase uma epifania. Foi seu primeiro Natal. A festa durou aquela noite. Na mesma semana, a prefeitura derrubou a casa por estarem em terreno da União. E não houve qualquer medida social de acolhimento por parte do governo. Mesmo assim, Michael José lembra, foi um Natal feliz.
Agora, ele quase dormiu e foi acordado abruptamente. Não entendia se se tratava de um delírio, o efeito rebote da droga mais intenso ou se estava sendo preso. Olhou para o homem sem ouvir o que ele dizia. Avistou ao longe, alguém que parecia um fotógrafo, que se desvencilhava dos apetrechos e observava o lago, as flores, os pequenos canteiros, as árvores milenares. Ele se aproximou e ficou ao lado do outro. O outro era um policial. Mas não era noite de Natal, que faziam eles ali? A praça estava tão vazia que nem perigo dele cometer algum delito, havia. O homem insistiu para que levantasse e sumisse dali. O fotógrafo investiu-se das câmeras e ligou o flash para refletir as florezinhas que desandavam pelos entornos. Deviam abrilhantar o Natal que logo começava. 
Michael José obedeceu com esforço, tentando levantar-se, titubeando entre se apoiar no canteiro, no banco próximo ou no policial que o aguardava. Seus olhos não se adequavam àquelas luzes fracas, seu coração não se integrava ao Natal que chegava. Por isso, se afastou como devia, era o que lhe bastava. Um Natal que não era o seu. 


Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/viciado-v%C3%ADcio-dependência-de-drogas-2713526/

segunda-feira, setembro 27, 2021

O lado bizarro da alegria

O poeta tinge de cores fortes o que produz a mente, o escritor descreve o que seu sentimento aviva, enternece, destrói. Usa da palavra como adaga, faca afiada que lhe corta de modo cirúrgico a dor mais profunda, que o dilacera e o fragmenta. Não é possível falar de modo prosaico das cores primaveris, dos sorrisos das crianças que se enfeitam entre jardins e esquinas, dos jovens que se encontram, quando a máscara serve de anteparo à dor, à morte, ao medo. Não é possível a mesmice da alegria das borboletas, quando uma sombra obscura tolda o horizonte, por mais otimistas sejamos, por mais que tentemos ser felizes e descolados da realidade.
Mas eis que está aí, ante nossos olhos e corações e ao termos empatia, sentimos tão forte a dor, que nos encolhe e desaparece qualquer beleza primaveril. Dizem que o poeta é melancólico? Que o escritor é pessimista? Mas o que é a natureza, se não a humanidade que a compõe? O vírus faz parte da natureza. Os vermes e bactérias também. O mundo subterrâneo e destrutivo desencadeador de terremotos e tsunamis, também. Ou não são os raios, as tempestades, alagamentos e nevascas, elementos estruturais da natureza?
Dói presenciar nos pezinhos distraídos de crianças faveladas, afundando na lama das enchentes, com a barriga vazia e o olhar perdido dos que não têm futuro. E as patinhas dos animais queimados nas florestas, perfazendo estatísticas de fauna dizimada, transformados em cinza e dor? E a flora, se exaurindo na fornalha, dando cor ao deserto de morte injustificada? Não fazem parte da natureza?
Benditos poetas, escritores, cantores e artistas que cantam e revelam a natureza, sem os matizes da ufania abstrata e cínica que somente enxerga um lado. O lado bizarro da alegria, quando há tanta dor!

Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/cervo-floresta-incêndio-1398064/

terça-feira, agosto 24, 2021

Quase parente

Ela nem tinha chegado aqui e eu já me emocionara com a sua presença. Era forte, altiva, esclarecida e divertida. Nas poucas horas em que tínhamos contato, na verdade, eu que ficava hipnotizado por ela, meu dia ficava mais festivo. Ou melhor, a noite, o período em que realmente nos encontrávamos na casa de uns amigos de meus pais. Depois, passávamos praticamente uma semana sem nos vermos. Até que chegou o grande dia. Ela apareceu majestosa, imponente, tomando conta da casa como se fosse uma visita. Uma visita esperada, aguardada e que já tomava ares de hóspede eterna. Ficava no melhor lugar da sala, defronte ao sofá, onde permanecia mais exposta e parecia estar sempre pronta ao diálogo. Diga-se, a bem da verdade, que às vezes, parecia indisposta, um tanto alheia e embora fizéssemos o possível e o impossível para que correspondesse, não dava as caras. Mas nunca a censurávamos, ao contrário, ficávamos felizes quando ela voltava. Muitas vezes, não foi exclusividade minha, amigos apareciam e ansiavam desesperados pela sua presença. Outros estranhos, a espiavam pela janela. E em ocasiões especiais, grandes eventos, como a copa do mundo, a janela ficava desenhada de cotovelos estranhos, olhos fascinados com a sua presença. Com o tempo, ela ficou atrevida, não era mais uma visita, muito menos uma hóspede transitória, era um de nós, quase parente. Tornou-se tão à vontade que começou a ficar não apenas na sala, mas transitou da cozinha ao quarto, imaginem. Sua presença tornou-se cada vez mais íntima, a ponto de não descolarmos de suas projeções. Mas o tempo é duro para todo mundo, e ela envelheceu e apesar de estar praticamente em todos os lugares, foi se tornando quase obsoleta, dando lugar a outras mais jovens e fagueiras. Agora, talvez o streaming a salve e restitua a sua imagem daqueles tempos da velha TV de nossa infância.

domingo, junho 27, 2021

Como um androide

Ando pela cidade como um estrangeiro num país estranho e hostil. A passos largos, enfrento os caminhos que sempre me foram tão familiares. Sentia-me em casa. Andava pelas ruas como uma extensão de meu quintal.
As pessoas eram apenas pessoas conhecidas ou não, um público que se avantajava na direção do centro ou dos bairros. Quase não percebia seus rostos, porque me era natural observar assim, preocupado com meus afazeres. Algumas cumprimentava, quando considerava conhecidas, outras me aproximava porque eram amigos que fortuitamente passavam por mim. Ou era aquele vizinho, quando morava em determinada rua ou mesmo o dono do boteco da esquina, ao qual eu conhecia há muito tempo. Agora, já não vejo estas pessoas, paira uma ameaça no ar, um medo que se agiganta e que me deixa inerte. Um pânico do vírus que assola nosso país e o planeta inteiro. Parece que aqui, ele fez moradia não tão temporária e insiste em se replicar como um androide de um filme sci-fi .
Também assolam os pensamentos as teorias vis e insanas que desinformam a população, assolam o mau ou não-uso de máscaras e precauções, assolam a prescrição de medicamentos sem comprovação científica, assolam as mentiras, as farsas, as corrupções nas altas esferas do poder. E por tudo isso, assolam as mortes e o medo que nos acompanha.
Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/corona-mundo-máscara-v%C3%ADrus-doença-4912807/

segunda-feira, maio 17, 2021

Quando a noite se aproxima

Quando a noite se aproxima, assim tão lenta e desesperançada, me pergunto por ela. Será que pensa como eu, que sente as mesmas dores, os mesmos males e febres infindas? Será que vela com pensamentos escusos achando que a noite passa e tal como veio arrastada, se afasta e se nivela ao mar, com sol, luzes e sombras? Será que a voz da noite responde e detém meu sangue agitado? Será que provoca o caos, que ocupa as vielas escuras e as transforma em caminhos?

Talvez o muro se rompa e a vida que outrora parecia embaçada, se encha de luz e os homens se encontrem e liguem os princípios tão próximos e distantes, tão aparentes e ocultos, tão coletivos e solitários.

Quando a noite se aproxima, assim tão rápida e confiante, me pergunto por ela. Será que abrirá as comportas e mostrará a força que possui? Será que vigia acordada e zela cuidadosa o sonho que carrega consigo, como o filho primogênito recém-chegado? Será que se aproxima acesa como lamparina trêmula ao vento sob mãos frágeis, mas determinadas?

Não sei. Quisera que a noite fosse apenas a passagem de brumas macias sob um horizonte ditoso. E que tudo não passasse do olhar de sentinela do sol, que já está por vir. Tenho medo porém, que a noite não passe e o sol se afaste para bem longe do nível do mar, ficando tão fraco que já não mais o sintamos. Que a sua voz se cale.


Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/lua-mar-lua-cheia-reflexos-de-luz-2762111/

sexta-feira, maio 14, 2021

Não posso calar

Como falar dos dias tranquilos e ensolarados do outono, das tarde agradáveis e noites frias. Como falar das folhas amarelando pátios, calçadas e ruas? Como falar das aves que se apropriam dos espaços agora um tanto vazios e se mostram encantadas e encantando na sua beleza natural e avidez de liberdade e alimento? Como falar do vento que cria e recria dunas, que as destrói e reconstrói, que as troca de lugar e potencializa caminhos, às vezes mais arenosos, às vezes mais úmidos pela água do mar. Como falar das pequenas flores que se erguem submissas ao vento, calmas entre as depressões ali mesmo nos cômoros quase ondulantes? Como falar das ondas do mar, que se ajustam ao entardecer conservando vagas platinadas, quase translúcidas num avantajado azul? Como falar das gaivotas que riscam o céu, tão próximo ao mar que quase o tocamos, esticando o braço, esperando o pousar entre o céu e a mão nas garras molhadas e o bico salgado da pesca habitual. Como falar da lua que surge lenta e cordial, aparecendo de improviso neste céu quase tocado, compartilhando os raios fugidios do sol. Como falar da natureza que nos agracia com os sabores, perfumes, visões, imagens, cores e beleza? Como não falar dos homens e mulheres, cujas lágrimas se esvaem em súplicas, medos, dores e desesperança? Como não falar dos corpos que se amontoam numa guerra cujos generais salvaguardados em seus vis propósitos genocidas, se fartam e se empanturram em desejos de morte? Como não falar do número devastador de vidas perdidas diariamente numa pandemia cujo elemento principal é o negacionismo, o confronto com a ciência e o interesse perdulário das religiões? Como calar neste outono sinistro, onde parte da natureza se decompõe como traste sem serventia? Como se a vida nada mais importasse? Como calar ante o genocídio de um governo criminoso? Como calar e consentir na insanidade, sem se sentir culpado pelo silêncio? Como calar ante a dor de milhares de pessoas que não tiveram a chance de sobreviver, nem ao menos de procurarem ajuda? Como calar ante a dor da miséria, das crianças que morrem de fome, de ilusão, de sonhos? Dos adultos desnorteados ante a impotência? Como calar? Não. Não posso calar. A ferida é cruel e fere como fogo.
A ferida se alastra pelo País. A ferida vai muito além de nossa realidade. A ferida é. Está. Permanece. E não há quem a cure. Por mais que a natureza se esforce todo o dia renascer em sua beleza, há uma parte da natureza que agoniza e morre. Morre com ela o silêncio. Morre com ela, a beleza. Morre com ela o renascer, o reviver, o recriar, porque a morte é absoluta. Então, como falar na natureza e calar nesta parte que se consome e se destrói diariamente. Não. Não posso calar.

Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/outdoor-grama-verão-campo-3202494/

quinta-feira, maio 13, 2021

Onde ficou a poesia?

Onde ficou a poesia? Onde ficou a ilusão? Perdidas numa esquina qualquer, sem sonhos nem saudades a serem desfrutadas? Que se curte agora? A chacina no Rio? A morte de homens negros? O desvio de verbas endereçadas a kit de medicamentos e aparelhos, em plena pandemia? A morte de milhares de pessoas diariamente? O descontrole de um governo que debocha da morte que não lhe pesa nas costas, porque não as assume? Porque as deseja com espírito assassino?
Onde ficou a poesia onde só há dor? Onde ficou a alegria onde só há morte? Onde ficou a segurança e a confiança, onde só há descalabro? Onde ficou a verdade, onde só há fake news?
É uma dor contínua, que agoniza ante nossos olhos diariamente.
Uma dor que nos invade, que nos impede de sonhar, de sorrir.
Uma dor que nos deixa inerte, sem espírito de luta, sem esperança.
Pois quem devia alertar a população, produzindo campanhas de vacinação e isolamento social, quem devia comprar vacinas desde o ano passado e não o fez, quem debocha de países que nos proporcionam os insumos de nossas vacinas, está inerte, preso em suas opiniões insensatas, frágeis e desonestas. Como pensar em poesia, em música, em belos dias e outonos floridos, se a agonia de nossos irmãos bate quase que diariamente a nossa porta.

quarta-feira, maio 12, 2021

Mãe no jardim

Às vezes, lembro a velha janela de veneziana e postigos verdes. Observava os rodamoinhos, folhas que giravam numa agitação festiva e alguns sacos plásticos efetuavam rápidos vôos para mergulharem em seguida na calçada ou no meio do rua. O vento fustigava a janela. A tarde era melancólica.
Minha mãe passeava entre as dálias, diversas begônias, umas com folhas riscadas de vermelho, outras com um verde mais intenso, algumas com pendões de flores azuladas, além de uma roseira de rosas pequeninas que ela insistia que se grudassem ao muro. Brigava com as formigas que rendavam as folhas, lutava no pequeno jardim, no qual canteiros simbolizavam o seu afeto e dedicação pelas plantas.

Havia arbustos maiores, a tal da Eva e do Adão, com folhas imensas, bem desenhadas e muito verdes. E as hortênsias? As hortênsias eram o seu xodó, sempre floriam na hora certa e mudavam a cor conforme a distância entre elas. Se havia hortênsias rosas próximas a azuis, elas trocavam de cor. As rosas mais azuladas e talvez as azuis um tanto brancas, não sei. Havia o jasmim, este já no corredor, ao lado da casa. Tinha um perfume poderoso e era cultivado com muito cuidado. E os brincos-de-princesa, flores vistosas, em forma de um pequeno vaso, com pétalas roxas e vermelhas. Não tenho certeza. Havia os dias de calma.
Os dias em que a janela permanecia aberta e dali, se apreciava o jardim, a rua, a calçada, os meninos brincando. Havia dias de pouca brisa, mas que investigava a sala, as cortinas de voal (voil) que lambiam o peitoril da janela e desenhavam pela casa pequenas sombras que se espraiavam pelas paredes.
Às vezes, havia uma vela, bem ali, perto do peitoral da janela, acendida para algum santo, talvez para comemorar alguma dádiva, não sei. O vento leve, mas assobiava no corredor, vez que outra. Ele vinha e ia e a chama se deitava, oscilando de modo a quase apagar-se, mas resistia e coloria de vermelho a proximidade da cortina, quando o vento amainava. Ficava forte, como a fé que ora se deslocava pra lá, ou pra cá. Ora se enfraquecia, ora se fortalecia e iluminava o ambiente, como a vela. A vela apropriada.
Por vezes, a via por ali. Ou por todos os lugares, ocupando todos os espaços. Ficava entre as flores, a luz da chama iluminando, resistindo aos ventos fortes, oscilando entre a fé e a alegria, buscando. E sua busca não cedia, não esmorecia, tal como a vela no velho castiçal de bronze. Ãs vezes fraca, titubeante, às vezes forte e iluminada.
Ainda a vejo ali, atravessando os pequenos canteiros, aproximando-se da sala e puxando as cortinas com cuidado, fechando os postigos, as venezianas e lacrando a janela verde, porque o vento agora surgia forte e poderoso. Hora de respeitar a natureza.
Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/anêmona-azul-flor-pétalas-verão-2396299/

sexta-feira, abril 16, 2021

Folhas


Folhas caem lentamente

Pairam algumas, seguem devagar a corrente

Parecem sonhar

e mergulham como plumas no ar


Folhas caem lentamente

Trazem consigo olhares e nostalgia

Talvez de um passado recente

Ou de uma vontade vazia


Folhas caem lentamente

Aproximam-se do chão e das raízes

Pesam na grama impunemente

Ou se debatem em rodamoinhos, às vezes


Folhas caem lentamente

Transformam a realidade mais bonita

Não importa se afofam o chão clemente

Se a árvore fica fria e despida

Se os grãos viram semente

Apenas que o outono abranda a desdita

Fonte: https://pixabay.com/pt/users/rihaij-2145/

sexta-feira, março 19, 2021

O guri


Quando o vi pequeno e raquítico, não soube executar nenhum gesto.

Quando o vi mal abrir os olhos na luz ofuscante da manhã, quase me afastei acovardado.

Quando o vi, faminto e maltratado, quase chorei sentado em minha complacência.

Então, pedi, suplicante.

Não acorda guri, mesmo aqui, sob a marquise nesta calçada suja.

Dorme guri, não vale à pena acordar.

Dorme e sonha.

Com que sonha o guri sozinho, se não uma porção de sorvete e balas de goma?

De que vive o guri na rua, se não de sonhos? Terá ainda sonhos, o guri?

Tenho eu, empurrando com os pés o saco de latinhas amassadas. Sonhos sinistros e medo de acordar.

Medo que ele se aproxime e sua baba, sua fome, sua sede e seus sonhos respinguem em mim.

Medo que tenha de enfrentar a dor dos outros, de mastigar sozinho as horas solitárias pelas quais passa, medo de pensar e me sentir menos humano do que ele.

Por que levar a comida na geladeira de rua e sair correndo com medo da proximidade? Talvez a pandemia explique, mas não convence.

Meu medo é muito maior ainda, o medo de entrar em seus sonhos e não dormir nunca mais!

sábado, março 13, 2021

Mudez

Fico calado. Não tenho o que dizer. O silêncio, às vezes, é uma benção. Pelo menos para os que dividem, não argumentam, nem ouvem. Mas ficar calado, não impede a ansiedade e a frustração. Estas aumentam, devoram-nos e num círculo vicioso, nos fazem calar ainda mais, embora nosso coração grite de angústia e dor.

Há tanto o que dizer! Mas quem há de ouvir? Quem se interessa? Há tanto a pedir, há tanto a lutar! Mas a luta parece inglória. Perdemos sempre. As ondas virulentas se sucedem, tão fortes e resistentes quanto o ódio. Nada importa. Não importa que nossos irmãos morram, agoniados, sem ar, sem força, como animais desamparados ao relento. Não importa, que muitos passem fome, e se espalhem pelas favelas como moscas contagiosas, onde não lhes é permitido qualquer brecha de vida ou esperança. Não importa a morte porque ninguém é culpado, ou melhor, todos são, com exceção do governo. Este que lidera com intolerância e ódio genocida a uma legião de “homens de bem”, parece estar muito tranquilo com sua consciência.

Por isso, fico calado. Minha mudez talvez seja uma covardia, mas sinto que entreguei os pontos. Não por ele, mas pelo povo que o acompanha.

quarta-feira, janeiro 20, 2021

Motor estagnado

O homem sonhou que atravessava a lagoa e de repente, o barco parou bem no centro, entre as ilhas e o cais, como se fosse uma imposição dos dias atuais.

Não, não era na direção de São José do Norte, nem na direção do centro da cidade, por ali, perto do mercado público. Na verdade, era um pouco mais longe, lá pelas bandas do bosque. E o cais, que ele chamava, não passava das margens arenosas que cercavam seu quintal aramado. Estava lá, entre dois pontos. A referência da margem da casa e a ilha defronte. Talvez fosse Porto do Reino, pensou. Não, ele não pensou, ele sabia.

Ficou ali parado, pensativo, sem qualquer reação. Nada que fizesse, produzia algum movimento no barco. Motor estagnado.

E as águas também não fluíam, como o tempo. Tudo parado, quieto. Estranho. Mas estava vivo. Talvez tivesse uma iluminação, pensou, embora soubesse que era um sonho. Ele estava dentro do sonho e não conseguia acordar, mas sabia que estava dormindo.

O céu parecia aproximar-se do barco, trazendo um foco de luz que brilhava ante seus olhos, agora um tanto aflitos. Ficaria eternamente ali, naquela posição?

De repente, um pequeno movimento. Um barco que se deslocava da margem, ao longe, lá, naquela região, um tanto escura. Também vinha outro da margem oposta, bem em sua direção, tal como o primeiro, como se houvessem combinado entre si.

O homem olhava para os lados, apreensivo. A luz na sua fronte aumentava e uns pequenos raios teciam arcos-íris nas leves ondas em formação. Sim, porque tudo agora se mexia lentamente.

De repente, outros barcos foram surgindo do nada e aos poucos, se cruzavam como se estivessem numa procissão esperando a santa padroeira. E no movimento dos barcos, o barco do homem começou a se mover também, embora sem sair do lugar. Apenas o movimento resultante dos demais. E vários foram tomando conta e chegando perto, cada vez mais perto, até emparelharem com o dele e fazendo uma aglomeração de barcos enfileirados.

Quem os visse através da visão de um drone, por certo achariam interessante aquele cenário.

O homem compreendeu então que sua missão chegara, enfim, e ele começou a rezar e a agradecer a presença dos barqueiros. Todos abaixavam a cabeça quando ele, sem perceber que tinha uma ótima oratória, fazia um discurso convincente e produtivo. Só então percebeu que naquele barco sozinho e triste, havia luz e esperança. E agora, que estavam todos juntos, a luz diminuía aos poucos e uma neblina surgia, assim como nuvens escuras toldavam o céu. E ele nunca mais viu aos que se referia. Do sonho? Entubado, nunca mais acordou.


Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/pôr-do-sol-oceano-barco-humano-mar-3689760/


Se o Natal chegar

Se o Natal chegar e eu não estiver preparado. Ele vem de mansinho, se avizinhando em nossos pensamentos, sentimentos e corações.

Se o Natal chegar e ainda estiver em dias atribulados, assustados, perdido em promessas que se esvaem em cada pronunciamento, em cada desfavor que fazem à população, em cada mentira degradante que se alastra em grupos de WhatsApp, em cada ficção de nos tornarmos robôs com DNAs estranhos, catapultados dos alienígenas chineses, sim, parecem que eles nem são da Terra e imagem, vermelhos!

Se o Natal chegar e eu ainda estiver neste impasse, de me encontrar embatucado com tanta mediocridade, tanta falta de noção ética, moral e científica.

Se o Natal chegar assim, de mansinho, se avizinhando, quem sabe, eu esqueça por um dia, umas horas, que a ficção é o tempo decorrido antes do Natal e depois, e que agora é a realidade, que vai além das fronteiras do olhar midiático, das redes sociais, dos pronunciamentos falsos, dos desgovernos, das mentiras.

Então é Natal e as máscaras devem ser somente aquelas que servem para nos proteger e não as impostas pela sociedade nefasta dos interesses de poder.

Então que o Natal chegue, devagarinho, sussurrando e se avizinhando em nossos pensamentos e corações e que pelo menos, agora, nestes momentos, sejamos íntegros para aceitar a paz que ele nos traz.


Fonte da ilustração:https://pixabay.com/pt/photos/natal-bolas-de-natal-1867281/

sexta-feira, outubro 23, 2020

A bailarina

Rodopia, brinca, vive

Leve, suave, brisa que envolve

Fugaz, matizes diversos, entoa

Música que dança na pontas dos pés.


Vive, brinca, rodopia

Sonha com brilho, ribalta, luzes

Desperta olhares, gigante no foco

Diverte-se assim, brinca conosco.


Brinca, vive, rodopia

Descarta dor, metamorfoseia em sonho

Beleza, alma solta, brisa, frescor de sol.


Brinca, rodopia, vive

Disfarça a realidade, finge ser poeta, anjo, meretriz

A bailarina é atriz.

quarta-feira, outubro 07, 2020

Onde ficava a dor

Precisava sair e ver de perto aquelas crianças que sorriam, corriam por terrenos baldios, fingindo que eram campos de futebol e se perdiam alegres na experiência do sol. Então, me perguntei angustiado, onde ficava a dor? A dor dos que se consumiam em contas, em brigas rebuscadas, em tons alternativos de valentia e medo.

Onde ficava a morte rasteira que rondava os condomínios abarrotados de perfis estranhos e desconfiados. Por que não se sabia seus nomes? Por que as crianças brincavam felizes? A felicidade não tinha ambiente naquele meio.

Ela até vinha devagarinho, teimosa e se alojava naqueles olhos febris, nos corações vigorosos de quem corre e pula e brinca e se esfarela em sonho e esperança. Que queriam as crianças da favela? Por que se alienavam da fuligem dos fogos em fundos de quintais, de calçadas quebradas e veias dispersas de águas turvas e nojentas. Por que ultrapassavam a borra das valetas imundas, enlameadas de dejetos e o que mais entulhava as valas dos porcos?

Do que se alimentavam as crianças que sorriam felizes e rápidas, do pouco de luz que brilhava em suas testas reluzentes de suor? Por que se confundiam com os esgotos e os zumbis que cercavam as vielas sem arame? Por que não eram observadas? Faltava pouco para os holofotes brilharem em seus rostos, mais do que o sol, a risada fora de hora, o brilho da felicidade intrínseca.

Eles estavam chegando e mais cedo ou mais tarde acariciariam seus cabelos revoltos, sorririam com seus dentes de porcelana e os abraçariam, sentindo seus suores, ranhos e lágrimas. Ouviriam seus gritos, sem lamúria, sem dor, só sorrisos e esperanças. Depois se afastariam, como homens de preto para voltarem só daqui a quatro anos.

Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/menina-menino-irmão-pobre-favelas-2754233/Billy Cedeno

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