quarta-feira, junho 12, 2019

Entrevista ao vivo Gilson New New



Entrevista com a renomada jornalista Jussara Souza, em 2012 sobre um pouco de minha trajetória literária, abordando principalmente o romance "O eclipse de Serguei".

sábado, junho 08, 2019

A bruma que apascenta

Que quisera eu agora? Que quisera saber do mar, das ondas que rebuliçam no cais, nos degraus que servem de apoio aos homens que chegam com mais facilidade em suas embarcações? Que me importam as oferendas com quindins, algumas velas e garrafas de aguardente? Talvez elas digam alguma coisa a quem procura afeto e fé. Não sei.

Mas, e as vísceras de peixe atiradas nas águas, como se fosse a regra, livrar-se do entulho que deveria ir para o lixo orgânico?

Que quisera saber dos pensamentos, dos desejos, das buscas e sonhos dos que jazem por ali, sentados atrás de colunas ou postes fumando um baseado e olhando perdidos para a lagoa. O que buscam em seus sonhos se é que os tem?

O que importam os gritos da mulher que vende balas ou doces ou pastéis, ou quaisquer outros alimentos, enquanto se sente de algum modo ultrajada pelas cobranças dos vendedores estabelecidos, bem a sua frente?

Que importa a maré de pessoas que descem da lancha e se dispersam rumo às casas, lojas, talvez bancos ou bares. Quem sabe, levam consigo a brisa da qual fizeram parte na lancha, ou a dispersam pela bruma que as apascenta.

Que importam os meninos que se agrupam junto ao cais, na brecha dos guardas municipais, para mergulharem, talvez na única praia em que são valorizados. Uma praia que não é praia, apenas aventura na lagoa e exibição de corpos e potências, força, vitalidade e luta pela sobrevivência do orgulho! Para quem tem tão pouco, talvez.

Por outro lado, olhar para o homem de saias, patético e triste, não pela maneira de se vestir, mas pela deterioração da lucidez que aos poucos desaparece. Pior ainda, observar os risos, as palavras de baixo calão, o olhar acusador de quem julga o que o seu interior experimenta.

Por outro lado, perceber o motorista irritado, na picape destinada ao campo e ao off road, com grandes motores a diesel e tração 4x4, entretanto preferida pelos citadinos em plenas ruas centrais, ocupando o espaço de dois carros de passeio. Daí a sua indignação e protesto junto a pedestres desavisados, bicicletas ao deus-dará e motos enviesando-se entre os contornos engarrafados das ruas estreitas.

Como me preocupar com estas desavenças e desconfortos sob todos os sentidos, se não há guarida entre as os sentimentos plenos do interesse comum, do direito do cidadão, da educação e a sensibilidade em se reportar ao que se aprendeu na infância e se carregou para toda a vida: respeito e gratidão.

Quisera não me importar com tudo isso, mas na verdade, há muito mais a refletir no que vejo e sinto, provavelmente uma onda que se alastra de longe e não é de agora, mas que se pronuncia com muita força, pensando que é dona do mundo. Talvez sim, aquele mundo em que todos aqueles que citei no início sejam alijados deste contexto atual.

quarta-feira, maio 29, 2019

Pequena sinopse sobre o meu romance "A biblioteca e a barca"

A história trata dos vários olhares do homem em consonância com o seu cotidiano, alicerçado nos valores que concebe para a sua vida. É a trajetória de um homem que aos poucos vai conhecendo a verdadeira história de seu pai e o quanto ela ainda o influencia nos dias atuais, forçado de certa forma, a recorrer ao passado e reconhecer nele um caminho novo, de liberdade e orgulho, que não identificava antes. Uma história que vai modificar e completar a sua. Com o conhecimento destas vivências, cresce como ser humano.

Tudo começa nos anos sessenta, cuja curiosidade infantil o impulsiona a conhecer determinados documentos estranhos que parecem comprometer o seu pai, e que tanto o angustiavam pelo forte conteúdo político que continham. Ao mesmo tempo vivia a sua vida infantil, confrontando a fantasia de aventurar-se na barca á beira do cais, sempre impedido pela mão forte do pai, ao mesmo tempo, que por outros caminhos, imergia no mundo sagrado da biblioteca, batizado que fôra nas letras, podendo singrar os mares tal como os navegadores antigos, sem que houvesse qualquer intervenção. Aqui ocorre a metáfora da barca que não ousara entrar, mas que se materializava no ambiente dos livros.

Em meio a tudo isso, há a luta política do pai, como voluntário no movimento da legalidade, quando Brizola instalava a rádio nos porões do Palácio. Em decorrência destas atitudes, fôra perseguido, considerado comunista e torturado, a partir da derrocada da liberdade pelo advento da ditadura.

Na fase adulta, envolvido no mistério dos documentos secretos do pai, onde se misturam personagens que gravitam em torno deste mesmo mistério, na trama que ocorre no cenário de uma biblioteca, chegando ao ápice, a partir de um crime, ele descobre finalmente o grande legado que o pai lhe deixara: a liberdade de escolha calcada na sabedoria da tolerância.

Os documentos nada mais significavam do que o ideário de libertação do jugo da tirania e da intolerância. Nesta atmosfera misturam-se sentimentos muito fortes, mas bem distantes dos relacionamentos idealizados de sua infância.

O romance transcorre em flashback, apresentando o protagonista, César, um bibliotecário, cuja trama tem como cenário a biblioteca, a partir de uns registros antigos, documentos confidenciais que são imputados ao pai, deflagrando o conflito.

Neste ambiente, destacam-se colegas e alguns amigos. Pessoas que trabalham na biblioteca e uma gama de pessoas que interagem no ambiente das diversas maneiras. Bibliotecários que odeiam leitores, restauradores estranhos e perigosos, estagiárias que ocultam segredos, convergindo todos para a mesma finalidade: desmascarar César, descobrir o seu passado ou negociar a sua própria sobrevivência no local de trabalho.

Em meio ou alheio a tudo, o amor na maturidade. Em suas lembranças, César volta ao passado e neste retorno, passa a desvendar também o presente. O passado é rico em imagens ternas, como da professora dedicada e solícita, o tio experiente e misterioso, a tia e a mãe envoltas em suas pequenas necessidades, entre as conversas sobre algum ponto de bordado ou as radionovelas, até que suas vidas se transformem, como a do velho professor que organizara a biblioteca comunitária do bairro, atingida pela intransigência do regime de exceção que alastrava suas várias formas de poder.

Um mundo em que havia o boteco do Seu Matias, o menino topetudo que atendia no balcão, o japonês da caminhonete azul, o amor da adolescência, tudo mesclado ao ambiente em que se usava o talco Ross, o creme dental Philips, o pó Cashmere Bouquet, ou se vestia a calça de tergal, com o friso passado a ferro e o sapato de verniz, ou se lia os gibis do Bolinha, a Revista Cruzeiro, ou mesmo se encantava com o Sinca Tufão Presidence.

sábado, maio 25, 2019

Um momento festivo?

Por vezes, me pergunto em que condições uma pessoa em determinado momento festivo, oferece ao outro o inverso do que seria um desejo de felicidade, alegria ou paz, quando de sua performance dúbia naquele evento. Isso ocorre, por exemplo, quando a pessoa, ao invés de demonstrar um sentimento que incida em boas perspectivas para o outro, mostra um discurso ao contrário. Quando se aproxima e abraça o vivente, na comemoração de amigo secreto, na festa de final de ano, quase o xinga de um modo intempestivo e irreverente, a ponto de restringir um momento de encontro, num espaço de desconstrução do outro. E para o espanto geral, concluindo que ele nunca participa de nada, não comparece às reuniões ou se exime de proferir qualquer opinião no grupo em que está inserido.

Fico pensando no significado da empatia e me pergunto, não teria esta pessoa nenhuma empatia para com o seu amigo?

De todo modo, não devo julgá-la. Por certo, a intenção era de mostrar-se, quem sabe, uma pessoa extrovertida, que gosta de fazer piada, não importa a quem seja, ou o momento. Ou talvez, nem se dê conta e pense que tudo não passa de uma grande brincadeira, para ela, claro. Por outro lado, há o risível e o melancólico, o festivo e o desanimador, o irônico e o constrangimento. Talvez por isso, a pessoa nem mesmo tenha consciência do que faz e sua atitude se torne tão risível quanto o seu objetivo de fazer rir. Por essas e por outras, é melhor ficar alheio, embora um tanto perdido entre tanta insanidade. E, se possível, levar como aprendizagem para vida. A ironia, o riso e a piada só sobrevivem onde haja interação entre duas ou mais pessoas. A que ri sozinha, ri de si mesma.

terça-feira, abril 02, 2019

A força e a suavidade do outono

Não pisar em folhas secas nem observar o mato que se agiganta ao longe. Talvez fosse preciso sapatos mais generosos, do tipo que podem oferecer leveza e maciez. No entanto era necessário desafiar as memórias e caminhar de pés descalços sobre o campo, bordado por folhas amarelas, cujas árvores as presenteiam lentamente. Uma delas cai devagar, passeia pelo ar, rodeia o imenso tronco e vai descendo até chegar próxima às raízes fortes que se agarram ao solo com a sabedoria da natureza. Aos poucos, desenham o imenso tapete que se forma aos pés das árvores, como se em gestos suaves, indicassem novos quadros de mosaicos de cores, umidades, orvalhos e flores. Ali se unem e se espalham com o vento, a brisa ou os pequenos rodamoinhos que se formam, traçando novos caminhos e diversos matizes e contornos e desenhos. Ali aspiram a umidade do chão, a pureza do orvalho, a força do húmus que as fortalece. Ali se enchem de insetos, pequenos grilos ou formigas que se entranham no piso tenro recém construído. Tudo parece conspirar pela beleza e suavidade do outono.

Talvez devesse olhar de longe, caminhar um pouco sob o sol, que agora se põe devagar, dourando um pouco mais o ambiente entre as cores verdes e amarelas. Sem pressa, tudo vai ficando dourado e um risco de luz, como um foco que se insere entre as árvores, passeia de leve, iluminando o pouco do dia que se desfaz. Mais longe, uma árvore aqui, outra ali e os corredores se intercalam e o mato se forma, numa vertente da qual desconhecemos a origem. Sabemos que as árvores foram plantadas com fins comerciais, mas ao mesmo tempo a delicadeza do sol, a pintura do outono e o desfrutar da brisa invadem e recriam todo o cenário e já nem sabemos se tudo foi organizado pelo homem ou se apenas a natureza mantém a única beleza que apreciamos, a que nossos olhos se emocionam e choram.

O homem alinhou as árvores que decepará aos poucos, mas a natureza as acolhe e pinta o piso, os espaços, as campinas e recria diariamente o poder do por do sol, inventando de vez em quando um outono que aquece e esfria e volta a aquecer, para avisar que a transição, aos poucos está chegando. Nem a mão imperiosa do homem vencerá a beleza do foco luminoso, desta vez, prateado, porque a lua dá as suas pinceladas também.

Fonte da ilustração:https://pixabay.com/pt/photos/queda-folhagem-musgo-árvore-outono-1913485/

quinta-feira, março 21, 2019

Todos eram puros e inocentes no passado? Nem tanto!

Acho notável que as pessoas tenham boas lembranças e sintam saudade dos tempos de infância, entretanto, há coisas que não entendo. Não entendo quando afirmam com veemência que naquela época, tudo era maravilhoso, a ponto de haver uma uniformidade nos costumes, cujos cidadãos eram pessoas extremamente afáveis, solidárias e felizes. As crianças eram educadas, disciplinadas e prestativas, os pais severos, conciliadores e gentis, os professores profissionais exigentes e respeitados na sala de aula e o mundo girava sob The The Sound Of Music, da Noviça Rebelde. Segundo estes relatos, os meninos entravam na igreja compenetrados, arrumando o cabelo e fazendo silêncio para ouvirem as orações, enquanto as meninas, por sua vez, se deparavam caladas, em frente aos santos, rezando para que suas provas não fossem muito difíceis ou para serem pessoas melhores. Os vizinhos sentavam nas calçadas, tomavam chimarrão ao anoitecer e jogavam conversa fora. Todos eram amigos, e nos natais, compartilhavam a alegria e o amor, que se estendia entre todo o bairro. Nas escolas, o hino nacional era cantado diariamente e os professores rezavam antes de iniciar a aula. O mundo era feliz e puro. Todos viviam numa redoma de propaganda de margarina. O pai jamais voltava cansado do trabalho e a mãe sempre apresentava um manjar para esperá-lo, sem qualquer queixa dos filhos tão corretos e obedientes.

No entanto, me pergunto, se este mundo idealizado existiu mesmo ou somente ocorreu na mente dos saudosistas, que com estas imagens oníricas produzam uma saída para suas angústias, como ponto de partida para a esperança. Sim, porque todos queremos um mundo melhor. E todos, em geral, vivemos cenas parecidas, com famílias na calçada conversando, crianças brincando na rua até o anoitecer, os professores emblemáticos em suas disciplinas e os pais atentos e severos nos momentos adequados. Estas cenas agradáveis ficaram em nossas mentes e as selecionamos para identificar um passado que nos foi grato. Mas vejam bem. Eu não vivi neste mundo, pelo menos tão bordado de azul e cor de rosa, como se o arco-íris pousasse sobre nossas cabeças a cada entardecer. Não. Havia situações semelhantes às idealizadas do passado, mas como tudo na vida, havia também o outro lado. Por exemplo, na escola em que fiz o curso primário, a Escola São Luiz, nós apenas ouvíamos e cantávamos os hinos em dias cívicos, principalmente nos dias da semana da Pátria, e mesmo assim, apenas uma turma era escolhida, não todo colégio. Durante a semana da Pátria, uma turma devia hastear a bandeira e cantar o hino, assim sucessivamente, para que todas as daquele turno, participassem nos dias subsequentes. Jamais entoamos o hino diariamente e nunca desfilamos no dia da Independência. Já no Colégio São Francisco, só participei do desfile da Semana da Pátria, uma única vez, porque não desfilamos nos demais três anos que faziam parte do tempo de ginásio. Isso, que estávamos em plena ditadura. Por outro lado, as crianças não eram tão obedientes, disciplinadas e educadas como se anuncia por aí. Lembro, que certa vez, alguns alunos se prepararam para dar um susto no professor de inglês, do qual não gostavam muito e punham apelidos, às vezes, nem tão edificantes. Eles colocaram a lixeira sobre a porta e quando o professor abriu, a mesma caiu quase em sua cabeça, assustando-o e sujando todo o piso da sala. Ele disfarçou para não se sentir humilhado e disse uma piada qualquer. Aí, me pergunto, onde ficou a disciplina? E a coragem do professor em enfrentar àquela situação? Pode ter sido uma reação peculiar, talvez outro no lugar dele, agisse de modo diferente. Mas, quanto ao fato em si, ocorria de forma quase rotineira nas escolas. Havia bullyng e os professores não sabiam lidar com as situações. Um outro aluno colocou um preservativo na cadeira do professor, e quando o mesmo chegou, ficou confuso, sem saber como agir. Ele devia ter aproveitado para falar sobre o controle da natalidade, talvez, mas como a maioria, não tinha a tranquilidade nem o conhecimento para discutir a questão. Sorriu e não sentou o tempo todo na cadeira, porque não conseguiu tomar uma atitude para retirar o objeto. Não o critico, era a concepção de educação e conhecimento da época. Neste tema de educação sexual, ocorriam absurdos em virtude dessas incoerências do período no qual tudo era proibido (pelo menos para o povo comum). Na minha sala de aula, um professor fez um questionário para saber se estávamos interessados neste assunto. Os doces e inocentes alunos assinalaram em peso, que queriam educação sexual, que tinham muitas perguntas a fazer. O professor se acovardou e finalizou que responderia individualmente, se alguém precisasse. Claro que isso nunca aconteceu.

Por outro lado, embora não soubéssemos praticamente nada dos problemas das pessoas próximas, vizinhos ou amigos, os adultos descobriam e comentavam muitas vezes, casos escabrosos sobre as famílias. Está aí Nelson Rodrigues para provar. O homem é sempre igual em qualquer sociedade e quanto mais restrito o seu acesso à educação e às fontes informativas sobre as relações sociais, menos humanizado se torna, e embora escondido, utilizava-se das mazelas para conseguir os objetivos mais obscuros, tanto quanto agora. Sabíamos de maridos que traíam as mulheres e tudo era ocultado. Mulheres que se sujeitavam aos desmandos dos maridos e até às ofensas morais e maus-tratos físicos, porque eram completamente dependentes, como donas de casa, incapazes de sobreviver e ter a sua profissão. Havia casos de estupros, de padres pedófilos, de pastores corruptos, de médiuns charlatães e estes casos eram comentados à boca pequena, embora todos soubessem e raramente viessem a público. O mundo é o mesmo de antigamente, as pessoas são as mesmas, a humanidade servia ao senhor dinheiro, fazia guerras e o homem se locupletava no poder, no autoritarismo, assentado num falso desejo democrático. Claro que havia o povo honesto, como existe hoje. Claro que havia a inocência, porque desconhecíamos quase tudo, inclusive na questão da sexualidade, embora eu acredite que nós não éramos inocentes, éramos ignorantes tentando descobrir alguma coisa. Claro que havia as brincadeiras, o futebol de rua, a bola de gude, mas havia também as armadilhas na areia para que o outro caísse, havia o roubo no jogo de cartas, havia o chamado catecismo de pornografia, que alguns guris sempre carregavam consigo, havia o bando de meninos que se juntavam para enfrentar o valentão e havia os valentões que batiam nos mais fracos, por pura vaidade e afirmação de macheza. Para as meninas, a ilusão de brincar de casinha, de fazer questionários sobre meninos, de sonhar com um príncipe encantado, mas também a fofoca na sala de aula, a delação dos meninos que desobedeciam certas regras, as conversas escondidas nos cantos das escadarias da escola, o comentário mais apimentado sobre uma guria que parecia mais moderna para a época. Havia o cigarro proibido, já na adolescência, havia o levantar a saia de pregas, deixando-a mais curta, acima dos joelhos, havia os namoros mais avançados. Inclusive, havia os abortos, os casamentos apressados para provar que a menina era virgem embora estivesse grávida, havia a mentira. Nem todo mundo era tão santo como se propaga nos textos saudosistas.

Sem dúvida, que tenho saudades daqueles tempos de verão, dos jogos de bola, dos amigos. Mas sei, que éramos humanos e que nenhuma força autoritária ou disciplinar do mundo, nos impediria de desobedecer pequenas regras. Não é um regime reacionário, um governo fascista que trará de volta ¨os bons tempos¨, pois mesmo que conseguisse, eles voltariam imersos em suas controvérsias e ninguém jamais poderia mudar o que não tem conserto. O mundo é dualista e saber dosar é a melhor solução, sem imposições, sem ordens de cima para baixo, sem falsos moralismos. Basta haver respeito e liberdade de ação e pensamento. E principalmente, saber que a educação é o único eixo que pode nortear nossas atitudes.

Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/illustrations/feliz-fam%C3%ADlia-desenhos-animados-1082921/

sexta-feira, março 08, 2019

Dia Internacional da Mulher


Nem sei se a mulher tem muito a comemorar no seu dia, num País como o nosso, em que não se respeitam os direitos humanos, onde há tantos feminicídios, considerados por alguns como vitimização feminina.

País, no qual assédios sexuais e morais passam a ser fenômenos comuns numa sociedade machista e patriarcal.

Os homens ainda carregam a pecha cultural do machismo e somente aos poucos, haverá uma mudança, desde que se conscientizem da realidade feminina e suas próprias dificuldades, superando assim o retrocesso que ainda vigora no Brasil.

De todo modo, as mulheres lutam com bravura e dignidade. Por isso, me solidarizo e as felicito pelo Dia Internacional da Mulher

segunda-feira, fevereiro 25, 2019

Sonhos de carnaval

Talvez pensasse no carnaval do passado, naquelas passarelas da Colombo e da Mal. Floriano, as duas que me recordo dos tempos idos. Lembrar da praça Saraiva, repleta de eucaliptos e foliões mascarados e vestidos de mulher atravessando aqueles caminhos, batucando ou fazendo estripulias entre os transeuntes, tocando apitos e brincando com um ou outro, armando um circo de alegria. Lembrar de meu pai levar-me pela mão em direção à Colombo, atravessando esta mesma praça e eu encantado com os bondes com seus vagões abertos, que passavam ali perto, pela Bento Gonçalves, e vinham repletos de foliões. Lembrar das inúmeras mesas dos bares pela calçada da Colombo, em determinado ponto, no qual serviam os sanduíches, refrigerantes e a cerveja Brahma, cujo single era conhecido por todos: ¨Quem gosta de cerveja, bate o pé e reclama, quero Bhrama, quero Bhrama.¨ Lembrar do bloco de sujos, como se chamava o grupo que acompanhava os cordões carnavalescos, logo atrás da corda que os separava. Eram as mulheres que vestiam roupas masculinas e a máscara de gatinho e os homens, geralmente, vestidos de mulher. Lembrar do Drácula, que via de regra, aparecia em todos os carnavais puxando o seu caixão pela avenida, além de outras figuras folclóricas que faziam a alegria da gurizada e dos mais velhos. Lembrar dos caminhões, os chamados carros alegóricos que traziam as rainhas do carnaval e as princesas, todas fantasiadas a rigor, acenando para os espectadores.

Lembrar o carnaval da Cidade Nova é passear por um passado de muita euforia e encantamento. Era como um aperitivo, bem familiar do grande carnaval da Mal. Floriano, que ocorria à noite. Lá, as escolas de samba, os blocos maiores e até os dos sujos se reuniam e faziam o carnaval agitado e alegre da cidade.

Mas lembrar é pensar que tudo aquilo faz parte da memória, uma memória afetiva, que registrou momentos de criança, sob um olhar sem grande discernimento, mas muita expectativa. Uma lembrança, cuja melancolia apenas reforça uma pequena face do calidoscópio que se tornou o carnaval durante todos estes anos. Uma face que não se distorceu no tempo, mas que contínua nítida e pronta a traduzir o sentimento de que o tempo passa, o mundo evolui em vários aspectos e que a beleza existe em muitos fragmentos de um mesmo contexto, que permanece em nossos sonhos. Sonhos de carnaval.

sexta-feira, fevereiro 08, 2019

A chegada ou a partida?


Todos queriam saber o que tinha acontecido com Norton. Nem ele sabia, mas tinha consigo que devia fazer alguma coisa a respeito. Seu corpo estava trêmulo e pela primeira vez em sua vida, sentiu medo de morrer. Era como se uma espécie de pânico investisse contra o bom senso e temesse um descontrole que impactava os seus pensamentos. Por um momento, imaginou que a balsa afundaria e o céu agora completamente encoberto, desandasse sobre aquela centena de carros que, através dela, atravessavam o canal. Uma nuvem espessa toldava ainda mais sobre sua cabeça.

As pessoas saíam dos veículos para apreciarem o vendaval que se aproximava. Pensou que estavam enlouquecendo. Não era hora de passearem pela balsa, ao contrário, deviam se resguardarem dos raios.

Pingos grossos começavam a cair e seu coração bateu mais forte. Se aquela maldita balsa ficasse à deriva, com aquela centena de carros e caminhões, perdidos em pleno oceano. Se afundassem, ele subiria no caminhão mais alto e esperaria o socorro, caso viesse. Também duvidava de algum salvamento.

Tudo era possível na tortuosidade de seus pensamentos. Tudo era viável e imediatamente aceito pelo seu egocentrismo.

Norton tinha dessas coisas: pensar muito em si. Mas agora, sentia de algum modo uma mudança radical no Universo. Alguns pais correram para os carros quando um raio riscou o céu e parecia clarear tudo por ali. Crianças junto, mas logo em seguida, estas também se afastavam dos automóveis e brincavam com os pingos d`água cada vez mais intensos. Algumas mães se solidarizavam com os filhos e aproveitavam a chuva que desandava. Algumas até faziam selfies.

Os homens se antenavam com a ocorrência e se resguardavam encostados nos caminhões de containers. Pareciam calmos.

Mas para Norton, tudo estava errado. Era como se a terra, de repente, fosse plana e este geocentrismo de Ptolomeu se tornasse uma atualidade indiscutível. Também como se a milícia fosse um bem para a comunidade, bem alicerçada nas lideranças e que devesse fazer parte do governo.

Era como se o tacanho, o tosco e estúpido tomasse a vanguarda das ideias e ações. Como se o País estivesse pronto para invadir fronteiras e destruir nações, seguindo a cartilha imperialista.

Como se o retrocesso e a ignorância fossem pontos de partida para uma mudança de conceito e de experiência nacional.

Como se uma nova ordem cósmica estabelecesse o criacionismo como verdade inflexível e os homens de bem fossem aqueles que se preparassem para destruir os diferentes. Como se a diversidade fosse doença.

Como se o fascismo imperasse e mostrasse a cara sinistra sob o jugo da desigualdade e intolerância.

Como se o mundo desandasse como esta chuva que invade a balsa. Norton quer chegar em terra firme, logo, mas não será pior a chegada do que a partida? Quem sabe, partir é mais seguro.

quinta-feira, janeiro 10, 2019

O topo da montanha


Nem lembro como cheguei ao topo daquele morro, provavelmente na curiosidade inata de um adolescente. O mundo corria devagar lá embaixo, as borboletas sobrevoavam alto e eu tinha a impressão de que somente o som dos pássaros se ouvia. Acho que era verdade. Os sons eram quase que coordenados, havia tons mais fortes, mais agudos, mais graves e tons que sobreviviam ao silêncio e às distâncias fazendo eco.

Devia ser uma tarde de dia claro, muito claro, porque o anoitecer demorara muito, se bem que era verão. Olhava para baixo, para aquelas montanhas moduladas em azul esverdeado, ou ao contrário.

Lembro sim, como cheguei, só não sei para onde ia. Eu queria dar uma volta pela pequena cidade, ao passar a metade do caminho para casa, uns trezentos quilômetros. É, estava muito longe de casa e não me podia furtar àquele momento. Na alma, uma melancolia rara. Rara naquele ambiente, produzido por aquele cenário. Porque via de regra, eu tinha esses devaneios. A dor parecia me acompanhar, mesmo em dias felizes, ou momentos mais alegres.

Aquele, portanto, não era um dos mais alegres, mas era o que eu tinha e precisava para sobreviver. Olhei muito para baixo, sentei-me em algumas pedras e fiquei não sei quanto tempo.

Um friozinho leve, uma brisa, uma aragem que me envolvia aos poucos, avisava que era hora de sair. Quem sabe, me libertar da melancolia, embora a beleza ali contida. Deixei-me ficar um bom tempo, o suficiente para sair aos tropeços na escuridão reinante, sim, porque ficou escuro rapidamente.

As pequenas curvas, os caminhos tortuosos e inseguros, a distância da rodovia. Aos poucos, algumas luzes de faróis iluminavam pequenos flashes entre as montanhas e percebi que estava no caminho certo. Pelo menos, no de voltar para casa. O mundo andava igual, a vida se mantinha como sempre. Nada havia mudado, talvez a minha percepção das coisas profundas.

da imagem: fotógrafo e poeta Wilson Rosa da Fonseca.

segunda-feira, novembro 12, 2018

Ainda Clarice

Aquela velha frase de clarice, mas sempre justificada por seu discernimento e apego à verdadeira literatura: a vida é um soco no estômago.

Ela demonstra em sua postura em relação à vida sempre interagindo com a ficção, uma intrepidez, que não admite concessões. Nesta afirmação, ela levava às últimas consequências, porque a vida é traiçoeira e bruta, ela não admite retorno, nem suavidade. Ela dói, magoa e pune, porque é a verdade. A última verdade da vida, que tira o sujeito do prumo, como se fosse um soco e somente assim, pela palavra doída e verdadeira ela vai ficar no lugar de outra pessoa.

Desta forma, o autor se destaca e constrói a verdade com muito trabalho e dor. Para Clarice e para o mundo, existem dois pilares básicos da subjetividade, que segundo Freud, são o conteúdo e o afeto. O ser humano não possui apenas cognição, é também afeto, é dor, é sentimento. Ele precisa levar este soco, este susto para refletir sobre ele mesmo e sobre o mundo. É preciso haver o conflito consigo mesmo, caso contrário, de que adiantaria a literatura? Apenas uma história cor de rosa?

Clarice Lispector é uma autora que mergulha nos cantos muito escuros do indivíduo, nos pequenos espaços que tendemos a não confrontar. De certo modo, ela nos atrai com uma narrativa, às vezes irônica, fazendo um jogo com o leitor, construindo de uma maneira para desconstruir depois, o que para nós já estava organizado. Neste embate, ela nos mostra e nos reconstitui os recantos mais escondidos, as paixões negativas ou malditas. Traz à tona, o confronto do sujeito no mundo de maneira imprevista, quando acredita que tudo está sob controle. Neste momento, ela o tira do eixo e o coloca diante de seu íntimo mais incômodo e tudo acontece junto ao personagem que nos desperta este mal estar e nos impõe momentos de desequilíbrio.

A literatura tem esse papel de fazer uma reflexão, refletir sobre as coisas que nos incomodam que precisam deste processo

para alterá-las.

domingo, novembro 11, 2018

Alguma coisa sobre Clarice Lispector

Clarice disse certa vez que não fazia concessões. E realmente, observa-se pela sua obra, que a literatura ali transparece crua, verdadeira e até cruel, personificada na realidade e nos cenários nos quais os personagens orbitam.

Ela tem uma postura de enfrentamento, de destemor do que diz, do que passa ao leitor. A vida é que importa, porque segundo dizia, tudo que doía em si, era verdade, a vida para ela era como um soco que a tirava do prumo, do eixo e a transformava. Então, queria que doesse também no leitor.

Toda a transformação é sofrida, é difícil, de muito trabalho. Nada ocorre de maneira simples e suave. Ela era a “anti-ajuda”, no sentido de passar a mão na cabeça e sugerir que tudo vai passar, não, a ajuda dela se dá noutro nível, no nível do enfrentamento, do mostrar a realidade doída e verdadeira, da profundidade do sentimento, do fazer-se melhor através da mudança, tanto no aspecto do conteúdo quanto do afeto.

Na verdade, aquilo que toca, que faz doer, não é necessariamente na ordem do aprazível, nem na ordem do imaginário do bem.

Não somente o indivíduo , mas a sociedade, um embate em que há uma relação de você com você mesmo, você conflita com você. Qual seria a graça, se isso não acontecesse? Ninguém tem certezas absolutas, ao contrário, tem-se ambiguidades nas posições e procedimentos.

Clarice trabalha uma literatura soturna e ambígua, na própria enunciação, no próprio modo de dizer. Ela provoca o sentido e o não-sentido. Somente a verdade dura, ambígua e verdadeira ecoa no fundo.

terça-feira, outubro 30, 2018

A hóstia na boca e a arma na mão

Hoje, vinha pela ladeira e sentia que meus pés afundavam nas estruturas tortas de paralelepípedos da Riachuelo, a rua protegida pelo rei. Na verdade, a ladeira se produzia em meus pensamentos que sucumbiam em tortuosas reflexões.

Numa esquina, entre a conversa de um amigo, observei a cena de um grupo de homens que apontavam para dois rapazes que atravessavam a Benjamim, provavelmente em direção ao calçadão. Com olhares furiosos, exclamavam que vivíamos um novo tempo, em que todos os gays que se mostrassem afeminados, como aqueles, seriam gravados tendo o vídeo divulgado nas redes sociais, após levarem uma boa surra (usaram um termo pior). Afinal, tinham a permissão de um líder que os afiançava.

Quando voltei a andar, de pernas quase trôpegas, voltei-me para o acinzentado da laguna. Nem sei se o céu estava azul, mas as águas pairavam revoltas no cais. Olhei-as, ensimesmado e lembrei das últimas palavras de um moreno barbudo, que parecia realçar a sua “descendência ariana”, afirmando que se o tal gay fosse negro, aí sim, levava porrada. Então, me veio à mente a música “A carne”, interpretada por Elza Soares, que ouvi num show e tenho em meu Spotfy, a qual possui os versos mais pungentes que podemos ouvir:

“A carne mais barata do mercado é a carne negra

vai de graça pro presídio

e para debaixo de plástico

que vai de graça pro subemprego

e pros hospitais psiquiátricos”

Então, lembro que pessoas que fazem estas afirmações homofóbicas e racistas parecem gente de bem. São pais de família, religiosos e se destacam na sociedade. Sim, a hóstia na boca e a arma na mão, a bíblia aos olhos e os punhos cerrados de ódio. Não sei se peço ajuda aos santos, não são os mesmos a quem eles recorrem?

segunda-feira, outubro 22, 2018

O pássaro e a bandeira

Estava na sala de aula, observando um pássaro que insistia em pousar no muro, próximo à janela. O professor de português, um homem baixinho, de cabelos brancos e barba rala aproximou-se e perguntou, se não estava ouvindo o que ele dissera.

Na verdade, eu nem ouvira o que ele me perguntara, mas fiz uma observação sobre o pássaro, como se fosse a coisa mais importante a ser dita. Ele balançou a cabeça e balbuciou entre lábios, indicando-me um livro que abria com energia sobre a classe.

Olhei-o quieto e passei a ler o livro e esperar que se afastasse na direção de sua mesa ou do quadro. De lá, ele perguntou se eu sabia que naquele 1º de setembro, seria o primeiro dia do hasteamento da bandeira, atividade que se faria até o dia anterior ao desfile, no 7 de setembro. Afirmei rapidamente, junto com outras vozes dos colegas que confirmavam a atividade. O professor mais uma vez insistiu, se eu não lembrava que neste primeiro dia, eu havia sido sorteado. Eu sabia disso e como lhe afirmar mais uma vez, se todas aquelas vozes falavam juntas e ele parecia tão zangado.

Quando tentei justificar-me, ele me interrompeu, dizendo que eu ficasse olhando para o pássaro, pois seria trocado por outro aluno mais atento. Fiquei muito frustrado, afinal, havia sonhado com aquele momento. Era uma sorte, eu ter sido escolhido e ainda perdia a oportunidade por estar olhando para um pássaro na janela.

O professor prosseguiu a aula e na hora indicada, levou a turma, juntando-se às demais no pátio da escola. Olhei para a janela novamente, mas o pássaro havia sumido.

Então, resignado, fui até o cenário indicado e assisti um colega exercendo a função que seria minha. Um dos auxiliares colocou o disco e acompanhamos o hino nacional.

Voltando para a aula, o professor, como era de hábito, exigiu que fizéssemos uma redação. Todo o dia, precisávamos entregar uma pequena redação, para que ele avaliasse e comentasse no dia seguinte.

Então, lembrei do pássaro na janela e decidi descrevê-lo. Falei da beleza da plumagem e me detive nas cores das plumas de sua cabeça, de um azul luminoso e forte, o que me fez lembrar da bandeira do Brasil. Afinal, uma das cores estava ali tão bem representada naquele fragmento da natureza. Imaginei o pássaro dando alguns voos em busca de alimento e mais longe, quiçá, ensaiando pequenos passos sobre a grama verde, sendo acariciado pelo sol primaveril, retocando as cores e a vida.

Talvez, tudo expressasse aquele momento, no qual, nós como os pássaros, nos conectávamos com as cores, assim como a bandeira hasteada, presente em todos os seus matizes e símbolos. Sabíamos que seu dia era o de 19 de novembro e talvez, eu, tal como o pássaro que talvez voltasse ao muro, pudesse partilhar daquele momento futuro e hastear a bandeira, sentindo-me feliz e honrado.

O professor Martinez leu a redação, sorriu e fez a sua avaliação. Disse-me mais tarde, que não precisaria esperar até novembro e que participaria junto com outros colegas do hasteamento, já que havia decidido hastear a bandeira no próprio dia 7 de setembro, antes de sairmos da escola, embora houvesse o desfile.

Não sei se ele fez esta mudança por mim, pela redação ou por perceber que estava muito envolvido no evento. O que sei é que o pássaro de cabeça azul, pousado próximo à janela, tivera uma participação especial em minha imaginação.

quinta-feira, outubro 11, 2018

A primavera e o ódio

Talvez eu devesse falar na primavera, afinal ela está aí, já brotando flores e enfeitando árvores, apesar do frio que ainda persiste em acompanhá-la em seus dias.

Talvez eu devesse caminhar a esmo, de preferência pelas margens da laguna e observar a mudança gradativa dos ventos, das nuvens, dos novos cheiros e brisas.

Talvez devesse espiar as escolas, os adolescentes que na primavera, parecem explodir em sentimentos e lutas internas, como frutos, sementes e flores ressurgindo do nada, inspirados nos raios do sol e nos sussurros dos entardeceres.

Talvez eu devesse estudar novos rumos e pesquisar os trabalhadores que voltam às pressas para casa, envolvidos nas compras eventuais, nas contas a pagar, nas obrigações mensais. Talvez contem o dinheiro comezinho que lhes sobre, o tumulto do ônibus, as horas perdidas no trânsito, as horas inglórias da espera. Trabalhadores que perdem os seus direitos dia a dia, que quase sucumbem aos desmandos de um governo congelado numa depredação de patrimônio físico e humano.

Talvez, como o Severino de João Cabral de Melo Neto, venha a morrer de fome, de ódio, de bala, que segundo o irmão das almas, “mais garantido de bala, mais longe vara”. Sempre há uma bala voando desocupada.

Talvez eu devesse retornar, esquecer os tempos sombrios que se avizinham e pensar que o passado não está voltando. Que o retrocesso, o pior do século passado, já passou realmente.

Entretanto, há o temor de que o ódio persista e a humanidade pereça.

A esperança, porém é que talvez o círculo do tempo pare e uma força progressista se alastre e o mal se dissolva.

Porque há primavera e não há bala que a destrua.

Fonte da ilustração: MabelAmber in: www.pixbay.com

segunda-feira, setembro 24, 2018

Bentinho

Ele sempre chegava de mansinho. Tinha uma voz suave, expressando um tom sempre baixo e comedido e seu olhar parecia dizer muito mais do pensava. Era gordo e baixo, o cabelo grisalho e a pele morena. Trazia sempre consigo um acordeom e era incapaz de cometer qualquer impertinência ou abuso em sua permanência na casa. Certa vez, deu um barco feito à mão, um desses adornos para se colocar numa escrivaninha, ou num lugar mais reservado. Minha mãe ficara feliz com o presente e vez que outra, passava algum produto para que o mesmo permanecesse com a mesma aparência de quando ganhara.

Ele chegava sempre à noite, carregado de malas, mochilas e trazia, vez que outra, algum presente, que sempre eram oriundos da alimentação, como uma rapadura de amendoim, um saboroso pão caseiro ou mesmo algum tipo de carne defumada para servir no jantar.

Meu pai, cansado depois de um dia de serviço pesado, ficava um pouco incomodado com a presença, mas educado que era, não deixava esse sentimento transparecer. Aos poucos, ia se envolvendo com a conversa e acho, que na verdade, acabava gostando da visita.

Ele era uma pessoa que enchia a casa. Era alegre, divertido e mais do que isso: um eloquente orador, a ponto de ficar horas contando uma história, com fatos muito bem delineados e esclarecidos um a um, como se fosse necessário explicar quase didaticamente os fatos. Era convincente, persuasivo e tinha uma maneira expressiva de falar, que silenciava a plateia e a deixava instigada para o final, como se houvesse sempre uma surpresa a qual não se deveria perder.

Era antes de tudo, um vendedor, acho que um caixeiro-viajante, mas para nossa família era um amigo, não tanto almejado em suas visitas, mas pelo menos aceito quando aparecia, sem nunca avisar. Chegava se desculpando pelo adiantado da hora, pelo tempo que despenderia em nossa casa, e num pedido com muito cuidado e persuasão, acenava para uma provável estadia, que em geral durava aquela noite, mas às vezes, se estendia por dois dias.

As conversas eram sempre animadas e quando a comida estava à mesa, costumava fazer um agradecimento e mais conversa e mais histórias cheias de minúcias e tantas informações que nos prendiam, a ponto de não queremos dormir e ficar horas ouvindo-o. Não era o caso de meus pais, que logo que podiam dispensar-se de sua presença, enveredavam-se para o quarto, lembrando que a noite passaria rápido e teriam um novo dia pela frente.

Ele ainda ficava um pouco, um tanto silencioso, mas logo retomava a contar-nos qualquer coisa que lhe interessasse, de uma maneira bem mais tranquila, a voz doce, o olhar penetrante, embora convencido de que nós também deveríamos dormir. De certo modo, nos dispensava, porque ele também teria tarefas importantes no dia seguinte.

Ele era assim, chegava devagarinho e ia ficando. Não era nosso parente, um amigo de meus pais, talvez conhecido de outras épocas, mas que sempre nos procurava para, como dizia, pousar uma noite e seguir em frente.

Certa vez, trouxe o acordeom e tocou várias músicas, transformando a sala de minha mãe, num pequeno baile. Eles até dançaram, numa participação surpreendente, talvez fosse num fim de semana e não haveria a preocupação com o dia seguinte. Foi uma festa.

Ele era assim, às vezes metódico nas conversas, mas sempre preocupado em agradar os meus pais e a família, por outro lado, tinha seus interesses, como morava longe, lá pela zona rural de São José do Norte, achava por bem ficar em nossa casa e tocar seus negócios. Era uma troca. Quase sempre trazia alegria e assuntos divertidos ou surpreendentes para quem tinha uma cultura diferente, uma maneira diversa de ver a vida e de vivê-la, segundo os seus princípios.

Aos poucos, foi se afastando e com o passar do tempo, nunca mais o vi. Ficou no entanto, a música, o pequeno barco que fizera para minha mãe, as conversas intermináveis, a paciência que ele demonstrava e que às vezes, nos deixava ansiosos, as maneiras solícitas, a educação extrema. Este era Bentinho, um homem que foi chegando devagar e por um longo tempo participou de nossas vidas.

da ilustração: https://pixabay.com/pt/piso-velho-caminho-homem-bacl-rua-1775362/

quinta-feira, setembro 13, 2018

Pessoas simples são mais felizes?

Outro dia, estava no ônibus rumo a Porto Alegre e ouvi uma conversa no banco da frente. Tratava-se de um senhor de uns 60 anos e de um rapaz que aparentava 30 anos. Na verdade, a idade não importa muito para o que vou dizer, apenas qualifica a diversidade de pontos de vista, por serem de gerações diferentes. Falavam entusiasmados em futebol. E olha, que não se declinavam em regras ou presumíveis mudanças nas posições de jogadores, dos times dos quais falavam. Comentavam com uma ingenuidade assombrosa sobre o estilo de vida dos jogadores citados. Falavam do modo como encaravam a vida, do dinheiro que possuíam, das festas e viagens que participavam e mais do que isso, davam palpites em suas maneiras de organizar o orçamento e sua vida particular, como se fossem íntimos dos atletas. Concordavam com o salário milionário que recebiam e discutiam se fulano ou beltrano deveria ganhar mais.

Depois de algum silêncio, engataram outra conversa. Agora satisfeitos com o desenrolar do programa do Ratinho, que mostrava a performance de um candidato a um quadro de calouros, que apresentava uma música composta por ele em consonância com o figurino colorido, que finalizava com uns chifres que faziam a apoteose do quadro.

Neste momento, davam longas risadas e percebia-se que riam com sinceridade, achando muita graça no que contavam um ao outro.

Eu, por meu lado, fiquei pensando no que ouvira e tirando algumas conclusões que, de certo modo, me deixavam um tanto intrigado e até um pouco triste. Não por eles, que pareciam tão felizes com o pobre passatempo consumido.

Talvez tenha ficado triste por mim, como aquela eterna frase que Ernest Hemingway usou em seu maior livro, do poema do grande poeta inglês John Donne. Ele dizia que o homem não é uma ilha, cada partícula do continente, uma parte da terra. Enfim, que a morte de qualquer homem o diminui, porque faz parte do gênero humano. E por isso, a pergunta: por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

É provável que a tristeza que senti tenha respaldo nesta mesma observação. Os sinos dobram também por mim, mas neste caso específico dos meus companheiros do ônibus, eles parecem não ter essa noção mais profunda da realidade e da vida.

Fiquei me questionando, que pessoas como eles, que não possuem instrução acadêmica ou que não tenham adquirido o conhecimento empírico e cultural, capaz de os fazer refletir, pensar e agir, alcancem nessa condição a capacidade de serem mais felizes.

Elas não possuem filtros para as suas conversas, para o que lhes transmite alguma satisfação, como o tal quadro do programa do Ratinho. Sentem-se livres para rir e se divertir sem qualquer reflexão. Na verdade, seu conhecimento cultural não os permite diversificar o que lhes vem às mãos. Eles sonham através dos outros, dos jogadores, dos artistas, dos cantores. Servem-se da diversão por ela mesma, sem se preocuparem com isso.

Nós, ao contrário, absorvemos em nossa faculdade intelectual a disposição pela grandeza e profundidade dos acontecimentos, dos questionamentos da vida, das percepções da alma e do subconsciente, o que só nos permite sonhar quando o devaneio acontece de forma implícita e calcada em nossas experiências pessoais.

De certo modo, perdemos a espontaneidade, porque refletimos e não nos divertimos com qualquer esquete de raso de conteúdo.

Há pouco para rirmos e se o fazemos, precisamos de uma boa dose de liberdade de conceitos.

É difícil ser feliz, quando conhecemos o cerne das coisas, quando aprendemos um pouco mais de ciência, da arte e da condição humana, acompanhado via de regra pelo filtro ético e moral.

Por isso, o homem simples vive numa outra dimensão, em que ele se torna interlocutor de tudo que rege a vida cotidiana, desde os seus prazeres esportivos, até suas escolhas de diversão.

É primário, é simples, ingênuo, mas livre das conveniências e por certo, os sinos não dobram por ele, porque nem se dá conta. Acho que são mais felizes.

Fonte da ilustração: Trond Abrahamsen in: www.pixbay.com

sexta-feira, agosto 24, 2018

Alfredo Ferreira Rodrigues, um grande literato e historiador rio-grandino

Alfredo Ferreira Rodrigues, cuja qualidade intelectual foi grandemente propagada em sua obra, que registrou o seu fazer literário, o seu talento especial para as artes, revelando-o como um admirável historiador, além de escritor talentoso.

Alfredo Ferreira Rodrigues nasceu no distrito do Povo Novo e muito pequeno passou a residir em Pelotas, sendo que aos 16 anos, por sua elevada condição intelectual, começou a ministrar aulas de várias disciplinas. Trabalhou como revisor na Livraria Americana e mais tarde, passou a trabalhar em sua filial em Rio Grande, vindo a morar definitivamente em nossa cidade.

Dedicou-se a vários gêneros literários, tais como crônicas, ensaios, contos, relatos históricos e poesia. Sua intelectualidade o conduziu a ser historiador, poeta, ensaísta, biógrafo, charadista e professor.

Nascido a 12 de setembro de 1865, Alfredo Ferreira Rodrigues foi um homem de seu tempo, preocupado em divulgar ao público a história e características singulares do RS.

Interessou-se por toda a história nacional, mas especializou-se na história regional, divulgando-a aos seus compatriotas, principalmente a partir da organização do Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande Sul. Este Anuário foi publicado a partir de 1889 e prosseguiu até 1917. Aqui, eram publicados diversos textos de entretenimento e artigos culturais de autores gaúchos, assim como os seus próprios contos, ensaios e crônicas, que eram ansiosamente esperados pela sociedade da época e rapidamente esgotado nas bancas. Foi um vencedor. Além do bem sucedido Almanaque Literário, publicou livros, livretos e artigos em diversos periódicos.

Apesar das inúmeras dificuldades que enfrentou, principalmente em âmbito financeiro, tinha um sonho que era o de elaborar um grande relato da Revolução Farroupilha, um movimento no qual possuía um interesse especial. Sua literatura, neste particular, se dava sob a ótica positivista da época, preocupado com a reconstrução histórica da formação rio-grandense. Para tanto, esforçou-se em reunir documentos históricos em todo o Estado, bem como em diversos lugares do Brasil e do exterior, de modo que a história do Rio Grande do Sul fosse amplamente detalhada e divulgada a partir de seus registros.

Costumava também fazer traduções do inglês, alemão e, inclusive traduziu o clássico “O corvo” do escritor americano Edgar Alan Poe, publicando-o no Almanaque.

Foi homenageado por muitos Institutos, dos quais participava em seus quadros sociais, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, da Bahia, de São Paulo, do Ceará, do RS, da Sociedade Geográfica de Lisboa, além de ser membro fundador da Academia Rio-Grandense de letras.

Na virada do século XIX para o XX, foi um dos articuladores do monumento-túmulo de Bento Gonçalves, situado na Praça Tamandaré.

Suas crônicas, contos, ensaios , relatos históricos, eram estruturados numa linguagem simples, econômica, mas ao mesmo tempo cheia de lirismo e intencionalidade política, quando o texto exigia e objetividade ao se tratar de uma informação mais técnica, o que o tornou um dos maiores intelectuais da época. Um rio-grandino, que amava a sua terra e que queria deixar um legado, um registro, do seu fazer literário através de sua vida dedicada à literatura, revelando-o um grande historiador.

Seu nome dá o título à Escola Pública Estadual no distrito de Povo Novo e designa uma rua no Balneário Cassino, em Rio Grande.

Este homem ilustre é o patrono da cadeira n° 3, a qual humildemente ocupo na Academia Rio-grandina de Letras.

quarta-feira, agosto 22, 2018

Os trilhos dos sonhos

Observei os trilhos da velha e desativada ferrovia. Os mourões corroídos, mostrando veios em suas entranhas, com pequenas lascas adormecidas, que aos poucos se desmanchavam sob o sol. Tudo aos poucos se consumia pela ação do tempo.

Quem dera, pudéssemos, num passe de mágica, reconstruir a malha ferroviária, restaurar os trilhos reluzentes e seus dormentes com a bitola adequada, permitindo que centenas de trens atravessassem a cidade, encontrando seus destinos e construindo outros, mais longínquos e eficazes. Mas a mágica é só uma ilusão e como tal, apenas ilustra nossos sonhos. .

Uma mulher de salto alto, caminha despreocupada por alguns dormentes restantes da velha derrocada. Talvez expresse intimamente a vontade de vivenciar uma história passada, um roteiro que fazia quando criança, ou um encontro que ousasse reviver. Caminha displicente e de vez em quando, se volta, oportunizando em meu olhar também um desejo de descoberta. .

O que procura aquela mulher num lugar quase abandonado, o que faz por ali, a não ser encontrar lembranças do passado ou experimentar, quem sabe, a ilusão de que a vida se desenrola da mesma forma, sem qualquer mudança ?

Agora ela parou, próxima a um tufo de ervas daninhas e parece esperar alguém. .

Mas quem passaria por ali, àquela hora, num cenário quase desértico? A não ser eu, que a vejo cada vez mais próxima, cada vez mais presente em minha realidade idealizada.

Decido aproximar-me também, pisando entre alguns dormentes apodrecidos, alguns pedaços de trilhos enferrujados e atirados a esmo, como se ali, fosse a lixeira da ferrovia. .

Talvez haja um embargo em meus sentimentos, porque, às vezes, não a vejo e fico procurando-a através de minhas lentes grossas de óculos de sol. Paro também e percebo que ela não está lá. Não há tantos barrotes como no início, nem o caminho me parece aprazível. A grama aumenta, alguns paralelepípedos avessos a passos mais decisivos, um olhar ao longe. .

Aos poucos, percebo que os apitos dos trens não sibilam em nossos ouvidos, nem as malas fazem parte do cenário à beira da plataforma, e os trens, estes estão há muito no passado, perdidos entre os desejos infantis e os sonhos de adultos. .

Quem era aquela mulher de vestido vermelho, linda, que atravessava os caminhos com passos displicentes, mas seguros, em busca de um destino que talvez nos indicasse a felicidade? Não sei. Talvez o desejo de ultrapassarmos com elegância e garra os obstáculos e enfrentarmos as reivindicações para que voltem as plataformas, os trens, as malas ao redor, os adeuses, os lenços brancos, as lágrimas nos olhos. .

Essa mulher de algum modo, indicará caminhos que não ousamos enfrentar. .

domingo, agosto 05, 2018

O hóspede

Chegou de mansinho e se instalou em minha casa. A princípio, estranhei e até evitei de me envolver em demasia, a não ser proferindo algumas palavras daqui, outras dali, apenas o necessário. Com o passar do tempo, foi ficando mais audacioso. Começara a tomar conta da cozinha, da sala de estar e até mesmo de meu quarto. E nem tinha pudores em se alojar no banheiro. Respirei fundo, avaliei a situação e olhei pela janela, tentando encontrar alguma pista que me desse a solução. Um ser que domina o ambiente e se espalha por tua vida, como o sapo que precisava conquistar a princesa, enlameado e cheio de pedidos esdrúxulos. O que fazer com aquela companhia? Observei pessoas apressadas dando e recebendo recados, falando sozinhas enquanto atravessavam ruas ou sentavam-se em parques, absortas, entretidas em seus contatos. Não seria melhor livrar-me imediatamente daquele peso? Não me tornar mais um zumbi, como elas? Quem sabe, dar um chega pra lá e esquecer de vez que esteve aqui, entre estas paredes, ouvindo-me até o arrastar dos chinelos.

Com o passar do tempo, entretanto, me sentia cada vez mais impotente. Limitava-me a encarar a sua presença, como uma necessidade perene. Talvez por isso, ele tenha ficado e aos poucos tomou conta de mim. Esforço-me em manter-me livre de sua influência, dizendo a mim mesmo que não preciso dele, mas cada vez que o vejo por perto, sinto que não há como evitar o contato. Afinal, onde vou parar? E se ele despencasse escada abaixo, transmutando o que era vida em ruína absoluta? Ou naufragasse numa enchente terrível, dessas que até as palafitas desaparecem ou se, por outro lado, o sol o queimasse, retorcendo a pele e transformando-o num ser inútil? Quem sabe, me livro dele para sempre. Entretanto, sei que haverá em meu coração uma mágoa, uma ansiedade difícil de controlar, uma vontade de substituí-lo por outro. Certamente, este será mais esperto, mais independente e capaz, até, de me dar ordens. Quem sabe!

Não queria ser assim, um amante passivo, cujo protagonista mande e desmande com seus caprichos. Mas sei que cada dia, dependo mais dele, de seus alertas, seus conselhos, seus avisos, suas notícias, seus jogos, suas mensagens, sua mania de sempre me chamar na hora inadequada. Às vezes, o amo, noutras, o odeio. Não sei qual será o nosso fim, mas por certo, nunca um longe do outro. Por mais que eu resiste, por mais que o dispense, sempre o terei ao meu lado. Como um vício, como uma dose a mais que desfruto em meu viver, como um carma, ratificado no verso da música do Chico Buarque, “meu amigo, se ajeite comigo e dê graças a Deus”.

Mas ele está aí e por mais que o atire do vigésimo andar, irá sobreviver. Na verdade, a vida não está nele, mas na minha procura, na minha ansiedade, na minha dependência. Quero-o longe de mim e o desejo tão perto. Freud talvez tivesse algum veredicto, algum prognóstico se o conhecesse naquele tempo e me avaliasse como sou agora. Eu, que o desprezo e apenas o usava quando realmente precisava! Mas sei que necessito dele a todo momento. Como se fosse onipotente, absoluto, quase um deus. Provavelmente, se livrar-me dele, algum dia, encontrarei outro com novas possibilidades e upgrade, porque eles se reproduzem como ratos e cada vez mais potentes e indestrutíveis.

Por certo, vou relaxar e esquecê-lo um pouco, não tão distante, a ponto de ouvi-lo chamar: apenas com um toque, com a música preferida, com o vídeo mais engraçado ou a mensagem mais emocionante. Ou quem sabe, procuro nele, os meus e-mails e descubro neste meio tempo a temperatura? Acho que ficará mais um tempo comigo!

Celular amado e odiado!

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