Nem lembro como cheguei ao topo daquele morro, provavelmente na curiosidade inata de um adolescente. O mundo corria devagar lá embaixo, as borboletas sobrevoavam alto e eu tinha a impressão de que somente o som dos pássaros se ouvia. Acho que era verdade. Os sons eram quase que coordenados, havia tons mais fortes, mais agudos, mais graves e tons que sobreviviam ao silêncio e às distâncias fazendo eco.
Devia ser uma tarde de dia claro, muito claro, porque o anoitecer demorara muito, se bem que era verão. Olhava para baixo, para aquelas montanhas moduladas em azul esverdeado, ou ao contrário.
Lembro sim, como cheguei, só não sei para onde ia. Eu queria dar uma volta pela pequena cidade, ao passar a metade do caminho para casa, uns trezentos quilômetros. É, estava muito longe de casa e não me podia furtar àquele momento. Na alma, uma melancolia rara. Rara naquele ambiente, produzido por aquele cenário. Porque via de regra, eu tinha esses devaneios. A dor parecia me acompanhar, mesmo em dias felizes, ou momentos mais alegres.
Aquele, portanto, não era um dos mais alegres, mas era o que eu tinha e precisava para sobreviver. Olhei muito para baixo, sentei-me em algumas pedras e fiquei não sei quanto tempo.
Um friozinho leve, uma brisa, uma aragem que me envolvia aos poucos, avisava que era hora de sair. Quem sabe, me libertar da melancolia, embora a beleza ali contida. Deixei-me ficar um bom tempo, o suficiente para sair aos tropeços na escuridão reinante, sim, porque ficou escuro rapidamente.
As pequenas curvas, os caminhos tortuosos e inseguros, a distância da rodovia. Aos poucos, algumas luzes de faróis iluminavam pequenos flashes entre as montanhas e percebi que estava no caminho certo. Pelo menos, no de voltar para casa. O mundo andava igual, a vida se mantinha como sempre. Nada havia mudado, talvez a minha percepção das coisas profundas.
da imagem: fotógrafo e poeta Wilson Rosa da Fonseca.
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