Não pisar em folhas secas nem observar o mato que se agiganta ao longe. Talvez fosse preciso sapatos mais generosos, do tipo que podem oferecer leveza e maciez. No entanto era necessário desafiar as memórias e caminhar de pés descalços sobre o campo, bordado por folhas amarelas, cujas árvores as presenteiam lentamente. Uma delas cai devagar, passeia pelo ar, rodeia o imenso tronco e vai descendo até chegar próxima às raízes fortes que se agarram ao solo com a sabedoria da natureza. Aos poucos, desenham o imenso tapete que se forma aos pés das árvores, como se em gestos suaves, indicassem novos quadros de mosaicos de cores, umidades, orvalhos e flores. Ali se unem e se espalham com o vento, a brisa ou os pequenos rodamoinhos que se formam, traçando novos caminhos e diversos matizes e contornos e desenhos. Ali aspiram a umidade do chão, a pureza do orvalho, a força do húmus que as fortalece. Ali se enchem de insetos, pequenos grilos ou formigas que se entranham no piso tenro recém construído. Tudo parece conspirar pela beleza e suavidade do outono.
Talvez devesse olhar de longe, caminhar um pouco sob o sol, que agora se põe devagar, dourando um pouco mais o ambiente entre as cores verdes e amarelas. Sem pressa, tudo vai ficando dourado e um risco de luz, como um foco que se insere entre as árvores, passeia de leve, iluminando o pouco do dia que se desfaz. Mais longe, uma árvore aqui, outra ali e os corredores se intercalam e o mato se forma, numa vertente da qual desconhecemos a origem. Sabemos que as árvores foram plantadas com fins comerciais, mas ao mesmo tempo a delicadeza do sol, a pintura do outono e o desfrutar da brisa invadem e recriam todo o cenário e já nem sabemos se tudo foi organizado pelo homem ou se apenas a natureza mantém a única beleza que apreciamos, a que nossos olhos se emocionam e choram.
O homem alinhou as árvores que decepará aos poucos, mas a natureza as acolhe e pinta o piso, os espaços, as campinas e recria diariamente o poder do por do sol, inventando de vez em quando um outono que aquece e esfria e volta a aquecer, para avisar que a transição, aos poucos está chegando. Nem a mão imperiosa do homem vencerá a beleza do foco luminoso, desta vez, prateado, porque a lua dá as suas pinceladas também.
Fonte da ilustração:https://pixabay.com/pt/photos/queda-folhagem-musgo-árvore-outono-1913485/
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