quarta-feira, setembro 24, 2014

O mundo evoluiu?


Às vezes, me pergunto o que está havendo com as pessoas, com os jovens que, de certa forma, ditam as regras da sociedade em que vivem (pelo menos nos grupos que participam e nos quais exercem grande influência). Provavelmente, minha avó teria este mesmo pensamento de dúvida e estarrecimento,  na época em que todos éramos  jovens e gritávamos aos quatro ventos as nossas angústias, os nossos objetivos bem calcados em modelos distantes de sua experiência, numa vanguarda que muitas vezes assustava. Talvez coisas bem mais brandas, como deixar o cabelo comprido, a barba por fazer, um cinturão de couro na cintura, uma calça santropê, com uma nesga do lado da perna. Por outro lado, havia as discussões filosóficas intermináveis, as procuras por novos caminhos na política (para alguns), a leitura dos grandes autores e entrar de cabeça nas novas ideias, os desejos de ser livre a qualquer preço, de sair do jugo dos pais, dos professores, dos mais velhos. Não se confiava em quem tinha mais de 30, naquela época, porque em geral, eram os donos dos mesmos preconceitos, da busca desenfreada pelo vil metal, da luta diária de manter o status quo. Tínhamos sonhos de amor livre, da “liberdade” das drogas, do altruísmo de construir uma sociedade de iguais. Hoje, nós absorvemos o que de bom ficou e descartamos o que nos prejudica (nem todos), mas ficou uma mudança de valores, de paradigmas, de evolução do mundo, de amor pela natureza, de solidariedade humana. Agora, porém, os mais velhos também estão estupefatos, mas não porque alguém luta por mais avanços progressistas, ou que haja uma vanguarda nos pensamentos da humanidade. Ao contrário, parece que estamos enveredando pelo caminho das trevas, como na Idade Média. Hoje em dia, as pessoas postam comentários a favor de justiça com as próprias mãos, como no caso da jornalista do SBT, subproduto desta mídia reacionária com o slogan “adote um bandido”, debochando dos direitos humanos. As pessoas espancam os pobres e principalmente os negros, sempre confundidos com marginais. Agridem jogadores de etnia africana, fazendo bullying, com exclamações humilhantes. Atingem idosos nas ruas, extrapolam no trânsito, com uma fúria selvagem, como se todos os demais fossem apenas obstáculos no seu trajeto, elogiam os ditadores, fazem analogia à ditadura, vestem-se de nazistas para torturar homossexuais ou quaisquer pessoas que fujam aos padrões étnicos ou sociais por eles aceitáveis, fazem homenagens a Hitler, como o que aconteceu em Itajaí, SC, os homens assediam as mulheres nos metrôs, em lugares públicos, como bárbaros, os adolescentes não conseguem decifrar o que leem (quando leem). A involuçao parece cíclica. O homem, ao invés de avançar, regride terrivelmente e o pior de tudo, os jovens que deveriam manter a vanguarda dos movimentos, estão entrincheirados na fronteira da ignorância. Graças a Deus, não são todos. 

A ilustração é do site http://contosdalua2014.blogspot.com.br

quinta-feira, agosto 21, 2014

A vida andava devagar


Como morava próximo à Praça Saraiva, meu pai às vezes tomava o bonde, que saía do abrigo, via Aquidaban, dobrava na linha nova e prosseguia pela Colombo fazendo a curva na Praça. Na Bento Gonçalves, o fim da linha. Morávamos em frente à Padaria União e lembro bem, meu pai cevava o mate, apanhava a garrafa de leite da soleira da porta, comprava o pão de quilo, tomava o café e saía para o trabalho. Era o pão que nos aguardava para o café antes da escola. Recordo, certa vez em que voltava no Saraiva, com meu pai. Eu, apoiado no final do vagão, observando os trilhos que fugiam céleres ante meu olhar, escoando histórias pelas alamedas que se perdiam, homens apressados para o trabalho, crianças no caminho da escola, donas de casas afoitas para abastecer a despensa. Lembro de uma tia que estocava a tulha com cereais, pois temia uma presumível guerra mundial. Além disso, tinha por hábito, enfeitar a cozinha com artesanato em crochê. O forro do botijão que compunha o fogão Wallig, a capa do filtro de cerâmica, o guardanapo sobre a Steigleder e a toalha da mesa. Nem a tulha escapava do adorno. Ah, da cozinha para a copa, havia uma passadeira, adivinhem, de crochê. Fiquei ali, observando os trilhos que se afastavam, compondo histórias, quando meu pai perguntou por minha irmã. Nem percebera que ela ficara na parada onde tomamos o bonde. Meu pai desceu rapidamente, sem antes alertar que eu não me afastasse dali. Que faria, a não ser observá-lo pela vidraça, correndo feito um desvairado à procura de  minha irmã. Naquele momento, percebi-o como um herói dos gibis, empenhado na  defesa da harmonia e da paz. Não demorou muito e ele apareceu na janela, esbaforido, com minha irmã nos braços, pedindo que abrissem a porta do bonde. O cobrador acenou para o motorneiro, que em seguida freou, acionando a campainha, para que meu pai permanecesse no meio fio. Quando o vi, ali dentro, a paz se instaurou. Então, voltei pra minha janela, lembrando da tia esquisita, que ornamentava a casa, quase desfigurando-a de seu aspecto original. Lembro de outra tia, que varava as madrugadas organizando a cristaleira. E em minha mente, a presença de um tio, de feições aristocráticas, rosto afilado, bigode preto e fala macia, que discutia política. Mas estes, são temas para outras crônicas. A vida, naquela época, andava devagar, como os bondes.

sexta-feira, agosto 15, 2014

AS MENINAS DA SOCOOWSKI


São lindas, feias, morenas, loiras, negras e sararás.
São pobres, jovens; jovens demais. Aparentam entre 14 e 21 anos. Não se sabe precisar ao certo. Afinal, permanecem ali, na beira da calçada, sem sonhos ou direções.
Seus encantos e encantamentos se foram há tempos, na sarjeta da rua sem meio fio.
Por certo, há pouco brincavam e vez que outra, ainda o fazem, na imaginação. Brinquedos usados, roupas da última campanha, dores do desfazer, do quase inexistir.
Estão lá, considerando-se belas, cabelos despenteados, roupas que nem lhes cabem, botas compradas com o dinheiro da humilhação e decadência.
As meninas da Socoowski*.
Talvez tivessem outro destino.
Talvez não se desfrutassem nas madrugadas e manhãs frias da Socoowiski, oferecendo-se nos pontos de ônibus ou aos caminhoneiros de passagem.
Talvez tivessem outros sonhos, se a vida lhes fosse afável.
Ou não.
Buscam o que precisam, não refletem, não questionam. Seus sonhos são rasteiros e doídos, despidos de qualquer beleza. Seu aspecto é tristonho. Carregam consigo o mais torpe fardo. Seu olhar é perdido, quiçá um pensamento distante de um futuro que não lhes cabe, vasculha de vez enquanto, a mente.
A prostituição é  atividade profissional no Brasil, enquanto  praticada por adultos.
Mas serão adultas, as meninas da Socoowski?
E há os que as procuram, por isso, elas existem. Não importa se são menores ou não. Há os pais que as oferecem. E o que fazem as mães das meninas da Socoowski?
O que querem as meninas da Socoowski? Dinheiro, roupas da moda, drogas?
Certamente as drogas são ferramentas de seu trabalho.
São prostitutas as meninas da Socoowski? Ou sofreram abuso sexual intra e extra familiar?
Estão ali por que querem?
Quem entende as meninas da Socoowski?
Quem salvará as meninas da Socoowski? 

 * Rua na direção dos bairros, até a rodovia, em Rio Grande (RS)

domingo, agosto 03, 2014

Restauração da imagem por ser considerada feia

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A notícia sobre a restauração da  imagem de Nossa Senhora do Caravaggio, em Farroupilha, tem no mínimo, um quê de absurdo. Parece que  que conta realmente nos dias de hoje, é a aparência, até mesmo da imagem das santas. Fica de somemos importância a fé, o carisma de Nossa Senhora, a devoção dos peregrinos.  Segundo a maioria que reivindica a maquiagem na face da estátua, reitera a desproporcionalidade da imagem, identificando uma figura excessivamente feia e por isso, não compatível com a grandeza de Nossa Senhora. Mas onde está a grandeza,  se não um elo de intercessão entre os fiéis e Deus? Ou na aparência que deve incentivar o turismo? E que critérios foram discutidos para sugerir uma mudança na estrutura da escultura? Quais os critérios artísticos que comprovam que há uma desproporcionalidade na obra? Quem pode afirmar que esta condição que foge ao modelo padronizado  não induz a formas artísticas que produzam movimento e ideias, quem sabe uma grandeza simbolizada na força de Nossa Senhora? Que modelo de beleza é adequado  para que ocorra essa mudança, que não leva em consideração a contrariedade do próprio escultor? Quando a visitei, achei tudo deslumbrante e nem me preocupei com o tamanho da estátua, talvez imbuído por um único objetivo, o de interagir aquele momento com a mais absoluta fé. Mas para o caso que nos deparamos, fica a pergunta:  o que é mais importante para os devotos e peregrinos? Para as pessoas que procuram um regaço para suas dores, seus pedidos, seus agradecimentos? O comércio? O turismo? A beleza da imagem da santa? A fé? Ou a falta dela? É de pensar.

quinta-feira, julho 10, 2014

SERIA A NAÇÃO DE CHUTEIRAS, A GENI?

A nação de chuteiras é dos errantes, dos pobres, marginalizados, dos quem não tem mais nada. Dos que não tem porvir. Como a Geni do Chico, dá-se assim, desde menina; é um poço de bondade mas é feita pra apanhar.
Um dia surgiu a copa,  e a seleção acionada. A cidade clamou desesperada, vai Nação desenfreada, não importa o que falta, não importa o que não temos, tudo será arrumado. Vai nação e enfrenta o inimigo pra nos trazer a vitória. Não importa quem te manda, não importa quem te quer. Quem te usa é o povo. E que venha o guerreiro, tão temido, o forasteiro.
Acontece que a nação também tinha seus caprichos: ao lutar com soldado tão nobre, devia superar as falhas. Arrumar a casa, fazer acessos, pontes, caminhos, para chegar ao panteão tão esperado. Mas parte do povo, gritava descompassado. Não conseguirás. Gastas onde não deves. Deixas teus compromissos e investes na competição. Joga pedra na Nação. Ela é feita pra apanhar. Ela deve sumir. E toma xingamento na Mandatária. E toma preconceito. E toma frases de efeito. E toma protestos pra não ter competição.
Mas a Nação vilipendiada, num suspiro aliviado, tentou até sorrir. E lutou e venceu e perseguiu o rumo da competição. E a Nação envaidecida se permitiu até sonhar. A cidade em cantoria, esqueceu da letargia, da fúria e do ódio e gritou animada: vai com ele, vai Nação! Você pode nos salvar, você vai nos redimir. Você vence qualquer um. Bendita Nação!
 Foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos que ela sonhou com os astros. A cidade em romaria foi curvar-se à Nação. O prefeito de joelhos, o bispo de olhos vermelhos, a mídia emocionada e o banqueiro com um milhão. As igrejas aplaudindo, as escolas solidárias, a elite comemorando, e políticos dando as mãos. Não importa o partido. A Nação é campeã. A publicidade vendendo Brahma , fuleco e tv, o ibope exorbitando e dinheiro a roldão.
A Nação sorriu sentida. A paz voltara e a bonança coletiva. O olhar mistificado. A sujeira? Já passado. Tudo brilho. Tudo amor. O patriotismo voltou. O campeão também. Atirou-se na arena, corpo aberto, sorriso franco e lutou contra os leões. O hino flamejante, coração apertado, o povo enternecido. A vitória do herói. Mas a força se extinguiu, o desânimo se instalou e o leão da morte venceu. O fracasso foi fatal. A nação caiu fraca, esbaforida, arrasada. E tentou até chorar. Mas logo chegou a noite, e a cidade em cantoria não deixou nem suspirar. Joga pedra na Nação. Ela é feita pra apanhar. Tá na hora de votar. Tá na hora de lembrar o que a gente esqueceu. Tá na hora de mentir. De voltar o processo velho. Tá na hora do protesto, da máscara dos black blocs e correr a camarilha que ousou trazer a copa.
Por um momento a cidade pensou: Conseguimos o que queríamos. O sonho não acabou. Joga pedra na Nação!

E segue a Nação de chuteiras.


sábado, junho 21, 2014

Pesagem das crianças e benefícios

Que bom!
Que bom que os serviços públicos estejam atentos às pessoas, aos cidadão
s.
Que bom que se faça pesagem das crianças até sete anos e das gestantes.
Que bom que nos preocupemos com a atualização do calendário das vacinas e imunizações.
Que bom que a matrícula escolar e a frequência de no mínimo 85% sejam fundamentais como exigência das políticas públicas, como o Bolsa Família.
Que as mães e recém-nascidos devam participar das atividades educativas de aleitamento materno e alimentação saudável.
Estes, por certo, terão no futuro, a educação tão preconizada, e que tanto queremos. Terão oportunidade de ler, escrever, amar as artes, encontrar nos livros o alimento da alma, porque quando crianças, seu cérebro cresceu sadio e suas mentes podem agora voar.
Está passando o tempo em que as crianças eram desprovidas de inteligência para aceitarem o mínimo de abstração intelectual. Graças a Deus, a alimentação para que atinjam este patamar, está vindo antes. Que adianta oferecer arte a quem não pode usufruir, a quem está ausente das oportunidades, a quem não se deu o direito de existir?
Finalmente deixando de ser o povo marcado pela desgraça, pela miséria excludente, pela fome. Marcados sim, com a esperança de serem brasileiros tão iguais quanto qualquer um mais abastado. Marcados com a fé de vencerem a si próprios, seus desafios, sem se preocuparem com os desafios maiores e intransponíveis da vida sem esperanças.
Há os que pensam diferente e respeito suas ideias. Talvez acreditem que estes benefícios são somente por interesse político. Mas que saudável interesse pelo povo brasileiro! Antes pelo povo, por suas dificuldades, por suas exclusões como cidadão, do que interesse por banqueiros internacionais, pelo FMI, por monopólios midiáticos, por compra de votos nas reeleições, etc. Que venha o povo. Que se pese o povo! Que vença o povo!



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