Como
morava próximo à Praça Saraiva, meu pai às vezes tomava o bonde, que saía do
abrigo, via Aquidaban, dobrava na linha nova e prosseguia pela Colombo fazendo
a curva na Praça. Na Bento Gonçalves, o fim da linha. Morávamos em frente à
Padaria União e lembro bem, meu pai cevava o mate, apanhava a garrafa de leite da
soleira da porta, comprava o pão de quilo, tomava o café e saía para o trabalho.
Era o pão que nos aguardava para o café antes da escola. Recordo, certa vez em
que voltava no Saraiva, com meu pai. Eu, apoiado no final do vagão, observando
os trilhos que fugiam céleres ante meu olhar, escoando histórias pelas alamedas
que se perdiam, homens apressados para o trabalho, crianças no caminho da
escola, donas de casas afoitas para abastecer a despensa. Lembro de uma tia que
estocava a tulha com cereais, pois temia uma presumível guerra mundial. Além
disso, tinha por hábito, enfeitar a cozinha com artesanato em crochê. O forro
do botijão que compunha o fogão Wallig, a capa do filtro de cerâmica, o
guardanapo sobre a Steigleder e a toalha da mesa. Nem a tulha escapava do
adorno. Ah, da cozinha para a copa, havia uma passadeira, adivinhem, de crochê.
Fiquei ali, observando os trilhos que se afastavam, compondo histórias, quando
meu pai perguntou por minha irmã. Nem percebera que ela ficara na parada onde
tomamos o bonde. Meu pai desceu rapidamente, sem antes alertar que eu não me
afastasse dali. Que faria, a não ser observá-lo pela vidraça, correndo feito um
desvairado à procura de minha irmã.
Naquele momento, percebi-o como um herói dos gibis, empenhado na defesa da harmonia e da paz. Não demorou muito
e ele apareceu na janela, esbaforido, com minha irmã nos braços, pedindo que
abrissem a porta do bonde. O cobrador acenou para o motorneiro, que em seguida
freou, acionando a campainha, para que meu pai permanecesse no meio fio. Quando
o vi, ali dentro, a paz se instaurou. Então, voltei pra minha janela, lembrando
da tia esquisita, que ornamentava a casa, quase desfigurando-a de seu aspecto
original. Lembro de outra tia, que varava as madrugadas organizando a
cristaleira. E em minha mente, a presença de um tio, de feições aristocráticas,
rosto afilado, bigode preto e fala macia, que discutia política. Mas estes, são
temas para outras crônicas. A vida, naquela época, andava devagar, como os
bondes.
Estranha obsessão (2011), ( pode haver alguns "spoilers" ) em francês “Le femme du Vème” ou em inglês “ The woman in the fifth” é uma produção franco-polonesa, dirigida por Pawet Pawlikowski. Ethan Hawke e Kristin Scott Thomas formam o estranho par romântico na trama de mistério. O protagonista é Tom Richs (Ethan Hawke), um escritor norte-americano que se muda para Paris, para se aproximar de sua filha. Já em Paris, depois de ser roubado, se hospeda em um hotel barato. Numa livraria, é convidado para uma festa, onde conhece uma viúva de um escritor húngaro (Kristin Scott Thomas), tradutora de livros, com a qual mantém um romance. Por outro lado, mantém um romance no hotel, com uma linda polonesa (Joanna Kulig, atriz polonesa). Por fim, é acusado de suspeito por um crime, pois seu vizinho de quarto é assassinado. Para livrar-se da acusação, tem como álibi o encontro com a viúva, em sua casa, porém, a polícia descobre que a mulher havia cometido suicídio em 1991. Mas toda es...
Comentários