Este blog pretende expressar a literatura em suas distintas modalidades, de modo a representar a liberdade na arte de criar, aliada à criatividade muitas vezes absurda da sociedade em que vivemos. Por outro lado, pretende mostrar o cotidiano, a política, a discussão sobre cinema e filmes favoritos, bem como qualquer assunto referente à cultura.
sábado, julho 13, 2013
EXTENSÃO POPULAR: um trabalho de pesquisa do Prof.Pedro Cruz
segunda-feira, julho 08, 2013
BALADA DO REACIONÁRIO
Eu odeio pobre! Como posso me mover entre centenas de transeuntes, uniformizados, correndo atrás de ônibus especiais, em direção ao serviço. Aquela gente estranha, mal cheirosa, vinda de nem sei de onde e se juntando com os pobres daqui, perfazendo o nº cada vez maior de assalariados na cidade, tudo por causa daquele tal de Lula, que trouxe para cá estas construções de plataformas e embarcações para a indústria do petróleo!Por que não deixou estas construções lá no exterior, bem longe, como queria FHC? Quem sabe, já não despachava esta plebe pra lá!
Eu odeio pobre. Como pode esta gentalha enchendo as ruas com os seus carros zero, impedindo que nossos carrões circulem livremente! Como era bom no tempo do Fernando Henrique, do Collor, do Itamar, que carro de pobre era só empurrado pra pegar no tranco, e na maioria das vezes, só circulava nas vilas. E o Itamar ainda trouxe o Fusca a álcool, aquele sim era carro pra pobre, claro que comprado através de consórcio! E quem teve a infortunada idéia de surgerir a Dilma que abaixasse o IPI dos carros zero? Ou foi ideia desta guerrilheira, mesmo? Não tinha mais o que fazer, como por exemplo, seguir o modelo capitalista dos tucanos e cia. bela, como privatizar os portos, sucatear as universidades até conseguir a privatização e acabar com esta corja pobre nas universidades? Não, para desgosto maior da elite, ela criou ou continuou o prouni, aumentou as cotas e concedeu bolsas! Que absurdo! Qualquer dia, eles estarão se formando lado a lado com nossos filhos!
Eu odeio pobre! Como podem circular belos e faceiros pelos supermercados, comprando ranchos e adquirindo surpérfluos, estes últimos produtos peculiares a minha classe, como iorgurtes, sorvetes, cookies e outros afins? Agora enchem os supermercados todo o dia, parece até Natal! No Natal, nós até dávamos um desconto, afinal, o coração nestas ocasiões se torna mole, sentimental. Embora nos esgueiramos por entre estantes, prateleiras e corredores repletos, fugindo da escória, suportamos com benevolência, quase amor, a mulher gorda que se posiciona na caixa, vestida numa na calça legging menor para seu tamanho, barriga de fora, segurando nas duas maos, como um trofeu, o peru transgênico. Ou vasculhamos entediados, mas com ar de consternação, porque é Natal, o olhar eufórico do homem mirrado, mas barrigudo, pesquisando no balcão do açougue, uma costela bem gorda para o churrasco. Até toleramos todo este tipo de gente, com uma certa náusea, é natural, quando é necessário comprar o presentinho da empregada. Coisas do Natal. Mas atualmente, o Natal parece eterno, estas pessoas usam cartão de crédito, enchem os bancos em filas quilométricas, se comprimem nas caixas eletrônicas, tomam avião, invadem os aeroportos com suas malas exuberantes e chapinhas coloridas! O máximo que se podia imaiginar sobre um pobre era a faculdade de pilotar um avião de carrossel ou de controle remoto. Infelizmente não, hoje em dia eles chafurdam nos voos baratos. Por isso, surgiram tantas companhias populares, destruindo todo o glamour dos aeroportos, das viagens internacionais, dos vôos de gente de bem!
Além de curtir futebol, que é coisa pra povo mesmo, pricipalmente o esporte de várzea, agora inventaram de participar dos grandes jogos! Que despautério! Pretendem até assistir jogos da seleção brasileira! E a copa do mundo será no Brasil, imaginem. Não, é um sonho terrível, aquelas centenas de pobres presumiveis ascensores da classe média, investindo nas arenas, como se fossem um de nós! É um verdadeiro absurdo, um desastre para o próprio patriotismo!
Ah que saudade daquele patriotismo de fachada do tempo da ditadura, aquela época que era saudável para nós, os da elite! Quando estudávamos OSPB e desconhecíamos a nossa história, quando a filosofia foi banida de nossos currículos e a história era mastigada pelos dentes selvagens dos poderosos. Pelo menos, somente nós viajavamos, participávamos dos eventos culturais, assistíamos os grandes jogos e o povo... ah, o povo, esse assistia pela Globo, ouvindo o “pra-frente Brasil”, aquela música encomendada pelos militares para anestesiar a platéia. Afinal, o povo não devia se dar conta do malogro descarado da transamazonica, das calamitosas usinas nucleares, um negócio com a Alemanha, que lhe rendeu milhões de dólares, nem das torturas escabrosas contra os brasileiros que pensavam contrário ao regime. Isso, o povo desconhecia completamente, aliás, nem nós sabíamos e se soubéssemos, não fariamos nada, não tínhamos nada a ver com isso. Os torturados eram brasileiros iguais a nós, mas não passavam de tontos que pretendiam mudar o Brasil. Essa gente não tinha mais nada a fazer? Ah, que saudade da ditadura!
Por isso, eu odeio pobres! Até esta gente que estava na linha da miséria está saindo para uma vida mais digna! Coisas da Dilma! Quem se interessa com eles, uma corja de vagabundos que só pensam em se dar bem! Ganham bolsa família para se locuplerarem e se encherem de filhos! Um circo vicioso! Dizem que o bolsa família reduziu em 17% a mortalidade, mas quem se importa com isso? Pra que mais arruaceiros, crescendo soltos ai na rua para nos roubarem mais tarde? E que no Rio de Janeiro, reduziu a criminalidade, mas pra que esta gente viva? Que diferença faz? Ah, ainda alguns especialistas argumentam que este dinheiro faz girar o mercado, faz crescer as indústrias, pois mais gente se insere na economia, há mais compras, mais oferta e procura, e por conta disso, uma melhoria na indústria e no comércio. Não deveriam se preocupar mais com os juros e a bolsa de valores? E o pior de tudo isso, é a informação de mais de 40 países querem copiar o programa do bolsa família! O mundo está virando um!
Melhor nem falar! O mundo tá de cabeça pra baixo, por isso devemos fazer algum protesto, pela volta da cuisine nouvelle, da década de 70, pelos branquette de veau (ensopado de vitela), um cassoulete, escargot ou caviar, para falar apenas das tradicionais ou um château lafite Rothschild 1787, um Cheval Blanc 1947, um Hermitage La Chapelle 1961. Devemos lutar por isso, fazer passeatas, manifestações pacíficas, esbravejar. Agora, pasmem, os pobres enchem os free shops comprando vinhos estrangeiros, perfumes e se não houver nenhuma oposição ferrenha por conta das autoridades, vão acabar igualando a sua culinária horrorosa, à nossa! Lutemos por isso!Odeio os pobres! Eles atualmente usam carro como qualquer um de nós (só falta contratarem motorista), tomam cerveja no happy hour e passeiam com cachorros de raça nas nossas ruas! Além de usufruirem de três refeições ao dia, como vaticinou o tal Lula.
Ah, tem outra, estão se interessando pela leitura! Hoje em dia, compram mais livros, não sei, obviamente, de que gênero, provavelmente autoajuda, mas lêem! Sem dúvida, que diferem de nós, da elite, que não precisamos nos aprofundar na leitura, até mesmo o ato de ler é dispensável, a não ser a Veja e alguns jornais que nos representam, porque estes autores esquerdistas, não nos dizem nada. Afinal, o que vale é saber contar o que temos no banco.
Meu Deus e estas tais redes sociais, a que os pobres tem acesso! Feliz o tempo em que a Globo (e todo o seu monopólio) e somente ela era a única forma de informação. Ela soube muito bem esclarecer o caso do Riocentro, em 1981 (atualmente surgiu uma nova testemunha, mas deixa pra lá), além das das diretas-já, na qual custou-lhe entender o clamor das ruas, mas por fim, obrigou-se a mostrar, mais tarde, o caso do debate do Collor -Lula, e sua manipulação histórica, e entre tantos casos, o de Brizola, que foi chamado pela emissora de senil e esta obrigou-se a se retratar através de um Cid Moreira visivelmente constrangido. Cresceu bem, cresceu com a ditadura e se fez uma grande rede! Fez história e mudou a forma de pensar e de agir do povo brasileiro. Um padrão maravilhoso. Afinal, pra que as diferenças regionais que devem ser mostradas na tv, segundo a ótica destes comunistas de plantão? Que interesse o folclore de regiões afastadas do eixo Rio-São Paulo, e o teatro, a literatura, a música locais e toda a forma de expressão artistica e cultural? Tudo deve ser padronizado, pausterizado. É o adequado, puro senso comum. Que interessa a Excelsior, a maior emissora da época, que faliu por conta da interferência do governo militar, em vista de sua conduta contrária à vigente, bem como a Empresa Aérea Panair, que foi forçada à falência pelo mesmo governo. Se deram incentivos importantes para o crescimento da nova rede de tv, que surgiu em 1965, por que não acabar com estes párias? E hoje, se ela nao paga o fisco, é problema dela.
Por isso, eu odeio pobre, querem agora se informar em qualquer blog vagabundo da internet!
Fonte:https://pixabay.com/pt/photos/celebração-povos-feliz-amigos-3783495/
quarta-feira, maio 15, 2013
A EVOLUÇÃO DA RELAÇÃO MÉDICA
terça-feira, março 19, 2013
CLARISSA
Sair à procura de algo que não se sabe, muitas vezes do que se trata: uma viagem no pequeno diário, um caderno colorido, de páginas desenhadas, margens de arabescos ou uma caneta especial, de ponta fina, da marca tal, que tinha na loja tal, naquela livraria onde compraste o teu livro. Quase sempre assim, exigente, disciplinada, austera para a idade, com atitudes impensadas para os mais velhos. Era assim, mandona, talvez autoritária, uma espécie de Mônica, amiga do Cebolinha, ou a Mônica forçuda, como a chamavam, os mais destemperados. Tinha sempre um argumento na ponta da língua, afiada, ferina, mas amiga, afetuosa e sincera. Por vezes, deixava-se levar pela ilusão e fantasia: tinha um cão imaginário, o mar, a lagoa, as árvores da praça eram entidades com vida própria (e atitudes), às quais costumava cumprimentar, relacionar-se e compartilhar com a natureza, como se suas histórias fossem tão presentes e atuais, que fizessem parte do seu cotidiano, não apenas de seu imaginário. Não sofria nenhum desses males da mente: ao contrário, era de uma lucidez e entendimento da vida inabalável, mas sabia cultivar o sonho, a beleza de viver, pelo menos por alguns momentos, a liberdade que só os que alimentam suas mentes com a grandeza da ilusão, apreedem. Por fim, esta fantasia se desenvolvia nas leituras que se acumulavam em dezenas de livros que costumava dissecar, tentando encontrar um sentido em cada tema, em cada trama, em cada conflito. Talvez, eu tenha grande parcela de culpa nesta maneira de ver o mundo, que aos poucos se solidificou e a fez, tenho certeza, fugir do senso comum, do mundo padronizado, das verdades absolutas e enfrentar a vida de frente. Talvez a tenha induzido, não sei se seria a palavra certa, a encontrar outros caminhos e principalmente através da leitura, e, enquanto criança, na possibilidade deste encontro com a natureza, de cultivar o amor pelas pessoas, pelo mar, pelos animais, mesmo que imaginários e cumprimentar a todos, como se cumprimenta e se deseja um bom dia, quando amanhece e se vai ao trabalho, ou no caso, para a escola. Até mesmo o sol era saudado, no caminho para a aula. Eram coisas nossas, de pai e filha, uma certa cumplicidade que me deixava feliz. Este processo se complementava também através das histórias infantis, nas quais nem sempre o vilão era o mau, ou a princesa era a protagonista. Muitas vezes, o lobo mau era um pobre coitado, perseguido por um lenhador antiecológico, acuado por uma menina egoísta, acobertada por uma velha que se fazia de doente. É, talvez assim, ela tenha conhecido a diversidade da vida e introjetado que nem todo ser é integralmente bom ou mau, que esta dicotomia do mocinho e do vilão só leva a criar rótulos, e por aí vão tantos conceitos e preconceitos que não levam a nada.
segunda-feira, março 04, 2013
sexta-feira, agosto 10, 2012
A HIDROGINÁSTICA E A SELEÇÃO MUSICAL. INFORTÚNIOS.
quinta-feira, maio 10, 2012
Um dos livros que me despertou para a leitura: Tiradentes de o Aleijadinho
sábado, abril 14, 2012
DEDICATÓRIA IMPRESSA
quinta-feira, abril 12, 2012
A MÃO QUE CONDUZ A VIDA
Mexia as mãos, inquieto, sobre as páginas amareladas do jornal. Ilustrações saltando na retina, inesperadas. As colunas horizontais, repletas de letras: mosquinhas pretas que se juntavam em tropa disciplinada. Sentia a mão forte, rugosa, que nem galho de árvore, machucado pela intempérie: calos doídos, veias salientes, unhas escalavradas. Mãos de operário. A mão que me instigava o olhar, empurrava suave a minha, deslizando sobre as linhas, que lembravam a fuligem dos trens, passando céleres, vagões rumando ao porto. Olhava para ele de frente, engatando um sorriso, ele de soslaio, orgulhoso. Voz pausada e firme. Então, o esplendor, o regozijo, a iluminação. Comunhão. Despertar da leitura na palavra “hotel”, com todas as letras, em seguida, “pronúncia”, palavra difícil, que significava pronúncia? Ele pigarreou, explicou, explicou, mas logo mandou seguir adiante, que pronúncia não era palavra que dava nome a coisas, por isso, não tão importante. Era jeito de falar, mas se não juntasse o assunto, não dava nada. Procurava as mais complicadas, maiores, acentuadas. Ele me indicava o contexto. Coisa importante de ser dita. De repente, sob inspiração, desando a ler dezenas delas: jornal, cambraia, papel, outono, coronel, militar, morte. Observo-o sério. Muda de assunto. Pega outra coluna. O mundo se abre a minha frente. Uma catedral de sons, músicas e anjos dançantes pairam em meus devaneios. Livro, planta, flor, poesia. Ele sorri, satisfeito. Me beija de leve no rosto e começa a ler devagar um texto tão bonito, que me induz participar tão intimamente que me sentia ali, integrado naquelas folhas de jornal velho, amassado, oriundo de algum embrulho da mercearia. De repente, sou mais uma palavra com conteúdo brilhante, forte, denso, ou uma ilustração estética, bela, nobre. Naquele momento, meu pai parecia ter 6 anos e eu a sua idade. Estava feliz. Eu sério, contrito, ouvindo os sons pausados, as sílabas alongadas que surgiam de sua pouca leitura. Tudo certo, redondinho, exato, quase infantil. Mas com uma dose extraordinária de sabedoria e emoção.
Minha mãe passeava pela cozinha, deixando o toque-toque dos saltos insurgir-se prosaico, na ansiedade temerosa da vida que brotava, mas não ousava dispersar-nos de nossos momentos de parceria. Ouvia o correspondente da rádio e de seus olhos castanhos, pude avaliar um brilho de aflição. Meu pai parara, estupefato, embora sem se afastar dali, da mesa da copa, onde ficávamos tanto tempo fazendo planos, os três. Ela estava ao pé do rádio, encostada na beirada do armário que ficava à altura de seu seio. Próxima à porta, olhava-nos, esperando o desfecho. Meu pai estático, fixando o jornal, mas ouvindo atento. Eu olhava ora para um, ora para o outro.
Brizola irrompeu a falar obstinado, sem cessar, instalando a rádio no palácio. Reivindicou homens para a luta, relatou o apoio do partido comunista. Instigava à Nação, na luta pela posse de Jango.
O silencio pesava. A noite interrompia a vida, a morte suscitava denúncias, guerrilhas, terror, medo, golpe. Ou tudo isso suscitava a morte. Por momentos, meu pai encolheu-se na cadeira, pensativo, enquanto a emissora prosseguia, inflamada, reverenciando os heróis. Um mar revolto antecedia a tempestade. Prenúncio de inverno nefando, doído. Ossos enrijecidos. O aporte do frio, da dor, do inverno latente que se imergia nos corações e cérebros apalermados (turvos). Parece que estava fadado a interromper ali, naquele ponto, a naturalidade que nos envolvia. Com o tempo, meu pai foi se afastando de nossas conversas, nossas cumplicidades, nossas aulas de leitura e vida. Minha mãe cada vez mais tensa. Juntava-lhe os óculos pendentes num cordão de ouro, mastigando pequenas letras que se inseriam rápidas no seu repertório. Buscava nelas, talvez, inspiração para seguir adiante. Poesias, contos, temas suaves, prenúncio de romance e ternura. Mas nada a tirava dos pensamentos mais funestos. Seu olhar se perdia no horizonte, principalmente quando o viu afastar-se de vez. Quando nossos olhos se encontraram e os corações bateram em uníssono. Deve ter me abraçado, acalentado minhas esperanças. Mesmo assim, a via distante e solitária. Não era mais a mesma: taciturna, perdida. Reticente. Empilhava os inúmeros cadernos dos alunos e entre eles um recorte qualquer de jornal, uma folha amassada trazida por alguma colega da escola, uma carta que chegara da capital. Meu pai estava lá, distante, envolvido na luta pela liberdade, pela justiça, pelo desejo de continuar vivo e de me ver assim, livre e senhor de meu destino: destino que ele quisera impunemente conduzir. O tempo passou. Brizola exilou-se. A campanha fracassou. O golpe triunfou: forte, estridente. Fera que devorava as presas que não palmilhassem os mesmos passos, não seguissem os mesmos caminhos ou que apenas divergissem da caça.
Minha mãe vestiu-se com recato, sóbria, elegante. Juntou-se ao grupo. Resistência. Esperança. Espalhou papéis. Panfletos. Documentos que denunciavam a repressão, a tortura, manifestações indiciantes da ditadura. Lutou pela volta dele. Esperou-o. Foi aos quartéis. Buscou-o nos menores e piores recônditos. Nos porões. Ficou finalmente, quase só na dor. Um comunista não ficava impune. Mesmo um homem amável, doce, que tentava me conduzir suave, no caminho do conhecimento. Ela deixou-se ficar, vazia, à espera amiúde da volta: da maneira que fosse. Vivo ou morto. Passou a exercer a dor com dignidade. Cada gesto, cada movimento era devidamente pensado, arquitetado, engendrado. Desafios que se impunham aos seus anseios.
Via-a envelhecer paulatinamente. Eu ingressara na escola, misturando-me ao meio que me acercava sem perceber que ao meu lado estavam os que me libertavam de minha velha vida: agora, integrante do meio denso e feliz da infância. Uma infância não mais marcada, não estigmatizada pela dor, nem pelo medo ou desesperança. Uma infância que me alienava de tudo aquilo: todo aquele passado que aos poucos se afastava de mim e não mais me dizia respeito. Deixava minha mãe de lado, as suas buscas desesperadas, o sumiço de meu pai, suas lutas, seu passado. Não queria mais sofrer com eles. Queria ser feliz, ser um igual no bando uniforme que me cercava. As brincadeiras, as descobertas, o outro mundo desconhecido. Não mais o aguado mexer de mãos, mergulhar na água e descobri-las tão igual quanto antes: limpas, sem máculas. Segurá-las uma na outra, uni-las para pedir perdão e suplicar ajuda. Não mais o caminhar lento e fragilizado de minha mãe, ronronando pela sala, procurando nas almofadas o cheiro de um passado que já não existe. Entrar sorrateira atravessando a cozinha, sentar no portal que dá para o pátio, acercar-se de que o seu mundo não passa dali. Olhar as nuvens e avistar nelas a fuligem dos trens de carga, rumo ao porto e seguir junto a eles, correndo por entre os dormentes, esperando encontrá-lo, levar-lhe a comida que lhe matava a fome do corpo e da alma. Por vezes, ia até o porto, olhava ao longe, sentada à beira do cais, e lá deixava-se ficar à espreita de alguma notícia, um balbuciar assustado de algum operário, dizendo-lhe coisas suspeitas, frases fragmentadas, pedidos de segredo. Eu a seguia, mão na mão. Quase arrastado pelas alamedas quentes, trilhos escaldantes, brilhando, espelhando meus olhos indiferentes. Afundando os pés na rua de carvão. Nestes momentos, a odiava, assim como odiava meu pai, com todas as forças, por ter me abandonado, por ter buscado lá fora uma vida que não se coadunava com a nossa, por ter me exilado de seus planos. Por que me fizera ingressar no mundo novo, desconhecido das palavras? Por que aguçara a minha curiosidade, por que me alertara para as buscas que faria?
Quando pela primeira vez ingressei na biblioteca, um brilho absurdo se apossou de meu ser. As palavras fluíam céleres, ilustrações majestosas. Um encontro inesperado que não supunha ocorrer daquele modo. De repente, a revelação: meu pai estava ali, inteiro, metamorfoseado naquelas páginas ávidas de conhecimento, de verdades não absolutas, de indução à curiosidade, do fazer mil perguntas e exigir um mundo de respostas. A fuga do senso comum. A mão forte, agora, me guiava segura, tranqüila, induzindo-me a partilhar consigo as mesmas verdades, as mesmas buscas, os mesmos caminhos. Luta armada, guerrilha, comunismo, golpe, tortura, ditadura passaram a fazer parte de meu vocabulário. Aos poucos fui enfrentando meus medos, assumindo suas lutas, seus anseios de transformação, desertando daquela vida medíocre e mesquinha, assumindo a esperança dos sonhadores. Porém, cedo, percebi a mão pesada da autoridade obscura, quando centenas de soldados imiscuíram-se entre os livros, espalhando-os ao chão, desatentos a sua sorte; ratos desenfreados e famintos fuçando pela ração da intolerância. Buscavam literatura subversiva e ali, brevemente, num momento de dor, mas de iluminação, tive a confirmação da legitimidade da luta de meu pai. Minha mãe procurou-o em vão. Nem seu nome estava arrolado nos autos dos insubordinados, subversivos, comunistas. Nem seu corpo, seus restos, mas o seu legado permaneceu entre nós, tão firme e forte, que nos sustentou por toda a vida.
quarta-feira, novembro 23, 2011
terça-feira, novembro 22, 2011
segunda-feira, novembro 14, 2011
terça-feira, novembro 08, 2011
domingo, outubro 23, 2011
segunda-feira, setembro 12, 2011
sexta-feira, abril 29, 2011
O CANDIDATO A CANDIDATO
Hilário sorriu. Os dentes brancos, recém maquiados pelo ortodentista, o olhar apaziguado de quem se revela num acervo de poemas menores, eficazes para certas ocasiões. Apertou o tubo do creme dental com o cabo da escova de dentes, alisando com eficácia o material amassado no calor do plástico. Por certo, hoje, o mundo lhe abriria um novo sorriso, tão seguro quanto o seu. Mas as coisas se arranjariam do modo mais adequado. Ele consertaria os pneus traseiros do carro, empreenderia pequenas viagens, visitaria os tios velhos e os primos desalentados. Ali cravaria a sua placa. O seu pendor de vencedor; superar obstáculos era sua meta. Portanto a hora era agora.
Ajeitou o paletó, balanceando o corpo e firmou o nó da gravata, assegurando a simetria. Puxou os cabelos para trás, desalinhando apenas alguns fios, até parecer natural. Sorriu mais uma vez, lambeu os lábios, e se imaginou no meio do palanque, apertando mãos, acenando para conhecidos, correligionários, autoridades.
Afastou-se do espelho da velha cômoda e sentou-se. Doeram-lhe as carnes magras da bunda, chocando-se ao colchão duro e deformado. Abaixou-se, calçou com cuidado os sapatos e respirou fundo. Agora nada mais faltava. Apenas um detalhe, pensou. Abriu a gaveta do bidê, tirou um bloco de anotações, leu algumas linhas de um pequeno discurso e recitou o próprio nome, várias vezes. Hilário Bandeira. Hilário Bandeira. E acrescentou: candidato.
Em seguida, na rua, atravessava o pequeno parque que fazia fronteira do seu bairro com o do largo da prefeitura. O parque parecia vazio. Um ou outro transeunte, carregando sacolas, oriundos de alguma loja próxima. Aos poucos, estes também desapareciam, como se a única finalidade consistia em evadir-se daquele lugar ermo. Hilário sentiu um certo aperto no peito, uma dor miúda, que mastigava por dentro, como se o alertasse de alguma coisa mal sucedida. De repente, avistou um homem, finalmente havia mais alguém no parque e que talvez se dirigisse também ao palanque. Entretanto, o homem se distanciava a tal ponto, que quase não o avistava, a não ser uns trejeitos estranhos, uma maneira incomum de se vestir. Tentou identificar as vestimentas que mais pareciam uma fantasia de carnaval. Nada lhe vinha à mente conturbada. A figura estranha que se afastava, quase numa nuvem de poeira, ou névoa, ou fumaça, sabe-se lá o quê, produzia um sentimento de intensa perplexidade. Hilário franziu a testa, apertou os olhos e forçou a visão como pode para identificar o homem que se afastava naquele parque vazio. Aproximou-se do banco de pedra, próximo àquela árvore retorcida que costumava engendrar brincadeiras com os meninos do bairro, fingindo-se de herói nos tempos em que estes existiam, e sentou-se, inquieto. A parte posterior das coxas lhe doía pelo gelado da pedra. Na testa um suor desavisado empapava as sobrancelhas. Tocou-a levemente, roçando o anel vermelho e pensou estar com febre. Temia que alguma coisa terrível lhe acontecesse, afinal, tudo parecia ser um prenúncio de tragédia. Por fim, suspirou aliviado. Conseguiu visualizar, já na esquina, quase na curva que desembocava na prefeitura, o homem que se afastava tão rápido e assim, de maneira acautelada. Então era isso. A situação era tão simples e ao mesmo tempo tão absurda. Como ele não tinha percebido? Era um toureiro. O homem estava vestido de toureiro e se adiantava nos passos porque se dirigia à arena. Sim, à arena dos touros. As calças brancas, muito justas desde a cintura, aparteadas por um pequeno colete prateado. Se pudesse ver melhor, teria a certeza de que ele carregava alguma coisa na mão. Talvez uma espécie de lança, provavelmente para desafiar e investir contra o touro. Também observou-lhe a capa vermelha que esvoaçou ao dobrar na esquina. Nesse momento, não o viu mais.
Hilário levantou-se do banco de pedra, acabrunhado. Aquela revelação não era nada auspiciosa. Afinal de contas o que faria um toureiro no largo da prefeitura. Onde estariam todos? Onde estariam os convidados, as autoridades, inclusive, algumas celebridades? Era o dia dele, o dia do candidato, a sua chance de subir no palanque. Mas aquele homem, vestido daquele jeito... Bom, melhor não pensar nisso, agora, e seguir em frente. Certamente, a coisa mudaria de figura, logo que ele também dobrasse a esquina e ouvisse as bandas e o povo bradando o seu nome. Por fim, ele, espalhando sorrisos, enquanto pisasse firme em direção ao palanque.
Entretanto, outra circunstância extraordinária repentinamente saltou aos olhos de Hilário. Ao se aproximar do largo da prefeitura, o piso não era mais aquele emaranhado de ladrilhos bem dispostos, formando desenhos articulados, escolhidos a dedo por arquitetos que compunham a história da cidade. Não, ao contrário, era um chão tosco, no qual ele sujava os pés numa poeira vermelha, e seus sapatos de solado de couro riscavam com a lama seca. Hilário evitava olhar os pés e assim, já perdera toda a elegância. Seus olhos tingiam-se de vermelho e sua boca estava seca, como se atravessasse o deserto e apenas o líquido do suor de seu rosto era o que lhe cabia. Seu coração disparava, agitado. Temia que de repente, surgisse da primeira curva empoeirada, um touro ensandecido e que as pessoas disparassem pendurando-se em muros, em árvores, nas janelas das casas, nas grades dos portões e ele devesse enfrentar a fera sozinho.
Hilário recuou alguns passos, temendo ver mais do que sua imaginação criava. Mas era tudo real. O largo da prefeitura, antes ornamentado com flores e jardins, agora virado numa saga de animais ferozes e pessoas tresloucadas. Como se todos estivessem possuídos por uma droga potente, a ponto de transformar seus raciocínios, transportando-os a um mundo medieval. E não havia palanque. E desaparecera o imponente prédio da prefeitura. E não estavam as autoridades, nem os amigos, os conselheiros,os colaboradores. Apenas aquele terreno vazio e aquela turba delirante. Aquele povo de cara suja e olhos alucinados, torcendo que o sangue empapasse a lama, tingindo-a de vermelho e marrom, aprofundando a cor tenra em seara madura.
Num gesto reflexo, Hilário acelerou o passo. Um movimento que o assombrou a tal ponto de pensar que estava cometendo um suicídio. Mas tinha consigo que devia seguir em frente. As pernas magras balançavam dentro das calças. O olhar ponderava ao longe um ar de indagação. Que poderia haver além daquelas trincheiras, daquele povo que se acotovelava na volta da arena? Então, avistou um pequeno grupo de pessoas vestidas de palhaço, com nariz vermelho e roupas largas. Traziam consigo, pequenas lanças, tal como o toureiro, que a estas alturas devia estar encavado em algum canto obscuro, pois desaparecera completamente de seu campo de visão. Caminhavam devagar, observando as pessoas que riam de suas caras engraçadas. Um que outro dava cambalhotas, mas só um que outro. Os demais permaneciam no passo ritmado e nem pareciam felizes. A missão devia ser árdua. Hilário teve a impressão de avistar uma lágrima em uma das faces e às vezes, eles se davam as mãos, como se precisassem se apoiar uns nos outros.
Hilário parou novamente e olhou em torno, ouvindo os assobios e gritos agitados do povo. Teve a impressão de que o mundo inteiro se transformara numa sangrenta arena e que os touros eram fantoches criados apenas para satisfazer os donos do poder. O tolos que explodiam em pontapés, acotovelando-se e rindo às estribeiras nem se davam conta, que tudo não era uma simples diversão. E o que havia por detrás da batalha era muito mais intenso do que a população festejava. Hilário desta vez, não recuou. Ficou como estava, patético, petrificado. Finalmente, ele compreendeu tudo.
Naquela disputa, talvez não haja espaço para ele. Ou talvez ele precise usar a lança para espetar o touro. Ou seja ele, touro, não sabe. Em algum momento, porém, ele dará lugar a outro, mais jovem, com número maior de eleitores, com sorriso mais branco.
Pensando assim, tentou afastar-se, mas na sua frente, do nada, apareceu o toureiro. Hilário até sorriu, mas sua alegria durou pouco. O outro investia contra ele, com a mesma lança que avistara ao longe, a capa vermelha esvoaçando ao vento e um sorriso seguro, de quem tem a vitória estampada nos lábios.
Hilário viu-se ameaçado pelas costas, tal como o touro e não conseguia enfrentar o inimigo, muito menos encará-lo com o mesmo poder. Sentia a lâmina rasgar suas carnes, o ferro borrifando pequenas faíscas no sangue que vertia rápido, sujando a lama seca da arena. Naquele momento, ele percebeu que não era o candidato. Que não era um ser humano. Que não era ele.
sábado, dezembro 11, 2010
EPISÓDIO WIKILEAKS EXPÕE A NUDEZ DA MÍDIA: LIBERDADE NÃO É O SEU NEGÓCIO
EPISÓDIO WIKILEAKS EXPÕE A NUDEZ DA MÍDIA: LIBERDADE NÃO É O SEU NEGÓCIO
Companheiros me cobram, em vários espaços, posicionamento sobre assuntos em evidência. Então, vale um esclarecimento: às vezes deixo de me manifestar porque, simplesmente, considero que não exista dúvida possível quanto à posição correta.
P. ex., será que, acompanhando meu trabalho, alguém pode remotamente supor que eu não apoiaria o reconhecimento do estado palestino?
É evidente que tem todo direito a existir e ter sua soberania respeitada pelo todo poderoso e todo belicoso vizinho.
Mas, também não me entusiasmam essas iniciativas meramente simbólicas, que não mudam verdadeiramente as situações. Enquanto o mundo não tomar as providências necessárias para que sejam punidos/evitados os massacres e atos de pirataria sistematicamente perpetrados pelos israelenses, não serei eu a aplaudir os meros enxugamentos de gelo.
Também é fácil de adivinhar que sou totalmente favorável à divulgação dos documentos secretos dos poderosos e totalmente contrário à perseguição kafiana que governos vêm movendo contra homens de esquerda como Cesare Battisti, Roman Polanski e Julian Assange. É, como bem disse o Carlos Lungarzo, o IV Reich togado...
Só que nem sempre encontro algo original para dizer, em meio à avalanche de textos coincidentes. E acabo escrevendo sobre outro assunto qualquer, em que minha visão possa realmente acrescentar algo ao que já foi dito.
Enfim, como o episódio WikiLeaks está na crista da onda, vale a pena reproduzir aqui, com meu total endosso, uma das melhores análises até agora publicadas na grande imprensa, Os meios e os fins, do velho guerreiro Jânio de Freitas:
"Estava muito esquisito. Precisar fazer estupro, logo na Suécia de tão dourada generosidade? Ainda se fosse na Suíça, nada a estranhar. E reclamação contra assédio masculino? Na Bélgica ainda podia ser.
As coisas, porém, afinal voltam à sua natureza nos lugares apropriados. E fica-se sabendo que a acusação a Julian Assange de 'estuprar uma mulher sueca e molestar sexualmente outra', como os meios de comunicação repetem mundo afora há duas semanas, foi não usar preservativo, pode-se supor que com proveito mútuo, e, no outro caso, um ensaio compartilhado.
Mas a conduta dos meios de comunicação não deixou de atingir a reputação de Assange e, com isso, contribuir para a sufocação que governos poderosos buscam aplicar à divulgação que esse valente australiano faz de documentos sigilosos, pelo seu site WikiLeaks.
Não estamos só diante de muitos gatos graúdos e um ratinho que lhes roubou pedaços do melhor queijo escondidos com cuidado. É de liberdade de informação que se trata.
É do direito dos cidadãos de saber o que seus governos dizem e fazem sorrateiramente, no jogo em que as peças são as comunidades nacionais.
É de jornalismo que se trata. E os meios de comunicação jornalística estão ficando tão mal quanto os países, governos e personagens desnudados pelo Wikileaks. Era a hora de estarem todos em campanha contra os governantes que querem sufocar as revelações. Ou seja, em defesa da liberdade de informação, da própria razão de ser que os jornais, TVs, rádios e revistas propagam ser a sua.
Com escassas exceções, que se saiba, os meios de comunicação estão muito mais identificados com os governos e governantes do que com os cidadãos-leitores e com a liberdade de informação. A união e a contundência que têm na defesa da sua liberdade de empresas, dada como liberdade de imprensa, não se mostra: segue, nos Estados Unidos, o aprendizado imposto pela era Bush e, no restante do Ocidente, os reflexos desse aprendizado sob a paranoia do terrorismo.
Os jornalistas profissionais não estão melhor do que os meios de comunicação. Poucos são os seus recursos de expressão, mas, ao que se deduz do noticiário rarefeito, as manifestações de repúdio à pressão contra as revelações do Wikileaks são feitas por leitores/espectadores. Os jornalistas apenas as registram, pouco e mal." http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg Fonte: blog: Náufrago da Utopia do jornalista Lungaretti.
LIBERDADE POÉTICA - LETRAS LIVRES
EPISÓDIO WIKILEAKS EXPÕE A NUDEZ DA MÍDIA: LIBERDADE NÃO É O SEU NEGÓCIO
Companheiros me cobram, em vários espaços, posicionamento sobre assuntos em evidência. Então, vale um esclarecimento: às vezes deixo de me manifestar porque, simplesmente, considero que não exista dúvida possível quanto à posição correta.
P. ex., será que, acompanhando meu trabalho, alguém pode remotamente supor que eu não apoiaria o reconhecimento do estado palestino?
É evidente que tem todo direito a existir e ter sua soberania respeitada pelo todo poderoso e todo belicoso vizinho.
Mas, também não me entusiasmam essas iniciativas meramente simbólicas, que não mudam verdadeiramente as situações. Enquanto o mundo não tomar as providências necessárias para que sejam punidos/evitados os massacres e atos de pirataria sistematicamente perpetrados pelos israelenses, não serei eu a aplaudir os meros enxugamentos de gelo.
Também é fácil de adivinhar que sou totalmente favorável à divulgação dos documentos secretos dos poderosos e totalmente contrário à perseguição kafiana que governos vêm movendo contra homens de esquerda como Cesare Battisti, Roman Polanski e Julian Assange. É, como bem disse o Carlos Lungarzo, o IV Reich togado...
Só que nem sempre encontro algo original para dizer, em meio à avalanche de textos coincidentes. E acabo escrevendo sobre outro assunto qualquer, em que minha visão possa realmente acrescentar algo ao que já foi dito.
Enfim, como o episódio WikiLeaks está na crista da onda, vale a pena reproduzir aqui, com meu total endosso, uma das melhores análises até agora publicadas na grande imprensa, Os meios e os fins, do velho guerreiro Jânio de Freitas:
"Estava muito esquisito. Precisar fazer estupro, logo na Suécia de tão dourada generosidade? Ainda se fosse na Suíça, nada a estranhar. E reclamação contra assédio masculino? Na Bélgica ainda podia ser.
As coisas, porém, afinal voltam à sua natureza nos lugares apropriados. E fica-se sabendo que a acusação a Julian Assange de 'estuprar uma mulher sueca e molestar sexualmente outra', como os meios de comunicação repetem mundo afora há duas semanas, foi não usar preservativo, pode-se supor que com proveito mútuo, e, no outro caso, um ensaio compartilhado.
Mas a conduta dos meios de comunicação não deixou de atingir a reputação de Assange e, com isso, contribuir para a sufocação que governos poderosos buscam aplicar à divulgação que esse valente australiano faz de documentos sigilosos, pelo seu site WikiLeaks.
Não estamos só diante de muitos gatos graúdos e um ratinho que lhes roubou pedaços do melhor queijo escondidos com cuidado. É de liberdade de informação que se trata.
É do direito dos cidadãos de saber o que seus governos dizem e fazem sorrateiramente, no jogo em que as peças são as comunidades nacionais.
É de jornalismo que se trata. E os meios de comunicação jornalística estão ficando tão mal quanto os países, governos e personagens desnudados pelo Wikileaks. Era a hora de estarem todos em campanha contra os governantes que querem sufocar as revelações. Ou seja, em defesa da liberdade de informação, da própria razão de ser que os jornais, TVs, rádios e revistas propagam ser a sua.
Com escassas exceções, que se saiba, os meios de comunicação estão muito mais identificados com os governos e governantes do que com os cidadãos-leitores e com a liberdade de informação. A união e a contundência que têm na defesa da sua liberdade de empresas, dada como liberdade de imprensa, não se mostra: segue, nos Estados Unidos, o aprendizado imposto pela era Bush e, no restante do Ocidente, os reflexos desse aprendizado sob a paranoia do terrorismo.
Os jornalistas profissionais não estão melhor do que os meios de comunicação. Poucos são os seus recursos de expressão, mas, ao que se deduz do noticiário rarefeito, as manifestações de repúdio à pressão contra as revelações do Wikileaks são feitas por leitores/espectadores. Os jornalistas apenas as registram, pouco e mal." http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg Fonte: blog: Náufrago da Utopia do jornalista Lungaretti.
segunda-feira, novembro 15, 2010
O PACIENTE E O PSICANALISTA, OU UM OU OUTRO
O paciente e o psicanalista, ou um e outro
Eu o esperava, organizando os arquivos no notebook. Nada era tão previsível naquela tarde, do que aguardar o paciente, via de regra, impaciente e angustiado. Uma nesga de sol se abria na vidraça que dava para os prédios posteriores à praça. Não sei porque meu olhar se detinha lá longe, naqueles prédios cinzas, de telhados sujos. Uma ou outra pomba investia pela vidraça, o que me dava certo estremecimento. Espiei na janela e quando me voltei, o vi, olhos fixos na tela, observando atento, os protocolos de sua história. Olhou-me, intrigado. Tinha olhos grandes, densos e agora, pareciam maiores. Fingi displicência e fechei o notebook, sem dar importância ao caso. Cumprimentei-o e pedi que ficasse à vontade. Poderia sentar-se na poltrona, à minha frente ou no divã, segundo sua escolha.
_Eu vi, doutor, eu vi!
_Você viu o quê? – caminhei em direção à escrivaninha, mantendo o controle – não há dúvidas, de que se viu alguma coisa, não pode influenciar em nada no nosso trabalho.
_Então por que grafou o meu nome em negrito?
Já sentado, argumentei – é apenas um registro, por que não se acomoda na poltrona? — ele nem me ouviu, ali, parado, patético.
_Por que está preocupado, doutor? O alucinado deve ser eu, não?
_Na verdade, Antônio, neste momento não deve haver preocupações, de parte a parte.
_Mas o senhor está, eu vi no seu olhar quando olhava pra fora, o senhor está tenso.
Quase levantei, mas não fazia parte da estratégia, me mostraria intranqüilo, como talvez ele quisesse. Queria que ele se acomodasse, escolhesse um lugar para ficar no mesmo nível, ou mais inferior, quem sabe, no divã. Torci as mãos na mesa, juntei os dedos em oração, fitei-o tranqüilo, quase com afeto. Ele não mexeu um músculo. Nem piscou.
_Não devia ser assim, doutor, não devia ser mesmo! Mas o senhor é um homem como eu, não é um super-homem, um deus. Por isso, acho que não devo obedecê-lo.
Tentei perguntar “como assim?”, mas permaneci calado, ouvindo-o, também sem mover um músculo da face, a não ser aquele movimento involuntário, próximo ao olho esquerdo, prenúncio de enxaqueca. Ele prosseguiu: _Quero ficar em pé, ou caminhar pela sala, ou fumar o meu cachimbo. Sei que o senhor detesta o cheiro do cachimbo e quem gosta, não é mesmo? Minha mulher detesta, os meus empregados suportam. É tudo uma questão de hierarquia. Mas aqui, quebramos a hierarquia. O senhor desceu do pedestal, hoje, pra mim.
_Parece que você evita falar de si, não quer se enxergar mais intimamente, e por isso, prefere falar de mim. Há alguma coisa que o impede, que o incomoda, não é mesmo?
_E quem é o senhor para saber o que me incomoda? Quem é o senhor, o todo poderoso, para saber como devo pensar, falar, agir. Por favor, Antônio, sente aqui, ou melhor, Antônio, escolha a cadeira, a poltrona ou o divã, o que preferir. É tudo tática, estratégia, tudo planejado, pensa que não sei?
_Eu não sei o que o perturba, é você quem revela. Apenas o induzo a encontrar caminhos.
_Pra quê? Quer me dizer? Para seguir o senso comum, que o senhor proclama? Quer me padronizar, me engessar , me transformar num clone de todo o mundo?
_Você está dizendo o que imagina ser o meu objetivo. Talvez seja isso que você no fundo deseja – a minha experiência de psicanalista não servia muito naquele momento. De todo modo, prossegui, enfático — você não quer ser diferente, porque a diferença é cruel.
_O senhor viu o que está fazendo? Está tirando conclusões para que eu concorde com o senhor e tudo volta à normalidade. Mas eu – e batia no peito, um som surdo, que me assustou — eu tenho dignidade. Eu sei o que é melhor pra mim! Além disso, depois do que fez, ainda quer que eu obedeça!?
_Não se trata de obediência, Antonio, você sabe muito bem disto. Acho que não precisamos começar como se fosse a primeira sessão. Não vai exigir que eu enuncie os objetivos que traçamos juntos.
_Traçamos juntos, péra aí, doutor – ele se aproximou, calcando os punhos cerrados na mesa, os olhos emoldurados pelas sobrancelhas espessas, o olhar intenso, carregado – o senhor criou a trajetória do inicio ao fim, se houver um fim algum dia, o senhor analisou as minhas fraquezas, examinou meus pontos falhos, fez um dossiê a meu respeito e finalmente me deixou a vontade, para que eu contasse tudo, tudo que escondera até de mim mesmo, durante anos e anos de minha vida. O senhor armou este circo e agora diz que planejamos juntos!?
_Você acha que devo dizer alguma coisa, Antonio?
_ É mais uma tática doutor? É uma daquelas teorias fajutas que utilizou para me comandar, me subjugar, me transformar num verme e depois esmigalhar no solo e se afastar limpando os sapatos, com raiva? É este o seu entendimento de missão cumprida?
_Por favor, Antonio... — eu deveria ter evitado este “por favor, Antonio”, acabei de entrar no seu jogo, mostrei-me fragilizado ante aquele desvario descompassado. Eu que devia manter o percurso, usar a artimanha técnica para não ceder à ansiedade, acabei resvalando e caindo na vala comum em que ele se afogava. Antônio aproveitou a deixa e deu uma tacada decisiva: _Tá aí, agora confessa, que nenhuma daquelas baboseiras foi honesta. Tudo forjado, planejado, arquitetado. O senhor limpou os pés, me fez de tapete, me embrulhou numa lata de lixo. Agora quer remendar o que destroçou. Por favor, Antonio, por favor, uma pinóia! Agora, quem vai sentar no divã, é o senhor.
_Que está dizendo? – mais uma vez, falhei. Não devia levar à serio o seu descontrole emocional. Repliquei, tentando equilibrar a luta, ou fingir que eu era apenas o juiz, ou o assessor, ou o caddie do jogo. Conhecer o campo e observar o jogador. Contemporizar: minha função.
_Estou feliz por você, Antônio, esta explosão de emoções é uma atitude saudável. Você botou pra fora, abriu seu coração: isto é que importante. Não importa, se sentado, em pé, no parapeito da janela – neste momento me interrompi, um pomba passeava rente à vidraça e dava uns grunhidos estranhos, obscenos. Meu olhar se estende para os prédios cinzas e senti um arrepio na espinha. Uma dor melancólica, de quem perdeu alguma coisa e ainda não sabe. Ou tem dúvidas.
Ele percebeu meu desvio e aproveitou: _O senhor grafou o meu nome, digitou ai, nos seus arquivos, em negrito, eu vi o adjetivo que me destinou.
Então sorri, um leve sorriso, quase um afago, e um breve aceno de cabeça. Ele discordou de meu gesto abonador. – Li e não gostei e posso lhe garantir uma coisa, só tem uma saída pra nós dois.
Quase explodi, “diga, fale de uma vez, seu idiota”, mas me contive, a tempo. Por um momento, pensei nas contas que se acumulavam, no andar desorientado de minha mulher, nas dúvidas em sua conduta e percebi que meu percurso se alongava para atrás dos prédios cinzas. Voltei para o momento preciso, e esperei que ele completasse o pensamento.
_A sua mulher costuma aparecer no meu bairro. Ta sempre por lá, sabe que moro depois da praça, não sabe?
Fiquei surpreso com a observação irônica. Pensei em informá-lo de que ela faz benemerências, mas não lhe devia explicações. Calei-me, um pouco inseguro e ele prosseguiu, destemperado: — Tenho uma solução para nós dois: para que ninguém saia perdendo, é preciso haver um equilíbrio. O senhor sabe das minhas necessidades, das minhas deficiências, e portanto tem um ponto a seu favor, tanto que ta ai, registrado no seu notebook. Pois bem, o senhor está em vantagem.
_Não se trata disso, Antônio, nossa relação é profissional e as necessidades que você comenta, não significam que o seu conteúdo seja desfavorável a você e que eu as qualifique segundo a sua ótica. Como afirmo sempre, o meu julgamento é irrelevante, aliás, não é minha função. Para mim, não existe o certo nem o errado, existe o que é saudável, o que é bom pra você.
_Vou fazer de conta, que não ouvi de novo esta papagaiada, doutor, mas seguindo o fio da meada, o bom pra mim, é o equilíbrio. É reconhecer no senhor, falhas, deficiências e fraquezas, como em mim.
_Espere um momento – novamente me excedi. Não era de bom alvitre perder a disputa, afinal, sou um profissional — quero dizer, claro que sou falho como qualquer ser humano, mas assim, como eu não posso julgar as suas atitudes, você não deve fazer o mesmo em relação a mim.
_Mas aí a coisa fica desequilibrada e eu saio perdendo.
_E o que você quer que eu faça? – perguntei indignado, levantando-me da mesa. Ele sorriu, vitorioso. Deu alguns passos, dirigindo-se à esquerda da escrivaninha. Deixou de lado a poltrona ou o divã que costumeiramente ocupava. Acomodou-se placidamente na poltrona de couro.
_Muito bem, doutor, o senhor agora está falando a minha língua. Nada de frases prontas, de expressões estudadas. O senhor se irritou e mais um pouco, estaria se atracando comigo. Não se esqueça, que tal como o senhor, eu me coloco na sua posição, no seu lugar. Sei o que pensa.
_Não exagere, Antônio — sorri, tentando mostrar-me calmo. Ele também ria da poltrona e para minha surpresa, bateu com a mão estendida no braço da outra, em frente a sua e me convidou: — Sente aqui, doutor, vamos conversar. Prove que é igual a mim e tome o meu lugar.
Pensei duas vezes, se deveria atender o convite ou se recusaria com superioridade profissional. Se atendesse, estaria cedendo ao capricho do paciente, e demonstraria meu fracasso. Se recusasse, corroboraria com o que ele afirmava, de que eu me sentia superior, que tinha pontos de vantagem, porque o conhecia profundamente. Aproximei-me da janela, bati na vidraça espantando a pomba que deu um vôo rasante parando na marquise da farmácia da esquina. Voltei-me para ele e seu sorriso vencedor me apavorava.
_Então doutor, vai sentar aqui ou não vai? Está com medo de ser analisado?
Não resisti ao desafio. Mexi nuns papéis sobre a mesa, abri o notebook, ouvindo a observação dele “vai dar mais uma olhadinha pra lembrar do meu perfil?”. Não respondi a provocação e sentei a sua frente. Antônio parecia imenso, as pernas esticadas à vontade, os pés acomodados para os lados, mostrando descuido com os sapatos.
_E aí, doutor, não vai dizer como é que se sente?
Eu diria que me sentia pequeno, ínfimo, quase humilhado, mas apenas perguntei: — Você se sente à vontade aí, na minha cadeira?
_Muito bem, doutor, muito bem. Não sabia que era tão confortável. Parece até que a visão que se tem aqui é do alto, o senhor não acha? Ah, não acha, não. Faz parte da estratégia terapêutica, não é mesmo? Mas não vem ao caso. Agora quero que fale.
_Falar o quê?
_Não sei, deve ter muito a dizer. Como eu.
_Você é que precisa dizer o que sente, sentado na minha cadeira.
_Outra vez, minha cadeira, o senhor nem percebe, não é mesmo? Mas o senhor enche a boca para dizer que a cadeira é sua! E porque ela é sua? Para resguardar a sua integridade, a hierarquia, para representar quem tem o poder. Viu, aí não tem equilíbrio.
_Então, você precisa da minha verdade, é isso – afinei os sentidos, talvez procurasse também o tal equilíbrio que ele tanto queria, para não ceder de uma vez por todas. Assim, me colocava no lugar dele, para atingir meus objetivos. Parece que ele já fazia isso, literalmente.
_Acho que você tem razão, Antonio. O adjetivo era apenas uma observação eventual, talvez você não compreenda, mas eu preciso de certos sinais, características para identificar os pacientes. Não significava muita coisa, a não ser que precisava atentar além do que você dizia.
_Monótono. O senhor digitou monótono ao lado do meu nome.
_É verdade. Quando você falava, armava um rosário de lamentações inúteis, que usava apenas como conteúdo de fuga e não acrescentava nada. Estas lamentações eu rejeitava.
_Como?
_Pensando noutras coisas.
_Por exemplo?
_Nas contas para pagar.
_Que mais?
_Problemas do dia a dia.
_Que problemas?
_Problemas pessoais, como o de todo mundo.
_Sim, mas porque não revela os seus. O senhor sabe tudo sobre mim, sabe até que tenho o hábito de evacuar com a porta aberta. Pois bem, se posso evacuar com a porta aberta e me conformar com isso, não precisando fechar a porta apenas para agradar os outros, o senhor deve ter um problema que posso também examinar para induzi-lo a não se sentir abalado com ele. Quem sabe assim, parar de dormir, quando um paciente fala!
_Dormir? Eu nunca... — Não, não, não diga isso. O senhor dormiu, quando eu estava no divã e abri os olhos e o vi, cabeça tombada no queixo. O senhor quase roncava.
_Uma vez só, uma vez...
_Ou então, o senhor se esforçava em evitar o bocejo quando eu discorria sobre a minha insossa vida profissional. Ou sobre o cachorro da vizinha que invade o elevador toda vez que saio de meu apartamento, ou sobre o... deixa pra lá. O senhor ficava quieto que nem rato em guampa, então eu me dava conta.
_Rato em guampa?
_É, o bicho fica quieto, à espreita, fingindo de morto, só esperando uma brecha pra sair. O senhor ouvia, mas não ouvia, tá entendendo? – faz um gesto girando a mão em concha ao lado do ouvido esquerdo, com o indicador e o polegar alongados, em uníssono.
Pergunto, acuado: _Então?
_É a sua vez, para eu sair do prejuízo. Fale alguma coisa.
_Você já me acusou que eu dormi, enquanto falava, que eu fico quieto me fazendo de morto, você apontou as minhas falhas.
_Quero que você mesmo as aponte. Aí é que tá o retorno.
_Está bem, eu tenho uma fraqueza — não pensei em mais nada, atabalhoado, discursei vigoroso, quase uma vingança — sabe aquela vez que você mencionou o seu relacionamento nada convencional com sua mulher? Pois eu a imaginava naquele furor que você descrevia, aquele verdadeiro tornado que dificultava as suas noites, mas que me deliciava os pensamentos! Sabe quantas vezes eu a tive em meus braços, nas duchas demoradas em que me lambuzei, quantas vezes eu transei com ela em meus sonhos? Pois sempre que você falava nela eu desfrutava cada cena que você rechaçava, com vigor, com explosão, com quase orgasmo! Era isso que você queria saber, Antônio? Era esta falha de comportamento? Está satisfeito agora, você me venceu!
_Não, eu to aliviado, doutor, porque eu também tenho uma revelação para fazer ao senhor, mas agora, nada de estratégia, de objetivo, de ficar quites. Uma conversa de homem pra homem!
_Do que se trata Antônio?
_Cada vez que o senhor comia a minha mulher em sonhos, eu comia a sua de verdade!
Foi a tacada final, o arremesso definitivo, o objetivo alcançado pelos meandros do percurso, com tenacidade, planejamento e ação. Ele acertara o buraco. Literalmente. Mas houve equilíbrio. Será? Afastei-me em direção da janela e avistei os prédios cinzas, ao longe, lá atrás. Uma pomba obscena beliscou meu olhar.
Postagem em destaque
A boca vermelha, cabelos loiros, olhar perdido. Nem sabe se fazia pose, encenava ou apenas acessório do cenário. Assim os observava de re...

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