terça-feira, abril 01, 2014

TEMPOS DIFÍCEIS


TEMPOS DIFÍCEIS

Corria o início dos anos 80 e a Polícia Federal, como todas instituições que possuíam ingerência na vida dos cidadãos, no país,  tinha suas próprias normas, ou talvez seu jeito arbitrário de conduzir os deveres e direitos (?) dos homens de bem. Num destes dias de primavera, estava numa parada de ônibus, banho tomado, roupa alinhada, maleta sob o braço, à espera rotineira do transporte urbano. Nada que me estimulasse ou me deixasse alerto para as surpresas do cotidiano. Ao contrário, naquela tarde, especialmente, eu estava tranquilo. Coração quieto, sem muitas preocupações, a não ser pensamentos fugazes sobre a aula de filologia, que considerava um tanto monótona. À noite, a rotina se completaria com o trabalho na biblioteca da Universidade, mas naquele momento, nada me causava maiores devaneios. Tudo rotineiro, como um ritual elaborado sob normas pré-estabelecidas, quase medíocre. Meu companheiro de ponto de ônibus, um senhor que me parecia escriturário, ou balconista de loja de sapatos, nem sei porque me causava esta impressão, aproximou-se e reclamou do atraso do coletivo. Perguntou-me as horas e a pergunta ficou indefinidamente no ar. Repentinamente, um opala preto parou rangendo pneus, produzindo uma indefinível atmosfera de abafamento, de coisa fora do lugar, de inapropriação de espaço e tempo. Como subitamente nos roubassem aquele momento. Uma figura estranha que se interpunha entre nós, como um alienígena na sala de aula. Dois homens correram ao nosso encontro, mais dois no carro,  rapidamente, armas em punho, exigindo documentos, questionamos, perguntamos o motivo, seguimos seus passos, entregamos carteiras de identidades, atravessamos ruas, entramos numa casa, quase barraco, invadindo o que nos parecia uma transgressão. Diziam-se da polícia federal, investigaram todos os compartimentos, imiscuíram-se em todas as fendas, todos os buracos, todas as frestas. Reviraram camas, derrubaram vasos, mastigaram flores, desfraldaram emblemas, espiaram livros, derrubaram estantes. Cavaram jardins, encontraram objetos e principalmente o tão almejado: trouxinhas de maconha. Mostraram-nos. Esfregaram em nossos rostos. Perguntaram se conhecíamos. Resposta negativa. Mostraram novamente, informaram, pediram que gravássemos na mente bem o conteúdo. Trouxinhas de maconha. Rapidamente, surgiu a noticia de que o homem procurado, se aproximava. Esconderam-se, nós mais atrás, apavorados, alienados daquele mundo brutal, do qual fôramos incluídos à força. Olhos à espreita, coração à larga, batendo desatinado. Um misto de revolta, raiva e pena. Piedade pelo que chegava. Raiva pelos que esperavam. Um deles correu ao encontro do homem e todos apareceram, cercando-o, algemando-o, levando-o ao nosso encontro, testemunhas forjadas no momento fortuito. A mulher que o acompanhava dobrou a esquina, com uma criança no colo. Ainda a vi afastar-se, dobrando os joelhos, acelerando os passos, fugindo. Mais umas muambas, e nada tão transgressor quanto àquela  abordagem. Olhei por impulso para meu companheiro de ponto de ônibus e vi na retina o terror que se desenhava como máscara na fisionomia. Eu devia estar assim também. Em seguida, levaram o homem aos gritos, nós juntos, querendo afastar-nos, esclarecer de alguma forma que não tínhamos nada com isso, que não éramos testemunhas, que apenas estávamos cumprindo mais um dia rotineiro de nossas vidas, mas não podíamos. Fomos todos para o opala, no banco da frente, os dois primeiros homens que nos abordaram, no detrás, acolherados como animais de caça, eu, o prisioneiro, meu parceiro de espera de ônibus, e mais dois truculentos que ajudaram na operação. O opala cedeu nas rodas, mas voou rápido em direção ao centro de operações da polícia federal. Lá passei a tarde, sentado numa cadeira, ouvindo sugestões de como me deveria portar nos depoimentos, sendo a cada momento, importunado por policiais que impunham sua presença como garantia de que cumpriam o dever e precisavam de nossa assinatura. À minha frente, preso numa jaula, o homem algemado me olhava de soslaio de vez enquanto, forjando fumaça pelas ventas, acabrunhado, assustado, humilhado. Que estaria pensando naquele momento. Que eu ou o companheiro havíamos delatado suas atividades, se nem o conhecíamos? Estaríamos à mercê dos policiais que exigiam que disséssemos que havíamos participado de livre e espontânea vontade da operação e ao mesmo tempo ao arbítrio de um cara que poderia ser perigoso, sentindo-se ameaçado por nossas prováveis declarações?
Refleti sobre tudo isso naquela tarde. No dia em que finalmente fui chamado para depor, fiquei frente a frente com o preso. Meu amigo, desesperado, desapareceu do mapa. Acho que agiu certo. Ao entrar no gabinete onde se daria o depoimento, um policial que participara da operação, me advertiu, com um olhar sinistro, convenientemente interpretado para compor o teatro de seus propósitos arbitrários. Afastei-me dele, fechando a porta atrás de mim e sentei-me numa cadeira, próxima ao escrivão, defronte ao juiz e tendo o olhar fixo do homem considerado culpado.  Fiquei entre a cruz e a espada. Uma lá fora, na ante-sala. Outra aqui, quieta, esperando o resultado, desafiadora. Olhei para um lado, para o outro. Aquietei-me. Observei os procedimentos. Ouvi as considerações, as perguntas e iniciei o meu depoimento. Decidi ser eu mesmo, talvez agora um desafio inconsciente ao sistema injusto que não protegia o cidadão e punha-o ao alvitre de decisões ditatoriais. Declarei ao juiz em sonora expressividade, que estava ali subjugado a uma espécie de despotismo.  Na verdade, eu estava ali prestando um depoimento sobre uma pessoa que desconhecia completamente, nunca a tinha visto, nem sabia de suas atividades, nem onde morava e nem ao menos tinha qualquer interesse sobre sua vida. Neste momento, o juiz deixou os óculos caírem-lhe ao queixo, o escrivão parou de datilografar por um instante e ensaiou um movimento no ar, quase etéreo, um tanto feminino, como se não acreditasse no que estava ouvindo. Do outro lado, pela primeira vez, o algemado levantou os olhos e me encarou detidamente. Acho que até que suspirou aliviado. Ouviu-se um leve zum-zum-zum, o juiz limpou a garganta, o escrivão deitou o cotovelo direito na barra de espaços, produzindo um som arrastado de engrenagens, os guardas encostados à porta se mexeram, aliviando os ombros, olhando-se em atitude comprometedora. O juiz me olhou afetuoso. Quase balbuciou com voz suave: _Por favor, continue.  Eu prossegui, enfático, desta vez, referindo-me aos policiais que me abordaram. Considerei que infringiram a lei, porque eu não queria invadir casa alguma, muito menos ser forçado a perder a aula, além disso, haviam tomado o documento, o que me obrigou a segui-los. Não concordava de forma alguma com aquele procedimento. Nisso, o juiz interrompeu o meu depoimento. Fez uma versão bem simplificada para o escrivão, que batia trêmulo nas teclas metálicas. Dispensou-me imediatamente. Respirei curto. Ali, estava livre, mas lá fora, o que me esperaria? Atravessei a porta, passos incertos,  pernas meio bambas, joelhos quase batendo um no outro, encarando por alguns minutos os dois policiais que me acenavam, sustentando presença, reafirmando que me conheciam e que eu cumprira o meu dever. Acenei afirmativamente e me afastei rápido dali. Nunca mais vi o companheiro de parada de ônibus. Aliás, nunca mais esqueci o endereço da casa que ajudei a investigar. Tempos difíceis. Tempos em que se engolia em seco e se fingia que a autoridade era competente, como se dizia na época. Mas, na verdade, competência é apenas uma expressão que informa relatividade. Depende a que competência nos referimos. Minha vida não mudou muito. A rotina não foi novamente despertada, mas ficou um gosto amargo de derrota, de humilhação, de no fundo, ter-se a certeza de que a verdade expressada, fora maquiada para conservar o sistema e tudo que se dissera não passara de páginas em branco. E ainda há quem tenha saudades daquele tempo.


e-mail: gcgilson4@gmail.com
Gilson Borges Corrêa

sexta-feira, janeiro 31, 2014

Contratempos num passeio de bicicleta na praia


Não sou muito bom em tarefas manuais. Não tenho as habilidades básicas, nem para trocar o cartucho na impressora, mexer com parafusos ou arrumar a correia da bicicleta. Não é meu jeito, que fazer. Tenho outras habilidades, graças a Deus. Mas devido a esta falta de jeito, muitas vezes, passo por perrengues nada agradáveis. Outro dia, ao entardecer, estava passeando de bicicleta pela praia, um fim de tarde lindo, o sol se pondo e as águas translúcidas pela pouca luz que restava. Dava gosto de ver. Fui indo, com o vento a favor, em direção à barra e nem me dei conta que a noite chegava rapidamente. Resolvi voltar e de repente, a correia da bicicleta travou. Na verdade, deslocou-se das engrenagens da coroa da pedivela (rodas denteadas, pesquisei) e a catraca da roda traseira.  Então, virei a bicicleta e tentei recolocá-la, sem nenhum sucesso. Engraxei as mãos, tingi as unhas e os dedos, mas tudo o que fazia, aumentava mais o enredo que se formava. Quanto mais tentava resgatar o emaranhado, mais se embaraçava a correia e a coisa ficava pior. Não tinha jeito. Enredava mais e mais. Por vezes, a coisa quase se acertava. Olhava detidamente tentando descobrir o imenso quebra-cabeças que se formava. Puxei com cuidado uma parte da corrente que me parecia mais solta, mas para minha surpresa, ela se engatava de um lado e se soltava do outro, formando umas argolas difíceis de desmanchar. Sentei-me no chão, emoldurando o calção de areia, molhado que estava da praia, pois havia tomado um banho rápido antes. Tentei desta vez, fazer uma limpeza, sem ter qualquer instrumento adequado, a não ser minhas próprias mãos. Encontrei uma espécie de taquara, acho que era isso, talvez de pandorga ( ainda utilizam taquara nas pandorgas, como no meu tempo?) e investi decidido na limpeza da areia molhada que se acumulava entre os dentes. Quem sabe assim, ficava mais fácil de colocar a engrenagem em ordem. Pura ilusão, cada vez que eu tentava engatar uma parte, a outra se destrambelhava toda, tornando tudo um caos. Comecei a pensar que deveria seguir em frente, a pé. Levantei-me, cheio de areia, os chinelos transbordando lama, por ter passado no riacho, produzindo rápido a mistura que os deixava praticamente fora de uso. Mas não havia alternativa. A noite se aproximava, as pessoas rareavam cada vez mais e eu precisava tomar uma atitude, ou seja, a única viável para aquele momento insólito: voltar para casa com a bicicleta a cabresto. Fiquei tanto tempo envolvido com aquela tarefa sem resultado, que a noite chegou rapidamente e com ela, o vento que se intensificava, me empurrando para a direção oposta. Tinha a impressão que estava num deserto, com ondas de areia que se formavam ante meus pés como nuvens brancas, que se misturavam céleres com as pequenas lagoas que atravessava, voando na direção das dunas. Assim é o Cassino, quando o tempo muda. Ao longe, observava na luz tênue, os cata-ventos que se espraiavam na névoa e uma nuvem escura se afunilava no céu, ameaçadora, anunciando uma tempestade que talvez surgisse a qualquer momento. Sentia o vento fustigar meu tórax sem camisa e um frio inesperado me atingia, nem sei se pela influência da natureza ou pela ansiedade que se intensificava. Não era nada assustador, daqui a pouco estaria em casa, talvez 40 minutos ou 1 hora de caminhada, nada demais. Mas o cansaço e a luta embrenhada contra o vento produziam a atmosfera necessária para o medo. Entretanto, nem tudo parecia perdido, apesar da minha inabilidade em consertar coisas ou fazer trabalhos manuais, havia a possibilidade de ajuda de alguém. Quem sabe alguém que viesse num dos carros que vez que outra passavam por mim, quem sabe um deles pararia e me ajudasse. Ou mesmo o caminhão da limpeza, que imaginava que passasse àquela hora na praia. Por outro lado, conjecturava que eles nem pensariam em parar, afinal, a noite se aproximava, o tempo estava ruim, o vento forte e eu poderia ser um marginal que oferecesse algum perigo. Por certo, não parariam. Ninguém me ajudaria àquele hora. Mas meus pensamentos se dissiparam como gelo na água. Foi de repente que aconteceu e nem tive tempo de refletir. Avistei um rapaz de bicicleta, não conseguia visualizar bem, mas sabia que era alguém numa bicicleta e que certamente poderia  me ajudar. Chamei-o e ele, por um momento, me fitou, talvez pensando no que eu queria. Insisti, explicando que não conseguia arrumar a correia. Acho que ele imediatamente compreendeu o meu desespero, pois prontamente aproximou-se e já deu dicas, além de começar a destravar a correia. Eu posicionara a bicicleta com as rodas para cima, o que ele refutou como um método equivocado. O correto seria deixá-la na posição normal, apenas levantando-a um pouco e mexendo na roda de trás. Ele cuidadosamente acionou as engrenagens de modo a  se juntarem à correia, ajustando-as completamente, primeiramente a parte que fica na roda traseira, em seguida, limitou-se a arrumar a coroa nos pedais. Foi aos poucos, colocando-a no lugar e informando como deveria proceder, visto que havia uma distorção na roda de trás, que deveria ser consertada. Não sabia como agradecer-lhe, inclusive pedi desculpas por ter-lhe interrompido a caminhada. Para ele, não houve problemas. É o tipo de pessoa que faz questão de prestar auxílio com a maior disponibilidade, foi o que pude perceber. Afastou-se ouvindo ainda os meus agradecimentos. Seguiu o seu caminho e eu, o meu. Estava leve, aliviado, problema resolvido. Foi tão fácil pra ele. Tão difícil pra mim. Fiquei então, pensando, que ainda há pessoas que fazem gentilezas, que ajudam a quem precisa, de modo despretensioso, apenas com o desejo de cumprir uma boa ação. Provavelmente, nem tem esta consciência, mas lhes é próprio esta faculdade. Ele me salvou de uma situação difícil e levou consigo uma leveza de alma, que certamente deve ter sentido, pela ajuda que prestou. Realmente não tenho habilidades motoras, meu habitat é a escrita, e por isso, descrevo a sensibilidade da ajuda de outrem. Ainda há tempo pra gentileza. Isso é muito bom. Alvissareiro.

domingo, janeiro 26, 2014

Um café bem-vindo


Um café bem-vindo

Um café é sempre bem-vindo. Por onde vou, por mais calor que esteja, estou sempre à procura de um café. Um café me anima a alma, me conforta, me liberta do mau humor. Um café me acorda, me deixa ágil para fazer os textos, para viajar (tanto na escrita, quanto na estrada real), um café me transporta. Muito se tem falado sobre o café e ressaltado seus benefícios ou malefícios. Pra mim, no entanto, além de tudo que é dito, estudado, pesquisado, analisado, é transcendental. É um universo. Sentir o aroma do café é absorver a primavera na sua plenitude, é agitar o coração, é percorrer com leveza os campos. O café é verão, sentir as pernas salgadas pelo sal da praia, naquele velho calção de banho, escorrendo os pingos até os pés, sentando numa cadeira à frente do bar e sorver o café preto, denso, forte, com sotaque de praia. O café é alento, calor no inverno, um upgrade à memória e imaginação, quando sentado à escrivaninha, escrevendo aquele texto que para nós parece iluminado, mas que com o café se transfigura. O café amadurece aos poucos, sentimo-lo preencher com cuidado na boca, a língua adocicada e aquele cheiro de infância que invadia as ruas do outono, no início das aulas. Acho que o café é o resumo das quatro estações junto, aquelas climáticas, que vivemos diariamente, mas também, mescladas nas estações de Vivaldi. É. Tomar um café é vivenciar a música, é participar dos adagios, dos allegros, e todos os compassos e absorver a sonoridade da melodia, influenciar-se pelos altos e baixos e vibrar nas apoteóses. Tomar um café é viver. Viver plenamente. É ser feliz. 

I CREATED A FAKE




I once created a fake of myself . This is normal , some friends asked me, do not know, not even really know what can be considered normal . After all, people have different standards of behavior conceived as within normal and everything seems extraordinary, elegant, avant-garde , even postmodern (if it exists ) . Anyway , it all depends on the context in which it appears the situation or behavior . Anyway , for a while , I was very happy with my fake , or rather , I was awarded some benefits . My fake participated in many social networks . It was smart, intelligent , appropriate to the new technological and artistic trends , besides being politically positioned , and ultimately , a great philosopher . But it was a fake , a figure created to protect me as a walking stick to support me , a character to share with me the most estrambólicas information , to discuss social problems , to share the existential questions, to make objective attitudes toward more different points of view . Yes , because he had a point of view . She had well -argued assertions , knew expose their ideas with unparalleled mastery . He was a true genius in the art of vetting, abalizar , confronting situations , finding the most diverse outputs and intervene shamelessly the findings of others , showing other ways , other ways of looking at the world. Different looks not lacked . Joy and good humor too . It was perfect. Educated . Patient paciencioso , thrifty , temporizing , elegant . A gentleman . For a while , I accompanied him in his musings , their diverse ideas , their unique points of view, fleeing the common sense and desacomodam things . After all , the top of his extensive knowledge , his experiences and his troubled mundane trajectory espraiava the rough neighborhoods of social networks , the larger doses of new discoveries , new ways of situating the gaps , filling them with experience , content and action. I got used to it. I got used to her way of giving back what I thought of sharing with me the findings of the same signaling pathways , to broaden horizons at the same time seemed so near us , so attainable that it was sufficient esticássemos hand , one finger , one who judges , pointing to get closer and closer , the vaunted goal, who knows the truth . That was how we behaved almost arrogant . A delivering to another for granted , the precise contribution at the right time . As a double game , where one depends on the other . Tennis game , precise, taut, focused , quiet . Only the sound of the racquet , the sigh of the crowd , the shout of victory . One thing that gleamed in the dusty and cloudy sky facebook or any other social network . Anything we said was worth millions of hits , for us , of course , we were not interested in sentences Arnaldo Jabor [ sic ] , in comments about drinking , cooking , that intimate barbecue , washed the caipirinha and red and squinty eyes who abused joy, things that only pertain to those who put on the network , or used bike , the dog peeing on the couch , in stretched mother in the network , showing misshapen thighs , or the sugary messages , prompting fears and guilts , and searches responses of endless chains . There was nothing that we were looking for . That was something the deceased Orkut . But suddenly , the fake was being connected by other friends , was being discussed in order of friendship , sharing , and increasingly harassed by their ideas and manifestations unpunished . Everyone wanted to know it , learn from your profile , browse your pictures , your wall . Wanted to accompany them , follow it , find the path that it seemed to open so many doors , so many ways and so many ways to find the truth . Not everyone, of course . Not those of the caipirinha , personal photos, daily show about their business , from the food from noon until stomachache afternoon . These do not . They were interested in enjoying anything and share with the sameness of everyday life . That was news to few . But these few were multiplying, which gave me some fear . Fear of being overtaken by fake . My friends have not heard anymore nor shared what I posted , although they agreed with me , ah, just because I shared with the fake , agreed with the fake , the fake fed me . They wanted to do the same . It was a time of great suffering. Some said , because he only shares with you? Why just agree with you? Because it describes in detail, with many more arguments , based on articles from experts in appropriate readings in scientific knowledge or their own livings what you declare you ? Why does not cooperate with us, do not share with us. So I had to split the fake . Or rather , I had to write for it to friends too. Then started raining requests to add them to your social networks . They wanted him , they loved him . Was not me who followed , was not what I thought it was worth , was what he claimed were their attitudes that mattered . He was the king of the party . I became just an accomplice. Then I had an idea . I decided to delete the fake . I decided to put a stop to those arrogant attitudes , that thinking avant-garde , postmodern , and if there is such a thing ( as I thought before) , those points of view advanced , that bold way to escape the ordinary sense . I needed to eliminate fake . Away with him, away with her ​​fame , her uninhibited way of being , their intimacy increasingly exacerbated together with my friends, who were now more his than mine. There was no escape . The only way out was to end it. So I did . I deleted the fake . Back to being myself. The discuss the same issues , politics, society, social movements , the beauty of nature and the struggle for its preservation the quest for racial equality, the fight to end prejudice, philosophy in its various aspects , classical music , good music , theater, literature , cultural life ... Also ran the common sense values ​​seen and reviewed , evaluated other ways ... Friends moved away, who Postava one another "like" or share a photo or want a good night , a good day, a good day , a good weekend ... And all returned to show their beautiful houses , newly acquired , their latest model cars , their bikes , their leather coats , their kebabs weekend ... Anyway , the mediocrity that is part of their lives . I think I'll create fake.
Fonte da ilustração: geralt Gerd Altmann de Freiburg, Deutschland (domínio público)

sábado, janeiro 25, 2014

DOCE OBEDIÊNCIA





Costumava agir assim, seguir o conselho dos mestres. Jamais se furtava a obedecer, fosse qual fosse a ordem, a regra, a observação, o pedido. Era doce, plácida, quase sempre mergulhada em profunda melancolia. Gostava de sofrer, pois significava viver uma vida que não a sua. Quem sabe, a de uma heroína medieval, crivada de medos, de sentimentos obtusos, de falta de liberdade e cheia de inspiração e amor. Às vezes, tinha surtos de labirintite e gostava de sentir-se um pouco zonza. Mostrava ao mundo seu sofrimento e solidão. Já passava dos quarenta, tendo por companhia um gato siamês, castrado, gordo, calado, preso a uma corda. Subserviente, tal como ela. Se ao menos, tivesse um namorado, traria consigo a conspiração da vida, que se achegava pertinho, se arrastando, deixando- se avistar apenas pela janela. Mas só. Não tinha ninguém. Ah, também tinha suas costuras, das quais vivia e se sustentava. Mas por elas, não nutria nenhum sentimento. Detestava as mãos ágeis de como esticava o tecido sob a agulha da máquina, sem jamais espetar o dedo. A mão gorda e macia que se punha a desenrolar fios e mastigar sedas. Lá fora chovia ou fazia sol. Não importava. Tudo era igual e dentro dos conformes. Convertia os tecidos nas fisionomias desagradáveis de suas donas: seus olhares que brotavam perguntas inevitáveis. Suas bocas pintadas fervilhando em milhões de bactérias estimuladas, infiltrando-lhes na pele, nos olhos, nas têmporas, no pescoço, nas mãos execráveis que apertavam a sua. Sentia náuseas e percebia o quanto se intumesciam de críticas. Enchiam o gargalho. Nada podia fazer. Eram suas clientes. Seu pão diário. Obedecia apenas. Se queriam um bordado aqui, próximo ao seio, executava. Se solicitavam um talhe mais alongado, se exigiam um decote mais ousado ou a transmudação do molde num saco, obedecia. Era seu dever. Seu destino. Quando saíam, lavava as mãos várias vezes.
Por certo, não as desprezava, mas suas vozes agudas e esganiçadas ficavam em seus ouvidos alertando-a do perigo que invariavelmente sofria. Não podia odiá-las. Era uma pessoa generosa e boa. Às vezes, mirava-se no espelho e avistava uma mulher poderosa. Bobagem. Não passava de uma falsa magra, mal vestida. Tinha por hábito experimentar as roupas das clientes. Examinava-se detidamente, quase com carinho. Observava o seio pequeno, infantil. Então punha um enchimento qualquer, um trapo perdido das costuras antigas ou um maço de algodão e sentia-se adequada. Até sorria. Acertava a cintura, punha alfinetes, emoldurando o corpo, contraía a barriga, espichava os pés pequenos e chatos em pseudo saltos altos, ensaiava alguns passos pelo ateliê. Suspirava. Dava meia volta, dispunha um disco e se emocionava com o “Tema de Lara” ou “Dio como te amo” da Gigliolla Cinquetti. Gostava das músicas dos 50 ou 60.
Aquela tarde, especialmente, estava assim, enlevada. Vestiu sua melhor roupa, um vestido azul turquesa, que confeccionara imitando o modelo de uma atriz e partiu em direção à praia. Na verdade, nem tinha rumo certo. Queria andar pela rodovia, avistar as casas se afastando devagar, ouvindo a música preferida no carro um ponto zero, ano 96. E assim se deu. Avançou por avenidas que se cruzavam e deixavam a cidade para trás. Observou as pessoas imprudentes, os animais que se atreviam a atravessar a pista, cachorros desalmados, tirando a atenção dos motoristas, pondo em risco suas vidas e seus sonhos. Até um cavalo se antecipou ao passeio, atirando-a para o lado oposto da estrada. Do outro lado, a polícia rodoviária em seus uniformes sóbrios, fisionomias gentis, espíritos equânimes revelando a postura de líderes, verdadeiros heróis do asfalto. Sentia por eles, uma ponta de orgulho e uma tênue excitação. A música ressoava melódica nos alto- falantes. Já não avistava pessoas, nem casas, nem animais. Só campos que se alastravam, povoados de plantações organizadas, verdejando o que antes era apenas pasto selvagem. Em dado momento, porém, ouviu um som sibilante de alerta: os heróis do asfalto se aproximavam céleres de seu carro, como perseguindo um foragido. Sentiu seu coração pusilânime bater apressado. Não tinha o que temer. Eram homens da lei e certamente precisavam de ajuda. Prosseguia em sua quilometragem segura sem se afastar um milímetro do que mandava a lei. Ultrapassaram e ela até acenou. Nem teve tempo de acelerar a marcha que recuara para dar passagem, pois cortaram sua dianteira, em direção ao acostamento, fazendo sinal para que parasse. Obedeceu mais uma vez. Uma conversa rápida e um homem algemado e ferido passou para o banco de trás de seu veículo, ao lado de um policial parrudo, enquanto o outro acionava ajuda. Não refutou a solicitação. Viu que o sangue corria pelo tapete impoluto e a morte, tão avessa aos sentimentos românticos, ingressava cruelmente em seu carro. Se ao menos, fosse por amor! Era assalto. Sem desviar dos pensamentos, ainda ouviu a voz austera e precisa do policial.
_Por favor, moça, corra. O homem tá ferido, pode morrer.
Pelo retrovisor, observava o olhar renhido do prisioneiro. Havia um terror estampado na retina, tão forte que quase estilhaçava o espelho. Ela desviou os olhos, sentindo uma estranha tonteira. Não hesitou, porém, deixou-se levar pela brisa suave do campo, que lhe fustigava a testa, se introduzia nas narinas, atingindo o cérebro, desanuviando a mente. Sorriu para o policial, sem se fazer entender. Este ratificou a ordem, já irritado: _Não precisa trafegar a cinqüenta. Pé na tábua! O cara ta estrebuchando, não tá vendo?
Ela distinguiu uma certa ufania no rosto do policial. Seu lado heróico reclamava, mas ela não cederia. Obedeceria as leis, como de hábito. Já se aproximava da zona urbana e as lombadas se acumulavam, uma após a outra, além de sinaleiras, transeuntes, novamente os cachorros. Até o catador desavisado! Não, o policial só estava cumprindo seu dever humanitário. Ela, o de cidadã.
_Não posso, senhor. Veja, agora é só a trinta.
O algemado mastigou palavras sem nexo. A febre se transformava em suor que lavava o rosto. Ela ainda ouviu: _Troca de carro, me tira daqui! Esta mulher vai me matar!
O policial assentiu, pela primeira vez concordando com o preso. Insistiu: _Moça, eu sou a lei! Pode correr, tem pista livre. O homem vai morrer, não precisa obedecer o trânsito. – e balançou várias vezes a cabeça, num tique nervoso.
Ela sorriu, atenciosa, mas redargüiu: _Não, não, não. Lei é lei, senhor. Olhe, aqui é faixa de pedestre, logo ali, zona escolar. Em seguida, o quartel. Via de regra, a rua interrompida. Coisa de autoridade, né? E adiante, nem posso buzinar, sabe por quê? Asilo de velhos. Eles se assustam! Conheço esta região como a palma de minha mão. – e instintivamente olhou para a mão pequena, gorda e macia segurando o volante. Lembrou por um momento o gato castrado, amarrado à coleira, que ficara em casa. Se ao menos, o tivesse trazido...
E nem ouviu os apelos do policial e os gemidos do algemado. Nem este último, que num ato de pânico absurdo, decidiu por sua vida. Abriu a porta do carro e gritou: _Quero morrer!
O policial desceu, aproveitando a velocidade reduzida, entre a sinaleira e a passagem de pedestres. Ela prosseguiu sorrindo, satisfeita. Apenas um coisa a perturbava: aquela risca de sangue no banco de trás.

sexta-feira, janeiro 03, 2014

O que as hemácias tem a ver com meu blog?

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Sou leigo em ciências da saúde, mas pesquisei por ai, que as hemácias ou glóbulos vermelhos dão a cor vermelha característica do sangue, porque contém um pigmento vermelho chamado hemoglobina. Que há de novo para os especialistas? Nada. Apenas para o meu objetivo. Ah, também dizem que 1mm³ desse líquido, o que equivale a mais ou menos uma gota, pode-se encontrar, em um homem adulto, cerca de 5,5 milhões dessas células, o que corresponde a 45% do volume de sangue. Em mulheres adultas esse valor é reduzido, cerca de 4,85 milhões de células por mm³. E tem outra, as hemácias vivem no organismo por até 120 dias. Isso significa que no decorrer de uma vida são produzidas e destruídas uma infinidade de eritrócitos (hemácias), sendo que, a cada dia que passa morrem em média 20 mil hemácias por milímetro cúbico de sangue. Pensando nisso, com um grau de curiosidade e absurda ignorância, cheguei ao tema, sem ter a pretensão de elucidar ninguém, apenas tentar expressar porque elaborei a página de fundo do meu blog com infinidade de bolas vermelhas. Tem um motivo, bem simples, quase simplório, mas que gostei. Como as hemácias vivem no organismo, são destruídas e produzidas em milhares novamente (e podem ser, inclusive, doadas), assim são as ideias que tento compartilhar com os leitores e amigos do blog. São ideias que são construídas e desconstruídas, que são partilhadas e discutidas,
produzindo a vida literária e política que corre nas veias da discussão. Meu blog é cheio de hemácias. De ideias. De pluralismo. De vida.  ( A ilustração retirei do http://patofisio.files.wordpress.com)

sábado, dezembro 21, 2013


"CONSIDERAÇÕES SOBRE O FILME "O MENINO DO PIJAMA LISTRADO" 

O filme “ O menino do pijama listrado”, baseado no romance de John Boyne retrata acima de tudo a amizade, alicerçada no olhar de uma criança, que vislumbra com  carinho um outro mundo que desconhece, um mundo onde as crianças e todas as pessoas se vestem com pijamas listrados, conforme a sua concepção infantil. O monstro da guerra é mais terrível que qualquer fantasia de suas histórias de maior vilania e o pior de tudo é que a própria família, a começar pelo pai está envolvida com o cenário de destruição e reforma de padrões considerados necessários aos reclames étnicos  e raciais. Um ódio estabelecido em mentes perversas e  subalternas  dos oficiais nazistas, inseridos num cenário de intensa insegurança e desconfiança. A história inicia com a vinda da família destes oficiais para o campo de concentração, no qual residem numa casa confortável, construída numa região isolada da área dos refugiados. com o passar dos dias, afundando em sua solidão e tédio, Bruno (Asa Butterfield), o menino,  filho do oficial(David Thewlis) que viera administrar o campo,  percebe que ao lado desta região tão extensa e solitária, há outra especialmente povoada, que fica ali bem perto, próxima à cerca de arames, na qual ele estava proibido de se aproximar. Entretanto, a  curiosidade infantil o induz a aproximar-se para tentar descobrir o que acontece lá dentro, que lhe parece muito mais alegre e colorido, a não ser pelos pijamas listrados que possuem duas cores monótonas. Tanto se  aproxima daquele novo cenário, que em dado momento, encontra um menino correndo do outro lado da cerca. Ao chamá-lo, percebe que este tem muito mais liberdade do que ele, pois pode vir onde quiser, inclusive aproximar-se da cerca.  O menino do pijama listrado, cujo nome é Shmuel (Jack Scanlon). Esta curiosidade se estabelece entre ambos os lados, um se pergunta por que o outro veste aquele pijama e o outro, por que o companheiro está sempre tão elegante? 
A vida se prepara para dar as informações necessárias. E aos poucos, eles vão se ambientando com a situação e querendo trocar de lugar, sem saber exatamente o que acontece nos dois lados opostos da cerca de arame farpado. Para tanto, contam histórias, desafiam a imaginação, criam jogos e  brincadeiras que pretendem dividir um dia, inclusive um jogo de futebol. Se por um lado, Bruno, o menino alemão, tem uma certa inveja da alegria do companheiro de cerca, por acreditar que havia sempre companhia de outros naquele acampamento,por outro lado, Schmuel imagina que Bruno possui uma vida muito boa, de muito conforto, inclusive sem fazer trabalhos manuais, além de certamente ser muito bem alimentado.  É uma história tocante que produz em nossa mente uma atmosfera de medo e tristeza, sabedores que somos da intolerância da guerra, do martírio dos judeus, da infâmia do partido nazista. Sobra para os espectadores a imensa angústia que acompanha a trama, aliada porém com a esperança de que de aconteça alguma coisa, e todos se dispam  do pijama listrado, inclusive o menino do outro lado da cerca.  Nos filmes, porém, como na vida, a realidade hostil não se altera porque não  há o que mudar. Espera-se, enfim, um desfecho pelo menos favorável à inocência, mas esta paga pela incoerência da bestialidade humana. O homem, em síntese, é o seu maior algoz e ao mesmo tempo a sua maior vítima. Quiçá as gerações vindouras entendam que a única razão de nossa existência  é preservar o valor da vida, e que nenhuma intervenção política, apoiada em qualquer ideologia maniqueísta e totalitária atente contra a cidadania, sob qualquer razão étnica, racial ou sexual. O homem deve valer pelos valores intrínsecos de sua condição como integrante deste pequeno planeta do universo. Trata-se enfim, de um filme muito belo e comovente, que vale à pena ver e rever. Eu ainda não li o livro de John Boyne, o que farei brevemente e pretendo inclusive, elaborar uma resenha comparativa com o filme. Por certo,  cultivarei as mesmas emoções que obtive com a dramaturgia cênica. Talvez me encaixe ainda mais no contexto da obra, cujos  meandros linguísticos e literários do autor, atentem para que percebamos o grande contraste entre a beleza do encontro e o exemplo dissonante da partida. Sem dúvida, é isto que espero no livro. 
Ficha técnica: 
Produtor: 
Roteirista
Compositor
Atores e atrizes:
Asa Butterfield
Vera Farmiga
David Thewlis
Rupert Friend



Richard Johnson
David Hayman



sábado, dezembro 14, 2013

Trabalho voluntário no Hospital Psiquiátrico: uma provocação para a vida

Participávamos de um grupo de jovens religiosos, no início da década de 80. Era um grupo incomum, porque embora ligado à igreja católica, recebia participantes sem religião definida, sendo um deles, inclusive, espírita. Formava um caldo interessante, porque os argumentos, ainda que às vezes, estéreis, produziam alguns encaminhamentos para discussão. Era realmente um agrupo eclético e ecumênico.
A linha que nos norteava era a solidariedade com o próximo. Queríamos inconscientemente modificar o mundo, pelo menos minorar o sofrimento dos que estavam a nossa volta. Diversos temas vinham à pauta, tais como moradores de vilas pobres, desempregados, idosos do asilo, crianças sem acesso a brinquedos ou lazer. Era uma pauta bem extensa, mas houve um tema que foi sugerido por mim.
Tratava-se de algum tipo de trabalho com os pacientes do hospital psiquiátrico. Houve de imediato, uma certa aversão e pânico pelos integrantes do grupo.
Classificavam os transtornos mentais a partir da agressividade, da falta de controle, do perigo iminente do confronto. Naquela época, no ano de 82, provavelmente eu não pensasse nestes termos, mas hoje, eu diria que é temor interno, um medo da loucura que todos nós temos e, por conseguinte, uma negação da mesma.
Eu era um aluno que estava iniciando o curso de Letras, enquanto trabalhava na biblioteca da Universidade, no início de carreira. Tinha 18 anos, pouca experiência da vida, tal como os meus companheiros de grupo e somente estava disposto a fazer alguma diferença na sociedade marginalizada que percebíamos de modo precário através dos jornais e da TV, a conta-gotas, porque nesta época de censura e ditadura, pouco se sabia da realidade do país.
Na biblioteca, tinha acesso a livros como “As veias abertas da América Latina “ de Eduardo Galeano, no qual o autor fazia uma digressão histórica desde a descoberta da América, com a desvalorização dos índios, e sua inevitável redução, através das perdas enormes que sofriam, até os dias atuais, do século XX, inclusive, no Brasil, onde o Estados Unidos marcavam presença forte através do FMI, prometendo milagres, mas apenas organizando um controle financeiro sobre o País e em toda a América. Em outras obras, principalmente utilizadas por professores do Curso de História, que eu percebia politizados, aos quais eu procurava acompanhar, fazendo indagações e muitas vezes, aproveitando a leitura dos livros, ao serem devolvidos.
Não me esquivava da músicas do Chico Buarque, cujas metáforas ressaltavam a situação do Brasil e eu, um pouco diferente para os jovens da época, curtia muito o Chico, além de outros cantores de mensagens semelhantes.
Também, nessa época, proliferavam os debates sobre as Comunidades Eclesiais de Base, ligadas à Teologia da Libertação, nas quais eu participava de corpo e alma. Seu foco principal era a reunião em comunidades produzidas a partir da proximidade dos bairros, que compartilhassem dificuldades e miséria, compostas por membros despossuídos e descontentes com a realidade social e política em que viviam. Queriam pregar a mensagem bíblica anexada à luta pela melhoria social, sem perder a caridade e os preceitos da fé.
Eu participava de seminários imensos, realizados na Escola Salesianos e toda aquela efervescência de ideias e ideais me encantava e me tornava mais consciente de meus projetos.
Além disso, participava das conversas intermináveis entre meu pai e um tio, que discutiam política intensamente, muitas vezes, de forma velada, para que suas opiniões não saíssem das quatro paredes de nossa sala.
Havia momentos em que eu e meu pai debatíamos esses temas políticos; eu, na intemperança da idade imatura, ele no bom senso de sua experiência, às vezes concordava comigo em vários pontos e elucidava ou contrapunha outros.
Tenho comigo que minhas convicções políticas se originaram destas experiências, sei que aproveitei o que pude e absorvi um pouco da realidade do País que era a minha Pátria, uma Pátria, em que determinado tempo, assumiu sinistro lema era” Brasil, ame-o ou deixe-o”.
Mas, voltando ao tema inicial, sobre as reuniões de nosso grupo, lembro que meus amigos não se preocupavam muito com esta discussão política, ao contrário, queriam falar em festas, garotas e bebidas. Cada vez mais o grupo se furtava a discussões políticas e aos poucos se reduzia a um ou outro interessado. Com uma de minhas amigas, que estudara no Lemos Jr., a nossa escola do curso médio, eu tinha grande empatia e embora nossos assuntos versassem em geral sobre literatura, havia um pouco de tudo, inclusive de política. O grupo de jovens, no entanto, estava interessado nas atividades solidárias, o que sem dúvida era uma atitude valiosa.
Quanto ao projeto, que seria o de trabalhar no hospital psiquiátrico, do qual eu ainda não tinha uma noção exata do que faríamos, houve mais dois integrantes corajosos que toparam a tarefa árdua. Depois de muito debate, decidimos iniciar o trabalho a partir de uma conversa avalizada com um psiquiatra, que trabalhava no hospital.
A princípio, o psiquiatra, apesar de bem interessado, ficou um tanto apreensivo sobre o resultado final de nossa atividade. Provavelmente, tenha ficado em dúvida se resultaria num dado positivo, prevendo tratar-se de uma utopia de jovens despreparados. Adiantou-nos em fazer um pequeno relatório sobre os pacientes e o ambiente inóspito que iríamos encontrar. A cada observação, ficávamos mais entusiasmados com a possibilidade de interagir de algum modo e transformar a situação, por mínima mudança que ocorresse.
Sabíamos que não faríamos milagres, mas a nossa disposição era imensa. Por fim, ele elogiou nossa coragem, inferindo que havia uma brecha em nossa utopia, pois a realidade mostrava que o fato de alguns doentes serem abandonados no hospital psiquiátrico por muitos anos, a nossa presença oportunizaria a possibilidade de algum retorno positivo. Afinal, seria uma visita exclusiva deles. Desejou-nos boas-vindas e acertou nossos horários de ida ao hospital. Seria nas tardes de sábado e quando dispuséssemos de um período livre, poderíamos ir às quartas, que também eram os dias de visita.
No primeiro dia, a nossa reação um tanto assustada seria considerada natural, visto que o ambiente físico era soturno, triste, muito parecido com o de uma prisão. Além disso, observávamos aquelas pessoas andrajosas caminhando pelos corredores, falando consigo mesmas, disputando baganas de cigarros, rindo ou chorando à toa, transmudando sua fisionomia em imagens distorcidas, às vezes, com ódio, noutras, irônicas ou simplesmente passivas e tristes.
Era de praxe, alguns permanecerem quietos nos cantos, às vezes, sentados no chão, em absoluta depressão e isolamento. Um que outro agredia a si mesmo ou batia nas paredes, indo de imediato para a cela de punição, onde deviam ficar como resultado de seus atos agressivos. Aquela situação, de certo modo, nos revoltava e nos deixava angustiados. Entretanto, eram normas da Instituição e o nosso dever era apenas enfrentar o problema.
Com o passar do tempo, começamos a nos ambientar no hospital, conhecíamos cada meandro das salas que compunham o posto de atendimento de medicamentos, a copa onde faziam as refeições, geralmente um café com leite e pão torrado, servidos em copos de plástico e o pátio onde muitos deles permaneciam e, no qual, alguns recebiam as visitas dos parentes.
Também começamos a conviver com os pacientes mais antigos, aqueles que fatalmente moravam no hospital por terem sido abandonados por parentes e não tinham para onde ir. De certa forma, essa atitude dos gestores do hospital era uma medida generosa e adequada àquela situação.
Lembro de uma senhora, a Dona Guides que fora abandonada há mais de 20 anos, na época, pelo companheiro. A partir daí, ela se recusou a falar e apenas movia o corpo, num balanço, evitando qualquer proximidade.
Um que outro nem sabia quem os tinha deixado ali e se tinham parentes na cidade ou não.
Havia toda uma gama de pessoas que constituíam uma comunidade heterogênea, observando aqui, apenas os comportamentos, sem me referir às doenças, por desconhecimento médico. Mas reporto-me aos diferentes personagens que transitavam naquele cenário confuso, desde prostitutas poliglotas que trabalhavam na região do porto, até homens que abusavam de crianças (pelo pouco que nos diziam) e também alcoólatras de passagem transitória, mas que vez ou outra, voltavam, assim como homens que tinham uma vida produtiva, mas que se descontrolavam emocional e fisicamente por algum motivo, até os viciados em drogas. Estes é os que mais contavam histórias.
Por uma estratégia de trabalho, decidimos que cada um de nós deveria se ocupar principalmente de três pacientes. Claro, que em meio às conversas, estaríamos sempre prontos a interagir com os demais, mas àqueles três nos dedicaríamos, com um objetivo definido. Sendo assim, eles perceberiam que a visita era exclusiva e poderiam ter um melhor rendimento. Por certo, não esperávamos melhoras, longe de nós esta ousadia. A nossa intenção era proporcionar momentos em que se sentissem melhor ao nosso lado, mais aceitos, mais felizes.
Entre as pacientes com as quais me envolvia, obedecendo o nosso planejamento era justamente a Dona Guides, aquela senhora abandonada pelo companheiro e que se recusava a falar. Sem dúvida, nos dedicávamos a outros pacientes, mas ela estava sempre por perto. Em determinados dias, ela desaparecia, ficava em sua cela ou num canto do pátio. Nestes momentos, eu me aproximava, sentava num banco qualquer e chamava a sua atenção para uma revista, uma fotografia ou um objeto qualquer que eu trazia, como um livro. Às vezes, falava de minha família, minha infância e ela ouvia sem emitir um som. Por momentos, parava de se mover e eu percebia que ela se acalmava e ouvia atentamente. Noutros, se dispersava, fumava a bagana, que mastigava na boca de poucos dentes e voltava ao movimento contínuo. Nesta ocasiões, eu me calava. Deixava que as nuvens de seu cérebro amainassem e me detinha em outros pacientes. De esgueiro, percebia a sua presença por perto. Com o passar do tempo, Dona Guides percebeu que a visita era para ela e começou a me seguir. Eu fingia não entender, e dispondo de uma psicologia de almanaque, improvisava algumas histórias, cujas tramas imputava a mim. Certa vez, li um conto meu. É provável que não tenha achado a menor graça, no entanto, dessa maneira eu levava adiante o meu objetivo. Sentia a presença durante todo o tempo, sem se afastar, como se devesse me acompanhar naquela leitura ou ficasse grata com a companhia. Na verdade, a gratidão era minha.
Uma outra atividade que planejávamos era a de organizar festas, geralmente dedicadas aos aniversariantes da semana e quando não havia nenhum, inventávamos um aniversariante do grupo, com a intenção de realizar da festa. Na verdade, nosso propósito era que eles ouvissem as músicas, divertindo-se uns com os outros e conosco. Talvez, dessa forma esquecessem por algum tempo o cotidiano triste que constituía as suas rotinas.
Via de regra, conseguíamos o bolo em padarias ou confeitarias e os doces e refrigerantes eram por nossa conta. Cantávamos parabéns ao redor da mesa, juntávamos todos, inclusive a única enfermeira que trabalhava aos sábados, e oferecíamos um presente ao aniversariante.
Numa dessas festas em que não havia nenhum paciente de aniversário, a saída foi criar um aniversariante do dia. Eu fui o escolhido para a tarefa. No meio da festa, vieram ao meu encontro com uma euforia e sinceridade, que me emocionou, me felicitando, desejando sorte e alegria. Naquele momento, senti uma ponta de culpa pela mentira, mas sabia de antemão que a fantasia era necessária, cujo resultado superava qualquer transgressão.
Uma outra atividade se relacionava às campanhas de higiene, cujos produtos arrecadávamos com os colegas de trabalho, da Universidade, com os vizinhos, e até através de solicitações a supermercados. Todos os produtos de higiene pessoal, além de produtos de beleza aumentavam a autoestima e produziam uma necessidade estética. Alguns se penteavam com as escovas, outros guardavam afoitos os xampus e contavam sobre a campanha aos familiares. Esta sensação de autoestima, entretanto não se sustentava por muito tempo, pela dificuldade da doença, ou pela piora, segundo o estágio em que determinado paciente se encontrava. No entanto, o fato de voltarmos com as campanhas, acrescentava outros momentos de realização, por isso, era imprescindível a nossa insistência.
Um outro fato interessante ocorria em dias de tempestade, nos quais os pacientes revelavam-se muito ansiosos, como se o prenúncio de mudança do clima os afetasse pessoalmente, de tal forma que ficavam agitados e irritados.
Num desses dias, em virtude de meus colegas faltarem e a enfermeira permanecer na portaria, por confiar em nosso trabalho, eu fiquei sozinho entre eles. A princípio, não me preocupei e decidi cumprir a minha tarefa como de hábito. Entretanto, o clima desandou, começando uma chuva esparsa, aliada a trovoadas e escuridão. Eles começaram a caminhar pelo corredor indo à copa e voltando, entre gritos, com extrema ansiedade. Por um momento, temi algum caso mais agressivo. E quanto mais um gritava, mais o outro ficava nervoso, o que desencadeava uma reação de ansiedade e agressividade cada vez maior, como efeito dominó. Então, tive uma ideia, que no fundo, não era muito honesta, mas que talvez acomodasse as coisas. Lembrei que carregava pastilhas nos bolsos. Decidi chamar a atenção de todos, como como fazia a enfermeira, ao dispor os medicamentos na hora indicada.
Imediatamente, alguns fizeram fila e os demais se aprumavam, esticando as mãos, na espera do remédio. Acho que a fila lhes proporcionava um certo prazer, como um ritual a ser cumprido, talvez porque conehciam o efeito que as pílulas produziam. Comecei a distribuir as pastilhas, sempre exigindo que se organizassem, para evitar confusões. Em consequência, eles reagiram de maneira semelhante à fila que a enfermeira organizava e ao receberem a pastilha, acalmavam-se e voltavam para a copa, local onde costumavam ficar em dias de chuva.
Eram experiências incríveis e uma que me tocou profundamente, ocorreu a partir de um fato inusitado e jamais esperado por nós, muito menos nas reuniões que tínhamos semanalmente com o psiquiatra para relatarmos as nossas atividades e presumíveis reações dos pacientes. Tratava-se de Dona Guides, a senhora que evitava falar, cujo fato marcante e emocionante foi a necessidade que mostrou em se expressar de alguma forma. A princípio, emitia alguns grunhidos, exigindo muito esforço e uma boa dose de euforia, mas aos poucos, foi elaborando frases inteiras, cujo conteúdo servia para concordar conosco ou tentar argumentar alguma coisa. Claro que eram expressões modestas, mas percebíamos a necessidade em nos alertar que estava em contato, que queria a nossa presença, que precisa de nós. Mal sabia ela, que a alegria que nos proporcionava, acrescentava sentido a nossa vida. A troca de experiências se consolidava e nos sentíamos plenos em nossa missão. O medo de hospital psiquiátrico ou dos considerados loucos, não era para nós. A loucura grassava Brasil afora, transformando homens decentes em párias, alijando-os de suas liberdades individuais, torturando-os, expulsando-os de sua pátria. A loucura era muito maior e devastadora, do que a que nós presenciávamos e convivíamos.
Além de Dona Guides, havia mais dois pacientes com os quais eu me ocupava mais detidamente, conforme o combinado. Tratava-se de um homem, beirando os 40 anos, que costumava ler as notícias e quaisquer artigos nos jornais e os descrevia minuciosamente, com uma capacidade criadora incomparável. Também havia outra senhora que falava muito, praticamente sem ouvir, apenas o que sua mente conturbada ditava e em muitas oportunidades, entrava em surtos, que a levava a esquecer por um tempo de nossas visitas.
Dediquei-me com mais afinco à Dona Guides, neste texto, para descrever um fato que me deixou muito emocionado e me fez rever muitas coisas em minha vida. Certa vez, sofri um acidente e acabei ficando doente por algum tempo. Para minha surpresa, em determinado dia, apareceram estas três pessoas em minha casa, acompanhadas por uma enfermeira.
Era a primeira vez que Dona Guides saía para a rua, após tanto tempo, e nos gestos que fazia e nas poucas palavras que usava, demonstrava uma satisfação intensa. Os demais pareciam orgulhosos da visita. Eu, muito sensibilizado, me sentia recompensado, por ter, de algum modo, provocado aquela pequena revolução. Uma revolução que não somente atingiu a ela, mas a todos nós e principalmente a mim.


Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/photos/teia-de-aranha-noite-fumo-rede-1644984/

quinta-feira, dezembro 12, 2013

UM NATAL DISTANTE



Há quem se lembre dos natais da infância e são estes os que realmente preenchem a nossa memória, trazendo de volta a fantasia, a alegria e a recordação da família naqueles momentos intensos. Tenho comigo que os natais são todos bons, a menos que tenhamos tido algum sofrimento marcante e as coisas, aí, trilhem caminhos mais estreitos e tortuosos. Lembro de muitos natais da infância e acho que na maioria foram muito felizes. Entretanto, há um em especial, em que eu não era criança, nem adolescente, nem vivenciava aqueles momentos de encantamento em que somos pais com filhos pequenos. Tinha meus 20 e poucos anos e o Natal se resumia a um pequeno encontro de família, com os pais e irmãs, a missa do galo e no máximo, alguma festa maior à noite, em que houvesse danças e namoricos. Nada que se compare às baladas explosivas de hoje em dia. 
E este natal começou muito cedo. Na véspera, numa tarde de sábado. Um desses sábados à tarde em que as pessoas já fizeram as suas compras ou ainda permanecem comprando os últimos presentes que faltaram. Nas ruas, um pouco distante do centro comercial, a cidade parecia completamente deserta (principalmente nos idos dos 70, em que a cidade era bem menos povoada). Era uma avenida arborizada, com grandes canteiros centrais e árvores gigantescas que davam um ar de nostalgia para a véspera de natal, que já por conta de todos os envolvimentos emocionais, o Natal  em si, já é nostálgico para mim. Porque lembramos de entes queridos que já não se encontram em nosso meio, porque as famílias já se dissolveram e vivem em outros lugares distantes ou mesmo construíram outros lares e possuem outros relacionamentos, ou porque, sei lá, temos uma dificuldade interna de sermos felizes quando todos assim parecem. 
Pois, antes de chegar nesta avenida arborizada, eu resolvi visitar o asilo de pobres. Era uma experiência nova para mim, não que eu não tivesse ido até lá em outras oportunidades, ao contrário, já participara de outros encontros e dedicado alguns momentos que foram talvez bons para eles, mas muito produtivos para mim. De todo modo, a experiência a que me refiro, se chama véspera de natal. Na véspera de natal, os velhinhos parecem ter a obrigação de serem felizes. Os cuidadores riem, esforçam-se para incentivá-los e não admitem quaisquer reclamações ou tristezas. Alguns filhos os visitam, trazem os netos e outros parentes. Às vezes, até os levam para casa. Eu conversei com alguns idosos e havia lhes trazido presentes. Na verdade, guloseimas, porque o que interessa para um idoso  ganhar uma camisa nova ou uma blusa de rendas? Para onde eles vão? Com que se divertem? Como vestir roupas novas, se o seu destino inevitável é o quarto onde deitam suas dores? Então foi o que fiz. Presenteei-os com chocolates, biscoitos, cookies, balas e todos os tipos de guloseimas que pudessem adoçar-lhes a boca e o coração. Uns conversaram mais do que os outros. Uns se fecharam em si mesmos, embora  agradecessem os presentes, mesmo que momentaneamente, decididos a se afastarem, habituados a ficarem sozinhos. Houve os que contaram histórias, verdadeiras ou fantasia, mas que preenchia suas memórias de maneira intensa, mesmo que por alguns momentos. Talvez, o encontro tenha durado uma hora. Dali sai satisfeito e angustiado. Satisfeito por ter realizado o meu objetivo que era o de levar aquelas pequenas lembranças e angustiado, talvez por que outro objetivo não tenha sido alcançado, que seria o encontro. Acho que não houve o encontro entre nós. Não houve interatividade. Não houve partilha de sentimentos, de emoções, de troca de experiências. Houve apenas um encontro social, onde alguns fragmentos de sentimentos vieram à tona. De todo modo, fiz o que me propus e pensei que no próximo ano seria melhor. Depois, pensei melhor e me perguntei, por que no próximo ano? Por que não na próxima semana, no próximo mês, no forte calor de janeiro, no imenso frio do inverno? Há tanto momentos para serem compartilhados. Há tantos dias a serem preenchidos. E pensando desta forma, retirei-me, entre os cumprimentos e desejos de feliz natal e  anseios de um bom ano novo. 
Por um momento, lembrei de nosso trabalho no hospital psiquiátrico e o comparei com o asilo. Na verdade, a solidão e a fantasia eram as únicas coisas que os uniam. E talvez as únicas que realmente tinham alguma importância. Mas desviei o olhar, tentando não ver aquelas paredes escuras, cujas luzes pareciam focalizar apenas olhos assustados e ouvidos desatentos. Procurei não pensar e esquecer de vez esta visita. Muito menos divagar, fazendo comparações, cujas conclusões poderiam argumentar uma tese.  Afinal, o asilo já tinha preenchido bastante aquela tarde. 
Afastei-me devagar. Não estava tranquilo. Mas não devia me deter muito nisso. Teria mais tempo e mais angústias, que por certo aflorariam. Dirigi-me a algumas casas, onde deixaria  cartões sob as portas ou os entregaria pessoalmente. Nesta época, não havia cartões virtuais, nem redes sociais, nem comunicações online. Tudo era concreto. Tão concreto, quanto a calçada da avenida que eu, agora, após a entrega dos cartões natalinos, me dispunha a caminhar. Observei que o sol já se punha, devagar, bem lentamente. É um sol de verão e portanto, demora mais a se esconder. Entretanto, a noite se aproximava e devia me antecipar, porque havia muito mais a percorrer. Do outro lado da avenida, havia a igreja e nem uma pessoa na rua. Um silêncio sepulcral, como se todos houvessem abandonado a cidade. Um silêncio bom, que me deixava refletir, inclusive sobre a calma que a natureza despertava. O sol ao longe, se pondo, jogando seus raios por entre as árvores da avenida, a rua que se alongava em direção à saída da cidade, o silêncio intenso, tudo produzia uma paz que nem sabia explicar. Nem tentava, só absorvia. Por outro lado, estava satisfeito, porque a maioria dos cartões natalinos foram entregues.
Pensei comigo que esta tranquilidade contempla a condição de nos sentirmos plenos, inteiros em nossa caminhada. Atravessei a avenida e aproximei-me da igreja, agora já um pouco às escuras, pois o lusco-fusco aumentava, em virtude das luminárias serem acesas, amiúde,  e por momentos, via-se apenas a luz natural. Foi neste momento, ouvi um voz firme e forte, me chamando. Olhei para os lados e não vi ninguém. A voz insistiu, pedindo que o olhasse, com a convicção implícita de que o atenderia. Meio aturdido, voltei-me e avistei um homem encostado na porta da igreja, meio escondido, pois embora fechada, a porta fica um pouco para dentro, como um nicho. Percebi tratar-se de um senhor idoso, do qual não conseguia avaliar a idade que aparentava. Usava um terno escuro e vestia um colarinho de padre. Os sapatos pretos me pareciam de verniz.  Aproximei-me, agora tranquilo, apertei sua mão com firmeza e sorri, quando disse: — Tinha certeza de que conversarias comigo. Hoje em dia, todos estão muito apressados, mas tu já fizeste com calma o que te propuseste. Visitaste o asilo de pobres, entregaste os cartões natalinos e agora parasses para conversar comigo. Eu sabia que farias isso. 
Respondi com determinação e calma, que não havia motivo para não parar e ouvi-lo. Não entendi bem como ele sabia sobre o que eu havia feito, mas, de qualquer modo, tudo me parecia muito natural. Naquele momento, não achei que este detalhe tivesse alguma importância. 
Ele então, concluiu: — És um bom rapaz. Foi por isso, que parasses para conversar comigo. Sei que sempre evitas contar as tragédias que tens conhecimento pela tv, jornais ou por outras pessoas, para os teus familiares. Achas que não vale à pena incomodar teus pais com estas histórias tristes, até mesmo, porque tu não gostas de repetir estas coisas. Não acrescentam nada. 
Concordei com ele. Então, fez uma pequena revelação: _ A partir de hoje, véspera do Natal, ficarei aqui, nesta igreja, até o ano novo. Se quiseres me ver novamente, conversar comigo, eu estarei aqui, te esperando. Agora, vai, te esperam em tua casa. 


Apertei-lhe a mão e afastei-me ainda mais contente do que estava antes. Passou o tempo, esqueci do ocorrido. Naquela época, havia o cinema Lido, que ficava próximo à Igreja. Na véspera do  ano novo, eu e minha irmã decidimos assistir um filme, lembro que se tratava de um musical com Barbra Streisand.  Ao sair do cinema, passamos pela frente da igreja e, para minha surpresa, ele estava lá, sorrindo e me chamando para conversarmos. Avisei a minha irmã da pessoa que havia encontrado naquele mesmo lugar, na véspera do natal, da qual havia comentado anteriormente. Para minha surpresa, ela ficou em verdadeiro pânico, correndo em desabalada carreira, em direção à esquina, sem parar um segundo, muito menos atender aos meus chamados.  Ainda, antes de me afastar por completo, voltei-me e olhei para o homem que sorria e me acenava. As pessoas passavam rápidas, saindo do cinema e provavelmente conversando sobre o filme. Ele continuava lá, e nem sei se o viam, tal como eu. De todo modo, nunca mais o vi, embora ele deva ter ficado até o dia primeiro do ano novo que começava. Nunca mais o vi, nem tenho certeza de que a mensagem que deixara, fora apenas  uma invenção de sua mente. De todo modo, ratificou a ideia  de que devemos sempre fazer o melhor em quaisquer circunstâncias, a qual eu não tinha consciência plena. Que devemos preservar em nossa  missão e observar a natureza, vivenciando sem pressa os momentos em que estamos sozinhos ou reunidos. Isso é o que podemos chamar de momentos de felicidade. Provavelmente, seja este o significado maior do Natal. 

sábado, dezembro 07, 2013

A rebeldia dos guris e gurias da LES

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Lendo os artigos dos alunos e participantes da LES, ficou-me a impressão de que as pessoas aos poucos se acomodam ou se adaptam de acordo com as circunstâncias em que estão envolvidas. Tenho comigo, que os guris e gurias não se dão conta da extrema relevância de suas atuações, produzidas através de atitudes, procedimentos e interesses pessoais e coletivos. Já explico. Seus interesses podem ser até inconscientes. Querem, precisam como todo ser humano estar junto, participar, partilhar dos acontecimentos, de tal forma que suas ações sejam reconhecidas pelo grupo e muito mais do que isso, que eles próprios interiorizem em suas mentes a capacidade humanitária de doação, mesmo que os sentimentos sejam confusos, conturbados e toda a correnteza não surja com clareza. Mas as águas descem rápidas pela cachoeira, formam veios  nas rochas que jamais são apagados pela natureza, ao contrário, eles crescem, se aprofundam e tornam-se verdadeiros cortes. Da mesma forma,  elas produzem energia e explodem em beleza inqualificável. Assim é a mente do jovem, quando desperta para a troca de experiências, e, embora utilizando plataformas científicas e filosofias educacionais, como as atribuídas a Paulo Freire e outros mestres, elas transbordam no amor. O amor pelo próximo, o amor pelo conhecimento implícito dos que pouco sabem da academia, mas muito conhecem da vida, o amor pela história, pelas peculiaridades da vida em comunidade, pela igualdade de condições, embora em patamares diversos. O amor do jovem abre caminhos para o conhecimento muito maior do que o encontrado nos compêndios científicos, pois permite que caminhem em vaivém, cruzando expectativas e experiências, nunca em paralelo, como linhas que jamais se encontram. O jovem se encontra e quer cultivar este encontro. Quer emancipar suas descobertas. Quer prevalecer a raiz da informação mais tenra, dando lugar à palavra do artesão, da dona de casa, do menino pescador, do trabalhador dos mares, do idoso solitário, do gritar mais alto da garganta oculta, onde as vozes quase nunca são ouvidas, onde os homens são invisíveis, esquecidos de uma sociedade baseada no senso comum, onde pobre, negro ou  gay é marginal. Uma sociedade que grita por socorro, que almeja saídas, onde o humilde não tem voz. 
Ficou-me, acima de tudo, a reflexão de que  a necessidade do ser humano interagir com seus pares é quase uma emergência. (Falo “seus pares” aqui, pela faculdade de seres da mesma condição humana, moradores deste planeta, não me referindo à posição social ou intelectual).  Percebe-se, portanto, que este projeto chamado Liga de Educação e Saúde (LES),  possui uma estrutura elaborada a partir de teorias de educação perpetradas por grandes educadores e filósofos da educação, como citados, mas que acima de tudo, somente se desenvolve a partir do querer inovador e de seus participantes, da ânsia devoradora que somente consome os que sonham, da disputa interna em decidir o caminho mais adequado, mesmo quando existem centenas de outros, muito mais prazerosos ou melhor aceitos pela sociedade e pela academia, que pretende manter o status quo, sem quaisquer mudanças em seus critérios.  Sabemos que mudanças produzem o medo e este paralisa os reacionários, cujas máscaras  incólumes não devem ser analisadas para que a discussão não sobreviva. E é o que esta juventude sabe fazer melhor. E com frescor. Discutir. Discutir sobre tudo, inclusive sobre suas procuras, sobre suas dúvidas, e sobre os caminhos que trilham. Isso é o que lhes leva ao conhecimento, à troca de experiências, à aprendizagem, à “ensinagem", como apregoam. Eles têm um olhar peculiar, atento e alerta na sua realidade interior e na dos que compartilham seu conhecimento. Um sentimento que aflora, que alcança voos elevados, a ponto de se identificarem com a verdade do outro.  Eles vão além das trocas de experiências, do encontro, da interação com os diversos tipos de pessoas com as quais mantém convivência. Pessoas estas que vão ao encontro de seus sonhos recônditos, de suas vontades adormecidas, de suas declarações internas de amor ao próximo, de seus sentimentos transbordantes em ações e que ficam guardados e esquecidos, em virtude da diáspora criada na sociedade em que vivemos. Como antídoto a esta carência, os guris e gurias possuem as ferramentas da  solidariedade, paixão e alegria. Uma alegria genuína de quem não se preocupa em agradar, em competir ou mostrar conhecimento. Uma alegria genuína que só a juventude tem.
Nem preciso reiterar sobre o tema, porque foi trabalhado com brilhantismo nos diversos relatos. Mas só queria dar este registro e retomar uma ideia que parecia extinta dos meios acadêmicos: a rebeldia. Não a rebeldia falsa e falida dos black blocks, mas a rebeldia de não aceitar o pré estabelecido, tal como ocorria na época da ditadura. A rebeldia em refutar as coisas prontas, consumadas, sem a hipótese de mudança. A rebeldia em contestar o senso comum, o que é correto para uma determinada classe elitista e conveniente com seus valores conservadores, na qual nada mais importa do que manter o establishment. O pobre deve estar onde sempre esteve, bem longe dos meios esclarecidos, intelectuais, da gente que pensa, que manda. Para eles, o trabalho braçal, apenas. Ou a fome, a miséria, a marginalidade. Tal como é apregoado por um personagem humorístico e que infelizmente, até mesmo pessoas humildes acham graça, reiterando a posição medíocre onde o pobre deve ficar, na esquina mais longe de nossas fronteiras. Eu, que continuo um rebelde, lutando por causas que percebo que até meus próprios pares se surpreendem, fico feliz com esta liberdade alicerçada em valores tão puros e tão vigorosos que permeiam as mentes avançadas de nossos jovens. Fico feliz, por existirem grupos que não se deterioram com a alienação do consumismo, dos prazeres transitórios, das facilidades burguesas. Não mais, a flagelação dos sentimentos em função do poder, do dinheiro, da ostentação de ser mais ou melhor (ou ter), da competitividade desenfreada, da exacerbação do corpo, da caricaturização da alma. Há jovens que pensam sim. Há jovens que sentem, que se emocionam, que lutam por transformações, que trocam experiências, que apreendem com os outros, que cultivam valores sociais, humanistas, que vivem. Este jovens estão tão próximos de nós e nem nos damos conta, mergulhados que estamos na invocação aparente da juventude que surge todos os dias na mídia. Há jovem evoluídos, entretanto, que sabem e somente eles, que a vida é muito mais que uma passagem monótona e cerceada por muros contendores das normas conservadoras. Sabem que podem abrir brechas, que desembocam em grandes oceanos, para formar, a partir daí, as vertentes que desaguam em outras terras, terras antes inférteis pelos descuidados humanos. Há o que cuidar, o que plantar. Elas, por certo, darão muitos e bons frutos. E eles… bem, eles continuarão rebeldes, porque a rebeldia é um ato de liberdade. 







quinta-feira, dezembro 05, 2013

RELIGIÃO - RELIGIO - RELIGAR A DEUS



Tenho pena dessa gente. Dessa gente que julga, que menospreza, que segue quase sempre o senso comum da pseudo justiça. Via de regra, acusam de forma destemperada e discriminatória, sob qualquer circunstância em que se depare com uma situação que as assuste. Talvez as apavore, do ponto de vista interno, porque o medo, na maioria das vezes, está dentro de nós mesmos. De nossos pensamentos mais escusos, de nossas fragilidades, nossos pequenos deslizes quase sempre intocáveis e esquecidos no fundo do baú de nossas consciências.

Estas pessoas, em geral, são aquelas que rezam muito, que ficam se persignando na frente de qualquer santo e em qualquer situação, que vão às missas, que participam de novenas, que expressam toda a religiosidade que possuem e demonstram um carinho especial por todos os papas.

Não falo dos religiosos que abraçam em plenitude as suas crenças e as seguem segundo a doutrina do bem e do amor ao próximo.

Falo dos religiosos que também acreditam, que seguem as suas crenças, mas não exitam   em   execrar o próximo que para eles não é tão próximo assim, principalmente se estão num patamar hierarquicamente abaixo.

Há mais de dois mil anos, Jesus Cristo colocou todos no mesmo balaio, incluiu os que estavam à margem da sociedade, abraçou os leprosos, beijou as prostitutas, conviveu com os cobradores de impostos e demostrou o seu imenso amor aos homens. Seguiu fielmente a sua própria lei: amar uns aos outros, como eu vos amei.

Sei que é muito difícil este amor incondicional. Como amar o cara que nos pede uns trocados para comprar crack, fingindo que cuida de nosso carro? Como amar o mendigo que estica o boné na porta da igreja, se nos afastamos para não sermos abordados, muito menos queremos sentir o cheiro da sujeira que exala? Como amar o colega de trabalho, que nos trapaceia e alardeia à chefia que somos incompetentes, ou que nos odeia por lhe ditarmos regras? Como amar o colega que nos trata com indisfarçável cinismo? Como amar o amigo que nos traiu? Como amar os políticos que extrapolam suas funções e roubam descaradamente nosso dinheiro?

Claro que este amor incondicional deve ser mensurado e talvez, nem sei como seria a forma correta de agir, ser amainado, esperado, calmo, utilizando o perdão e pedindo ao criador uma maneira de cultuar o amor. Quem sabe, sendo menos policialiesco, menos juíz e mais irmão. Não sei.  Talvez ele indique o caminho. É preciso pedir. 

Mas, fora tudo isso, volto àquela gente do início do texto, que falei anteriormente. São pessoas dignas, que trabalham, que estudam, que professam suas crenças, que comungam semanalmente, recebendo com dignidade o corpo de Cristo. Pessoas que expressam o seu carinho para com os seus, para com os amigos, que costumam postar imagens e mensagens de santos nas redes sociais, com saídas redentoras para todos os males, que se preocupam com a sociedade, com as pessoas que sofrem e compartilham o sofrimento alheio, ao mesmo tempo que distribuem boas aventuranças, desejos de felicidades e amor ao próximo. São estas pessoas, das quais  não teria nada a reprovar, a não ser… Bem, elas me surpreendem extremamente. São estas pessoas que ficam rezando, fazendo novenas, indo a missas e tendo absoluta admiração por todos os papas, além de serem arautos das coisas de Deus, e ao mesmo tempo, estas mesmas pessoas que possuem uma inefável atitude de descrença e ódio por outros cidadãos, que segundo suas atitudes, me parece, que os consideram pessoas menores. São as santas pessoas que amam a Deus sobre todas as coisas, que seguem seus mandamentos ao pé da letra, mas que não se conformam em ver seu dinheiro, através dos impostos, serem distribuídos para outros, que estão na linha da miséria, chamando-os de vagabundos, exploradores, maus-elementos ou ladrões. Consideram que eles se perpetuarão nessas benesses de bolsas para a sua subsistência, jamais passando a outros e ficarão eternamente devendo aos cofres públicos, através de medidas, que, segundo elas, exploradoras de seu rico dinheirinho. Destilam um ódio tão forte a estes descamisados, talvez até mais pungente do que o ódio dos romanos aos cristãos.

Também consideram que o dinheiro recebido pelos presidiários é um roubo para os cofres públicos, o que não é verdade, pois a verba não vai para eles e sim para a família, para ser sustentada e isso somente acontece, caso o preso tenha contribuído para o INSS. Por outro lado,  caso o detento vá para o regime aberto, os familiares perdem o benefício. Não é portanto, um benefício de nossos impostos, mas uma contribuição do presidiário, como qualquer outra pessoa, enquanto trabalhava. Também olham de esgueio para o Brasil Carinhoso, no qual é passado aos municípios o valor para a alimentação de crianças de 0 a seis anos, no Programa Saúde na Escola.

Mas essas pessoas não amam as crianças? Não cultuam a expressão de Jesus que dizia “vinde a mim os pequeninos, porque deles é o reino dos céus”?

Não sei o que ocorre realmente. Tenho comigo que é possível e de bom alvitre discordar de muitas medidas sociais. O que não consigo entender, por mais que me esforce, é o fato dessas pessoas tão carinhosas, meigas, disciplinadas e atuantes na religião,  se oponham com tanto ódio a estas medidas, sem ao menos se debruçarem sobre seus objetivos e metas.  Nem ao menos lhes chama a atenção o fato de que estas medidas estão sendo copiadas por muitos países, inclusive, os desenvolvidos.  Quem sabe, elas se impressionem pelos ares estrangeiros e acabem mudando de ideia.


Já nem falo das cotas, nas quais há muitas discussões, por ambos os lados, nem falo da inclusão social dos estudantes mais pobres através do Fies e de outros programas educacionais, nem falo…

Deixa pra lá, o que me incomoda mesmo, é que estas mesmas pessoas que destilam este ódio extremo, esta dificuldade em aceitar o próximo, que os consideram marginais, exploradores, vagabundos, vadios, etc, ainda vão na missa comungar com a alma pura e lavada, exalando a essência dos bons perfumes e aspirando o incenso dos altares. Será que se dão conta disso? Será que pensam nisso, alguma vez? Quem sabe, ao rezarem o pai nosso, pulem a frase “assim como nós perdoamos os nossos devedores”. Como perdoar, se não perdoam nem a si próprias?

No fundo de suas almas, talvez pensem, trêmulas e confusas, amo meus irmãos, como Cristo me ama, com excessão dos negros, dos vadios, dos pobres, dos cotistas, dos gays, dos …deixa pra lá. Venha a nós o Vosso Reino!


sábado, novembro 16, 2013

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Há muitas dúvidas, que esperamos ansiosamente que sejam dirimidas. Aconteça o que acontecer, mesmo que não tenha havido assassinato por envenamento do Presidente, houve, infelizmente para a nação, um latrocínio da liberade, um golpe sujo e violento que considerou vago o cargo do chefe da nação, para na calada da noite, tomarem o poder. Tempos difícieis. Tempos de dor e agonia. Tempos de espera e morte da liberdade. Nada será alterado na história de nosso País, mas pelo menos, a verdade virá aos poucos e o povo brasileiro descobrirá que as margens plácidas em que estava deitado, não eram tão tranquilas assim, e que talvez agora tome consciência do turbilhão de sofrimento em que se instalara. Graças à Comissão da Verdade, a história está sendo reescrita e a memória ficará intacta e mais lúcida.

Exumação de João Goulart

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quarta-feira, outubro 02, 2013

Os pombos não devem ser alimentados


Tenho observado que nas ruas da cidade, e não somente em praças ou próximos à igrejas, os pombos proliferam de modo desregrado a p
onto de serem atropelados, em determinados momentos. Eles já não temem os transeuntes. Passeiam tranquilamente, esgueirando-se entre calçadas e ruas em busca do alimento que lhes é oferecido regularmente. As pessoas, por certo, tem consigo que alimentam um pequeno animal que possui uma simbologia muito forte, como a da paz, e talvez por isso, subjetivamente acreditem que estão apenas trazendo beleza e alegria aos passantes e moradores. Entretanto, estes animais, os pombos precisam, na verdade, alimentar-se através de suas próprias andanças por comida, pois somente assim, se esforçarão para a busca e não se reproduzirão tão facilmente, percorrendo grandes distâncias para tal fim. Eu tenho observado senhoras com crianças, distribuindo porções de pães aos pombos, e as crianças convivendo com as aves, inclusive perseguindo-as, em seu encalço. Os pais riem, satisfeitos, sem perceberem que seus filhos estão na iminência de contrairem alguma doença. 
Segundo os pesquisadores, os pombos  são agentes transmissores de mais de 20 doenças. A mais grave delas, a criptococose, mata 30% em casos de diagnósticos tardios, além de outras doenças  também causadas por fungos e bactérias, como histoplasmose, ornitose e salmonelose, além de ácaros e piolhos que causam dermatites e alergias. Os especialistas, inclusive recomendam o uso de luvas e máscaras na hora de limpar forros, telhas e calhas ou qualquer lugar com acúmulo de fezes de pombos - e os dejetos devem ser umedecidos antes de recolhidos, para evitar a inalação de fungos.
De acordo com o pesquisador João Justi Junior, do Instituto Biológico- Apta (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), não há produtos legalizados no Brasil para esterilização de pombos.  Parte da solução do problema passa pela educação das  pessoas conscientizando-as de que não se deve alimentar os pombos. “Assim os pombos precisam de uma área maior para procurar  alimento, procriam menos e acabam deixando as áreas urbanas,  indo viver nos campos”, explica.   Em locais onde os pombos são alimentados,  ressalta o pesquisador, ocorre ainda a proliferação de ratos, baratas e moscas devido às sobras de alimentos e às fezes que atraem moscas. Por outro lado, há uma lei federal nº 9605, de 1998, que configura crime ambiental a agressão aos pombos. 
Então o que fazer com estes “ratos de asas”, conforme a definição do ex-prefeito londrino Ken Livingston. É preciso esclarecer a população que não deve dar migalhas aos pombos, ou seja, alimentá-los sob hipótese alguma. Este alerta viria, talvez pela elaboração de uma campanha do governo muncipal, através das mídias tradicionais e, também pelas redes sociais, nas quais há um alcance muito grande da população. Outro aporte importante seria a Furg, com a participação de profissionais ligados à área de saúde e meio ambiente, bem como no manuseio de animais, para  esclarecer  à comunidade através de um viés científico.  Somente a educação e o conhecimento mais apurado do problema poderá mudar este panorama. É necessário a elaboração  de estratégias que permitam este conhecimento, através da disseminação de informações que esclareçam os reais malefícios desta prática cada vez mais frequente em nossa cidade e em tantas outras pelo Brasil afora. Em algumas cidades do Brasil, as pessoas são multadas quando alimentam os pombos. Em outras, como Helsinque, Finlândia, há placas de aviso em toda a cidade, desencorajando os turistas a alimentar os pombos. Em Londres, na Inglaterra, os monumentos são elitrificados para impedir que os pombos evacuem nas estátuas. 
Esperemos então que a nossa cidade se antecipe a estes problemas de saúde pública e atinja um bom grau de esclarecimento nesta questão, de forma a planejar o seu futuro com melhor qualidade de vida a todos. 

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A boca vermelha, cabelos loiros, olhar perdido. Nem sabe se fazia pose, encenava ou apenas acessório do cenário. Assim os observava de re...

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