Tenho observado que nas ruas da cidade, e não somente em praças ou próximos à igrejas, os pombos proliferam de modo desregrado a ponto de serem atropelados, em determinados momentos. Eles já não temem os transeuntes. Passeiam tranquilamente, esgueirando-se entre calçadas e ruas em busca do alimento que lhes é oferecido regularmente. As pessoas, por certo, tem consigo que alimentam um pequeno animal que possui uma simbologia muito forte, como a da paz, e talvez por isso, subjetivamente acreditem que estão apenas trazendo beleza e alegria aos passantes e moradores. Entretanto, estes animais, os pombos precisam, na verdade, alimentar-se através de suas próprias andanças por comida, pois somente assim, se esforçarão para a busca e não se reproduzirão tão facilmente, percorrendo grandes distâncias para tal fim. Eu tenho observado senhoras com crianças, distribuindo porções de pães aos pombos, e as crianças convivendo com as aves, inclusive perseguindo-as, em seu encalço. Os pais riem, satisfeitos, sem perceberem que seus filhos estão na iminência de contrairem alguma doença.
Segundo os pesquisadores, os pombos são agentes transmissores de mais de 20 doenças. A mais grave delas, a criptococose, mata 30% em casos de diagnósticos tardios, além de outras doenças também causadas por fungos e bactérias, como histoplasmose, ornitose e salmonelose, além de ácaros e piolhos que causam dermatites e alergias. Os especialistas, inclusive recomendam o uso de luvas e máscaras na hora de limpar forros, telhas e calhas ou qualquer lugar com acúmulo de fezes de pombos - e os dejetos devem ser umedecidos antes de recolhidos, para evitar a inalação de fungos.
De acordo com o pesquisador João Justi Junior, do Instituto Biológico- Apta (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), não há produtos legalizados no Brasil para esterilização de pombos. Parte da solução do problema passa pela educação das pessoas conscientizando-as de que não se deve alimentar os pombos. “Assim os pombos precisam de uma área maior para procurar alimento, procriam menos e acabam deixando as áreas urbanas, indo viver nos campos”, explica. Em locais onde os pombos são alimentados, ressalta o pesquisador, ocorre ainda a proliferação de ratos, baratas e moscas devido às sobras de alimentos e às fezes que atraem moscas. Por outro lado, há uma lei federal nº 9605, de 1998, que configura crime ambiental a agressão aos pombos.
Então o que fazer com estes “ratos de asas”, conforme a definição do ex-prefeito londrino Ken Livingston. É preciso esclarecer a população que não deve dar migalhas aos pombos, ou seja, alimentá-los sob hipótese alguma. Este alerta viria, talvez pela elaboração de uma campanha do governo muncipal, através das mídias tradicionais e, também pelas redes sociais, nas quais há um alcance muito grande da população. Outro aporte importante seria a Furg, com a participação de profissionais ligados à área de saúde e meio ambiente, bem como no manuseio de animais, para esclarecer à comunidade através de um viés científico. Somente a educação e o conhecimento mais apurado do problema poderá mudar este panorama. É necessário a elaboração de estratégias que permitam este conhecimento, através da disseminação de informações que esclareçam os reais malefícios desta prática cada vez mais frequente em nossa cidade e em tantas outras pelo Brasil afora. Em algumas cidades do Brasil, as pessoas são multadas quando alimentam os pombos. Em outras, como Helsinque, Finlândia, há placas de aviso em toda a cidade, desencorajando os turistas a alimentar os pombos. Em Londres, na Inglaterra, os monumentos são elitrificados para impedir que os pombos evacuem nas estátuas.
Esperemos então que a nossa cidade se antecipe a estes problemas de saúde pública e atinja um bom grau de esclarecimento nesta questão, de forma a planejar o seu futuro com melhor qualidade de vida a todos.
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