Começou devagarinho a chamar-me a atenção. A princípio, uma ideia aqui, outra acolá. Noutros momentos, um pequeno rabisco, como quem recém está se desenvolvendo e quer o peito, faminto.
Aos poucos, se observa que o bebê está crescendo e começa a pedir-nos coisas. Exige cada vez mais cuidados, como se estivesse prestes a cair em ciladas.
Então o analisamos com cautela, aceitamos seus pedidos, aumentamos os recursos.
Começa a ficar bonito, rechonchudo, umas bochechas vermelhas de bebê de rótulo de leite.
Ele cresce mais e já é um adolescente. Aí que o conflito aumenta, nem tudo está adequado aos seus desejos. Quer mais, precisa tornar-se mais forte e resistente, para que todos o vejam com vigor e sabedoria. Mas sabedoria só não basta. É preciso zelo, coerência, beleza, músculos fortes e tórax robusto.
Está quase no ponto de se mostrar à audiência. Precisa então de um clímax e por isso nos enlouquece a ponto de acreditarmos que não chegaremos ao final.
O que busca ele?
O que quer a plateia?
O que quero eu?
Um final deslumbrante, que resista ao senso comum, que permita reflexões, que se mostre inteligente, que busque a elite intelectual, mas que se espalhe no povo.
Aqui está ele, enfim, pronto.
Mas estará no ponto?
E ao alcancançar as ruas, dá-nos uma certa angústia em vê-lo fora do berço familiar, atingindo outros mundos, outras formas de lidar com a verdade e a vida, obtendo outras leituras.
Então, além da angústia, temos também ciúme. Nosso menino já não será mais nosso e cada um o verá de uma maneira.
Será que o entenderão? Será que pensarão como o pai? Será que o aceitarão?
Mas este menino precisa correr o mundo.
Precisa voar alto, longe de nossos braços e mais perto da imaginação alheia.
Este menino é o livro que ao ser publicado, não pertence mais ao autor, mas ao leitor, porque dele fará a sua leitura.
Então vá, menino, corra mundo e se transforme na alma de quem o decifra.
Comentários