Um mergulho significa muito, mergulho nas ideias, na observação das pessoas, nas trajetórias cotidianas. Um mergulho no mar, bem assim, no finalzinho do verão. Absorver cada gota em nosso corpo sedento. Sentir o revirar das ondas, o vai e vem das correntezas, o repuxo e, de vez em quando, a calmaria, uma pausa para respirar, olhar as dunas e voltar ao processo do enxague, de percepções quase etéreas dos respingos no rosto ou densas, espalhando-se pelo corpo e derrubando-nos as pernas.
Os mergulhos se dão sem que nos demos conta, mergulhos em pensamentos, que descontrolados, vão e vem das mais distintas intuições ou sentimentos. Como as ondas, eles crescem desordenados, embora tenham um objetivo intenso e final, que é o de nos alertar de alguma coisa que nos incomoda, um perigo iminente, real ou imaginário, um perigo talvez ao ato de viver plenamente. Mas é preciso apaziguá-los, como a pausa das ondas, deixar que o repuxo se desvaneça e espumas se produzam, desenhando traços e abrindo brechas na areia. Assim, nossos pensamentos acalmam e aos poucos, se tornam apenas reflexões sem muita importância, sem atropelamentos, sem medos ou aflições.
Um mergulho significa muito, mas é preciso vir à tona, devagar, assimilando o ar que nos restaura, deixando que a água nos lave e purifique, que nossa alma se restabeleça e nossos céus se abram em cores diversas. Que a ele, nossos pensamentos se unam, pois não desaparecem nunca, estão ali, absortos, escondidos, naquele arsenal de água e espuma, num túnel que se desvanece, também em nossa mente. Cabeça molhada e mente intacta. Mais uma vez, as águas do fim do verão deixem espaços vigorosos e fantásticos para o outono que se aproxima.
Ilustração:https://pixabay.com/pt/photos/ondas-mar-espuma-do-mar-5720916/
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