Seguia pela Av. Portugal numa dessas tardes primaveris, um tanto outonais, atualmente. Um pouco de frio, um sol que aquece à tarde e parece indicar uma proximidade real com o verão. Que nada, daqui a pouco, retorna o ciclo de calor e frio. A natureza tem suas regras e talvez uma delas seja apenas nos preparar aos poucos, para a mudança que transcorre lentamente.
Mas olhando ao longe, embora de carro, pude ver um céu muito azul, de vez enquanto, entrecortado pelas árvores que se debruçavam distraídas em suas copas pela avenida. Meus olhos acostumados com o nosso céu, no entanto, parecia encontrar nele e naquelas ocorrências de cores, nos caminhos da Cidade Nova, um certo despertar, que há tempos não experimentava. Como se gerasse uma nova era e um vento suave, quase brisa, soprasse devagar novos ares, novas descobertas, novas esperanças. Então, meu coração deu uma sacudida, de leve, delicado com meu corpo há tanto calejado, nestes últimos tempos, com meus olhos sem muita iluminação e minha vida vacilante.
Então, parei o carro ali mesmo, observando os espaços entre as árvores, as pessoas em atividade física ou seguindo seus caminhos entre crianças, brinquedos e bicicletas. Na minha playlist, ouvia a música “Lâmina de amor” de Chico Salem e a letra realçava exatamente este meu sentimento, da salvaguarda da esperança. “Quanto tempo até isso virar um país e o navio negreiro incendiar vazio?” “Quanta munição vai querer dinamitar nosso cancioneiro e nosso refrão?” “Não vou cansar, nem desistir, meu canto é lâmina de amor”. Que preservemos esses novos tempos, como inspiração e resgate de uma vida mais digna e amorosa.
fonte da ilustração: https://www.freeimages.com/pt/photo/world-photo-file-vii-1163456
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