Houve momentos em que não teve lua, ou seja, ela surgiu tímida entre algumas nuvens e desapareceu. Mas nós sabemos, que ela estava lá, escondida entre as nuvens e realizando os mesmos movimentos, claro que na sua velocidade, tão diferente da nossa percepção.
Houve momentos em que a noite escura parecia se propagar e permanecer para sempre, que as estrelas houvessem sumido ou terminado o seu tempo e embora outras nascessem, não as víamos e o universo parecia mais escuro e solitário. Tínhamos impressão de uma noite eterna e que nunca mais veríamos a luz do sol. Mas, eis que o sol nasceu e aos poucos a luz no horizonte começou a surgir e iluminar os campos, as casas, as ruas, os dias.
Houve tempo de muita seca, estiagem nociva para ao solo cada vez mais árido, cujos grãos morriam e os sobreviventes produziam frutos frágeis, esturricados pelo sol, danificados pela fragilidade de sua constituição.
Houve tempo de chuvas, de alagamentos, da terra encharcada e vimos muitas vezes, apesar de tudo, a seiva brotar, o grão crescer e a terra se ajustar aos poucos ao clima adverso. Já houve tempo de pesca. Já houve tempo de idas e vindas, de partidas e chegadas, de corridas, de passeios, de observância da natureza, de olhar focado em minúcias, detalhes antes não percebidos.
Houve tempos de outonos contagiantes, de sol dourado sobre os campos, de clima ameno e atmosfera saudável.
Houve tempo de criações, de criatividade, de sensibilidade, como houve tempos de falsos elogios, de fraca visibilidade do belo, de fraqueza de valores sustentados em famílias de marketing, de elogios a falsos heróis, desqualificados e mentirosos, de corrida pela vida, pelo sangue derramado, espargido nas esquinas, nas dobradas, nas favelas, nos condomínios de luxo, nos parques, nas sombras.
E há tempos de espera. Tempos de parada. Tempos de isolamento. Tempos de comunicação virtual. Tempos de ajuste de horários internos, de limpeza nas mentes tóxicas, dos desejos tresloucados, das vontades exacerbadas, do clientelismo da mídia, das redes sociais, do mau uso da tecnologia. E tempo de bonança, de entendimento, de esperança. Que estes tempos nos ensinem a importância de sermos os que somos, falhos, insatisfeitos, medrosos, conscientes, criativos ou não, metódicos ou não, organizados ou não, mas acima de tudo, produtivos.
Que o mundo ande para frente e não retome a marcha ré jamais. Que não incorra no erro do julgamento. Mas prossiga na luta pelo entendimento, pela aceitação das diferenças, pelo convívio com o outro, pela empatia e alteridade. Que o homem se veja a si mesmo como um ser coletivo e não uma autoridade acima de qualquer lei.
Que haja tempos pós-pandemia, que vençamos os medos, mas não os escondamos, ao contrário, que os enfrentemos e vivamos em conluio com a natureza. Apenas.
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